Creatures of The Night - The Called of The Wolf escrita por Giovana Machado


Capítulo 3
Capítulo 3 - Ditadora de saia e salto alto.




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Na manhã seguinte, Sasha se encontrava parada em frente ao espelho atrás da porta conferindo se estava tudo no seu devido lugar.

– Cabelo, maquiagem, bolsa, material, celular, perfume. - repetia ela, tentando lembrar se havia esquecido de alguma coisa.

Seu estômago roncara alto. - Café da manhã, obviamente.

Ela olhara novamente para seu reflexo, pensativa. O cabelo castanho escuro estava cheio, como sempre, os cachos dificilmente eram domados por escovas e pareciam ainda mais rebeldes depois do banho e das sessões com o secador. Uma camada de base e corretivo cobria as pequenas olheiras que haviam surgido debaixo de seus olhos, que foram destacados pelo lápis de olho marrom e sombra da mesma cor. O batom nude completava a composição básica de cores.

– É só a escola, não tem porque ficar nervosa. Ninguém vai te comer viva. - dissera ela confiante, antes segurar firmemente a alça da bolsa no ombro e sair do quarto.

Autumn já preparava o café da manhã das duas. Ao contrário de Sasha, tivera uma ótima noite de sono e parecia bem disposta para começar suas aulas na faculdade.

– Precisaremos comprar um carro para você. - comentara ela, servindo uma porção generosa de bacon num prato. - Alguns dos meus horários serão diferentes dos seus e não posso ir e vir todo o tempo. Além disso, você é jovem, vai querer sair e não serei eu a impedir que faça isso.

– Sério? - a garota a olhara animada.

– Sim, mas calminha aí, senhorita. - a loira levantara o indicador. - Você pode sair, mas esteja sempre com o telefone ligado. Quero sempre saber com quem você está, onde e fazendo o quê. Saia um pouquinho da linha e as consequências serão graves, estamos entendidas? - o tom dela era meio brincalhão, mas parecia sério.

– Completamente. - Sasha batera continência com os dedos e voltara a comer suas panquecas. As duas sempre comiam mais de manhã, mais proteínas, mais carboidratos e se Autumn não tivesse passado no mercado mais cedo, teriam uma terrível dor de estômago até a hora do almoço. - Gostei da ideia do carro.

– É, mas vamos procurar alguma coisa simples. Não queremos esse tipo de atenção. - ela se servira de café, pegando um waffle do prato.

– E que tipo de atenção queremos? - a garota arqueara uma sobrancelha.

– O menor possível.

– Que sem graça.

***

– Boa sorte! - desejara Autumn, acenando pela janela do carro. - Faça muitos amigos!

– Vou tentar! - rira Sasha, antes de subir as escadas da frente do prédio.

Aquela escola parecia ser antiga, com as paredes de tijolos vermelhos e telhados cinzentos, mas a julgar pelas janelas e áreas pavimentadas, fora reformada recentemente.

Ao lado do portão principal havia um bicicletário abarrotado de bicicletas esportivas, algumas scooters e um patinete. Um pouco mais afastado dali havia um estacionamento dividido em áreas, a área dos professores definitivamente tinha os carros mais baratos se comparada a dos alunos, onde cada marca importada parecia competir entre si.

– Esse com certeza vai ser um ótimo ano! - uma garota morena estava sentada em cima de uma das carteiras da sala de História. - Eu estava pensando em organizar uma festinha esse final de semana, para comemorar o início das aulas. O que acha, Candice?

– Parece ótimo, mas depois conversamos sobre os detalhes. - a loira direcionara um olhar para a porta, avisando que o professor já estava a caminho e sentara-se no seu lugar.

Ao contrário da amiga, a primeira garota continuara na mesma posição, conversando com todos que a rodeavam. Os meninos pareciam enfeitiçados pelas pernas bronzeadas expostas pela saia curta e cada vez que ela as cruzava ou descruzava eles soltavam suspiros admirados.

– Senhorita Moreno e demais alunos, queiram se sentar, por favor. - o professor deixara a maleta em cima da mesa, sentando-se em sua cadeira em seguida.

Carla se levantara a contra gosto, indo para o fundo da sala. O burburinho de alunos se desfizera quase que imediatamente e todos voltaram aos seus devidos lugares.

– Esse lugar é meu. - sibilara a garota de origem latina, com as mãos apoiadas na mesa. - Por favor, saia. - um sorriso perigoso se abrira em seus lábios.

Infelizmente aquela tinha sido a carteira que Sasha escolhera para se sentar em sua primeira aula.

– É mesmo? Estranho, não vi nenhum nome marcado aqui. - ela apontara para baixo, provocando-a. - E como não há uma identificação, essa mesa está livre para quem quiser se sentar nela, no caso eu.

O sorrisinho sarcástico dela fez Carla ter vontade de arranca-lo com suas unhas.

– Algum problema, senhoritas? - sem que percebessem, o professor parara na frente delas de braços cruzados.

– Nenhum problema, senhor Anderson, só o completo descaso para com a política de bom convívio em sala de aula. - Carla sorrira cínica. - Você provavelmente é novata, então não deve saber como as coisas funcionam por aqui.

– Se houvesse uma política de bom convívio em sala de aula, o que eu acredito que não há, a regra sobre os lugares serem demarcados estaria explícita e alguém na diretoria teria me avisado sobre ela. Como não há, não pode me culpar por sentar aonde eu bem entender.

A troca de olhares entre as duas foi mortal.

O professor apenas estalara a língua, pronto para acabar com aquela briguinha ridícula.

– Senhorita Moreno, por que não se senta em outro lugar e nos permite seguir com o que realmente importa?

Ela o olhara indignada antes de ir para um dos lugares vagos na frente.

– Em um ponto ela está certa, você é uma novata. - senhor Anderson coçara sua nuca, pegando uma folha de papel de dentro da pasta. A camisa bege amassada tinha uma mancha de café. - Sasha Telacci?

– Isso mesmo. - sorrira ela.

– Muito interessante. Pelo seu sotaque é russa, estou certo?

– Sim, senhor.

– Ótimo. Um dos assuntos que iremos abordar esse semestre é o fim da Segunda Guerra e as razões para o começo da Guerra Fria. Acho que você já deve ter estudado sobre a ocupação da Alemanha pelos soviéticos, não é? - ele mexia freneticamente com o papel enquanto andava, segurando os óculos com a outra mão.

– Um pouco. - engolira em seco. Tinha que admitir que história não era o seu forte. Na verdade não ia bem em nenhuma matéria, além de educação física e sempre passava raspando no final do ano. - Por quê?

O restante dos alunos só observava quieto. Hora olhando o professor, hora olhando Sasha e alguns, como Carla, estavam mais preocupados com as telas dos seus celulares.

– Qual seria a sua opinião se houvesse alguma justificativa para os crimes imperdoáveis cometidos contra o povo Judeu, ciganos e demais etnias, que foram exterminados pelos nazistas?

A garota piscara, aflita. O que ela pensava sobre isso?

– Ah... Eu... - sua voz falhara um pouco. - Na verdade há uma justificativa para isso, professor.

O homem inclinara a cabeça, intrigado.

– Interessante. Desenvolva sua teoria, por favor.

Sasha mexera-se desconfortável na cadeira.

Desenvolver uma teoria. Desenvolver uma teoria? Como se desenvolve uma teoria quando se tem dezenas de olhos te fitando como leões, prestes a te atacar ao menor sinal da digníssima fêmea alpha, vulgo Carla?

– Nenhuma ação fica sem justificativa. - Sasha pigarreara, fortalecendo a voz. - E certamente a ação dos soldados nazistas não ficou sem punição pelo exército soviético. Mas vale lembrar que todos fizeram o que fizeram porque seguiram ordens e não apenas isso, eles seguiram uma ideia bem formada de que a raça ariana era superior e as demais deveriam se curvar perante si. A justificativa foi de que eles fizeram o que fizeram porque achavam que era certo. Não estou dizendo que isso foi legal, que foi bom, porque não foi. Mas para um alemão preenchido pelo sentimento amargo da humilhação, essa foi a melhor jogada de todas.

Depois dessa fala, todos tinham os olhos arregalados.

– E mais uma vez eu me surpreendo. - o professor sorrira levemente, colocando os óculos. - Alguém compartilha da mesma opinião da senhorita Telacci?

Ninguém se manifestara.

– Obviamente não, professor. - uma vozinha pomposa se pronunciara, chamando a atenção de todos. - Se tudo tem uma justificativa, como ela disse, essa garota vai nos metralhar assim que tiver chance, se não formos legais com ela. Igualzinho aos gângsteres da família dela fazem.

Um coro de risos foi ouvido depois disso.

– Esse comentário foi desnecessário, senhorita Moreno. - Anderson colocara os óculos, sentando em sua mesa.

Carla voltara a se acomodar em seu lugar, com um sorriso triunfante.

– Agora que já temos uma nova perspectiva em relação ao assunto, o iniciaremos de fato. - ele deu fim a pequena discussão e passou a escrever algumas palavras na lousa.

Apesar de se sentir orgulhosa de si mesma pela explicação, Sasha tinha que admitir que aquela garota havia conseguido mexer, mesmo que só um pouquinho, com a sua paciência e rezava para não ter que encontra-la novamente nas outras aulas.


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Notas finais do capítulo

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