Ciel escrita por Kika Honeycutt


Capítulo 1
Infância


Notas iniciais do capítulo

Fic resposta para o desafio 15/30, #3: cena de drama.
Normalmente eu prefiro meus dramas romântico adolescentes, mas quis me desafiar a não fazer um drama romântico(e nem adolescente), por isso escolhi um personagem original.
Por favor, conheçam o Ciel.



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Em Lothus o nascimento do primeiro filho era motivo de festas e não apenas para a família, mas para toda a vila à qual ela pertenceria. Em uma das tantas vilas de Lothus, uma criança nascia e seus pais a amaram assim que a tomaram nos braços. Naquele momento não sabiam, mas o destino de seu bebê já estava marcado: ele teria o dom de enxergar além do que se é capaz de ver, mas seria incapaz de ver o que estava à sua frente. À criança deram o nome de Ciel.

Ciel era um bebê calmo que sempre aparentava estar brincando e muito atento ao que os adultos falavam. Quando ganhava algum brinquedo, seus pais mostravam a novidade, mas o bebê só parecia notar quando esbarrava os dedinhos no objeto o tateando com curiosidade. Não foi necessário muito tempo para perceberem que havia algo diferente na criança.

De tempos em tempos um curandeiro passava pela vila e se dispunha a curar enfermos e cuidar de pequenos arranhões. Era um senhor de idade já conhecido e numa dessas oportunidades o casal levou a criança até o homem. Porém ao chegar na hospedaria onde diziam que ele estava instalado descobriram que, daquela vez, o ancião havia incumbido seus deveres para dois de seus estudantes. O jovem casal estava conversando sobre ir atrás do atrás do curandeiro onde fosse necessário quando o bebê se atirou na direção de um dos estudantes quase caindo do colo da mãe.

Os dois curandeiros eram novos. Um deles mal tinha estatura para se dizer que havia passado da puberdade; o outro, que foi para quem o bebê estendeu os braços e prontamente o atendeu com um sorriso no rosto, tinha um semblante etéreo e algo em sua postura sugeria ser um garoto de hierarquia alta. Os pais não tinham intensão de lhes dar a chance de uma conversa, mas por Ciel criar o momento, acabaram contando o que acontecia sem esperança que um dos jovens curandeiros, pudessem reverter a situação do pequeno Ciel.

–Me desculpem, -O curandeiro menor pediu um pouco tenso- mas sendo apenas um aprendiz não tenho como desfazer o que a natureza criou.

–Meu filho não é defeituoso! - A mãe exclamou fazendo o bebê se sobressaltar no colo do outro rapaz.

–Seu filho não é. -O estudante que segurava Ciel respondeu acalmando o bebê. -Não foi isso que Celos quis dizer. Não conhecemos a origem do que acontece com seu filho. -O garoto passou o dedo indicador pela ponte do nariz miúdo e depois o polegar pelos fiozinhos extremamente brancos, quase invisíveis, da sobrancelha do bebe.

Mas Nereu havia mentido, não havia dúvidas para ele: O garotinho tinha todos os sinais de quem seria futuramente. Sua mãe, a Rainha de Lothus, o ensinara a reconhecê-los logo que começou a estudar cura dizendo que seria útil, e ali estava a prova. Sentiu quando segurou o pequeno Ciel no colo.

As pessoas que nasciam em Lothus eram especiais. Todo ser humano nascia com dons capazes de controlar fenômenos naturais em maior ou menor escala. Normalmente, o necessário para sobreviverem. Porém, entre essas pessoas comuns em Lothus, nasciam aqueles com dons raros e peculiares. Nereu e Celos, os dois jovens curandeiros, faziam parte de um grupo raro daqueles que nasceram com o dom da cura, mas eles não eram tão mais raros quando o bebê em seu colo.

Ciel cresceu tendo consciência de que era diferente.

Não só fisicamente. Ele não havia crescido muito como os outros garotos. Todos diziam que ele era muito pálido porque seus olhos eram brancos, assim como seus cabelos e sua pele bem clara. Diziam também que parecia uma menina e isso sempre foi motivo para chacota entre os outros garotos.

O menino estava sentado à margem de um riacho sendo amparado por uma das pedras que o beiravam. Sentia dor por todo o corpo e não se surpreenderia se tivesse alguma costela quebrada ou se o rosto estivesse mais inchado que o habitual. Naquele dia os outros garotos foram mais violentos que o normal.

Sabia que não poderia voltar para casa tão cedo e talvez até devesse passar a noite por ali assim não preocuparia o avô. Aquele senhor não era seu avô de verdade, mas se tornou o mais próximo disso ao lhe acolher anos atrás quando estava fadado a ter o mesmo fim que seus pais.

Sua infância havia sido marcada por viagens longas em busca de uma resposta para seu problema de nascença, de acordo com o que os pais contavam, mas Ciel entendia que era mais por ele não ser bem vindo onde chegavam. Alguma coisa nele fazia com que as pessoas o temessem e quando a situação chegava em seu extremo seus pais diziam que havia um curandeiro em outro vilarejo e então Ciel entendia que era hora de partir.

Tinha 8 anos quando fez a última viagem. Tinha 8 anos quando perdeu seus pais.

Tinha 8 anos quando o avô o encontrou.

Um senhor que voltava de viagem e o viu no meio da neve. Talvez não tivesse notado o menino se ele não vestisse roupas mais escuras que sua aparência. O avô o levou para onde morava e por algum motivo desconhecido pela criança naquele tempo, não se mudaram mais.

No dia em que ele mencionou a visita de um curandeiro, Ciel juntou num saco de estopa o pouco de roupas que tinha e aguardou na porta de casa. O avô não entendeu o porquê daquilo e riu. Ciel também não entendeu o porquê do riso e então o senhor lhe falou para guardar as roupas pois “um curandeiro não vai querer mais roupas no teu corpo do que um pijama pra ver se teus ossos estão no lugar”.

Ciel riu da lembrança e deu um grunhido. Doía tudo, até seu rosto.

Foi seu avô quem havia lhe contado sobre os elementais. Pessoas raras como ele que, diferente dos demais filhos de Lothus, nascia com apenas um dom e cabia apenas ao indivíduo desenvolver esse dom e oferecê-lo em proteção aos Reis. Seu avô dizia que era uma oportunidade única, digna e gloriosa, servir aos reis, mas mais que isso Ciel sentiu pela primeira vez que tudo se justificava. Ele queria ser um Elemental e o avô providenciou o necessário para que ele pudesse atingir seu objetivo: o ensinou a arte da espada, a luta corpo a corpo (e ele não era bom nessa parte), mas se havia alguma coisa que Ciel era orgulhoso por ter aprendido com o avô, esta seria a capacidade de enxergar.

Ciel não enxergava como os outros.

Nascera privado deste sentido e cresceu conhecendo as pessoas e seus sentimentos pela voz. O som que mais gostava era o da mãe, apesar de soar triste havia muito amor no tom calmo de sua voz. Haviam outros sons que Ciel podia ouvir e somente ele naquela escuridão. Um homem lhe dizendo que tudo ficaria bem e que estava a sua procura e também os risos de um garoto brincando. Este Ciel ouvia apenas quando viajava com os pais e passavam por um córrego. O garoto brincava somente nas águas. Apenas uma vez pôde ver o garoto e foi o dia mais divertido que Ciel teve porque foi a primeira vez que foi capaz de ver alguém. A silhueta era formada por água, mas isso era um mero detalhe; o garoto de água não se importava por ele ser de carne e osso, então brincaram até que Ciel fora chamado para partir.

Ciel sempre buscava o rio mais próximo para se lembrar do que sentiu naquela vez. Seja quando estava triste ou quando precisava se concentrar ou, como naquele momento, para se recuperar das surras, a água sempre trazia seu equilíbrio de volta.

Respirou fundo e teve a certeza de que havia uma costela quebrada.

Outra coisa que o avô lhe ensinou, foi a escrita e a leitura. O garoto somente ouvia o que lhe contavam, nunca aprendera a ler ou escrever até que numa noite, enquanto jantava com o avô, ele pediu pegasse um objeto que estava ao seu lado. Era um livro e quando o entregou ao avô, este o pediu que abrisse e o explorasse. Achou estranho o pedido, mas o fez. Dentro do livro as folhas eram marcadas com relevos. De cima a baixo havia aquelas marcações e então o avô o explicou que se tratava de um livro em branco para qualquer pessoa que pudesse enxergar, mas cheia de conteúdo para Ciel. Ele aprendeu a ler com o mais velho rapidamente, mas a escrita não era a das melhores.

Com as instruções do avô também conseguiu entender seu próprio dom e conseguia usá-lo para identificar formas, evitar tropeços, reconhecer caminhos… Também a desvendar segredos na mente das pessoas, invadir lhes e os subjugar, destruir almas, ou lhes dar alguma esperança. Sempre se impôs um limite mesmo que fosse com aqueles que o agrediam dia após dia.

Ciel não usava seu dom contra as pessoas. Mas ele sabia que poderia ir além.

Sabia porque a mulher que o observava à certa distância o levaria até aquele que o ensinaria. A origem daquela voz que o procurava. Teria que deixar o senhor que passou a chamar de avô, deixar aquela vila que já era sua casa e pensar dessa forma o deixava triste, com um aperto no peito. Até aquele momento, o que vivera com os pais, sua perda e o tempo que passou com seu avô foram mudanças temporárias.

Sentiu a mão da mulher tocar seu ombro e a dor o fez se curvar discretamente.

–Há muito que estamos em busca do Elemental de Espírito -ela disse- Que bom que o encontramos, Ciel.


Sua vida mudaria novamente e dessa vez seria uma mudança para a vida toda.


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Notas finais do capítulo

Continua...
E a, fico com meus dramas romântico adolescentes ou consegui alguma coisa aqui?



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