What If...? escrita por Miss Daydream


Capítulo 4
Capítulo 4 - O representante luta boxe


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu tava aqui nas minhas reflexões e pensei: O Usui Takumi do anime Kaichou Wa Maid-Sama é uma mistura de todos os paqueras! Ele tem a aparência e a inteligência do Nathaniel, a atitude bad boy do Castiel, a alienação, cavalheirismo e fofice do Lysandre, o jeito completamente adorkable do Armin e os olhos e persistência do Kentin! Usui me joga na parede e me chama de lagartixa -q
Ok, sem mais enrolação: Vamos ao capítulo!
Nos vemos lá embaixo.



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Nathaniel sumiu. Evaporou da face da terra.

Ele tirou trabalho sabe-se lá de onde simplesmente para não falar comigo. E sinceramente, isso teria sido uma atitude maravilhosa da parte dele se nada tivesse acontecido. Apesar de tudo, ele deve estar vendo tudo isso como apenas mais uma de nossas briguinhas estúpidas e sem nexo, mas eu não estou vendo as coisas deste jeito.

Ele pirou, e eu sei o quanto é difícil e complicado fazê-lo perder a paciência, acreditem, eu tento todo santo dia. Ele ficou completamente desorientado e maluco, então simplesmente saiu e sumiu.

Já faz cinco horas.

Cinco horas que eu estou aqui sentado em cima da cama tentando entender. E esperando até que ele volte para confrontá-lo. Porque ele tinha ficado tão fora de si com uma brincadeirinha boba como aquela? Porque isso o levaria a sumir por tanto tempo? Ele não tem absolutamente nada para fazer no grêmio hoje. Quem está cuidando das papeladas é a diretora, já que a idéia era simplesmente ficar no quarto e se adaptar hoje. Eu fui lá para pesquisar. Perguntei até para a Melody onde o amado dela se encontrava. E ela, com aquele jeito todo estúpido e superior ainda pior do que o Nathaniel, se é que isso é possível, me disse que não era da minha conta.

Que não era da minha conta!

Deve ser só ciúmes porque ela quem queria dividir o quarto com ele. Como se isso não fosse fazê-la desencantar completamente dele, porque eu tenho certeza de que ele ainda ronca. Quase joguei isso na cara dela, mas logo percebi que isso não seria a coisa mais madura a se fazer.

E bem, eu sou muito maduro.

Fui até o dormitório das meninas, que tinha as portas abertas e caixas jogadas para todos os lados, para encontrar Elizabeth. Ela provavelmente devia saber de algo, porque é amiga do representante. Tentei encontrar o quarto de Lizzie pelo método mais inteligente de todos: espiando.

Vocês têm noção de quão boa é a pontaria das meninas? Eu fui acertado por quatro escovas de cabelo (duas azuis, uma rosa e outra amarela), nove almofadas e um secador de cabelo. Eu as ameacei com o meu cachorro gigante, mas nenhuma delas pareceu ligar realmente. Argh, sinceramente!

Finalmente avistei os cabelos loiros rebeldes e presos desajeitadamente por pauzinhos, como só uma pessoa conseguia fazer. Eu saí correndo, esbarrando em um monte de coisas de meninas, e em meninas, e cheguei até o quarto 47.

Fui recebido com uma bota na minha bela face. Vocês têm noção do quanto levar uma botada na cara dói? Eu também não tinha.

— Rosalya, eu vou arrancar as suas tripas – eu disse enquanto entrava no quarto

— Ui, o mal-humorado chegou – ela disse naturalmente, estirada na cama – Acho que vou deixá-lo com você, Lizzie.

— Não faça uma crueldade dessas... – ela disse enquanto se balançava e tentava não cair da cadeira giratória – Estavam correndo boatos de que um ruivo de farmácia enlouquecido estava entrando no quarto das meninas a fim de molestá-las. Imaginei que fosse você – ela arqueou a sobrancelha e eu sorri irônico – O que é Cass? – ela desceu (lê-se quase caiu de cara) da cadeira

— Alguma de vocês viu o representante? – eu disse impaciente – Ele sumiu.

— Melhor pra você, não? – Rosalya balançou a cabeleira enorme, de cabeça para baixo – Não era tudo o que você queria?

— O que é que ela está fazendo aqui, ein? – eu perguntei para minha amiga, que pendurava pôsteres na parede – Achei que ia dividir o quarto com a Violette, que ao menos fica quieta e não se mete em assuntos que não são dela.

— Rosa já terminou de arrumar o dela – Lizzie sorriu – Ela está me ajudando. – ela fez uma careta – Correção: era para estar ajudando.

— Tá, tá – eu revirei os olhos – Tanto faz. Respondam a minha pergunta.

— Porque o interesse repentino Castiel? – Rosa perguntou curiosa – Achei que queria ficar o mais longe possível dele.

— E eu quero – eu me defendi – Mas preciso resolver algo antes.

— Hm, sei – Lizzie fez um biquinho – Ele saiu da escola.

— O que?! – eu perguntei exasperado – Mas ele é tão maricas assim?! Só porque não quer dividir o quarto, idiota mimado, um engomadinho e...

— Cale a boca, Castiel – ela riu, e Rosa a acompanhou quando eu fechei ainda mais a cara – Me deixe terminar, sim? Nath saiu, e já volta. Ele avisou a Melody, que nos contou.

— Aquela... – eu nem completei, porque nenhuma das palavras em que eu pensei eram respeitosas – Argh! Eu fui até o grêmio e aquela babaca não me respondeu nada!

— Você pediu com jeito? – Rosa perguntou e eu nem respondi – Deve ter chegado achando que é o rei da cocada preta, como sempre. É obvio que ninguém vai te responder, peãozinho.

— Já deu com os apelidinhos idiotas né? – eu falei irritado enquanto Elizabeth ria. Hoje definitivamente não é um dia bom para ser o Castiel – Foi aonde que até agora não voltou?

— Faz só duas horas que saiu – ela olhou no relógio – Menos que isso. Seja paciente e saia do meu quarto, tenho que terminar de arrumar minhas coisas e você está atrapalhando.

Eu saí e voltei para o meu quarto dessa vez. Bati a porta com tudo e me joguei na cama.

E cá estou até agora, esperando sinal de vida daquele imbecil.

Falando no diabo...

Largo meu caderno no exato momento em que ele entra, escancarando a porta com força.

Nathaniel está apenas de calção, todo suado, com luvas de boxe penduradas no pescoço e uma toalhinha em cima dos cabelos, completamente molhados.

Impressiona-me que alguém como ele, que fica sentado em uma cadeira 90% do dia, tenha um corpo tão bem formado. Sem nenhum exagero e nenhum defeito. Tão...

Mas que merda eu estou pensando?!

— Olhe só quem decidiu aparecer! A rainha de Sweet Amoris! – eu carrego a minha voz com ironia o máximo que consigo e arqueio a sobrancelha, olhando fixamente para ele

Ele deveria estar tremendo de frio, por causa da mudança de tempo, mas não parece ter percebido isso. Parece estar até com calor. Nathaniel está com seus fones de ouvido, pelo visto ouvindo música num volume muito alto, porque parece não me ouvir ou perceber minha presença no quarto.

— Eu estou falando com você – ignorado novamente enquanto ele tranca a porta – Ei!

Levanto-me com raiva e, sem ter onde agarrar para chamar a sua atenção, puxo-o pelas luvas de boxe mesmo.

— Mas que diabos...? – ele começa a gritar

— É culpa sua, por me ignorar – eu aperto ainda mais as luvas – Onde é que você estava?

— Acho que a forma como estou vestido e o fato de eu estar suado e de estar com luvas de boxe, as quais você está quase arrebentando, respondem a sua pergunta imbecil – ele faz força para se desvencilhar, e eu o puxo para mais perto – E no que isso te diz respeito? Eu não te devo satisfação nenhuma.

— Então é verdade, ein? – rio sarcasticamente – O representante pratica boxe.

— Castiel, estou avisando, é melhor você me soltar. – ele diz entre dentes – Me solte e esqueça tudo o que aconteceu.

— Gostaria de ver você lutando algum dia desses – meu sorriso é mais aberto agora, carregado de escárnio – Deve ser uma gracinha ver você ser espancado.

Numa fração de segundo ele está na minha frente, me olhando com desprezo, e na outra ele não está mais. Saiu tão rápido do meu aperto que me impressiona que não tenha feito isso antes, de modo que cambaleio para trás, quase caindo.

Ele se posiciona na minha frente, segurando meu braço e o torcendo para trás. Eu grito com a dor e ele me empurra para chão, onde senta em cima de mim e continua a segurar meu braço em minhas costas.

— Agora você já viu – ele diz rindo – Mas adivinhe? Quem está prestes a ser espancado é você!

— Ah, me largue, você está... Você está... – começo a dizer, interrompido pela dor

— Te machucando? – ele sorri debochado e se abaixa para ficar perto do meu ouvido – Pobre Castiel, mal sabe se defender...

— Nathaniel, me largue!

Ele o faz, o logo o alivio de estar livre percorre o meu corpo. Mas continua em cima de mim.

— Eu juro que se você não sair...

— Vai fazer o que? – ele ri – Me morder?

E é exatamente isso o que eu faço. Infantil? Talvez. Golpe baixo? Um pouco. Mas ninguém o mandou quase torcer o meu braço.

Nathaniel grita e cai para trás, protestando.

— Ops – eu dou risada – Me desculpe.

— Que completo imbecil você é. – ele segura o pulso, que está vermelho. Provavelmente vai ficar marcado. – Vou acabar pegando raiva. Você é vacinado, pelo menos?

— Eu quero saber o que aconteceu com as suas costas – eu digo ignorando-o e tentando recuperar o fôlego – E o porquê de você ter pirado pelo simples fato de eu ter mencionado isso.

— Nada sobre mim importa para você, eu não lhe devo nenhuma explicação sobre a minha vida – ele começa a se levantar, dizendo tudo com uma amargura surpreendente na voz

— Qual o problema de você me contar? – eu espio as costas dele – Parece que piorou...

— Argh! Me deixe em paz! – ele se vira de frente para mim, de modo que não consigo mais olhar nada – Eu me machuquei no boxe, foi só isso.

— Duvido – eu digo sincero – Conseguir me derrubar com apenas um movimento não é para os fracos, admito.

— E no que isso implica com o fato de eu ter me machucado? – ele solta um muxoxo, tentando passar por mim – Eu caí.

— Essa é a desculpa mais velha de todas. – minha vez de soltar o muxoxo – Quando você estiver com um chupão nesse seu pescoço você vai dizer o que? Que caiu? Quem vai acreditar?

O rosto dele fica muito vermelho e ele baixa a guarda um pouco.

— Nathaniel, eu sei reconhecer marcas de soco ou tapas, e o que vi nas suas costas não é o caso – eu começo delicadamente – Você quer me contar o que aconteceu?

— Você é bipolar ou o que? – é nessas horas que eu tenho vontade de manchar a minha ficha criminal com um assassinato. – Isso não é da sua conta, está certo? Não se meta nos meus problemas e eu não me meterei nos seus.

Ele passa por mim, e eu desisto de tentar entender. Remexe no armário, procurando por uma toalha e guarda as luvas, cansado. Começa a atravessar o quarto, e então eu decido falar.

— Independente do que tenha acontecido – eu suspiro profundamente e ele para na soleira da porta do banheiro – Sabe que estou aqui quando precisar, não é?

Ficamos nos encarando por um certo tempo, ele me olhando incrédulo e eu tentando emitir o pouco de confiança que consigo.

— Sei? – ele diz baixinho, e então eleva a voz – Sei?! Será mesmo, Castiel?! Como você ousa falar isso? Não existe ninguém mais hipócrita que você, tirando talvez aquela sua ex-namoradinha. Eu achei mesmo que podia contar com você, contar qualquer coisa para você. E o que você fez no único momento que lhe pedi para me ouvir se tirar conclusões precipitadas? Você... Você... – ele respirou fundo, como se fosse difícil articular as palavras – Você me acertou. Me acertou inúmeras vezes e de todas as formas que conseguiu! Acreditou na Debrah, escolheu isso. Você nem sequer quis me ouvir. E vem me dizer uma coisa dessas? Poupe-me desse teatrinho banal.

— Você fala de mim, mas o que foi que você fez? – eu grito angustiado – Ela falou todas aquelas coisas terríveis e você se calou! Quem cala consente, você conhece o ditado!

— Você me acertou Castiel! – ele segura a maçaneta da porta com tanta força que fico com medo que ele acabe por quebrá-la – O que eu poderia ter feito?!

— E porque não revidou?!

— Porque você era meu melhor amigo! – ele grita e respira sofregamente – Você era meu amigo.

Ficamos nos encarando por alguns momentos e eu não sei o que dizer. Parabéns Castiel, mais uma vez estragando tudo...

— Nate... – começo a falar, coçando a cabeça

— Não fale comigo. Não me chame assim. Nunca mais. – ele diz por fim, com a voz embargada e fecha a porta do banheiro com um estrondo, e ouço-o passar a chave uma vez. Duas vezes.

Porque, dentre todas as pessoas do colégio, ele? Porque justo ele?!

Jogo-me com raiva na minha cama e escondo a cabeça nos joelhos. Puxo os cabelos com força, tentando me impedir de pensar.

Mal percebo quando caio no sono.

***

Chegamos a minha casa, e meus pais me olharam com desaprovação. Eu não falei nada, apenas peguei meu caderninho em meu quarto e observei Nathaniel percorrer a minha pista de carrinhos com os dedos, como sempre fazia quando ia à minha casa.

Saímos pouco tempo depois. A viagem no carro foi meio silenciosa, porque Nathaniel tinha certo respeito pelos meus pais. Coisa que era raridade na época.

Eu tinha comentado que Nathaniel nunca havia ido à praia, e eles ficaram chocados com o fato de ele nunca ter pisado na areia. Eu disse que eles não precisavam se preocupar com isso, pois ele pisava na areia do parquinho quase todo dia e eles riram de mim, porque os pais são completamente sem noção.

Então, tiveram a idéia de sair no feriado, e de chamar Nathaniel para ir junto, já que eu nunca levava amigos para casa além dele. A verdade, é que eu não tinha amigos além dele, porque não achava que isso mudaria alguma coisa.

Contei a idéia ao Nathaniel e ele gostou muito (apesar de tentar esconder a todo o custo) e fomos juntos pedir para a mãe dele. Como eu estava lá, a Ambre ficou apoiando tudo o que eu dizia, o que ajudou muito na decisão final. Com o sim que a mão dele nos deu (e o alivio de não ter que cuidar da peste que era Nathaniel estampado no rosto) nós dois arrumamos tudo e fomos para escola.

Quando chegamos à praia, ele olhava para tudo aquilo tão maravilhado que eu não conseguia não me contagiar com sua felicidade. Nós ficamos na casa de praia dos meus tios, e dividimos o quarto. Dragon tinha ido com a gente, e era apenas um filhote pequenino e não ameaçador, mas incrivelmente barulhento. Colocamos a roupa de banho e fomos correndo para ver o mar.

Assim que os pés dele tocaram a areia, ele ficou brincando no mesmo local um pouco. Depois, abaixou e passou os dedos entre a areia. Sorriu e se jogou no chão, e Dragon pulou em cima dele, sujando-o inteiro de areia.

— Ei, Nate! – eu chamei – O que está fazendo? Assim vai acabar todo sujo!

— Eu tomo banho depois – ele disse rindo, enquanto Dragon lambia seu rosto – A areia é tão quentinha...

— Venha, eu ajudo você a levantar – estiquei a mão para ele pegar, mas ele me puxou para baixo, me fazendo cair em cima dele

E Nathaniel não parava de rir. De meu mau humor, das cócegas que Dragon fazia nele, da textura da areia. Meu cabelo preto ficou quase da cor do dele quando finalmente levantamos para ir até o mar. Estávamos completamente imundos e tinha areia em tudo quanto é canto, mas eu não parava de sorrir, assim como ele.

A primeira onda chegou até os nossos pés, e o ouvi suspirar. Dragon já estava lá na frente, brincando igual a um louco na água. Saí correndo atrás dele, porque tinha medo que se afogasse. Logo depois de pegar o cachorro encharcado, alguém jogou água no meu rosto, e esse alguém com certeza era o Nathaniel.

— Ah, mas vai ter revanche! – eu gritei com raiva, fazendo-o rir ainda mais – Só vou deixar essa mini peste com mamãe e então vou afogar você.

E assim fiz, mas quando voltei, não tinha Nathaniel em lugar algum. Gritei por seu nome, procurei debaixo d’água, mas não havia sinal dele. Andei por alguns metros e comecei a entrar em desespero, então senti meu pé ser puxado, de modo que afundei. Assim que emergi, ouvi várias gargalhadas.

— Devia ter visto a sua cara! – ele disse entre as risadas

— Suas brincadeiras não têm graça – eu falei com raiva

— Ora, admita que foi um pouco engraçado sim!

— Não foi nada engraçado, Nathaniel – eu rebati com frieza – Eu estava morrendo de medo de algo ter acontecido com você! Achei que tinha se afogado! Eu... Eu quase...

— Você estava preocupado comigo? – ele perguntou um pouco confuso

— Claro que sim, seu cabeça de vento! – gritei com ódio para ele e comecei a andar em direção à praia.

— Eu não achei que ia... – ele disse um pouco sem jeito

— Que grande idiota você é, então.

— Me desculpe – ele murmurou e eu o olhei confuso

Ele nunca pedia desculpas. Nunca, em hipótese alguma.

— Bateu a cabeça, foi?

— Não achei que você fosse se importar – ele disse meio triste

Andei até ele, meus pés afundando na areia.

— Eu sempre vou me importar – disse e afaguei sua cabeça, e então ele começou a chorar

Sabia que ele estava sobrecarregado em casa, e que toda essa atitude era apenas para chamar atenção. O pai exigia muito dele, queria que ele fosse perfeito, mas ele era apenas uma criança! A mãe só sabia gritar com ele. Eu sabia que ele só se sentia seguro em minha casa, e que só fazia maldades com as crianças para se sentir superior.

— Não quero ser como ele... – Nate tentou inutilmente enxugar as lágrimas que caiam – Ele quer que eu seja como ele, mas eu não quero! Eu só quero ser eu...

— Não vamos estragar o dia, está bem? – eu disse calmo, ainda mexendo no cabelo dele

— S-Sim... – ele passou a mão pelo rosto

— Aqui você não é ninguém além do Nathaniel. Meu amigo e meu companheiro, e só isso. – eu sorrio enquanto ele me olha atentamente – Você pode ser quem quiser desde que esteja comigo, certo?

***

Acordo deitado e enrolado no meu casaco.

“Você devia ter visto a sua cara!”

Há luz no quarto, e eu fico meio cego por alguns momentos. Esgueiro-me na cama até o interruptor e o apago, para tentar assimilar melhor essa memória no escuro.

A luz se acende.

Encaro o quarto um pouco desorientado por alguns segundos, e logo percebo a presença estranha. Nathaniel está sentado na escrivaninha, preenchendo vários papéis e tem um lápis na orelha.

— Importa-se? – ele pergunta como se nada tivesse acontecido. De novo.

Encaro-o com raiva e apago a luz novamente.

— Sim.

Ele acende a luz de novo.

— Que atitude ridiculamente infantil – ele rosna – Quantos anos você tem?

Apago.

— Continuo em fase de crescimento, preciso dormir. – eu rebato

Ele acende.

— Essa frase não tem sentido nenhum.

Apago.

— Você não dorme não? – eu rio – Ótimo, agora mais essa. Um colega de quarto que não dorme. Vai me dizer que é sonâmbulo também?

Ele acende.

— Cale a boca.

Apago.

— Cale a boca você.

Ficamos apenas nos encarando enquanto acendemos e apagamos a luz repetidamente. E então, acontece o óbvio: a luz acaba queimando.

— Olhe só o que você fez, seu inútil! – ouço-o gritar comigo no escuro

— Olhe só o que você fez! – eu rebato – Mas pelo menos agora eu vou poder dormir.

— Eu preciso terminar esse trabalho, que ódio! – ele grita mais alto ainda – A culpa é toda sua!

— Que seja – eu dou de ombros, mesmo sabendo que ele não pode me ver. Começo a enxergar o contorno dele no escuro – Boa noite.

— Eu vou matar você – ouço a cadeira giratória deslizar no chão e o vejo erguer os braços no escuro – Onde você está?

— Sabe, a pior coisa que o assassino pode perguntar para uma vítima é onde ela está – eu dou risada – Acha mesmo que vou responder?

— Você me tira do sério, sinceramente – ele bate na própria cama e cai no chão – Ai!

Aumento o tom da minha risada, não conseguindo me segurar. Meus olhos se acostumam rápido ao escuro, já os de Nathaniel...

— Pare de gritar! – eu reclamo – Vai acordar todo mundo! Onde está sua educação?

— Eu vou te mostrar onde está minha educação – ouço-o dizer, ainda caído no chão

— Ahh que medo! Será que o representante morde?

— Eu poderia me vingar por você ter me passado raiva fazendo isso neste exato momento – ele diz com raiva

— Realmente assustador. – eu solto uma gargalhada – Talvez, se você ao menos conseguisse me encontrar...

Sinto um puxão vindo das cobertas e acabo sendo levado por elas, caindo no chão pela quinta vez só neste dia.

— Ai! – minha vez de gritar

— Onde está sua educação, Castiel? – vejo-o sorrir – Você vai acabar acordando o andar inteiro deste jeito.

Mas não é nada como os sorrisos que ele me dá normalmente, cheios de escárnio e ironia. Parece até divertido.

— Eu sempre fui um ótimo estrategista – ele sobe em cima de mim, uma perna de cada lado do meu corpo, prendendo meus braços com as mãos, me impedindo de sair – Então o mantive ocupado falando comigo, para que pudesse seguir a sua voz e chegar até o lugar em que você está. E você é uma péssima vítima, diga-se de passagem – ele ri deliciosamente – Esperava um pouquinho mais vindo de você.

Acabo rindo da piada e ele me olha surpreso. É engraçado pensar que depois de toda aquela conversa de ressentimento nós estivéssemos agindo como amigos de longa data. Como os amigos de longa data que deveríamos ter continuado a ser.

Murmuro algo tão baixo que nem eu sou capaz de entender. Ele me olha confuso, e percebo que a sua visão acostumou-se finalmente a penumbra da noite.

— O que você disse? – ele pergunta curioso

Repenso minhas atitudes. Eu fui um estúpido sim, mas e quanto ao meu orgulho? Eu ia derrubá-lo assim, sem mais nem menos? Derrubar os muros que construí em volta de mim por todo esse tempo só porque quero a amizade de uma pessoa de volta?

Eu passo.

— Falei pra você sair de cima de mim – digo casualmente – Essa situação está ficando desconfortável.

— Ah, claro – ele se joga para trás, saindo imediatamente de cima de mim – Desculpe.

— É.

Viro o rosto e me levanto, pegando as cobertas do chão e colocando tudo em cima da cama. Jogo-me nela, olhando para a parede e tentando ignorar a presença devastadora de Nathaniel às minhas costas.

Ouço-o suspirar e reclamar baixinho sobre estar arruinado, e depois de um tempo ouço sua cama ranger, denunciando que ele havia acabado de se deitar.

Tento esvaziar a cabeça, em vão. Talvez eu esteja começando a me arrepender de não ter pedido desculpas, mas logo essa sensação passa. Nunca peço desculpas a ninguém, porque usualmente, depois de um tempo, as pessoas acabam se esquecendo.

Espero que Nathaniel assim faça.


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Notas finais do capítulo

Capítulo meio tenso por causa dos ressentimentos do Nath... Parece que alguém está bem magoado né? Não me matem por causa da última reação do Castiel!
Eu tenho feito ele pensar e fazer diferente, porque acho que ele é muito fechado em relação a isso. Aposto que ele pensa uma coisa totalmente diferente da que fala só pra ficar mostrando o jeito odiável e afastar as pessoas do que realmente é.
Comentem o que acharam! E qualquer dúvida ou erro me avisem!
Beijooos



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