Arco e Baquetas escrita por Stella


Capítulo 7
Si


Notas iniciais do capítulo

A música do último capítulo é "O Fortuna" (Carmina Burana).
Boa leitura!

28/02/2015



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Felipe não precisou se esforçar muito para encontrar Malu, já que ela não tinha conseguido chegar muito longe. O garoto ficou horrorizado ao vê-la sentada na grama, fazendo um esforço absurdo para continuar respirando. Ajoelhou-se ao lado dela, em pânico.

– Ah, meu Deus. Cadê a sua bombinha, Malu?

Ela tentou dizer alguma coisa, mas nenhuma palavra foi emitida em meio à falta de ar intensa. Chocado, Felipe percebeu que os lábios dela estavam começando a ficar roxos.

– Está na sua mochila, não está? – perguntou Felipe, tentando em vão manter a calma.

A garota fez um sinal afirmativo com a cabeça.

– Você deixou a mochila na sala de ensaio?

Sinal afirmativo novamente.

– Ok, me escuta. Olha pra mim. – pediu Felipe, tocando a bochecha dela e olhando diretamente em seus olhos assustados – Eu vou lá buscar o seu remédio e eu volto em um segundo, mas você precisa continuar respirando. Fica calma, se concentra nisso. Por favor. Você vai ficar bem, tá? Vai ficar tudo bem, eu prometo.

Felipe correu desesperadamente até a sala. A mochila, felizmente, ainda estava lá, jogada em cima de uma das cadeiras. Ele a agarrou e voltou a correr, esbarrando na faxineira, que estava limpando o corredor, e quase atropelando um menino baixinho que tinha inventado de tocar flauta bem no meio do caminho.

Mas, apesar de todos os seus esforços, quando voltou, Malu parecia estar drasticamente pior que antes. Ela nem sequer olhou para Felipe quando ele chegou.

O garoto jogou todo o conteúdo da mochila no chão. Pegou a bombinha e posicionou o bocal nos lábios roxos de Malu.

– Você tem que inspirar. – disse, com urgência na voz – Malu, pelo amor de Deus!

Mas ela não parecia estar escutando o que ele dizia. Felipe quase surtou quando ela fechou os olhos.

– Não faz isso! – ele berrou, desesperado. Ela precisava estar consciente pra usar o broncodilatador.

Felipe a sacudiu pelos ombros de forma nada delicada.

– Volta pra mim, droga!

Então ela abriu os olhos e inalou o medicamento.

Dez segundos depois, conseguiu pegar a bombinha e fazer outra inalação. Um minuto depois, pôde dizer pausadamente, numa voz rouca:

– É um saco... ter essa doença de nerd.

Felipe soltou um ruído de alívio. Ela ia ficar bem.

– Mas que droga, Maria Luísa! – ele exclamou, com os olhos estranhamente molhados – Você quer me matar do coração? Ninguém nunca me assustou tanto em toda a minha vida!

Ainda com o coração acelerado, Felipe a abraçou e escondeu o rosto no cabelo vermelho dela.

– E o seu teste? – Malu perguntou depois, com uma ruga de preocupação na testa.

– Não dou a mínima. – ele respondeu sorrindo para ela – Há coisas mais importantes na vida, certo?

Ela sorriu de volta.

Felipe mal acabara de falar, e um garoto alto se aproximou dos dois, com o estojo contendo o violino que Felipe tinha largado no auditório.

– Acho que isso pertence a você. – disse o rapaz, devolvendo o instrumento de Felipe – É uma pena que você não tenha ficado pra me ver conquistar a vaga de primeiro violino. Não fique chateado, você pode tentar de novo daqui a um ano ou dois, quem sabe.

O garoto que seria o novo primeiro violino da orquestra dirigiu a Felipe um sorriso detestável e implicante antes de ir embora.

Malu e Felipe se encararam por alguns segundos.

– Se esse cara for sequestrado por um gângster que alguma pessoa acidentalmente contratou, a vaga volta a ficar disponível. – brincou Felipe.

– Bobo. – retrucou Malu, rindo baixinho.

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Na noite em que seria apresentado o tradicional concerto de encerramento, Malu e Felipe se esgueiraram pelas coxias do palco, abriram uma fresta na cortina e espiaram o público que começava a se acomodar para o início da apresentação.

– Você acha que eles vão vir? – perguntou Malu, olhando para o violinista com certo receio.

– Eu não sei. Meus pais são complicados. Eles disseram que seria um desgosto terrível ver outra pessoa ocupar a posição que devia ser minha.

– Você está nervoso?

– É engraçado, mas eu nunca estive mais calmo pra me apresentar com a orquestra. – Felipe respondeu – Acho que é a primeira vez em que eu não estou preocupado em provar nada a ninguém. Eu só quero estar no palco junto com você, o resto da orquestra, o coral… E simplesmente fazer música. Afinal, certa garota ruiva percussionista disse uma vez que música é a celebração da vida. É isso o que eu vou fazer hoje.

Malu sorriu e ajeitou a gravata dele.

O concerto se iniciou e o teatro foi invadido por todo tipo de sonoridades. O coral cantava os versos de "O Fortuna" vigorosamente, Malu tocava os tímpanos com ferocidade e Felipe dedilhava as cordas do violino desejando que aquela música se estendesse por horas.

Enquanto tocava, Felipe teve certeza de que nunca poderia ser um fracassado enquanto estivesse fazendo aquilo. A música que ressoava dele, livre e destemida, era um sonoro grito de vitória.


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Notas finais do capítulo

Uhul! Quero agradecer às pessoas que leram, comentaram e favoritaram. Obrigada pelo incentivo. Se você chegou até aqui e ainda não comentou, querido amigo leitor, fique à vontade para fazer isso! Comentários são sempre muito bem-vindos! Agradeço mais uma vez, de coração. Participar desse desafio foi uma ótima experiência. Até a próxima!