James colocou as duas mãos na cabeça, a mesma latejava, com espasmos até que todos as dores sumissem. Ele observou ao redor sem entender nada, tentando lembrar de algo, então encarou a namorada mais atrás, ela sorriu timidamente

— o que aconteceu? -James perguntou já caminhando até ela

— nada, você está bem? -Ela perguntou com a voz um tanto entre cortada

— estou, acho - o moreno olhou ao redor confuso.

Sem pensar duas vezes, Clarie enlaçou seus braços ao redor do pescoço do Potter, ele lhe encarou curioso

— o que foi? -sussurrou observando seus olhos profundos, ele não se moveu, não recuou um centímetro

Clarie sabia o quanto aquilo podia destruir a outros, não importava, de jeito algum, ele a pertencia, era dela e de mais ninguém, queria aceitar. Ela o beijou tão velozmente quanto o teletransporte a poucos segundos. Ele retribuiu meio atrasado e desconfortável. Ela o conhecia tão bem, que poderia desvendar seus mistérios só de olhar em seus olhos, ou ela achava que podia. O jovem trilhou beijos por seu pescoço, claramente entusiasmado

—James...

— hum?

— eu quero você... agora- ela sussurrou, ele parou e a encarou

— o quê? - perguntou surpreso

— eu quero você e...

— não, eu entendi, mas... eu não posso fazer isso, agora- Ele respondeu vagamente, Clarie o olhou com duvida, se perguntando se ele realmente havia perdido a memória

— por quê?

— porque não, não é o momento, querida- ele suspirou e ela arregalou os olhos

— você não me quer? Não me ama?

— Clarie, eu amo você, só não está na hora certa

— e quando é a hora certa, Potter?

— quando chegar o momento, eu vou saber, mas não é agora, ainda não

— James Sirius Potter, não acredito que você está me rejeitando!- Ela esbravejou se afastando do rapaz

— não estou te rejeitando, meu amor- ele revirou os olhos - só não é momento pra isso, não é como se eu fosse tirar sua virgindade no meio do porão- ele zombou cerrando os olhos, ela lhe fitou com raiva, aquele era o James de sempre, mas havia um problema, havia algo errado, seu coração, não lhe pertencia agora.

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Rose sentou a mesa e encarou a morena, a mesma baixou o olhar, não parecia com vergonha, mas com raiva. A ruiva focou no garoto ao lado dela, ele parecia se divertir com Al, Lily olhava em relances para todos, aquilo parecia mais uma cena deslocada, perdida, errada, desconfortável. Rose queria atravessar a mesa e bater na cara da garota, e não sabia bem o porquê, ela devia deixar tudo como sempre fora, afinal não tinha sido sempre assim? Talvez só um beijo, um único beijo para libertar Anne e deixar tudo voltar ao normal.

Ela notou que Clarie carregava no olhar um brilho desconfiante, algo que não era tipico dela, Rose notou que tinha algo errado com ela...

— Eu estou com todas as juntas doendo- Alvo reclamou esticando os braços- aliás, o que aconteceu quando você sumiu?

Rose encarou o menino tão rapidamente que sua cabeça latejou, Clarie se inclinou para a frente, para fitar também o jovem. Por alguns segundos ele pareceu hesitar, então ele entreolhou as duas garotas. Rose sentiu o estômago pesar, temendo o que ele diria

— tinha uma voz... e bem, ele falou que teria que matar Clarie ou Rose, e com isso- ele ergueu o braço mostrando a cicatriz abaixo do cotovelo- salvei todo mundo

Clarie estava branca como papel, como se seu sangue tivesse esvaído, Adrian não tinha apagado a memória de James, como ele tinha prometido assim que acabasse aquela tortura, Rose abriu a boca surpresa, Lily franziu o cenho sem entender

— eu pensei que sua memória... -Rose sussurrou

— eu tirei todo mundo de lá, e obviamente eu não iria apagar minha própria mente

Chegava a assustar o modo calmo como ele falava aquelas palavras, como se pela manhã, ela não houvesse sido sequestrada, e nem que ele tivesse escutado aquela confissão de Clarie, Rose sentiu o coração arder no peito, perdendo uma batida.

— então você lembra de tudo...? -Clarie perguntou tão baixo quanto um sussurro, quase inaudível

— lembro- ele fungou, ficando sério como se descobrisse aquela expressão só agora

— e você não vai...? - os olhos de Clarie eram aterrorizados

— vou- ele respondeu em um suspiro

— você não pode fazer isso, sabia? Não é assim- Rose murmurou um tanto perdida

— claro que não é assim, não é você que está perdendo alguém que ama

— Clarie, por favor... - Rose bufou

Alvo abriu a boca para argumentar quando escutou um barulho baixo, ao longe, como patas correndo, pisoteando gravetos

— precisão- ele sussurrou se levantando em um pulo

— como? - Lily perguntou confusa

— um bicho, alguma coisa- Alvo bagunçou o cabelo começando a andar para fora da cozinha

— droga, as marcas estão os atraindo- Clarie praguejou se levantando e seguindo o moreno

Os outros três se entreolharam e se levantaram para segui-los. Clarie saiu na frente, os guiando até o quarto que estava hospedada. Todos observavam curiosos e confusos. A menina atravessou o quarto, jogou a mala em cima da cama e a abriu, revelando armas.

— nos vamos lutar? De novo? - Lily fitou as armas chateada

— sim, acho que já sabem quais são suas armas- Clarie suspirou tirando um bastão dobrável da mala.

Os irmãos Potter escolheram as mesmas armas utilizadas pela manhã, Rose observou todas, uma por uma, até escolher o arco, puxou as flechas consigo e sorriu.

— vocês sempre andam com arsenais? -Alvo perguntou

— quando você está tentando proteger alguém, ou se proteger, sim

— você não está tentando proteg...- Rose começou e foi cortada pelo barulho ensurdecedor de vidro quebrando

— que droga! Se a tia Gina ver isso... - Clarie suspirou saindo em disparada pela casa

Os outros a seguiram meio atrapalhados, segurando as armas como se pesassem toneladas. Ao chegarem na ponta da escada pararam perplexos, Clarie estava ali, observando com pavor as chamas que se propagavam, a fumaça invadindo os pulmões, cada pedaço de madeira na sala ardia em chamas, o fogo começava a tomar a casa

— Alvo e Clarie, tirem as coisas necessárias da casa, Lily ligue para a polícia, eu e o outro vamos tirar a tia Gina e o tio Harry daqui - Rose ordenou sobre o barulho, o teto de madeira estalava em suas bases

— por que ele vai com você? -Clarie perguntou a encarando

— porque ele me pertence -Rose quase cuspiu as palavras dando meia volta para subir as escadas

— vão ficar me tratando como um objeto agora? -James observou indignado

— você não vai com ela, vai? -Clarie suspirou

— Clarie... Agora não -ele respondeu cansado e seguiu Rose

— parece que alguém finalmente esta abrindo os olhos -Lily cantarolou perto da morena que fez uma careta

— vamos logo com isso, Alvo -ela resmungou marchando por onde não havia fogo

***

O furioso propagar das chamas invadia cada canto da casa, queimando, incendiando, destruindo... Seu pulmão reclamava pelas pontadas fortes cada vez que tossia, o próprio teto caindo como em uma chuva de cinzas, o mar de escuridão e desespero.

— se você continuar tossindo assim, vai acabar desmaiando -ele a observou de soslaio

— eu estou tentando respirar -ela bufou sufocando a tosse

— estamos quase lá, Rose, aguenta, por favor -ele murmurou apressando os passos pelo corredor, a porta já estava tão próxima

O frágil teto de madeira sobre suas cabeças começou a desabar, as tábuas se soltando e caindo, uma por uma, bem ali em cima haviam coisas grandes, pesadas demais. Ele praguejou adiantando a ruiva a sua frente, quando ela de repente tombou para trás, as chamas atrapalhando a visão, a névoa de cinzas cada vez mais pesada. Rose parou onde estava e não moveu um único músculo, a dor na perna foi inevitável, ela mordeu o lábio inferior para não gritar. James se agachou tentando enxergar alguma coisa, ele fitou a perna da jovem em baixo de uma grande tábua, o sangue já se espalhava por baixo da extensão de madeira.

— eu vou tirar você dai -James sussurrou com algum esforço, ele segurou nos braços da garota, enlaçando os seus aos dela, e então a puxou, esforçando-se para tirá-la dali

— você não vai conseguir me tirar daqui - ela revirou os olhos

— então vou...

— não vai -ela girou o corpo para o lado, puxando a perna e afundando um fiapo em sua carne, ela gritou

— não se mova -ele reclamou

— tudo bem, tire seus pais daqui -ela ordenou com a voz pesada - ande logo, tia Gina é uma pedra dormindo

— o que? O tempo de ir e voltar isso aqui já vai ter caído em você.

— o que está por cima de mim, é o piano do seu pai, se é o escritório que está aqui em cima, a coisa mais pesada já foi...

— pirou? Mas é claro que não vou te deixar aqui pra morrer, onde está sua coragem?

Ela bufou, tentou puxar a perna e seus olhos se encheram de lágrimas, a dor aguda só lhe permitia ficar parada torcendo pra que saísse dali ou que aquilo acabasse para ela.

— talvez se eu desenhar...

— não desenhe mais nada, eles foram atraídos pela marca, e não queremos coisas piores

James prendeu a respiração e observou a tábua, ele se arrastou até os pedaços de madeira extensos, agarrou as pontas sobre as pernas de Rose e forçou para cima, era tão pesado quanto esperava.

— James, você tem que ir, a mesa é de...

— mas eu não vou deixar mesmo essa mesa te esmagar, se não deixei que te matassem quatro vezes, não é agora que vou deixar -ele continuou a puxar a madeira

—Jay... -ela sussurrou com a voz embaçada, ele continuou a se esforçar -Sirius, olhe para mim

O jovem relaxou os músculos e a encarou, ela engoliu o choro.

— cuide de Rebeca para mim... Molly também -ela não podia mais segurar suas lágrimas, e agora rolavam por seu rosto repetidamente- Roxy também...

— acha que vai morrer? Tá enganada - ele falou a encarando selvagemente

— se pensa que vai me salvar, tá enganado também, obrigado por ter me salvado todas essas vezes, mas agora...

— Agora olhe você pra mim -ele se aproximou da garota - você não vai morrer, não enquanto eu puder te salvar

A ruiva prendeu a respiração soluçou e baixou os olhos tristemente.

— vai embora, eles esperam você -ela respondeu seca

— pare com isso, sua teimosa!

Sem mais delongas ele se arrastou para seu lado, segurou seu rosto com as duas mãos.

— Rose, nada é culpa sua, você sabe, Anne não está presa em você...

— eu que não a deixo ir - ela completou um tanto surpresa

— agora, sua ruiva teimosa - ele sussurrou

O moreno se inclinou para frente e encostou seu lábios nos dela, Rose arqueou assustada, mas logo relaxou.

— não vou deixar porque me importo com você, me importo tanto com você que dói -ele sussurrou contra seus lábios e iniciou um beijo.

Rose foi arrancada de sua realidade, o coração acelerado no peito, o peso, era arrancado radicalmente de sua alma, a paz, o silêncio, lhe ocupando por dentro finalmente, algo que ela não sentia há tempos, seu próprio espaço, seus próprios pensamentos, seu próprio coração, seu próprio eu. Então o peso e a dor sobre sua perna findara, e ela só podia sentir as mãos molhadas do garoto por conta de suas lágrimas, e seu beijo que a fazia esquecer todo o resto. Então o peso em seu coração começou a ser retirado, aquilo lhe ardeu o peito. Rose segurou nos ombros do jovem se apoiando e arqueou, sentindo a separação, Anne indo embora.

Ele parou de beija-la e a encarou, Rose abriu os olhos com esforço, a luz ao redor machucou seus olhos, ela se esforçou para enxergar atrás de James, a garota ruiva brilhante, tão brilhante que não era possível enxerga-la direito.

— vocês me libertaram -era quase como um agradecimento, a voz oca e com eco - você está livre agora, Rose, e James, não troque aquilo que é seu pelo que acha que é seu

Os dois se entreolharam perplexos

— adeus, espero que nunca desista, em hipótese alguma, porque nem sempre o que os olhos veem, é no que devemos acreditar

Então a voz se tornou distante, a luz se dissipou. James sentiu Rose escorregar de suas mãos. A segurou antes que pudesse bater a cabeça ali. A fumaça sufocou mais uma vez, ele olhou ao redor em desespero, quando viu os pais saírem apressados pela porta do quarto.