Percy estava olhando as estrelas. Annabeth já tinha ido se deitar e ele ainda olhava para as estrelas. As cenas do que ele e Annabeth tinham passado no Tártaro, ficavam passando por sua mente. Ele revivia tudo. Cada corte, cada dor, cada medo. Ele tentava ser forte na frente da namorada, mas todas as vezes que olhavam nos olhos dela, via seus temores refletidos nas íris cinzas que tanto amava. O filho de Poseidon sabia que namorava uma guerreira, que ela provavelmente era mais forte do que ele, mas isso não queria dizer que ela também não temesse. Que ela não precisava de um porto seguro. Percy suspirou. Ele tinha que tentar dormi, mas tinha medo. Medo o que sonharia assim que seus olhos se fechassem.

- Oi. – Jason disse parando ao lado dele.

- Oi. – Percy respondeu ainda olhando para longe.

Os dois ficaram em silêncio por um tempo. Eles ainda não conseguiam ficar no mesmo lugar sem se sentirem desconfortáveis.

- Eu e o pessoal estávamos conversando. Sabemos que vocês passaram por uma barra, e não vamos perguntar o que aconteceu. Sei que vocês vão contar quando estiverem prontos. – Jason limpou a garganta. – Eu quero que saiba que eu e outros vamos está aqui, vamos escutar o que vocês têm a dizer.

Os dois ficaram em silêncio novamente. Percy olhou para o filho de Júpiter pela primeira vez desde que ele parou ali. O filho de Poseidon analisou o amigo. Tudo o que ouviu falarem dele no acampamento romano, em nada se parecia com o garoto ao seu lado. Mesmo que tentasse, Percy não conseguia ver aquele líder que todos se espelhavam e queriam de volta. Ele não via em Jason um líder romano. Ele via em Jason um grego. De certo modo, Percy se via em Jason. Só que mais centrado e arrumadinho.

- Você ama a Piper? – ele perguntou de repente.

- O que?

- Você ama a Piper. – Percy repetiu.

- Amo. – Jason disse olhando para ele confuso. – Por quê?

- Eu aprecio o que você e os outros estão tentando fazer Jason, mas... Eu não sei se um dia vou falar para alguém sobre aquilo. Eu amo Annabeth, e nunca, nunca mesmo, tocarei nesse assunto se fizer com que ela se sentia mal. As coisas que a gente viu, que a gente fez... Você não tem ideia do que é estar naquele lugar. Todos os pensamentos ruins, todos os medos, temores, cobranças, voltaram. E voltaram com força total. Agora sei por que os monstros são loucos. Aquele lugar faz isso com você. Ali, se semeia o mal. – Percy fez uma pausa. – Eu nunca na minha vida me senti daquele jeito, e sei que nunca vou me senti de novo. Annabeth me manteve o que sou, mas uma parte de mim morreu ali. E sei que aconteceu a mesma coisa que ela. Eu nunca vi minha namorada daquele jeito. Eu nunca via tanto medo em seus olhos e eu ainda o vejo lá. Eu me senti o pior dos homens. Não posso tirar aquelas imagens da mente dela, e nunca vou poder. Eu me odeio por isso, me odeio por não ser forte para ela.

- Percy, sei que nenhum de nós sabe o que...

- Não. – Percy o cortou. – Eu sair daquele lugar para viver uma vida com Annabeth, não para reviver o que aconteceu lá. Eu precisava falar disso com alguém. Eu sabia que você era o único que podia me escutar, por ser tão parecido comigo. Eu precisava apenas falar.

- Ajudou?

- Não. – Percy disse dando uma pequena risada. – As pessoas que perdemos lá, não vão voltar. O que sentimos, não será esquecido. E ainda sou um péssimo namorado por levar minha garota para um encontro em um lugar como aquele.

Os dois ficaram em silêncio novamente.

- Percy. – os dois se viravam para encontra Piper parada olhando para eles. – Eu sinto muito te incomodar, mas, acabei de passar pela cabine de Annabeth e acho que ela está chorando. Quando a chamei, ela não me respondeu, achei que...

- Tudo bem. Obrigado.

Percy passou por eles sem dizer mais nada. Ele seguiu para a cabine da namorada. Ele não bateu na porta, apenas entrou. Annabeth estava encolhida na cama e lágrimas desciam pelos seus olhos. Ela olhou para ele e deixou escapar um soluço. Percy foi até ela e a abraçou. Nada precisava ser dito naquele momento. Apenas por estarem juntos, já estavam melhores. As feridas de suas almas não estavam curadas, mas estavam tratadas e fechadas com ataduras enquanto estavam juntos. Eles se amavam e isso a única coisa que realmente importava.

- Estamos juntos. – ele disse baixinho. – Estou aqui, amor.

Annabeth olhou para ele através das lágrimas. Percy só a chamava de amor quando queria conforta-la. E ela apreciava isso. Ele conseguia saber o que falar para ela e sempre estava lá para ela. Apesar de as vezes se confundir com suas palavras. A filha de Atena se odiava por ser fraca a ponto de chorar na frente do namorado, mas precisava colocar isso para fora.

- Eu sonhei com eles... Nas portas... Lutando... – ela tentou falar.

- Tudo bem. – ele disse. – Eu sei que vou sonhar com isso quando dormi.

- Você ainda não dormiu?

- Não. – ele disse olhando para o rosto dela enquanto secava as lágrimas. – Eu tenho medo do que possa sonhar. Eu... Annie, eu tenho medo de não ser forte o bastante para você. Você foi tão mais corajosa que eu. Eu te amo, e quero ser o seu porto seguro, sua boia salva vida. Mas não posso. Tudo o que passa na minha cabeça são imagens daquele lugar, e ao longe escuto as vozes das pessoas que amo, me falando que falhei com elas. Você, minha mãe, meu pai, Paul, Tyson, Grover, Quíron, deuses, até a voz da Clarisse eu escuto. Eu... Sinto não ser forte. Por não ser o que você precisa agora. Por não ser o que você precisava lá.

- Percy, você é tudo o que eu preciso. – ela disse passando a mão no rosto dele. – Eu acho que se não podemos ser fortes por inteiro, podemos ser por nós dois, juntos. Eu serei o seu porto seguro, e você será o meu. Juntos podemos tudo. Podemos sobreviver a um túnel do amor cheio de aranhas de metal, podemos treinar um chão infernal, podemos navegar no mar de monstros e ganhar corridas de bigas. Podemos segurar o céu, andar por um labirinto cheio de armadilhas. Podemos vencer uma guerra contra um titã. Podemos fazer qualquer coisa. Contando que estejamos juntos. Eu e você, sempre.

- Sempre. – ele disse sorrindo.

- Eu amo o seu sorriso. – ela disse passando o dedo pelos lábios dele. – Amo o jeito que você sorrir. Eu odiava, mas eu amo agora.

- Eu amo seus olhos. – ele disse. – Mas sempre os amei. Eles me dão medos ás vezes, mas eu amo o jeito único que eles brilham. Mas não gosto quando você está com raiva de mim. Dos outros, tudo bem, mas de mim... Me lembra a sua mãe. E a sua mãe não gosta de mim.

- Minha mãe não gosta mesmo de você. Você me mete em muita confusão. – ela disse se aproximando dele. – Mas eu te amo.

Percy sorriu para ela e se aproximou mais. Ele piscou para ela, antes de tomar seus lábios. Os dois se beijaram lentamente. Eles tentavam mostra que estariam sempre um ao lado do outro. Aos poucos, o beijo foi se tornando mais urgente. Percy deitou Annabeth na cama e se deitou por cima dela. A filha de Atena levou suas mãos para as costas dele e passou elas lentamente por debaixo da blusa, fazendo carinho nas costas dele. Quando o ar acabou, Percy passou os lábios para o pescoço da namorada. Annabeth passou as pernas pela cintura dele, o abraçando. Percy deixou escapar um gemido.

- Annie... – ele disse se afastando dela.

- Eu quero. – ela disse sorrindo para ele.

Percy nada mais disse.

E os dois se perderam naquelas sensações. Naqueles toques. Por um tempo, eles esqueceram deuses, monstros, profecias, guerras, tudo. Ali eram apenas Percy e Annabeth. Apenas duas pessoas que se amavam e que queriam esquecer seus medos e pesadelos. Eles se amaram por boa parte da noite. Sem se importa se seus amigos pudesse escuta-los ou não. Eles não estavam ligando para mais nada, a não ser eles mesmos.

Naquela noite, Percy dormiu no quarto de Annabeth. E em várias outras isso se repetiu, sem que seus amigos notassem. Um sempre ia atrás do outro. Um sempre protegia o outro de seus pesadelos. Por que eles, eram assim. Um morreria pelo outro sem pensar duas vez.