What If...? escrita por Miss Daydream


Capítulo 12
Capítulo 12 - Inusitadamente bom


Notas iniciais do capítulo

Tenho a leve sensação de que vocês vão adorar o fim do capítulo...
Só espero não estar indo rápido demais!
Obrigada pelos comentários no cap passado! É por causa deles que continuo aqui, motivada a escrever! Então este capítulo é dedicado a você, caro leitor, que ainda não desistiu de acompanhar a fic!
E eu também gostaria de agradecer especialmente a Luna Cullen! Cara eu caí da cadeira (LITERALMENTE E MISERAVELMENTE) quando vi a recomendação que você fez da fic! Me deixou muito muito muito feliz! Agradeço imensamente pelo carinho!
Nos vemos lá embaixo



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/596453/chapter/12

Encaro a lousa com tanto ódio e raiva que consigo visualizá-la se partindo ao meio só com a força do meu olhar. Claro que metade dele também está direcionado a Elizabeth, sentada ao lado de Rosalya lá na frente, e ao representante de merda, também lá na frente todo exibido.

Fiquei a primeira aula inteira tentando puxar um ronco, mas tudo o que consegui foi me frustrar mais e mais em relação ao que eu provavelmente descobri. Sempre que eu fechava os olhos ficava pensando no que exatamente consistiam as milhares de conversas entre os dois, e mais uma onda de ódio me abateu.

Que traíra!

Agora eu parei para pensar em como isso foi acontecer. Quer dizer, Lizzie é amiga minha e do Lysandre! Ela passa o intervalo com a gente! Bem, pelo menos a maior parte dele...

Eu imaginei que ela só sentasse na frente da sala porque não conseguia se concentrar ao meu lado. Ela estava com problemas nas matérias de exatas por ficar conversando a aula inteira, então mudou de lugar.

Ao que parece, ainda havia muito mais motivos por detrás daquela decisão...

Constato que Elizabeth conversa com todo mundo na sala. Ela tem amizade com todas as pessoas aqui presentes, tirando a Ambre e a gangue maligna dela. Fico me lembrando de quantas vezes já a vi pra lá e pra cá conversando com as mais variadas pessoas. Desde Violette até Peggy.

Lembro-me que, além de Elizabeth, têm a enxerida da Melody gostando do representante. Melody nunca fez questão de esconder os sentimentos profundos e melosos pelo Nathaniel, e é tão chata que eu até entendo o motivo de ele nem parecer ligar pra ela. Agora mais essa...

Quando o sinal bate, estou tão distraído que acabo trombando no Kentin.

– Ei! Olha por onde anda... – ele começa com toda aquela pose de machão e fica pálido ao perceber que bateu em mim

– Que é, amarelou agora Kentinho? – Alexy passa rindo por detrás do amigo, conseguindo arrancar um sorrisinho meu

Fala sério, esse cara é patético. Aposto que se eu soltasse um “bu!” ele sairia correndo feito um franguinho.

Ignoro o resto da conversa e as justificativas balbuciantes de Kentin, me dirigindo em passos pesados para a porta.

Hoje não é um dia bom para ser o Castiel.

***

Hoje é um péssimo dia para ser o Castiel.

O que fazer quando seu melhor amigo e uma possível traidora do sangue, que fica confabulando por aí com o inimigo, decidem passar o dia estudando?! Eu não faço ideia da resposta, por isso apenas me jogo todo largado em cima da cama de Lysandre e fico chutando a parede, completamente entediado. Estamos no quarto de Lysandre, e os dois estão tentando desesperadamente explicar um ao outro sobre aquele livro que a escola pediu para lermos. Literatura clássica nunca foi meu forte, e eu não estou ligando muito.

– Porque vocês esquentam tanto a cabeça com coisas idiotas na hora errada? – pergunto debochado para os dois

– Coisas idiotas? – Lysandre repreende

– Na hora errada? – Elizabeth rebate confusa – A prova será logo. Não é hora errada para se preocupar. Me admira que você ainda não esteja doido atrás disso.

– Verdade, essa não é a matéria que você mais precisa de pontos? – Lysandre lembra-se – E ainda nem começou a ler?

– Claro que não, a prova é só na sexta – me esparramo na cama do Lysandre, colocando os pés na parede

– Castiel...

– Hm? – pergunto distraído

– Amanhã é sexta.

***

Assim que ouço o que ele diz, minha cabeça passa um filme. Daqueles bem tristes, porque eu costumo fazer isso quando algo dá errado. Planejo minha vida inteira na sarjeta, tudo de ruim acontecendo, essas coisas.

Vi-me tirando um belo F naquela maldita prova, e sendo reprovado. Vejo-me chegando em casa e ouvindo tudo e mais um pouco dos meus pais, falando que nunca vou ter futuro algum se continuar deste jeito. Visualizo minha guitarra sendo arrancada de mim e risadinhas vindo de pessoas que eu nem imagino quem sejam.

E o pior: o sorrisinho de vitória de Nathaniel, enquanto ele pega seu diploma e posso até ouvi-lo dizer “E agora, delinquente?”

Fiquei devendo pontos ano passado, e só posso recuperá-los no primeiro bimestre anual. Sinto raiva de mim mesmo, por ser tão idiota, e dou um soco na parede.

– Ei, se acalme – Lysandre pede, com o olhar reprovador – O livro não é tão grande assim. Dá tempo. É só começar neste exato momento.

– Eu me viro – digo com raiva e saio pisando firme do quarto

Assim que fecho a porta, saio correndo com certo desespero em meus passos, e um pouco triste por nenhum dos meus amigos ter me oferecido qualquer tipo de ajuda.

Sei o que eles estão pensando. Elizabeth provavelmente lembrou-se daquela prova que eu deixei de avisar, só para ficar caçoando-a pela nota terrível que viria logo depois. Fiz todo aquele teatrinho para Lysandre acabar por lembrá-la na última hora e ainda por cima ajudá-la.

No fim o único que se ferrou fui eu, que fiquei com tanta raiva que nem fui fazer a prova.

Lysandre deve estar cansado do que chama de “irresponsabilidade completa” da minha parte. Provavelmente acha que eu mereço uma boa lição por me achar tão intocável.

Bando de babacas.

Quando percebo, estou na porta do meu quarto, remexendo os bolsos a procura de minha chave. Não a encontro, e sei que provavelmente está no quarto de Lysandre, e eu não quero voltar lá tão cedo, pelo menos por agora.

Começo a socar a porta, com toda a raiva que consigo carregar.

– Representante! – grito entre um soco e outro – Ei, representante! Abra a merda da porta!

Alguns meninos começaram a sair dos quartos, achando que sou um possível assaltante tentando arrombar a porta.

– O que estão olhando?! – grito, tentando intimidá-los. Obtenho sucesso. – Façam algo de útil e comecem a cuidar um pouco da própria vida!

Alguns me olham assustados e outros apenas reviram os olhos, voltando às suas atividades rotineiras.

Ouço alguém destrancar a porta.

– Que é que...?

– Saia da frente – já entro empurrando-o. Talvez essa não seja a melhor forma de fazer com que Nathaniel me deixe em paz, mas é a única coisa que consigo

– Você poderia ter um pouquinho mais de educação, não acha? – ele reclama passando as mãos por seus cabelos loiros bagunçados. Tenho visto essa cena com muita frequencia ultimamente, e começo a achar que a convivência comigo talvez o tenha desgrenhado – Parece um assassino maluco.

– Estou prestes a me tornar um – rosno em sua direção, e quase posso vê-lo revirando os olhos e sentando-se na escrivaninha, mesmo estando de costas para ele

Remexo na minha mochila, minha mesa e até mesmo meu guarda roupas. Puxo os cabelos e tenho vontade de arrancá-los. Que merda...

Quase como uma luz que desce sobre a terra, avisto o maldito livro no vão entre a parede e a minha cama, e não consigo me lembrar de como foi parar ali. Quase beijo o livro assim que o pego, mesmo sabendo que o pior ainda está por vir.

Olho de soslaio para Nathaniel sentado em sua cadeira e percebo que ele está lendo também, mas está quase terminando.

Preciso mesmo correr.

Dou uma olhada crítica para o livro em minhas mãos e percebo que ele é realmente minúsculo. Por alguns segundos tenho a sensação de que realmente conseguirei terminá-lo e entendê-lo hoje, para me dar bem na prova de amanhã.

Jogo-me na cama e procuro uma posição confortável. Abro o livro e leio a primeira frase.

“Silêncio, moços! Acabai com essas cantilenas horríveis! Não vedes que as mulheres dormem ébrias, macilentas como defuntos? Não sentis que o sono da embriaguez pesa negro naquelas pálpebras onde a beleza sigilou os olhares da volúpia?...”

Leio, leio novamente, e releio pela septuagésima quarta vez. As palavras parecem pairar sobre mim, como se não conseguissem entrar na minha cabeça. Eu não consigo interpretá-las, não sei o que querem dizer. Não consigo absorvê-las. Não consigo entender absolutamente nada deste pequeno trecho.

Leio pelo menos dois capítulos, as primeiras lembranças bizarras, sem realmente entender o que eles dizem. As palavras giram e giram pela minha cabeça, flutuando logo acima de mim, e eu não consigo alcançá-las.

Chega um momento em que desisto, e atiro o livro com raiva para o outro lado do quarto. Enfio a cabeça entre as mãos e me encolho, sem saber o que fazer.

– Castiel, que diabos está acontecendo? – Nathaniel pergunta de olhos arregalados, levantando-se

Ele deve ter levado um susto com a minha atitude repentina, e sei que podia tê-lo acertado, mas sinceramente, eu não estou nem aí.

– Nada.

Ele abaixa-se e pega o livro, que caiu ao lado de sua cama.

– Noite na Taverna? Por acaso é o... – ele parece entender – Ah... Você está estudando?!

Fuzilo-o com o olhar e tento não matá-lo ali mesmo. Estou morrendo de vontade de esganá-lo, mas tudo o que faço é abaixar ainda mais a cabeça.

– Ei, o que está acontecendo? – ele repete a pergunta

– Eu tava lendo, será que é impossível de você estender algo que não esteja escrito em algum livro ou manual?!

– Não sabia que ler envolvia jogar livros indefesos na parede e tentar acertar o colega de quarto inocente – ele rebate debochado

– Você não é tão inocente assim!

– Eu nem te fiz nada hoje!

– Eu ataco tudo o que me irrita – replico com arrogância

– Está explicado. – Nathaniel diz e fica em silêncio

Ergo um pouco a cabeça, só para poder olhar para ele. Ele abre o livro e percebe que ainda estou no começo. Olha para a escrivaninha e logo depois volta a olhar para mim.

– Escuta, é pequeno – ele começa a falar – Deixei para ler hoje também. É difícil de interpretar, mas dá tempo.

– Você não entende.

– Não tenho que entender nada. – ele retruca – Simplesmente leia o livro. Com um dicionário do seu lado, mas leia o livro.

– Eu preciso passar nessa matéria – grito com ele, mesmo sabendo que não tem parcela nenhuma de culpa – Ou vou repetir o ano!

– Então leia a droga do livro! – ele me olha irritado – Já passou da hora de acordar para suas responsabilidades!

– Eu não leio!

– Assista a um filme então, a uma vídeo aula, sei lá, já que está precisando tanto. – Nathaniel e seus olhos dourados desaprovadores me repreendem novamente

– Preciso de uma nota alta! Uma porra de um filme não vai me ajudar em nada! – grito com mais raiva do que antes, se é que isso é possível

– Então leia! – ele diz, apertando o livro com força

– Não é simples assim.

– É exatamente simples assim! Se você precisa passar na maldita matéria então leia a porcaria do livro! Ele não é comprido, deve ter por volta de quarenta e uma páginas, e é cheio de diálogos! É complicado de entender por causa das palavras difíceis, mas é só usar o dicionário!

– Você não entenderia. – desisto de tentar argumentar, porque sei que ele nunca entenderia de verdade. Levanto-me e calço minhas botas, pronto para sair do quarto

– Se você não me explicar nunca entenderei mesmo! – ele diz com raiva desta vez – Leia.

– Eu não consigo, seu imbecil! – tudo o que sei fazer é gritar – Fiquei lendo o mesmo capítulo, a mesma frase, milhares de vezes. Não consigo entender as palavras, não consigo focar! De que adianta terminar isso se não vou absorver nada?!

Nathaniel fica me encarando, parece entender alguma coisa. Balanço a cabeça com raiva e vou até meu armário, procurando por meu cachecol. Não quero voltar ao quarto tão cedo. Talvez eu passe em alguma locadora para ver se encontro o filme, só pra ter uma noção do livro.

Ouço-o suspirar logo atrás de mim e logo depois o barulho de algo caindo sobre a cama.

“Silêncio, moços! Acabai com essas cantilenas horríveis...”

– Nathaniel – olho-o incrédulo, por cima do cachecol que me cobre a boca – O que está...?

– Eu preciso terminar a história também, então fique quieto – ele ralha – “Silêncio moços...”

– Você não está fazendo isso...

– Além de tudo você é surdo? – ele pergunta, sem tirar os olhos do livro – Cale a boca e preste atenção, não vou ficar voltando só porque você não entendeu.

– Nathaniel, você já passou da metade do livro, não precisa voltar só pra ler pra mim – cruzo os braços

– Não mesmo. – ele me olha por alguns instantes e logo depois volta a olhar para o livro – “Silêncio...”

– Ei!

– Vai ficar quieto ou não? – ele me olha perigoso e desafiador, e acabo me intimidando um pouco – Precisa mesmo tanto passar nessa prova?

– Sim...

– Então não abuse da minha boa vontade. – assim que ele diz isso, abro um pequeno sorriso. Mesmo com toda essa grosseria e dureza, não posso deixar de perceber o tamanho do que ele está fazendo para mim.

Ele pigarreia enquanto eu me sento na minha cama, tirando minhas botas e o cachecol recém colocados.

– “Silêncio, moços! Acabai com essas cantilenas horríveis! Não vedes que as mulheres dormem ébrias, macilentas como defuntos?...”

***

Quando chegamos ao terceiro capítulo, Nathaniel abaixa o livro em seu colo e aperta a região do pescoço. Sua voz ficou consideravelmente rouca por ler tanto e ainda com o timbre da voz alto. Além de todo o esforço para explicar aquelas palavras rebuscadas e terríveis.

– Sente aqui – abro espaço para ele na cama – Poderá ler num tom mais baixo. Aí não agride muito a sua garganta.

Ele me olha desconfiado, mas fecha o livro e se levanta, marcando a página em que paramos com o dedo indicador e logo depois afunda-se ao meu lado na cama.

– Vejamos... Tem mais alguma palavra que você tenha achado complicada? – pergunta pela milésima vez

– Cabeças cãs que semelham o diadema do... Pintor? – eu pergunto confuso, olhando por cima de seu ombro

– Esta é complicada mesmo... – ele explica pacientemente e percebo que está grato pela proximidade, que diminui a necessidade de aumentar o tom de voz – Ele quer dizer que...

***

Nunca prestei tanta atenção a algo na minha vida inteira. O modo como ele conta a história me faz compreendê-la perfeitamente, e ao invés de as palavras ficarem pairando acima da minha cabeça, eu consigo entender seu contexto e o porquê de certas coisas.

Nathaniel nunca deve ter lido tanto em voz alta. Mas parece confortável com isso, apesar de tudo. Não deixo de pensar que isso deve cansar, e muito.

Ele abaixa o livro novamente.

– Tudo bem? – pergunto tímido, ainda o observando

– Cansado – ele boceja – E com sede.

– Quer parar?

– Quero um copo cheio d’água.

– Eu pego – começo a me levantar, e ele me encara confuso – Posso pegar café também, ajudaria?

– Sim, muito. – ele fala esgotado – Chegamos à metade, não falta muita coisa...

– Volto em cinco minutos – aviso – Não fique se esforçando.

Decido retribuir o grande favor que ele está me fazendo com pequenas gentilezas. Eu posso fazer isso, não posso? Afinal, ele (o Nathaniel) está sendo legal comigo. Muito legal, por sinal.

Espreguiço-me no corredor e vou andando em passos largos até o refeitório. Encontro Alexy e Rosalya, mas quando eles falam comigo eu os ignoro.

Decido gastar todo o meu estoque diário de bom humor e educação com o Nathaniel. Afinal, acho que ele merece isso.

***

– Comprei três garrafas d’água – anuncio assim que abro a porta – E dois copões de café. Você acha que vai ajudar?

– Acho – ouço-o rir baixinho, esparramado na cama

Na minha cama.

Coro um pouquinho, e fico feliz de poder usar o vento gélido do inverno como desculpa para a coloração de minhas bochechas. Observo Nathaniel se espreguiçar e retiro minhas botas, colocando os itens que comprei ao lado da cama.

Ele se levanta para que eu possa sentar e pega uma das garrafas de minha mão, tomando metade de seu conteúdo em um gole só. Assim que termina parece revigorado.

Observo-o, por cima do meu próprio copo, tomar um pouco de seu café quente e ajeitar os ombros. Eles estalam, assim como o resto do corpo dele assim que se vira um pouco para o lado.

– Você está gelado. – ele observa, tomando um bom gole do café

– Você nem tocou em mim. – retruco, sorrindo de leve

– Mas você tá com uma aura gelada – ele diz, como se fosse óbvio – Não preciso encostar pra saber.

– Uhum – ergo minha mão gélida até o rosto dele, e ele dá um pulo para trás – Tá bom pra você?

– É o que dá não sair de luvas – ele dá de ombros, voltando a pegar o livro – Capítulo sete...

***

Assim que a noite começa a cair, Nathaniel começa a capengar. Suas pálpebras estão semi-abertas e ele fica ajeitando as costas de dois em dois minutos. Vou para o lado e puxo-o pela manga da camisa, de forma que se deite nos travesseiros.

Ele não se opõe, sequer para de ler. Não parece nem perceber que mudou de posição.

A voz dele vacila e ele fecha os olhos, soltando de leve o livro.

– Quer parar? – pergunto pela décima vez

– Não – ele boceja – É só a minha voz. Minha garganta fica arranhando...

– Vem mais pra perto. – dou a ideia – Assim você não precisa ficar falando alto.

– Não dá – ele boceja outra vez, esticando os braços – Esse seu travesseiro é muito baixo...

– Levanta a cabeça – eu digo e ele obedece, meio grogue para pensar

Devo estar meio grogue também, só por ter tido uma ideia dessas.

Coloco meu braço rapidamente embaixo de sua cabeça e o puxo para mais perto pela camisa. Ajeito meu outro braço da melhor maneira que consigo e ele me olha parecendo completamente desperto por alguns segundos.

– Melhor? – pergunto sussurrando

– Um pouquinho. – ele murmura e eu fecho os olhos, tentando prestar atenção ao que ele diz, e não ao fato de que consigo sentir sua respiração quente e compassada em meu rosto

Sinto-o apoiar o livro em meu peito, e meu coração acelera de tal forma que tenho certeza de que ele consegue ouvi-lo.

***

A certo ponto, eu chego a certeza de que não há mais sangue circulando no meu braço. Mas eu não me mexo ou faço qualquer movimento, com medo de atrapalhar Nathaniel. Mesmo que isso signifique deixar meu braço gangrenando.

“Não me amaldiçoes, não!” – Nathaniel respira fundo e eu consigo sentir parte de seu corpo contra o meu – Que droga... Você está conseguindo acompanhar?

– Que merda acabou de acontecer?

A cada conto do livro, a cada história dos frequentadores da Taverna, as coisas vão ficando cada vez mais absurdas. Eu fico chocado assim que entendo que está acontecendo, e minha respiração falha. Nunca senti qualquer tipo de afeto ou estranheza por personagens literários, por não conseguir entende-los. Nem tenho muita certeza de que entendo esses aqui, porque eles são extremamente estranhos. Mas com Nathaniel lendo assim, para mim, com emoção na voz e parecendo mudar o tom para cada um deles, descrevendo os cenários e os sentimentos de cada personagem, o interior de cada deles, suas peculiaridades e suas histórias absurdas, sinto como se pudesse compreendê-los, e eles nem ao menos existem.

Meus olhos se enchem de lágrimas, e permito que elas escorram silenciosa e discretamente pelo meu rosto, na plena consciência que apesar da pausa que ele deu, Nathaniel não está prestando atenção em mim, mas sim aos próprios sentimentos de perda.

Penso que ele deve estar habituado a isso, e abro o olho esquerdo para espiar suas reações. Ele aperta e abre os olhos constantemente, lutando para se manter acordado e atento.

Sorrio.

***

“... A lâmpada apagou-se.” – ele suspira e solta o livro em meu peito

– Acabou? – pergunto indignado ainda de olhos fechados, sentindo-o remexer-se ao meu lado

– Acabou. – ele anuncia e ouço-o abrir um sorriso tímido

Quando abro os olhos, seu rosto está na altura do meu, e ele está tão perto. Tão perigosamente perto...

Observo atentamente enquanto ele abre os olhos. Ele não recua, talvez esteja um pouco cansado demais para isso. Apenas me analisa atentamente e tem os lábios entreabertos, cansado. Não me movo, consciente de sua respiração pesada perto de meu rosto e da proximidade avassaladora.

Não me lembro de seu rosto ser assim, tão bonito, visto de tão perto. Eu poderia memorizá-lo qualquer dia desses e ainda me surpreenderia com tamanha beleza. Delicada e rústica. Tranquila e atenta. Uma beleza de menino.

Passo o nariz sobre o dele, e ele joga a cabeça para frente, roçando os lábios nos meus levemente. Não penso duas vezes em abrir a boca e uni-la a dele, e ele também não parece pensar.

Talvez eu não saiba no que estou me metendo. Ou sobre o que significa o que está acontecendo neste exato momento, e os motivos que nos levaram a isso. Mas talvez eu saiba.

Sinto a textura de seus lábios macios sobre os meus e fico pensando no quão certo e no quão errado isso parece ser, ao mesmo tempo.

Toda essa informação intensa.

Ele leva a mão à minha nuca, e eu pouso a minha em seu ombro, tentando absorver tudo o que consigo vindo dele. Penso que devo abrir os olhos, e que não me lembro de tê-los fechado.

Mas não consigo, porque estou morrendo de medo de acordar. De acordar e de não ser real. Tento aproveitar ao máximo tudo o que consigo, mas Nathaniel perde o fôlego, e assim que se afasta para tomar ar percebo que ele relaxa completamente.

Ainda sinto seus lábios, tão corretos e tão confortáveis, sobre os meus quando caio no sono profundo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ENTÃÃÃÃÃO???? O QUE VOCÊS ACHARAM????
AHHHH EU TAVA DOIDA PRA ESCREVER O PRIMEIRO BEIJO DELES! OBS: Cena inspirada no meu livro favorito, Fangirl, porque eu simplesmente não consegui imaginar uma forma melhor e mais natural do que essa pra colocar uns amassos
Como eu disse lá em cima, só espero não ter ido rápido demais. O que vocês acharam?! Criticas, tomates, Castieis? Me avisem!
Só queria avisar aqui uma coisinha que eu venho pensando nos últimos dias: O meu Cass, como vocês podem perceber, é um pouco mais sensível que o do jogo. Eu decidi que ele fosse assim porque o Castiel do jogo já provou ser um merda milhares de vezes, e eu não suporto isso. Fiquei com vontade de esmurrar ele no ep 23, quando ele fala todas aquelas coisas horríveis sobre o Nathaniel (só pra depois aparecer com uma solução e pra passar um tempo sozinho, REPITO: SOZINHO, com o loirinho, mas isso não vem ao caso -q) e quando ele chama a Docete de tábua. ARGH EU NÃO SUPORTO QUANDO ELE CHAMA A DOCETE DE TÁBUA E COM CERTEZA MANDARIA ELE TOMAR NO CU SE ESTIVÉSSEMOS NA VIDA REAL!
Sei lá, eu vivo numa relação de amor e ódio com o Castiel, porque o humor e a história dele me agradam, mas a forma como ele lida com tudo é deplorável...
Então, outra coisa, eu tinha que compartilhar (e pedir a ajuda) de vocês sobre uma coisa: QUAL O NOME DA BRANCA EM FRANCÊS?! A Branca é a gatinha do Nath, e eu queria muito descobrir o nome dela em francês pra poder colocar em outra fic! Olhem a que ponto de desespero eu cheguei amigos, procurar no google o seguinte tema: nome do gato do nathaniel em francês
Claro que eu não achei absolutamente nada, então se vocês souberem por favor me falemmmm
Obrigada mais uma vez a Luna Cullen pelo recomendação linda! Você mora no meu coração viu?
Beijooos e até