Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 63
Xadrez Francês


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! >.



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Capítulo 62

Xadrez Francês

“A bondade também é maldade. Há certos maus que podiam ser bons” – Ieda Graci

LaFee – Wer Bin Ich

Os tiros soaram altos, atravessando as árvores em seu percurso. Louis pensou que estaria morto nos próximos minutos, porém os caçadores caíram, agonizando. Não que ele também não estivesse agonizando, com a bala em seu pulmão. Mãos alcançaram-no e uma faca cortou sua camisa, destruindo-a. O sangue grudou o tecido a pele, o que foi um pouco mais doloroso para tirar. Ainda com a faca, a pessoa que o havia salvado adentrou a carne e vasculhou minuciosamente o ferimento, Limpou-o e chamou alguém chamado “Mei” para ajudá-lo, em chinês.

– Meninas... – Louis gemeu, com todos os pensamentos voltados para elas. E se estivessem sozinhas? E se estivessem em perigo? Será que haveriam mais caçadores na floresta, prontos para matá-las? A preocupação tomou-o e quis levantar-se, porém foi jogado violentamente contra a terra. O rapaz sobre ele, apenas um vulto rechonchudo e alto, grunhiu algo que parecia “Pegue logo a caixa”, uma ordem para Mei, que habilmente abriu a caixa e tirou algumas pinças. Segurou-as contra a pele cortada de Louis, sem pedir permissão. O rapaz pegou uma seringa e a colocou na carne de Louis, empurrando o êmbolo e o líquido translúcido. Uma dor alucinante e então nada. A dor passou e junto dela os movimentos do braço esquerdo.

– Mantenha-o imóvel. – Exigiu o rapaz, e Mei atendeu a seu pedido, segurando ambos os ombros de Louis. Ele sentiu uma pinicada em seu pulmão, porém não notou quando a bala foi retirada. Calor começou a subir pela pele, até queimá-lo. Exclamou, porém Mei era forte e tinha braços hábeis, alcançando sua mão a tempo para que não socasse seu companheiro. Louis estancou, ainda muito ferido. A dor era algo quase ignorável.

Louis ainda queria gritar e pedir para procurar por suas meninas, porém as pernas se tornaram pesadas e pouco a pouco as pálpebras caíam. Sentiu-se em imersão em um lago congelado, e logo abriu os olhos, respirando fundo e batendo no próprio rosto para se manter acordado, vivo, ou ao menos ali. Mei sorriu-lhe, gentilmente.

– Não vai conseguir – disse, sua voz tinha uma bonita combinação de harmonia e suavidade. Ela deveria ser uma ótima cantora. – É um sonífero.

Louis compreendeu que todas as suas tentativas de se manter acordado seriam vãs, algo que não aceitou. Prendeu as pálpebras abertas, todavia era claro que a medicina ganharia de sua força de vontade e assim adormeceu lentamente. Despertou sem sonhos após algumas horas, sentindo uma dor leve no peito enquanto se levantava. As costas estavam apoiadas em uma parede e aparentemente havia fogo aceso, pois a luz era viva e o calor vinha depressa, ou isso, ou o Sol havia lhe dado um pequeno raio apenas para si. Louis sentiu uma dor de cabeça tomando-o pela têmpora, porém logo passou, assim que as vozes alcançaram seus ouvidos e pode reconhecer as notas de uma canção. Havia anos que não ouvia uma canção... Ou seriam milênio? Tudo parecia longe demais, inclusive a alegria.

– Louis! – exclamou Johanna, envolvendo-o com os braços. Seu peito exclamou de dor e compreendeu que alguns pontos do curativo haviam sido abertos pelo joelho de Johanna, porém envolveu a pequena com toda a doçura que conseguia formar agora. Francis foi mais discreto, aconchegando-se ao seu lado, com os braços apertados em seu outro braço, afagando-o com o peito pequeno e a barriga rosada.

– Vocês estão bem... Que bom. – suspirou. Um grande peso foi tirado de suas costas, enquanto beijava ambos os irmãos. Seus olhos se acostumaram com o cenário: um galpão abandonado, mas que estava sendo usado de abrigo para uma chuva leve do lado de fora, ah, claro, era noite. Encontrou suas meninas sentadas ao redor da fogueira, cantando, algumas lhe lançavam olhares risonhos, outras não o haviam visto ainda, como Catarina. Duas figuras desconhecidas também cantavam. Uma delas ele reconheceu pela voz que era Mei, a menina que o segurara para que o rapaz lhe fizesse o curativo. Mei tinha traços asiáticos muito definidos, o que o fez pensar que ela estava longe de casa. – Quem...? – a voz sumiu na garganta, enquanto os olhos de todos se voltavam para ele. Nunca se sentira tão exausto.

– Príncipe Louis, o senhor está bem? – perguntou uma das garotas. Uma pergunta ridícula. Porém Louis apenas sorriu e assentiu, o máximo que Johanna deixava que fizesse. Algumas se deslocaram até ele, formando um outro semi-círculo. Catarina lhe olhava de cima a baixo, Anny mantinha os olhos em seu peito, e só então ele notou que estava sem a camisa e que sangue escorria pela pele, onde Johanna havia tirado os pontos com seu joelho. Colocou-a gentilmente ao seu lado e apontou para si mesmo.

– Pode arrumar isso? – se direcionava ao único outro jovem ali com eles. O rapaz concordou com um meneio e um sorriso, pedindo novamente para Mei trazer a caixa, branca e de tamanho duvidoso, com a cruz vermelha. Notou pelo canto do olho que as demais meninas pareciam receosas por ver a operação, deste modo apontou para a fogueira. – Alguém tem comida? Meu estômago está roncando. – fazia um dia e meio que não se alimentava. Uma delas, Anny, correu até o fogo e de lá tirou uma lata parcialmente aberta, de onde vapor emanava. Ela tinha uma colher de plástico na outra mão. Ajoelhou-se ao seu lado e se recusou a entregar a lata para o príncipe. Anny enfiou a colher, pegou um pouco de sopa amarelada e ergueu-a, até a boca de Louis. O príncipe não recusou o tratamento luxuoso.

– Você dormiu por seis horas. – anunciou Johanna, indignada. – Estava quase chamando-o de Bela Adormecida.

– Me sentia muito cansado – explicou –mentiu- enquanto Anny preparava mais uma colherada. Robbyn tinha um violão em mãos, algo que provavelmente os novos integrantes do grupo haviam lhe dado. A menina dedilhava alguns acordes quando notou que ela tinha calos e dedos finos, ao mesmo tempo ágeis e firmes. – Ei – chamou-a e Robbyn empalideceu, arrumando a coluna, como uma estátua. – Toque um pouco para nós. Estava gostando da música.

Robbyn assentiu, começando uma melodia que ele conhecia de infância, uma música francesa que se espalhara pelo mundo e fora traduzida para diversas línguas. Embora fosse infantil, a canção lhe dava boas lembranças e principalmente alegrava-o, ao ver Johanna e Francis batendo as mãos conforme o ritmo. De repente o mundo o sugou para uma realidade milagrosa: havia se perdido nos limites do Reino, quase fora contaminado com a Praga, haviam pessoas que queriam matá-lo e inclusive lhe deram um tiro no pulmão, mas cá estava, são e salvo, se recuperando muito bem e com todas as selecionadas que ainda restavam. E seus irmãos. Nada acontecera a eles. Louis agradeceu mentalmente a Deus, embora nunca tenha sido muito religioso. Raras vezes ele conseguia pensar na realidade, pois ela costumava ser muito chata e triste. Mas agora a adorava. Podia ter perdido seu pai, mas tinha uma mãe a salvo na Península. Piscou os olhos e só então notou: Madame.

– Onde está Madame Evangeline? – perguntou, o tom se elevando na última sílaba. Algumas meninas se entreolharam e outras abaixaram os rostos. Algo de ruim havia acontecido, algo de muito ruim. Algo esfriou toda a alegria que ele estava sentindo.

– Madame... Ela... – Catarina parou no ato de falar, respirando fundo, e quem concluiu foi Anny:

– Madame se perdeu na floresta. Estávamos andando juntas quando de repente vocês dois desapareceram. Pensamos que haviam se separado e estavam andando juntos, mas só o encontramos. Ficamos horas gritando por ela, mas nada dava sinais de que ela estivesse perto.

– Eu vi alguns lobos devorando algo. – Mei contou – Poderia ser ela.

A expressão de horror que se instalou no rosto de Louis fez Mei piscar e ruborizar violentamente, como se notasse que havia dito algo terrivelmente ruim.

– Quer dizer, poderia ser. Mas provavelmente não era, afinal teríamos ouvido os gritos.

– A não ser que os lobos tenham ido direto na garganta. – o rapaz deu de ombros, e Louis sentiu a frieza em seu âmago se intensificar. Madame estava morta? Devorada por Lobos? Tinha de saber que aquela ilusão de sorte teria um fim rápido. Mei deu um leve empurrão no ombro de seu companheiro.

– Não ligue para o que Miguel diz, ele não é muito delicado. – Mei sorriu, embora estivesse terrivelmente avermelhada. Miguel deu de ombros novamente, deitando-se enquanto Mei terminava de costurar o peito de Louis. – Diga a seus irmãos para não exagerarem no amor, você precisa de descanso e caso esses pontos ficarem abrindo o tempo todo, logo haverá uma infecção.

– Ouviram? – virou-se para Johanna e Francis, ambos assentiram, Johanna encolheu-se. Pediu desculpas baixinho e ele apenas a apertou um pouco mais contra si. Sabia que ela não fez por querer, sabia que a perdoaria não importava quantas vezes destruísse os curativos. Ergueu os olhos para as suas meninas, para elas que sorriam e cantavam ao som de Robbyn. Catarina lia um livro, mas até mesmo ela, com seu rosto quase inexpressivo, demonstrava-se muito mais radiante a alguns dias atrás. Não estavam famintas, não estavam cansadas. Por todas as desventuras do caminho, elas permaneciam bem.

º º º

Louise tamborilou o dedo sobre a carta do Imperador Chinês. A proposta de casamento havia chegado alguns dias atrás, mas ainda não se decidira. O Rei Espanhol também estava muito interessado em um casamento. Ela sabia exatamente o que os dois reinos queriam: a França. Mas também sabia que estava muito vulnerável. A Península e a China eram grandes rivais, e faziam fronteira com a França. Não importava que lado escolhesse, o outro encararia aquilo como uma desfeita desrespeitosa e poderia voltar-se contra seu reino. A última coisa que precisava era de mais camponeses mortos e furiosos.

Ao mesmo tempo, Joaquim liderava explorações pelas cidades pequenas e grandes, em busca de revoltosos. Prendera cerca de quinze grupos terroristas e reformara cinco igrejas que haviam sido destruídas pelos vândalos. Seus filhos mais velhos organizavam festivais em comemoração a vida do Rei e também a colheita que tiveram, farta. Joaquim sabia jogar aquele jogo. Se mostrava muito mais amável que tinha suposto. Mas ainda queria colocar seu filho no trono, ainda queria se tornar o rei legítimo, queria tirar a coroa de Louis. E então a rainha voltava para outro ponto: o Imperador havia prometido enviar equipes de busca para encontrar Louis, Francis e Johanna. O Rei da Península também. Ambos os homens estavam dispostos a disputar sua mão.

Mas qual lado seria mais vantajoso para o reino? Teria a riqueza e a tecnologia da Península? Ou o exército e a fome da China? Se casasse com o irmão do Imperador, poderia alimentar os famintos chineses, como também poderia se proteger contra os próximos atentados revoltosos. Todavia a Península tinha muitas outras alianças boas e era muito influente. O único reino que se mantinha vivo e em boas condições. Pensou em se casar com o ex-rei inglês, recém viúvo, porém ele parecia totalmente arrasado com a perda de seu reino e o atual rei da Inglaterra tinha apenas dezessete anos... E já queria os preparativos para seu casamento com uma das damas de companhia que trouxera da Inglaterra. Louise só podia agora esperar. Esperar por seu filho.

Escreveu rapidamente uma carta agradecendo à proposta do Imperador e dizendo que concordava em casar com seu irmão caso eles encontrassem Louis. Depois escreveu uma carta ao Rei Espanhol, com as mesmas palavras. Estava apostando tudo em Louis. Quem encontrasse seu filho teria o direito de ganhar a França. E Joaquim não poderia fazer nada quando Louis estivesse a salvo e ela casada com um novo rei. Sorriu, virando-se para suas três belas filhas. Agora vinha a questão mais complicada: as cartas com propostas de casamento para elas. Uma do Japão, outra da União e a terceira da Península.

Revirou os olhos. Quinze, doze e dez anos. Era inacreditável que os nobres realmente quisessem casá-las nesta idade. A recusa seria inevitável.


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Notas finais do capítulo

Então, já que vocês não querem que eu termine, eu vou continuar meus planos para a história! *-* Algumas personagens que estavam sendo contadas não vão mais aparecer, como por exemplo Zafirah. Ela embarcou no Navio Barbatana e tem uma nova família, e com essa família era continuará a viver. Talvez eu fale alguma coisa sobre Denzel e Ashley, mas só se caso eles cruzarem com alguém da realeza, como aconteceu com Zafirah e os Príncipes Russos.
Beijos da Meell Gomes e muito obrigada pelos reviws!!



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