Acordei mais cedo do que o normal no dia seguinte. Cara,o que tinha rolado mesmo? Pra ser honesto,nem lembrava,só de ter apertado um monte de atalhos pra 'coração' no computador,ou algo assim. Credo.

Esfreguei os olhos e dei uma olhada ao redor. Talvez o 'brinde' ainda estivesse ali,nem sei. Tinha acontecido tanta coisa nesses poucos dias que meu cérebro não conseguia calcular bem. Sei lá,talvez ele ainda estivesse lembrando daquela bagunça na praia. Ah,é isso que aconteceu,as ofensas lindas pra Iemanjá e a guerrinha de água. Até que tinha sido divertido.

­­—Bom dia,bela adormecida!—eu ouvi,e bati as costas na cabeceira da cama. Que legal,o exu tinha voltado.

—Bom dia,Fê.—respondi,não muito animado com isso. Ela acenou,e como se fosse bastante normal,pulou pra dentro do quarto pela janela. Eu entrei pra baixo dos lençóis,e provavelmente corei. Ela ergueu a sobrancelha.

—Pra quê isso? Você dorme de camisola,ou alguma coisa assim?—ela perguntou,num tom até sério. Eu fiz que não com a cabeça. —Ué,então não tem porque você simular um tomate no rosto,Wales.

—Não,NÃO LEVANTA O LENÇOL!—eu falei,quase gritando,e ela riu.

—Por que não? Não vai me dizer que você é um daqueles que dorme de cuequinha rosa-bebê,né?

—Não! É de Poá.

—Poá? Nash,que diabos é Poá?—ela perguntou,rindo um pouco. Nem dá pra ser mais 'chique' com esse povo,alguém me ajude,que eu tô precisando.

—Bolinhas.—respondi,virando os olhos,e ela parecia que ia soltar um pum ou algo assim. Aí ela começou a rir,muito alto.

—Poá,cara? POÁ?—Ela disse,entre risadas,e depois de um bom tempo,parou,se abanando um pouco por qualquer razão.

—Hã..é,poá. Nunca ouviu isso?

—Só de senhoras idosas e solteiras com trezentos gatos,Wales,não de um cara bonito e idiota!—ela disse,e bagunçou meu cabelo,já que aparentemente não estava zoado o suficiente depois de eu ter amassado ele todo no travesseiro.

—Tá,então eu sou uma idosa solteira que ama gatos. Feliz?—eu disse,meio mal-humorado ainda. Não me julgue,eu detesto manhãs.

—Não,você é o cara idiota e bonito,mesmo.—Ela retrucou,e eu corei. Cara,por quê eu não parava de fazer isso?

—Hã..é,posso ficar com isso.—eu respondi,um pouco envergonhado. Ela beijou minha testa e saiu do quarto,pela porta,provavelmente pela primeira vez da vida dela. Eu soltei um suspiro fundo,e pensei duas vezes se eu deveria enfiar o rosto no travesseiro e voltar a dormir. Não,eu não podia. Eu tinha uma garota lá fora,e ela estava esperando por mim. Por uma vez na minha existência-não-muito-divertida,eu precisava não estragar tudo.

—Aqui,cabeção,já peguei a comida!—ela disse,rindo um pouco,do lado de fora do quarto. Eu fiz que sim com a cabeça,e troquei de roupa bem rápido. Da última vez que saí de pijama,as pessoas não me olharam com aprovação,eu..acho.

Peguei waffles,e coloquei todo o mel que eu podia colocar,e um pouco de confeitos também. É,parecia uma refeição de uma criança de 5 anos que conheceu um self-service. Ela pegou umas fatias de melão,e muitos biscoitos. Eram tantos que eu parei pra pensar se ela não tinha engravidado de algum jeito mágico. Parecia os posts da minha irmã no tumblr,'meu contato mais íntimo foi um aperto de mão MAS EU NÃO TIVE NADA FAZEM 2 MESES,EU POSSO ESTAR GRÁVIDA??!1??'.

—Nash,você vai mesmo comer isso aí?—ela me perguntou,e eu fiz a mesma expressão confusa.

—E você vai aguentar esses biscoitos todos?

—Claro! Biscoitos são VIDA.—ela disse,com uma expressão levemente psicótica,mas eu já tinha assistido Doctor Who,e não chegava nem perto das expressões do David Tennant. Confie em mim,dá mais medo do que aqueles filmes de susto.

—Então..tá. Mas é,eu vou comer isso. É açúcar,açúcar é bom. Minha lógica.—eu disse,e ela deu de ombros.

—Tá bem,me liga quando o hospital diagnosticar seu nível de glicose,Wales.—ela disse,e riu baixinho. Eu virei os olhos,e comi meu waffle. Sim,estava bom. E ela aguentou os biscoitos.

Depois de um tempinho,a gente não tinha muito pra fazer,então ela teve uma ideia.

—Nash,já foi no mercado daqui? O que tem as comidas bizarras,tipo os escorpiões vivos na chapa?

—OI?—perguntei,um pouco assustado,e ela riu.

—OK,não tem esses,mas tem umas comidas bem estranhas lá. E tem um monte de roupas legais,de vários lugares.

—..Você só quer me vestir de lenhador canadense,né?

—Não é culpa minha,tava na sua carteira de identidade,você é de lá!—ela disse,e eu dei de ombros.

—É,mas eu sou magricela demais pra isso.

—Por isso mesmo!—ela disse,animada,e eu suspirei.

—Tá,pode ser.—eu disse,e ela soltou um barulho que eu acredito ser de aprovação.

—YAY!