Nico fuzilou-me com seus olhos negros. Naquele momento eu soube que esse garoto seria encrenca. Eu realmente espero que ele se mostre uma pessoa melhor, porque desse jeito não dá, colega.

— Se você não fosse tão bonita, Thalia, pagaria por tudo o que disse. — Nico disse sarcástico.

— Se acha que me chamar de bonita vai adiantar de algo, está enganado. — Exclamei sarcástica e dei uma piscada. Percebi que Bianca soltou uma risadinha. O que falar dessa garota que eu mal conheço e já considero pakas?

Nico abriu a boca para responder, mas foi interrompido por Maria, que anunciou que o jantar já estava pronto. Todos, com exceção de meu pai, que alegou que ficaria mais um pouco, estavam indo para a sala de jantar, e eu também estava indo nessa direção, mas fui impedida pelo meu pai. Bosta.

— Thalia Grace, o que te levou a pensar que poderia fazer isso? — Perguntou irritado. Droga, com certeza ele estava se referindo ao Nico. — Você mal o conhece! Qual o motivo dessa discussão? — Perguntou de braços cruzados.

— Meu santo não bateu com o dele. — Respondi a primeira coisa que me veio à mente.

Ele apenas bufou cansado.

— Nós vamos jantar, e você vai tentar ser o mais agradável possível com eles, entendeu? — Perguntou. — Principalmente com o Nicolas. — Acrescentou.

Revirei os olhos ao imaginar a cena.

— Está bem. — Respondi contrariada.

Seguimos até a sala de jantar, reparei que a casa dos Di Angelo é realmente muito grande, daria pra se perder aqui numa boa. Todos estavam sentados na mesa conversando, já devidamente servidos, e pareceram pouco perceber o atraso de dois dos convidados.

Sentei-me no único lugar vago, que, por sorte, era ao lado de Bianca, mas que, por azar, era de frente para Nico, que estava do lado de Jason, conversando sobre um time de futebol americano, ou algo do tipo.

Não sei como Jason consegue ser amigo do Di Angelo, sério. O acéfalo, junto com outro amigo deles, Percy, e o meu irmão formam “O trio maravilha”. Todas as vezes que Jason ia nos visitar em Londres, sempre falava de Nico e Percy, e eu realmente achei que os dois eram legais, mas, bem... Se o Percy for tão legal quanto o Di Angelo, prefiro nem conhece-lo.

Bianca, por algum motivo desconhecido, resolveu puxar conversa comigo, enquanto o resto da mesa se mantinha ocupada em assuntos aleatórios.

— Hey, acho que não me apresentei direito... Meu nome é Bianca. — Deu um sorriso e me estendeu a mão, a qual eu apertei em forma de cumprimento. Não pude deixar de notar que ela tinha um sotaque americano.

— Oi, meu nome é Thalia. — Falei, e ela soltou um risinho. — Mas isso você já deve saber. — Acrescentei.

— Sim, eu já sabia. — Respondeu. —Sério, garota, você é uma queen! Nunca achei que você fosse dizer esse tipo de coisa ao Nico! — Exclamou e arregalou um pouco os olhos, como se eu fosse algum E.T.

— Bem... — Fiquei um pouco constrangida por receber tanto de sua atenção. — Embora eu seja britânica e a maioria de nós seja considerada calma, eu sou uma exceção. — Confidenciei e ri, sendo acompanhada por ela.

Observei um dos pratos em que havia frango frito com purê de batata e vi que eu estava morta de fome quando meu estômago deu uma leve tremida.

Passei o frango frito com purê para meu prato, assim como alguns macarrões parafuso. Provei o frango com purê e percebi que era realmente divino! Acho que devo ter feito uma cara realmente muito engraçada, pois o Di Angelo e Jason estavam rindo. Eu realmente não mereço isso.

— O que foi? — Perguntei irritada, mesmo assim, tentei não elevar a voz, porque não queria atenção. — Tenho cara de palhaça, por acaso? — Perguntei.

— Olha... Olhando assim, até que tem mesmo. — Nico disse e deu uma gargalhada. Bianca apenas desviou o olhar rapidamente em nossa direção, mas logo desviou.

— Vocês têm quantos anos mesmo, crianças? — Perguntou Jason sarcástico. Apenas rolei os olhos.

— Pelo menos não tenho cara de emo gay. — Rebati para Nico. Mas a última coisa com que Nico estava parecendo era com um “emo gay”. Ele estava usando um smoking preto, que até que o tinha feito ficar bonitinho.

— Vamos ao meu quarto e eu te mostro o gay. — Falou com um sorriso safado nos lábios.

— Olha o respeito com a minha irmã, cara. — Jay advertiu e deu uma tapa na nuca de Nico.

Apenas balancei a cabeça em sinal de negação e ri. Eu, definitivamente, não mereço isso.

Terminei de jantar, apenas parava para falar brevemente com Bianca, que mostrou interesse em mim, assim como o resto da mesa, o que foi muito desconfortável para mim.

— Sim, Maria. Jason e Thalia brigavam muito quando pequenos, inclusive, quando fizemos uma faixa para colocar no aniversário de 11 anos deles, Jason pintou a faixa em que estava o nome de Thalia para que ficasse: Feliz aniversário, cara de pinheiro. — Mamãe falou pensativa, como se relembrando do momento. — Tivemos uma surpresa e tanto! — Confidenciou.

Todos riram, eu até fiquei um pouco constrangida, mas éramos crianças, e esse tipo de coisa até que engraçado. Arregalei os olhos de repente e todos olharam um pouco assustados para mim. — Eu me lembro disso! E eu pintei “Feliz aniversário, boca de grampeador” na faixa do Jay. — Ri um pouco, e fui seguida por todos, inclusive Jason, que mandou uma piscadinha.

Então todos foram se levantando, e como eu já havia terminado, levantei também. Estava indo em direção à sala de estar, assim como todos, quando o Di Angelo me puxou pelo braço para que eu parasse. Olhei-o inquisidoramente.

— Calma, Grace! Não vou fazer nada! — Disse com uma risada. Mesmo assim, levantei uma sobrancelha para ele. — Eu apenas quero te mostrar a minha casa. — Explicou.

— Seus pais já nos mostraram sua casa. — Respondi. Não queria ficar sozinha com o Di Angelo.

— Mas tenho certeza que não mostraram a parte de fora da casa. — Falou e segurou minha mão, me levando em direção da porta dos fundos. Tratei de tirar minha mão da sua, afinal, não me lembro de ter lhe dado tanta liberdade.

Quando saímos da casa, pude ver um jardim cheio de rosas vermelhas, as minhas preferidas. O aroma que estava no ar era adocicado, o cheiro de rosas. A lua estava cheia e iluminava todo o jardim, que ficava próximo da área da piscina, que era enorme. Di Angelo foi em direção a uma espreguiçadeira que ficava perto da piscina e fez um sinal para que eu sentasse-me também. Fiz o que ele pediu.

— Bonito, não é? — Perguntou. Olhei para a piscina e vi que a lua estava sendo refletida ali. Isso mais as rosas do jardim que estava atrás de nós formavam um cenário perfeito.

— Lindo... — Falei baixinho, ainda encantada. Eu realmente amo a lua. Observar a lua era, e ainda é um de meus passatempos favoritos. Olhei para o Di Angelo, que havia se deitado completamente e agora estava olhando para o céu escuro.

Resolvi fazer o mesmo... Fechei os olhos e senti o vento frio em contato com a minha pele. Depois de algum tempo nessa posição, senti alguém me observando.

— O que foi? — Perguntei, ainda de olhos fechados.

Abri meus olhos lentamente e o Di Angelo estava sentado em sua cadeira, me observando.

— Nada... — Balançou a cabeça um pouco. — Acho melhor entrarmos. — Disse e se levantou. Passei em sua frente e fui até a porta dos fundos, indo em direção à cozinha, e depois, para a sala de estar.

Olhei para a sala ao todo e vi meus pais, Jason e os pais de Bianca e Nico conversando. Bianca estava num sofá, mexendo em seu celular.

— Posso saber por onde andou, Thals? — Perguntou. Estranhei. Como ela sabia que meu apelido é “Thals”? Olhei-a novamente e ela tinha um sorriso malicioso idêntico ao de seu irmão, a propósito, ele acabou de entrar na sala como se nada tivesse acontecido. Bianca estava olhando de mim para o seu irmão e arregalou os olhos. Ela não pode estar achando que... — Não precisa nem me dizer! Aposto que logo, logo você entra pra a família! — Falou maliciosamente. Ri, cheguei a gargalhar.

— Nunca em seus sonhos mais loucos, Bianca! — Respondi e pude vê-la sorrir sarcasticamente. Eu não mereço esse tipo de coisa!

Ficamos conversando sobre várias coisas e acabei descobrindo que ela é fã do Green Day, Evanescence, Linkin Park, mas que também escuta algumas músicas pop, trocamos os números de nossos telefones, e mesmo depois de tanto tempo, ela ainda continuava insistindo que eu e Nico ainda iríamos ter algo. Estávamos falando sobre nossos ex-namorados, até que ela perguntou o que havia acontecido com meu último ex e se havia chance de nós voltarmos.

— Definitivamente, não. Não voltaremos. Não depois de eu ter beijado um garoto na frente dele e de toda a escola. — Respondi e Bianca soltou uma gargalhada alta, atraindo a atenção do Di Angelo e de Jason, que nos olharam como se nós fossemos loucas.

— O que foi? — Perguntei irônica. Jason apenas riu, mas Nico levantou-se e veio em direção ao sofá em que estávamos.

— Sinceramente, Grace, achei que fosse uma companhia melhor para a minha irmã. Seu nível de loucura já era considerável crítico, com você por aqui, ela vai ser internada de vez. — Embora eu tenha, sim, tentado não rir, não deu muito certo e eu acabei rindo. Pra caramba. Até os adultos, que estavam do outro lado da sala gigante de jantar, pararam para ver. Sorte que Bianca, Jason e o acéfalo Di Angelo riram junto.

Quando paramos de rir, estávamos com lágrimas nos olhos.

— Ok, gente. Vamos parar. — Bianca disse, tentando parar de rir. Depois de uns cinco minutos, estávamos todos conversando normalmente. Exceto o Di Angelo, que me encarava descaradamente.

— Perdeu algo nas pernas da minha irmã, Nico? — Jason perguntou enciumado. Nico pareceu despertar e sorriu amarelo para Jason.

Meus pais e os pais de Nico se aproximaram de nós, e estavam falando algo sobre nós irmos até uma casa de campo ou algo do tipo.

— Então... Vocês vão passar as férias na minha casa, que fica no interior. — O senhor Di Angelo falou. Espere, como assim “nós”?

— E uns amigos do Nico vão junto. Vocês se incomodam? — Maria perguntou gentilmente, mas eu estava atônita. Somei 1+1 e percebi o óbvio: eu passaria um mês com o Di Angelo. Eu passarei essas férias no inferno.

Rezei para que meus pais dissessem que sim, que eles se incomodavam e que não me deixariam passar um segundo sequer com o Di Angelo. — Claro que não, Maria! — Minha mãe sorriu docemente. Oh, God...

Bianca percebeu que eu não estava muito bem e tentou me ajudar. — Pelo menos eu estarei lá. — Sussurrou.

— Okay, eu tentarei não morrer. — Sussurrei de volta.

— E quando vamos? — Jason perguntou a Maria e Hades.

— Terça-feira. — Hades respondeu.

Pronto. Eu tenho até segunda-feira para conseguir uma boa desculpa para não ir.

●●●

Estava vestindo o pijama quando senti meu celular vibrar e olhei-o. Uma nova mensagem de um número desconhecido no WhatsApp.

“Boa noite, Grace. Sonhe comigo. :3”

Logo em seguida, recebi outra.

“A propósito, belas pernas.”

Oh, não. Como o Di Angelo conseguiu meu número? Agora eu tenho certeza: isso virou perseguição.

Everything I Didn't Say - Thalico