— Eu não quero ir! — Falei com raiva. Quem ele pensa que é para bagunçar assim a minha vida?

Veja bem: meu pai quer arrastar-me para longe de meus amigos, para longe de minha vida aqui em Londres para me levar até Manhattan tudo por uma proposta de trabalho. Ele não acha que já está rico o suficiente?

— Abaixe o tom, mocinha! — Meu pai advertiu. Apenas bufei contrariada e sentei no sofá da sala de estar com os braços cruzados.

— Mas eu não quero largar os meus amigos... — Expliquei.

— Tecnicamente, você só está se referindo a Zöe, ao Grover e ao Luke. — Minha mãe respondeu.

— Sim, são meus únicos amigos mesmo, e o Luke é meu namorado, mãe! Fizemos cinco meses de namoro ontem! — Exclamei exaltada. — O que eu digo a ele? Oi, eu sei que completamos cinco meses de namoro ontem, mas eu estou me mandando para Manhattan daqui a dois dias. Não me ligue, nem mande e-mails, nem nada do tipo. Obrigada, de nada. — Falei com raiva, mas isso os fez rir mais ainda. — Qual a graça?

— É exatamente isso que você vai falar a ele, Thalia. — Zeus e Beryl, de vulgo meu pai e minha mãe só podiam estar de brincadeira com a minha cara. Essa é a única explicação lógica.

— Digam-me um motivo para eu ir para Manhattan com vocês! —Pedi.

A propósito, não devo ter me apresentado. Meu nome é Thalia Grace, tenho 16 anos, e vou para o terceiro ano do ensino médio. Minha vida foi de perfeita a um lixo em questão de 10 minutos e eu não sei mais o que falar. Ah, eu namoro com Luke Castellan, ou namorava, já que vou sair de Londres. Apesar do que eu demonstrei, eu não estava tão triste assim por ter que terminar com o Luke, ele é um babaca. Bem, agora seria um babaca a menos na minha vida.

— Bem, você verá o Jason e a Piper. — Minha mãe argumentou. É, é verdade, ainda tem o Jason. Ele é meu irmão gêmeo, porém não nos parecemos muito. Todos dizem que nossa única ligação é a cor de nossos olhos. Ah, e a Piper, a namorada muito legal do Jason, ela é um amorzinho.

Bem, você não deve estar entendendo muito bem, certo? Acontece que o Jason mora desde os 13 anos em Manhattan com meus avós maternos, ele só vinha para cá em datas especiais, como aniversários e etc.

— Tanto faz. Eu ainda tenho a Zöe e o Grover aqui. — Falei para eles, que me olharam de uma forma engraçada. — Ah, é... O Luke... — Eles me olharam de forma engraçada novamente, mas dessa vez não prenderam o riso.

Acho que no fundo eles sabiam que eu só estava namorando com o Luke para irritá-los. O que não deu muito certo, já que eles adoraram Luke desde o primeiro minuto que o viram.

— Você não parece gostar muito dele, Lia. — Minha mãe comentou.

— Porque eu não gosto, eu já estava procurando uma razão para terminar com ele há séculos! — Falei e minha mãe gargalhou.

— Não muda nunca... — Papai falou debochado.

Mas daí eu pensei em Zöe, da forma como ela sempre me ajudou em momentos difíceis e de como ela me entendia bem. E Grover, com suas piadas, sempre me fazendo rir. Na escola em que estudávamos, éramos um trio de deslocados. Sim, um trio, porque Luke era o famoso jogador de futebol americano popular e sem cérebro, sempre perto de pessoas populares.

— Okay, sem chance de nós continuarmos em Londres? — Perguntei com uma carinha de cachorro que caiu do caminhão. Eles negaram numa sincronia perfeita. — Tá. Quanto tempo passaremos em Manhattan? — Perguntei, tentando não mostrar meu nervosismo. Conhecendo meus pais do jeito que eu conheço, eu teria que aceitar isso. — São só 365 dias, Thalia. — Meu pai respondeu. — Apenas isso.

Depois que terminamos de combinar as coisas, fui correndo até meu quarto e fui até o notebook e liguei no Skype. Por sorte, Grover e Zöe estavam online, então criei um grupo e começamos uma chamada por vídeo.

— Oi, pessoal. — Falei um pouco desanimada. — Eu tenho que falar uma coisa para vocês. — Avisei.

— Você já viu?— Grover perguntou, pelo que eu pude ver pela webcam, ele estava um nervoso.

— Thalia, calma! Ele não te merecia mesmo! — Zöe falou de forma terna. Okay, o que aconteceu?

— Vocês poderiam me dizer o que diabos aconteceu? — Perguntei e eles ficaram calados por um tempo.

Por fim, Zöe suspirou.

— Eu acho que é melhor você ver. Vou te enviar a mensagem. — Explicou e pegou o celular. Depois de uns 30 segundos, recebi uma mensagem dela.

Olhei para a tela do notebook e vi que Grover e ela me olhavam apreensivos, apenas dei de ombros e abri a mensagem.

Na mensagem, pude ver uma foto de Luke beijando uma garota ruiva, se é que pode-se chamar isso de beijo, os dois estavam quase se comendo. Sobre a foto, estava a seguinte legenda: Thalia Grace, a maior corna da história.

Dei uma risada irônica. Como se eu não tivessem boatos de que o Luke me traía...

Eu fiquei um pouco surpresa por terem enviado essa foto para o pessoal do colégio, mas eu nunca fui de ligar muito para o que as pessoas falam de mim.

— Então... Você não está com raiva? — Grover perguntou. Apenas balancei a cabeça negativamente.

— Não, na verdade, eu já queria terminar com ele faz um bom tempo. — Expliquei.

— Então por que veio falar conosco? — Zöe perguntou.

— Porque eu vou me mudar pra Manhattan. — Falei e vi que os dois me olhavam como se eu fosse um E.T. — Qual é, gente?! É só um ano! — Exclamei. — Depois disso eu serei de vocês novamente. — Completei e os dois caíram na gargalhada.

— Sério? ­— Grover perguntou e eu afirmei.

— Explica direito, retardada! Ninguém aqui tem bola de cristal! — Zöe mandou. Sim, ela sempre foi delicada desse jeito.

Contei a eles que teria que passar um ano fora, já que meu pai havia seria sócio de uma empresa em Manhattan e teríamos que morar lá, pois ele tinha que ajudar na empresa.

Grover e Zöe quase me esganaram, fiquei até com medo, sério. Mas no fim eles aceitaram que eu teria que ir. E até concordaram que um ano não seria muita coisa. Até combinamos de continuar nos falando por Skype e Whatsapp.

Claro que Zöe estava fazendo seu drama básico e dizendo que eu era uma amiga muito má. E que eu a abandonaria na formatura, o mesmo drama de sempre. Além de ter prometido que me estrangularia por ter avisado tão perto da data em que eu iria viajar.

— Meu pai me falou que eu iria pra Manhattan hoje. — Disse pela milésima vez.

— Mas você vai nos deixar! Somos o trio maravilha! Não existiríamos sem você! — Grover falou com uma voz afetada que me fez rir, assim como Zöe.

— Acreditem: eu não os deixaria se pudesse. — Falei. — Mas eu tenho que ir. Será só um ano! Eu volto logo para vocês! — Completei.

— Thals, nós sempre estaremos com você, okay?! E amanhã será um ótimo dia para você! Nós prometemos! Será a sua despedida em grande estilo! — Disse-me rindo e eu não entendi o porquê disso.

— Como assim? — Perguntei confusa.

— Eu vou precisar falar pessoalmente com você! — Explicou. — Então... FESTA DO PIJAMA DAS MENINAS! — Grover gemeu de frustração. Mesmo nos conhecendo há seis anos, papai não deixava Grover dormir no meu quarto. Ele tá achando o que? Que vai rolar uma suruba? Por favor, né?!

●●●

— Oi, meu amor! — Luke chegou perto de mim e dos meus amigos, os ignorando completamente e me abraçando pela cintura. — Wow! Você está sexy! — Falou, me olhando de cima a baixo. Como aquele idiota teve a audácia de chegar perto de mim depois da foto que estava circulando?

— Seu amor uma vírgula. — Respondi debochada o fazendo olhar para mim como se eu estivesse louca. — Eu não sou nada sua. — Respondi alto e pude perceber algumas pessoas se aproximando para assistir a cena.

— Claro que é! — Afirmou. — Você é minha namorada! — Exclamou e todos prenderam a respiração.

— Não mais, honey! — Pisquei e beijei o primeiro garoto que eu vi pela frente. O beijo estava sendo até que bom. As mãos do garoto estavam em minha cintura, e pude perceber que até que ele beija bem. Pena que vou pra Manhattan amanhã. O beijo foi parando lentamente e eu abri os olhos. Vi que eu havia beijado Ethan Nakamura, um garoto moreno e lindo do terceiro ano.

Todos olhavam descaradamente para nós dois, inclusive Luke, que estava raivoso. Apenas lhe lancei um sorriso irônico.

— Se você pode ficar com qualquer uma, eu também posso. — Disse e pude ver que ele iria me responder. — A propósito, estou me mudando para Manhattan amanhã, então não me telefone, nem mande e-mails nem nada do tipo. — Disse e me retirei do local junto com Grover e Zöe. Todos pareciam estar atônitos, inclusive meus amigos.

Entramos na nossa sala, que estava vazia, e começamos a gargalhar. Acho que nunca ri tanto na minha vida! Ri tanto que fiquei com dor na barriga, então não pude deixar de colocar a mão na barriga.

Os alunos começaram a entrar na sala, então tivemos que parar de rir.

Sentamo-nos em nossas cadeiras e a professora de química logo entrou. Parecia que todos os professores estavam sentindo aquele clima de último dia de aula, eles sabiam que não tinha mais matéria pra ensinar, e mesmo que tivesse, não prestaríamos atenção, então nos liberaram. Só tivemos a primeira aula, que foi a de química, e mesmo assim, quando a professora saiu da sala, foi seguida por vários gritos.

— JÁ VAI TARDE, VELHA! — Gritou uma garota loirinha do fundo da sala.

— DEMÔNIO! — Gritou um nerd, jogando as anotações para o alto, fazendo todos olharmos para ele assustados.

— ALELUIA, GLÓRIA A DEUS NAS ALTURAS! — Gritou um garoto evangélico que quase nunca falava.

— VAI COM DEUS, DESGRAÇA! — Gritei e todos começaram a rir. Sorte que a professora já tinha ido embora!

Por mais que eu não me encaixasse na turma, eu até que gostava deles.

Eu, a linda e maravilhosa, Thalia Grace, tive a linda ideia de irmos ao shopping assistir algum filme, e claro, eles toparam.

Eu estava com uma dorzinha no peito por ter que deixar aqueles dois. Eu os amava mais que tudo. Depois de passarmos uma tarde maravilhosa no shopping, cada um voltou à sua casa.

Era amanhã.

●●●

— Você sabe que nós te amamos muito, não sabe? — Zöe perguntou com lágrimas nos olhos. Ela me abraçou e pude sentir suas lágrimas molhando minha camiseta. Pude perceber que Grover estava se controlando para não chorar também.

— Eu sei... Eu amo vocês mais que tudo! — Respondi chorando. — É só um ano. — Dei um sorriso fraco. — Amo vocês, pessoal! — Falei e os abracei.

— Pegue muitos garotos por mim, okay?! — Ri do comentário de Zöe.

— Chamada para o voo 587. —

Olhei pela janela do avião e pude ver o London Eye, pequeno como nunca tinha sido para mim. Lágrimas vieram a meus olhos e não pude as impedir de cair.

— Adeus, Londres.