Eu e Astrid tínhamos apenas dois filhos naquela época. Naquela boa época. Como todo o tempo que eu e a Astrid vivemos até agora foram felizes, aqueles tempos não podiam ser diferentes...

Astrid Hofferson Strondus continuava a mesma guerreira viking e a mesma doce pessoa com quem me casei. Eu continuava a amando com a mesma intensidade e éramos os mesmos loucos dos nossos 20 anos.

A Astrid só mudou o jeito de usar o seu cabelo. Ela passou a usá-lo em uma única e simples trança loira que caía por suas costas (na maioria das vezes). E a sua trança era muito comprida (já que a lei viking de não cortar o cabelo permaneceu).

E a Astrid tinha a mesma beleza divina e o mesmo olhar: azul e hipnotizante.

Agora vou falar dos nossos filhos. Eles foram e sempre serão o meu motivo de orgulho. Todos eles.

O nosso filho mais velho chama-se Einar Hofferson Strondus. Ele é o meu primogênito e o herdeiro legítimo da Tribo Hooligan.

Ele tinha apenas 12 anos, muitos diriam. Mas já era o meu motivo de orgulho...

Ele lutava como eu não lutaria com 12 anos (ok, ele é filho da Astrid...). Ele luta como um verdadeiro guerreiro viking. Mas, como eu, não gostava e continua não gostando que o elogie ou algo do tipo. Ele é muito tímido.

Ele também escolhera sua arma desde pequeno. Sua arma seria uma espada. Mas ele não era canhoto como eu, era destro. Porém ele era uma espécie de Beserk. Pois é, deu para perceber o seu nível...

Ele tem cabelos ruivos, tão vermelhos como o fogo. São tão lisos que nenhuma trança que a Astrid tentasse fazer em seus fios ficava lá por muito tempo (mania da Astrid: fazer tranças. Sim, ela continua fazendo tranças no em mim ou pelo menos tentando. E Einar salvou-se disso com seu cabelo liso...).

Seus olhos eram verdes como os meus e como os dos seus avós, Stoico e Valka (se bem que os olhos do meu pai mudavam a cor conforme a luminosidade...). E esses olhos estavam sempre brilhando...

Com doze anos já havia conseguido a confiança de dois dragões e treinado vários. Ele conseguiu a confiança do Banguela quando tinha apenas 5 anos (esse é o meu garoto!).

Na verdade bastou um peixe e o Banguela rendeu-se (dragão comilão...).

Está certo (eu vou defender o Banguela) que o fato dele ser o meu filho levou o meu dragão a confiar nele mais rápido. O Banguela não era fácil de ser convencido...

E, além disso, Einar era muito fofo e não dava para negar nada a ele com aqueles olhos (aprendeu com o Banguela com toda a certeza). E mesmo assim Einar não pedia quase nada...

Só pedia para voar comigo e com o Banguela. Eu e ele saíamos bem cedo e voávamos pela Ilha. Ele acompanhava as minhas loucas manobras e até já descobriu Ilhas comigo.

Meu pequeno líder guerreiro...

E a nossa princesa, a minha filha mais velha chama-se Ágda Hofferson Strondus. Ela por sua vez tinha 11 anos naquela época. Mas ninguém daria essa idade para ela...

Ela parecia ter nascido lutando. Ela tinha tanta desenvoltura e era uma guerreira poderosa. Ela derrotava qualquer viking experiente e os inexperientes também.

E nada superou o quanto eu e a Astrid rimos no dia que Cabeça Dura e o Melequento caíram aos pés de uma menina de 11 anos em segundos, num treino de luta. E olha que ela nem era muito boa com espadas...

O que ela gostava mesmo era de atirar. Ela atirava muito, muito bem com flechas. Ela era e ainda é muito habilidosa e carinhosa com o seu arco. Seus dedos são ágeis, leves e firmes. Com 11 anos era a mais precisa de Berk e a mais rápida. E hoje em dia é a mais mortal.

Ela também tem cabelos ruivos, mas não tão vermelhos como o de Einar. É de uma cor bem mais clara. É uma cor muito rara e muito bonita. Ela usava sempre uma única trança que caía sobre o seu ombro direito, assim como a sua franja caía sempre por cima de seu olho direito também.

Os seus olhos eram azuis como os da sua mãe. E quando elas estão juntas, eu fico hipnotizado pelo mar e pelo céu dos seus olhares...

Como a mãe ela pode ser doce e brava quando ela quiser. Pelo menos comigo e com seu irmão ela é sempre doce. Na realidade ela tem um carinho imenso pelo seu irmão, eles são muito apegados um ao outro.

Mas ela não tem a mesma paciência com os filhos de Cabeça Quente e Melequento. Uma novidade para você (ou não): os filhos de Cabeça Quente e Melequento são um casal de gêmeos... E na verdade ninguém tem paciência com Liv e Bruce. Eles são tão lentos e tão... Sei lá, eles tem mania de destruição como os pais (e como o tio).

Mas ela é super carinhosa com os dragões. Todos simplesmente se encantam com ela. Alguns dragões podem hipnotizar humanos, mas ela parecia hipnotizar todos os dragões.

Ela também é o meu orgulho, tão apaixonada como o pai e como a mãe pelos dragões. A minha mãe carinhosamente a apelidara de A Princesa dos Dragões. E mesmo assim ela não era uma Encantadora de Dragões... Como eu sou.

Ela também se sentia encantada quando voava com o Banguela, mas preferia voos mais calmos. Por isso ela gostava de voar com a sua mãe e com a Tempestade. E era maravilhoso quando ao amanhecer nós seis (Banguela e Tempestade devem sempre ser lembrados) saíamos para voar antes deles terem os seus próprios dragões. Ríamos e fazíamos manobras malucas. Era reconfortante e hoje inesquecível...

Mas eles também treinaram os seus dragões...

A Ágda foi a primeira a escolher o seu dragão. Até por que Chama Crescente a escolheu. Quando se encontraram pela primeira vez a ligação foi muito forte.

Ela passeava pela floresta comigo a procura de Terrores Terríveis. Nós adorávamos fazer isso juntos, porque esses dragõezinhos eram muitos divertidos...

A Chama Crescente estava na floresta e quando me viu veio correndo até mim a procura de carinho, que foi recebido. Eu já havia salvado ela uma vez de morrer no frio congelante das Ilhas do Norte. E ela me ajudou na guerra contra Drago. E ela era tão dócil...

Quando ela viu Ágda, seus olhos dilataram ainda mais. E Chama foi até ela. Ágda a acariciava e sorria de felicidade.

“Parece que você encontrou o seu dragão filha”, eu me aproximei e disse sorrindo.

“Ou ela me encontrou”, ela disse animada e fomos para a nossa casa.

Além disso, (da ligação imediata), ela era completamente apaixonada pelos Pesadelos Monstruosos, pelo fato de eles se incendiarem e ela atirar flechas. Imagine essas duas em uma batalha...

Já o Einar demorou mais para escolher o seu dragão (a confiança do segundo dragão). Mas ele também acabou sendo escolhido por um. Por um Sombra Mortal.

Acho que vocês não conhecem esse dragão. Mas ele era um dragão do tipo denominado furtivo. Esse dragão em especial podia camuflar-se em qualquer lugar, até mesmo no céu (diferente dos Transformasas). Eles simplesmente podiam ficar invisíveis ao olho humano. E quem estava montado nele, também ficava invisível.

O dragão do Einar era de um verde mar encantador quando não estava “camuflado”. Sua cabeça também era maior que a de um Transformasa e tinha um pequeno chifre em seu nariz.

Ele podia ser considerado um dragão fofo até... Mas era um dragão muito poderoso. Tinha um fogo ainda mais quente que o do Nader Mortal. Em Berk e em todas as Ilhas que encontrei pelo mundo, foram vistos cerca de vinte desses dragões, o que é considerado pouco para muitos (mas na realidade eram muitos para mim).

Porém em Berk havia só o dragão do Einar. Havia apenas o Sombra (carinhoso o nome, não?).

A Academia continuava a funcionar. A Astrid e o Perna de Peixe é que passaram a dar aulas lá para as crianças da vila. E Einar e Ágda, ao invés de terem as tais aulas, ajudavam eles a darem-nas. Exatamente. Com apenas doze e onze anos os dois já davam aula de Como Treinar o seu dragão...

Era tudo tão perfeito. Dragões das mais variadas espécies sobrevoavam os céus. Mas tudo na vida de alguém pode mudar...

Eu desejo até hoje não ter tido aquele sonho. Porque simplesmente tudo ficou mais confuso em minha vida. Mas esse sonho também me tornou o Encantador de Dragões e a pessoa que sou hoje.

O único Encantador já visto depois da Rebelião.

Afinal, não é todo dia que um dragão daqueles fala contigo e você consegue entende-lo...

Nem mesmo em sonhos...