My Remedy-Percabeth escrita por Smiling Cat


Capítulo 2
Capítulo 1-Eu finalmente saio de casa.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-me, mas eu cheguei tarde ontem e não pude postar :(
Eu queria agradecer a Máire demais por ela ter/estar me ajudando com a escrita



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Por Annabeth

Faltavam apenas algumas semanas para o início das aulas com a minha professora particular. Dois anos se passaram desde que eu descobri a minha doença e só agora minha mãe percebeu que eu estava deprimida. Talvez porque eu ficava trancada em meu quarto o dia inteiro, e sempre lia o mesmo livro: Alice no País das Maravilhas. Era um livro esplêndido, que da segunda vez que você o lê descobre mais coisas, e na terceira mais coisas ainda. A questão é: já li aquele livro vinte e quatro vezes, mas nunca me cansei e continuo a descobrir sobre ele. A solução que minha mãe encontrou foi a seguinte: eu teria que frequentar a um grupo de apoio. Tudo bem, você deve pensar, "poxa, um grupo de apoio, o que tem demais? Se você não quiser falar é só ficar olhando para as pessoas"; mas não. Minha mãe não estava satisfeita com isso. Contra a minha vontade, ela me colocou para fora de casa — não literalmente, só por duas horas. Ela disse que eu precisava ver pessoas

Então aqui estou eu.

Sentada em um banco na frente da mansão onde moramos apenas minha mãe, eu e Boy. Já que minha mãe não me deixou pegar meu livro; estou olhando a mudança da mansão ao lado da minha.

Não sei de onde, entretanto sinto como se conhecesse a mulher dos fios castanhos que conversava com o motorista do caminhão de mudanças. Escuto um barulho e direciono meu olhar para os dois homens tentando levar um enorme sofá. Solto um riso pelo nariz, para mim é engraçado ver os dois homens se sufocando ao carregarem aquele sofá.

Isso é maldoso, mas todos nós temos nosso lado sombrio. O que nos resta é conviver com ele, já que somos feitos de ganância. Um maserati vermelho estaciona atrás do caminhão, o qual estava na frente do portão para a garagem subterrânea. Um garoto alto, com fios pretos e um estilo meio que swag, sai do automóvel e vai até o motorista — aquele que conversava com a mulher — e provavelmente pede para que o motorista tire o caminhão de lá. O que acontece, já que o homem caminha em direção ao caminhão e o retira de lá. O garoto entra no carro novamente e adentra a garagem.

Estranho, acho que o conheço. Continuo a observar os dois patetas descarregando as coisas do caminhão. A mulher que antes conversava com o motorista entra para a mansão. De repente tudo perde a graça, os homens terminam de colocar os móveis para dentro; e uma equipe, que se eu tivesse que chutar diria que são os decoradores, entram na mansão e a rua fica sem graça novamente.

Sinto cheiro de chuva, e percebo que o céu está ficando cada vez mais nublado. Meu olhar se encontra fixado na mansão do outro lado da rua. Estava distraída e me assusto ao ouvir minha mãe tocar meu ombro.

— Annabeth! Venha para dentro! Parece que vai começar a chover — ela chama, e eu apenas a sigo.

Ao entrar em casa sinto o cheiro de alguma coisa queimando. Minha mãe não gostava de contratar cozinheiras, mas ela não sabia fazer muita coisa na cozinha. E o que ela sabia eram aquelas comidas que já vinham prontas, como miojo, por exemplo.

— O que você fez? — pergunto friamente.

Eu não gosto muito de falar assim, entretanto eu passo tanto tempo sem falar que as palavras não saem do jeito que eu gostaria. Odeio-me por isso e por muitas outras coisas.

— Tentei fazer cookies, mas a minha tentativa foi falha — respondeu. — Como você já deve ter percebido — completou com um suspiro.

— Acho que deveria contratar uma cozinheira. Você não vai chegar a lugar algum desse jeito — observo, subindo as escadas, sem olhar para trás. Não queria ver o jeito que ela estava olhando pra mim, isso me fazia sentir culpada por ser infeliz.

Ao chegar ao meu quarto, respiro aquele ar abafado. Com cheiro de cachorro, como diz minha mãe. Fecho a porta atrás de mim e deito-me em minha cama desarrumada. Meu quarto sempre é escuro. Bem... Não totalmente, já que tem um abajur ligado na escrivaninha, ao lado do corredor que me leva ao closet. Ela é a única luz no meu quarto. As janelas sempre ficam fechadas, juntamente com as minhas cortinas. Detesto ser observada, mesmo que não morasse ninguém lá.
Mas agora mora.

Minha mãe abre a porta do meu quarto com uma força que eu me surpreendo. Pisando duro, ela vai até a janela e abre as cortinas. Por mais que esteja nublado, a claridade que entra, faz meus olhos arderem. A raiva toma conta de mim.

— Qual é o seu problema? — indago a ela, indignada.

— Você — ela responde gesticulando em minha direção. Sinto raiva em sua voz. — Você não sai desse quarto, não tem amigos, não conversa com ninguém, é sempre fria. Você não se dá uma chance — ela faz uma pausa e caminha até o pé de minha cama. — Quero você fora dessa cama e esse quarto arrumado. Tem dez minutos para fazer isso e estar lá em baixo. Você tem que ir para o grupo de apoio hoje.

Eu estava de queijo caído, literalmente. Eu nunca esperaria essa atitude dela.

— O grupo de apoio é as oito, ainda são cinco da tarde — digo, ainda indignada, mas com uma pontada de raiva na voz.

— Ou é a sala, ou eu te tranco pra fora novamente — ameaça. — Além disso, apresse-se, você tem que tomar o remédio daqui a pouco — ela diz e sai do quarto.

Eu estava tão abobada que demorei alguns segundos para voltar a realidade. Levantei-me para começar a arrumação quando me deparo com meu vizinho me olhando surpreso. E eu acabo entendo a surpresa dele, porque ele é ninguém mais e ninguém menos que Percy Jackson, o único amigo que eu tive. Ando até a janela e ele sorri sarcástico para mim.

— Quanto tempo, vizinha — ele grita de sua janela.

— Lamento, mas eu não costumo conversar com as pessoas — dou de ombros, e o moreno solta uma risada. — Você vai ser uma exceção, então venha até aqui, porque daqui eu não saio — digo.

Percy sorri amigável e vai até a porta de seu quarto, saindo por ali. Cerca de dois minutos depois ouço a campainha. Desço até a porta e vejo que minha mãe estava indo atender a porta e digo.

— Sai, é pra mim — aviso, recebendo um olhar nervoso da parte dela. Como eu disse, não gosto de ser grossa, mas às vezes as pessoas me tiram do sério.

Ao abrir a porta vejo um Percy sorridente e ele me abraça instantaneamente. Demoro um pouco para retribuir o abraço. Quando tempo fazia que eu não recebia um? Ou melhor, quanto tempo eu não dava um abraço em alguém?

— Nossa como você está magra — ele observa tirando seus braços ao redor de mim. — Gostava de você gorda, mas continua bonita do mesmo jeito.

Eu sinto meu rosto ficar quente. Acho que é assim que é corar. Ninguém nunca me disse isso antes. Ah é, eu nunca vejo pessoas, bem lembrado Annabeth.

— Percy? — minha mãe aparece atrás de mim, vendo o rapaz a minha frente. — Quanto tempo! — exclama puxando o rapaz para um abraço.

Observo o abraço dos dois, e que as mãos de minha mãe são colocadas nas costas do moreno. Seguro um suspiro de alivio. Então eu não errei no abraço.

— Por que não conversam na sala? — minha mãe dá a ideia aparentando estar bem animada quanto a isso. — Quem sabe você não consiga deixar ela fora do quarto, hein?! — indaga de forma retórica, sorrindo um pouco.

Percy ri.

Direcionamos-nos até a sala e me assusto quando Boy pula em Percy. Eles são do mesmo tamanho.

— Sai Boy — eu o empurro e ele senta na frente do sofá que sentamos, olhando como se esperasse carinho. A culpa não é minha se eu passo tempo demais me depreciando ao invés de dar carinho pra ele. — Não liga pra ele, depois ele sai. É só não olhar — digo.

— Gostei dele — Percy rebate dando um sorriso gentil. — Mas e ai? Como vão as coisas por aqui? Como vão os outros? — ele pergunta mostrando-se totalmente interessado.

— Que outros? — indago de forma seca. — Eu não falava com ninguém além de você — concluo.

— Achei que tivesse feito amizades depois que eu me mudei — responde como se sentisse culpa. — Você está brava?

— Eu não fiz amizades com ninguém. Se quiser saber eu não estudo em uma escola já faz dois anos, tenho aula particular. E não, não estou brava, só não falo muito, e quando eu falo sai isso — digo dando de ombros.

— Ah... Volta pra escola esse ano? — ele pergunta fazendo a mesma cara que fazia para tentar me convencer antigamente.

— Não — respondo, friamente.

— O que você tem, hein? — ele pergunta meio preocupado, me analisando com seus olhos verdes. — Você está tão diferente...

— Depressão — respondo rapidamente.

Ele ri. Não entendo o motivo da risada. Depressão é uma doença séria. Não é qualquer um que tem, e pode levar a morte. Ele para de rir quando vê que eu o olho de forma séria.

— Não é brincadeira? — pergunta com os lábios sérios e os olhos como se tivessem acabado de rir da morte de alguém.

— Não — minha voz sai firme, o que eu agradeço. — Se quer saber eu também não saio de casa — digo, indiferente.

— Então vamos sair — ele diz, se levantando. Como se fosse a coisa mais normal do mundo.

— O que? Não! — rebato de maneira nervosa e rápida.

— Vem, eu não vou te levar para um lugar movimentado, é só um café — Percy argumenta pegando em minha mão e me levantando. — Você precisa sair — termina olhando em meus olhos. No segundo depois, o moreno está me puxando em direção a porta de minha casa.

Eu não quero sair. Não ver as pessoas, não quero que elas me vejam. Tento pensar em alguma desculpa, qualquer uma quer faça Percy parar de puxar meu pulso e de tentar me arrastar para o lado de fora.

— Está frio lá fora, vou ficar resfriada — digo rapidamente. A única desculpa que me vem a mente. Droga, Annabeth! Melhor desculpa do mundo!

— É pra isso que existem casacos — minha mãe aparece segurando meu casaco com um sorriso vitorioso.

Bufo e coloco o casaco, me sentindo uma boneca nas mãos daqueles dois que fazem o que bem entenderem de mim.

— Espere ai, irei pegar o meu carro — Percy pede, basicamente correndo em direção a sua casa. Assim que o rapaz saiu de meu campo de visão, viro para trás, imaginando que poderia entrar em casa e não sair, mas vejo a porta de minha casa fechada, e minha mãe do lado de fora com aquele seu estúpido sorriso vitorioso.
Espero o moreno aparecer com o carro, onde eu basicamente me arrasto até o mesmo.

Entro no carro de Percy, onde tocava uma música alegre demais. A música era legal, mas não fazia o meu tipo.

— Posso escolher uma música? — indago.

— Aham — ele responde sem desviar os olhos.

Pego o CD, e olho atrás. Tinham trinta músicas no CD e achei uma que eu realmente gostava. "Why Try", então coloquei ela. Percy me olhou e depois voltou os olhos para frente.

— Por que escolheu essa música? — perguntou. Viro meu rosto para o do moreno, e percebo sua testa franzida.

— Essa letra é inspiradora para mim — respondo de forma calma. Ele me olha tentando entender o por que. — Algumas partes dela diz que estamos vivendo como anjos e como demônios. O que se você parar para pensar bem, você vai ver que é verdade — termino minha explicação.

— Então pelo menos nisso você continua a mesma — observa e eu arqueio uma sobrancelha. — Continua pensando e falando feito a sabidinha que era — observa. E sinto aquela sensação do meu rosto queimando de novo ao lembrar-se do velho apelido.

— Você não mudou muito, Cabeça de Alga — digo, mas não vejo sua expressão, pois quando o fito, ele já está saindo do carro tão rápido quanto entrou.

Olho pela janela e vejo que chegamos ao café. Não, penso, eu não quero entrar. Ele abre a porta para mim, mas eu não me movo. Ele senta no chão e me olha. Sinto meus olhos arregalados. Eu estou muito longe de casa.

— Percy, eu não quero entrar ai — digo e me surpreendo com a minha voz. Ela não saiu fria. Ela saiu baixa e medrosa.

— Está tudo bem, é só uma cafeteria — o moreno responde e hesita ao segurar minha mão. Normalmente eu teria ligado, mas acho que eu estava tão assustada por finalmente ter saído de casa para ir a um lugar onde se encontravam várias pessoas, que acabei nem ligando para isso.

— Eu não quero que elas olhem pra mim — minha voz sai manhosa. Eu quero chorar, mas não quero na frente das pessoas. De pessoas estranhas.

— Elas só vão olhar, não vão nem ser todas. Elas não vão fazer nada com você, eu prometo — depois de alguns segundos ele me puxa para fora do carro com delicadeza. — Vem — chama com uma voz calma.

Ao pisar na calçada, posso ver as ruas movimentadas de NY, ouço Percy fechar a porta atrás de mim e ele me oferece o braço e eu aceito. Encolho-me nele, estou com tanto medo que as pessoas me vejam. Quando eu entro, algumas pessoas olham por conta do sino na porta, que faz barulho quando alguém entra, mas elas nem ligaram para a gente. Ao chegarmos a uma mesa, peço para que Percy sente do meu lado. E suspiro aliviada por ninguém ter me empurrado ou me xingado. Dou graças a Deus por ninguém estar prestando atenção em mim.

— Boa tarde, o que gostariam de pedir? — dou um pulo no acento, a garçonete me assustou. Percy riu.

— Só um cappuccino — digo com a voz ofegante do susto.

— O mesmo — Percy fala, mas ergue a mão no segundo depois. — E traga um pedaço de torta de amora, para dois — acrescenta e a garçonete se retira.

— Eu acho que você está um pouco assustada — Percy observa enquanto solta uma risada baixa.

— É... Eu estou meio longe de casa — respondo, olhando pela janela.

— Meio longe? — ele pergunta de forma retórica, o que atrai a minha atenção. — O condomínio onde moramos é aqui perto — informa soltando uma risada.

— É que eu nunca saio — sussurro com a cabeça baixa deixando alguns fios louros caírem em meu rosto.

A garçonete chega com os pedidos e me assusta novamente.

— Experimenta a torta — diz Percy. — Garanto-te que é muito boa.

Hesitei um pouco, mas acabei experimentando. Muito boa era pouco para defini-la, ela era ótima. Achei que iria me arrepender de vir aqui, mas eu não estou tão arrependida.

Conversamos um pouco sobre o quanto eu estava assustada. Acho que Percy não sabia puxar conversa comigo, acho que ele tinha medo de me perguntar algo e eu começar a surtar. Não é bem assim já que existem vários tipos de depressão. A minha não é dessas, eu sou uma pessoa normal, que gosta de se prender do mundo por conta da minha baixa auto-estima e meu trauma. Só agora que eu estava conversando direito com alguém que eu pude perceber o quanto as pessoas são cautelosas quanto a isso.

Logo depois ele me deixou em casa, pois eu precisava ir para o grupo de apoio. Eram muitas pessoas para eu ver em um dia só. Eu que só costumava ver apenas uma, isso era muito estranho para mim. E inovador.

Eu tive de escutar vários relatos, coisa que eu não estava interessada, também tive de escutar várias coisas que eu também não estava interessada. Entretanto uma coisa me chamou atenção. Quando o Joye, o homem que liderava o grupo de apoio, citou a palavra fria, ele disse:

— A verdade por detrás da frieza é uma necessidade descomunal de amor. Uma necessidade tão grande que não consegue se revelar.

Arrependi-me de ter prestado atenção nisso. Eu não preciso do amor. Eu consigo viver sozinha. O amor é só mais um peso nas minhas costas, coisa da qual eu não preciso.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Comentários?
PS: Escutem Why Try, eu super recomendo...
Beijos, Cat