O que?! Matemática?! escrita por Triccina Ofner


Capítulo 1
O quê?! Matemática?!


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura todos, agradeço desde já a todos que chegaram ate aqui haha Beijos.



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A sala era escura, e tinha um cheiro bom. Cada passo que eu dava meu coração batia acelerado, e as velas iam acendendo. De repente ouvi o dedilhar nas cordas de um violão, eram tão suaves que me faziam flutuar, estava me sentindo no céu. Então uma porta apareceu, toda de carvalho e com cheiro de floresta, grama molhada e pinho. Estava em êxtase.

Eu entrei na porta e o vi. Havia uma sombra em seu rosto, mas aquele perfume era único e perfeito. Nostalgia era sensação certa para descrever aquele aroma suave de âmbar e noz-moscada. Seus dedos dançavam trocando as notas do violão. Ele se levantou e encostou sua mão no meu rosto. Não poderia pedir sonho mais perfeito. Quando tudo indicava que seus lábios viriam de encontro aos meus, pude ouvir o som do relógio levando embora a minha doce visão fantasiosa.

Eu estava furiosa e mal-humorada, odiando tudo e todos. Despertador insolente!  Quando pensei em voltar a dormir e sonhar com aquela criatura cheirosa ouço os berros de minha irmã no andar de baixo.

— Vamos preguiçosa! Já são seis e cinquenta! Vai se atrasar para o primeiro dia de aula.

Levantei em um pulo, apavorada. Realmente eu ia me atrasar. Tirei a camiseta do pijama e coloquei a do colégio. Já vestindo a calça reparei que o shorts do pijama ainda estava no meu corpo. Eu estava toda atrapalhada. Sai tropeçando do meu quarto, pondo o All Star preto. Consequentemente não vi a escada e por pouco desci rolando. Minha mãe me olhou dando risada. Já Paula minha irmã mais velha estava furiosa comigo.

Peguei uma torrada, a garrafinha de suco e saí correndo. Sabia que se eu fosse pelo caminho normal me atrasaria, e como não fazia ideia quem seriam os professores daquele ano resolvi pegar um atalho. Era uma ruazinha estreita que cortava a parte de trás do parque. É um pouco perigosa, mas eu não podia me atrasar.

Finalmente, último ano do ensino médio. Nunca mais ver as pessoas que conheço desde que entrei no sexto ano. Não precisar mais suportar as aulas incansáveis, os discursos hipócritas dos pedagogos. Talvez eu sinta falta dos professores, mesmo que a metade não ligue, pois gostam apenas dos puxadores de saco. Mas seria livre! Eu sei, também, que vou sentir falta da moleza e da rotina, pois depois de ter visto meus dois irmãos se formarem no superior, eu sei que ainda estou no nível iniciante da vida.

Minha irmã Paula é jornalista,. Trabalha no jornal da cidade como redatora. Ela tem vinte e seis anos e me incomoda mais do que a minha própria mãe. Já meu irmão do meio, Pedro está trabalhando em outro estado. Conseguiu um estágio durante o curso de engenharia mecânica em uma multinacional e foi efetivado. Tudo indica que, em breve, irá ser transferido para fora do país.

Meus irmãos sempre viveram a vida que queriam. Minha irmã durante a época de escola saía muito, tinha muitos amigos e era bem popular no colégio entre os alunos e professores. Mesmo agora formada ela é bem sociável. Todo final de semana sai com os colegas de trabalho, participa de rodas de debates, e é bastante ativa nas causas sociais, a admiro por isso. Nas férias do trabalho Paula sempre viaja para as praias do nordeste brasileiro ou, algum pacote de viagens para a América Latina. Ela é bem responsável, mas um pouco fora da casinha. 

Em compensação meu irmão do meio, Pedro, não era o popular, mas tinha muitos amigos, e eles viviam lá em casa. Chegou até a formar uma banda de rock. Tocava em barzinhos. Mamãe sempre deixou ele ser expressivo, e nunca o vi faltando o respeito com ela. Boa parte dos meus hobbies eu herdei dele; video games, música, vestuário. Até hoje uso suas camisas velhas de banda.

Agora eu, não tenho muito a contar. Sempre fiquei muito colada na minha mãe. Ia com ela pra universidade quando não tinha ninguém pra ficar comigo. Com um ou dois amigos que frequentam minha casa, com gostos diferentes dos meus. Minha personalidade é moldada pelos gostos do meu irmão e pela cultura da minha irmã. Na minha adolescência, até agora, minha mãe não precisou esperar até tarde eu voltar de alguma festinha, brigar com um bando de moleques pra arrumar a bagunça da sala ou, fazer o dobro de comida. Eu não tenho histórias empolgantes. Em uma autoanálise, minha vida é um tédio.  

Cheguei no colégio ofegante, a tia que cuida da entrada dos alunos estava prestes a fechar o portão, mas por sorte consegui entrar. Corri até o bloco do terceiro ano e olhei o mural. Estava no terceiro A, como sempre. Ao menos uma coisa que eu era realmente boa, notas altas com pouco esforço, talvez, por assistir minha mãe dar aula desde sempre.

A maioria das salas estavam com a porta fechada. Minha sala era a última a direita do corredor e, de acordo com o mural, minha primeira aula seria matemática. Agoniada, rezei a quem quisesse ouvir, pedindo que a porta ainda estivesse entreaberta. 

Cada passo que eu dava minha agonia aumentava, principalmente porque a porta estava encostada. Era regra do colégio, fechou a porta, tem que esperar a próxima aula, o professor não quer ser interrompido, então nem adiantava insistir. Apenas encostou, implore e ajoelhe-se diante do professor, pedindo perdão e misericórdia.

Bati na porta três vezes, ouvi então a voz de um homem, dizendo que eu podia entrar. A porta rangeu enquanto eu a abri lentamente.Quando cruzamos o olhar meu coração disparou e eu fiquei boquiaberta, aterrorizada.

Existem duas coisas que eu amo de verdade fazer. A primeira é jogar video game! Passar horas em outro lugar, distraindo meus pensamento com histórias fantasiosas, vidas que nunca viverei. Chorar e rir com personagens icônicos e mortes dramáticas. Sentir que alguma coisa de verdade você consegue conquistar, nem que seja os troféus do jogo. 

A segunda é colecionar flores em meio a livros. Tulipas, violetas, e principalmente rosas! É clichê gostar de rosas, mas as misteriosas flores me atraem, principalmente as brancas. Uma flor tão bela, tão sensível, cercada de espinhos. Se ela fosse uma pessoa, antes de seus espinhos nascerem, ela foi maltratada e teve seu coração partido. Pobre rosa, aposto que mais ninguém conseguiu chegar em seu coração. 

— O quê?! Matemática?! Você?! – Berrei na sala espontaneamente, ainda chocada.
— Ella?! — Ele parecia surpreso — Você está nessa turma?

Apenas uma pessoa no mundo me chamava de Ella. Apenas aqueles olhos me observavam com carinho, e nenhum outro sorriso debochado eu aceitava com felicidade. 

Lucas Brian Salazar, o garoto mais bonito e sinistro dos amigos dos meus irmãos, aquele que deu minha primeira rosa branca e meu primeiro suspiro, era incrivelmente, inacreditavelmente e tragicamente, meu professor de matemática.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos por lerem ^.^
Não esqueçam de comentar, pois vocês leitores são as sinapses que mandam o coração da historia bombear sonhos e blá-blá-blá.
Obrigada todos. xD



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