Wrong | Cobrina escrita por Bruna


Capítulo 24
Capítulo 24




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Sorri discretamente ao sentir ponta de dedos percorrerem toda a extensão de minhas costas. Não precisei de muito tempo e muito menos abrir os olhos para saber de quem se tratava. O cheiro que emanava da blusa do réptil me fora suficiente.

— Ela acordou? — a voz de João me fez mudar de ideia quanto a abrir os olhos.

— Acho que não... — Bianca disse calma.

Eu não tinha ideia de como eles haviam chegado.

Na noite passada, acabei adormecendo nos braços de Cobra, e sabia que estávamos no meu quarto já que lembro quando o moreno me carregou até lá. Estava tão entregue ao sono que nem ao menos o repreendi por aquilo.

Achei que ele iria embora depois disso, mas fiquei feliz ao notar que ele ainda estava ali apesar de tudo. Apesar de João e Bianca que, com certeza, chegaram em alguma hora da madrugada.

— Ela tem um sono pesado — foi a vez de Cobra se pronunciar. Seus dedos pararam lentamente de percorrer minhas costas e se fixaram na curva de minha cintura.

— Isso é verdade! — o gamer confirmou — Ontem nós fizemos mó barulho quando entramos em casa — a risada baixa e maliciosa me fez ter vontade de revirar os olhos e sorrir em seguida ao saber que havíamos atrapalhado a noite do casal — E fora o grito da Bianca quando entramos no quarto e demos de cara com você e a K. Ai, Bi! — reclamou de uma maneira dolorosa. A mais velha provavelmente havia o acertado — Qual é? Não foi justo só o Snake ter aproveitado a noite.

— Cala a boca, viciado! — devolveu o peçonhento sem paciência.

O silêncio pairou por alguns segundos, e Bianca o quebrou.

— Cobra... — começou receosa — Você sabe que eu não gosto de você, né?

— Disso todo mundo sabe, Bianca! — João respondeu por ele de uma óbvia, para logo em seguida reclamar de dor novamente.

— Cê tem que parar com isso! — resmungou o gamer.

— Enfim... — respirou fundo — Não gosto mesmo! — soltou de forma rude.

E quando eu havia decidido abrir os olhos e interrompê-la por aquilo, as próximas palavras dela me fizeram parar.

— Mas eu posso tentar mudar isso — soltou como se não acreditasse no que dizia.

— O quê?! — os dois soltaram juntos em uma total confusão.

— A minha irmã está tão feliz! De uma forma que eu não via há tempos — suspirou pesadamente, talvez mergulhando em lembranças antigas — E eu não sou cega de negar que você é parte disso. Desde que vocês embarcaram nessa coisa, ela parece tão mais leve, solta...

— Ela gosta mesmo de você! — João disse em um tom sério. Tão sério que me assustou — E não faça essa cara, Cobra — adverteu — Sei que você acha que isso tudo é só mais um lance, que ela só tá contigo pra esquecer o guitarrista. Mas olha só, lances não envolvem sentimentos — fez uma pausa, talvez esperando que Cobra o interrompesse — Você está completamente apaixonado! Foi a nocaute, lutador! — disse de uma forma divertida — E ela também! Karina não usa ninguém, Cobreloa. Sabe disso. E se ela embarcou nessa contigo foi porque realmente gosta de você. Não duvide!

O peçonhento não disse nada, apenas apertou um pouco mais minha cintura. Nenhum dos três se pronunciou por um longo tempo.

— Eu... Eu vou preparar o café — Bianca se manifestou. Talvez em uma tentativa de sair dali.

Ouvi passos em direção a porta, mas antes que eles desaparecessem, Cobra a interrompeu.

— Patricinha — chamou — Valeu por tudo!

— Só não a machuque, por favor — pediu Bianca em um sussurro dócil — E se fizer isso, eu mesmo acabo contigo, Snake! Tô de olho! — disse mais alto e de uma forma ameaçadora.

Depois de alguns segundos, os dois voltaram a conversar. Bianca provavelmente já havia deixado o cômodo.

— Você a ouviu! — disse João da mesma forma, mas sem conseguir conter o sorriso.

Os dedos frios dele encontraram a maçã de meu rosto, e acariciaram todo o local. Diversas vezes. E tive que me conter para não sorrir.

— No meio de todo o caos da minha vida, ela é uma das poucas certeza que eu tenho, João — disse calmo. Seu tom transbordava sinceridade.

— A coisa certa para o cara errado! — João gargalhou.

— O cara errado... — repetiu baixo. E eu, mais do que ninguém, conhecia aquele tom.

— Porra, Cobra, para com isso! — disse alto e de uma forma brava — Você tem que entender que o cara errado também merece ser feliz — disse um pouco mais baixo, talvez lembrando que eu ainda "dormia" — Enfim, Snake. O recado tá dado — ouvi os passos dele em direção a porta — Só não faz besteira, cara!

E se foi. Nos deixando sozinhos.

E eu tive medo de abrir os olhos. De encontrar os castanhos e que eles me afastassem como sempre faziam. Por um instante achei que não passaríamos por aquilo de novo. Na noite passada, achei que tivesse deixado bem claro o quão importante ele é em minha vida e que eu o amo por inteiro.

Sorri.

Eu o amo...

Eu nunca fui de demonstrar sentimentos com frequência. Gostava de me reservar. Manter tudo subtendido. Mas eu nunca quis tanto libertar um sentimento quanto ontem. E quando eu ouvi aquela simples - mas tão significativa - frase saltar de seus lábios, eu não tive dúvidas do que faria a seguir.

E foi ali que eu me dei conta de que precisava agir.

— Não me afasta — soltei assim que abri os olhos. Me sentei rapidamente na cama enquanto ele me olhava em uma total confusão, mas a confusão se foi rapidamente como se houvesse conseguido uma resposta.

— Não é nada educado da sua parte ouvir conversas alheias, Ka — repreendeu sorrindo.

— Não me afasta de você! — repeti com mais intensidade e clareza, ignorando totalmente seu comentário — Não faz isso... — sussurrei ao notar o olhar que ele me lançava.

O tipo de olhar que me fazia temer suas próximas palavras ou seu próximo movimento.

— Eu já tentei te afastar várias vezes, Karina. Mas todas em vão — sussurrou — E eu poderia tentar mais uma vez — disse sério — Pensar em uma jogada final que te fizesse nunca mais querer olhar na minha cara — a voz rouca do réptil me fez estremecer só de pensar na possibilidade.

— É isso que você vai fazer? — perguntei.

Ele me olhou por alguns segundos fixamente. O olhar ainda era o mesmo. E mais rápido do que eu achei ser possível, ele avançou sobre mim. Permitiu que o corpo caísse sobre o meu, me deitando novamente.

Não... — sussurrou. Tão próximo que eu sentia o hálito quente em meu rosto — Não vou fazer isso. Juro que quis — garantiu — Mas não vou te afastar. Eu quero estar com você e não vou medir esforços pra isso — arrumou algumas mechas do meu cabelo, os olhos vidrados no meus.

Suspirei aliviada e sorri. Minhas mãos cercaram sua nuca, e subiram até o mar de fios morenos um pouco úmidos. Ele havia tomado uma ducha em alguma hora da noite.

— Que bom! — sussurrei. A ponta de meus dedos acariciaram a barba do réptil que fechou os olhos e sorriu em resposta.

Os lábios quentes encontraram os meus de uma forma fugaz. E antes que ele ousasse aprofundar o contato, eu me afastei. Precisava manter distância.

— Eu preciso de um banho, Cobra — me sentei na cama de costas para ele, mas não sem antes apreciar o descontentamento estampado em sua face.

— Precisa? — beijou minha nuca — Eu posso te ajudar... — sugeriu de uma forma maliciosa.

— Não preciso de ajuda! — repreendi baixo. Minha voz afetada pelo toque de seus lábios em toda a extensão do meu pescoço. Não era fácil manter o tom firme com ele agindo daquela forma — Ei... — repreendi novamente quando senti os dedos dele invadirem a blusa que eu usava.

— O quê? — sussurrou em meu ouvido.

Ele também não ajudava em nada.

— Eu tenho que ir! Sozinha — frisei enquanto me levantava. Andei até o guarda roupa. Se eu ficasse mais um segundo naquela cama tinha certeza que não conseguiria sair — Me espere, Cobreloa — estreitei meus olhos em direção a ele enquanto pregava uma uma muda de roupa qualquer.

Cobra assentiu sorrindo de lado enquanto massageava as têmporas. Era algo bonito de se ver. Tentava manter a calma por minha causa.

Caminhei até a porta do banheiro, e tentei não me importar com todos os olhares que ele me lançava descaradamente.

— Você já disfarçou melhor — resmunguei ainda de costas.

— Não é a minha intenção esconder — garantiu — E afinal, não há nada em você que eu já não tenha visto antes.

Revirei os olhos com o comentário. Eu não iria dar a ele o prazer de me ver corar. Não mesmo.

Entrei no banheiro, sorrindo abertamente ao encarar meu reflexo no espelho. Eu estava, verdadeiramente, feliz e segura do que eu queria. E nada mudaria aquilo.

Lavei o rosto, escovei os dentes para, só depois, entrar no box. Permitindo que a água fria levasse todo meu corpo. Fiquei alguns minutos ali até me dar por satisfeita. Me sequei, usei alguns dos produtos que Bi guardava no banheiro e vesti a roupa que eu havia pego. A roupa íntima, o short cinza e uma blusa regata azul.

— Você fica melhor com a minha blusa! — ele comentou assim que pus os pés no quarto — Na verdade, você fica linda sem nada — as mãos firmes cercaram minha cintura, nos levando até a cama antes que eu dissesse qualquer coisa.

— Cala a boca — repreendi, tentando me afastar do bote do réptil.

Pisquei com força temendo o encontro do meu corpo com o colchão, o ouvi sorrir com aquilo. E, mais uma vez, eu o acompanhei sem querer.

O corpo dele caiu sobre o meu. Não totalmente já que o moreno apoiou boa parte do peso em seu cotovelo.

Os lábios quentes desceram lentamente até os meus. De início um beijo calmo, só para logo depois ganhar intensidade. Muita intensidade. Senti o corpo dele pressionar o meu e um gemido involuntário romper meus lábios.

— O café tá pron — a voz invadiu o cômodo — Pô, galera! — afastei o réptil com as mãos.

Cobra lambeu os lábios e sorriu de lado, saindo de cima de mim. Levou as mãos aos fios emaranhados em uma tentativa de os organizar. Fiz o mesmo com os meus enquanto me sentava na cama de costas para os dois.

— O que você tá fazendo aqui, João? — perguntou Cobra tentando conter a indignação.

— Eu vim chamar vocês dois pro café — explicou sem mais — Mas parece que cês preferem pular para o prato principal, não é? — riu com a própria piada — Podem continuar. Prometo tentar superar esse trauma. Nada que algumas horas na analista não resolva.

O olhei de relance e pude ver que o gamer deixava o quarto.

— Vamos! — chamei enquanto ia até a penteadeira e passava meu perfume.

— E quanto ao prato principal, marrenta? Tô com fome! — a falsa indignação e o sorriso cafajeste me fez acertá-lo com um leve soco no ombro.

— Idiota! — repreendi sorrindo enquanto o deixava para trás.

— K, acho que tá na minha hora! — a frase me fez estancar no lugar e olhá-lo confusa — O mestre deve tá chegando e eu não quero confusão pro teu lado.

— Mas essa é a intenção, lutador! — soltei da maneira mais casual que consegui.

Confusão.

Era isso que teríamos como acompanhamento do café da manhã. Meu pai talvez estivesse vindo para casa, e aquele era o momento. O momento de abrirmos o jogo; colocarmos as cartas na mesa; o pingo no i. Era a hora de contarmos sobre nós.

— Tem certeza?

— Tenho! — garanti.

Seguimos andando pelo corredor, descendo as escadas lentamente.

— Uau! — João disse surpreso — Isso que eu chamo de rapidinha — comentou assim que nos viu.

— Mais um comentário sobre isso e você fica sem dentes! — ameacei já brava. Sem um pingo de paciência para qualquer que fosse a provocação.

— Você a ouviu, viciado! — piscou Cobra. Repetindo as mesmas palavras do gamer.

João levantou as mãos em rendição enquanto sorria. Bianca o acompanhou mesmo não querendo.

— Bom dia, Ka! — cumprimentou em uma falsa casualidade enquanto se esticava e buscava a torrada que estava no meio da mesa — Tem algo a dizer sobre isso? — apontou para o moreno ao meu lado.

— O que quer que eu diga? — devolvi — Estamos juntos, Bianca!

— Juntos...— repetiu — Como namorados? — perguntou a mais velha nos encarando com expectativa enquanto mordia a torrada e sentava-se em uma das cadeiras.

Eu retesei por alguns instantes, não sabendo o que responder.

— É, patricinha — confirmou Cobra. Uma de suas mãos cercaram minha cintura — Como namorados!

Sorri da forma mais discreta que consegui. Era bom ouvir aquilo. Era bom estar com ele.

— Bora comer antes que esfrie, gente boa! Tô morrendo de fome — convidou João já se servindo de uma forma desesperada.

Bi o recriminou por aquilo. Eu e Cobra ríamos de tudo enquanto nos sentávamos lado a lado.

Nos servimos e passamos um bom tempo ali.

Em meio ao café da manhã, nós conversávamos sobre as mais banais trivialidades. Bianca nos contou que estava super animada com os ensaios para a peça que iria estrear no final do mês. João, que também participaria da peça, também parecia bastante contente com tudo. Além, é claro, das semanas de jogos de graça no QG que o moreno finalmente estava pagando. Cobra acabou engatando em um papo super maneiro com Bianca quando a mesma citara Shakespeare, que sorria e concordava a cada frase dita por ele sobre o dramaturgo. O réptil também acabou confidenciando que amava a luta, mas que deixaria a Khan por "algumas paradas" como ele mesmo definira. Bi comentou que ele poderia voltar a treinar na academia do papai, e Cobra disse que iria falar com o mestre em uma outra hora. Eu comentava e falava sobre algumas coisas enquanto sorria ao observar todos nós.

Passamos um bom tempo assim.

O papo estava tão animado que nenhum de nós notou quando a porta foi aberta. Só percebemos a presença do mestre quando ele quase gritara.

— Ai meu saco! — a voz atrás de mim me fez virar assustada. Gael coçou a barba enquanto respirava fundo. Ele havia parado bem no meio da sala, estava imóvel.

Todos nós nos levantamos depressa.

— Mããããe! — chamou João apressadamente em desespero, a voz afetada por estar com a boca cheia.

Eu rezava internamente para que a professora estivesse ali, e quando a vi atravessar a porta, respirei aliviada. O risco de mortes foi diminuído drasticamente com a sua chegada.

— Cobra? — ela perguntou confusa enquanto apertava os ombros largos do mestre, o acalmando.

— Ei! — cumprimentou baixo. Sabia que o peçonhento também estava apreensivo com tudo aquilo. Talvez mais que qualquer um.

— Alguém me diz que isso não é o que eu tô pensando — pediu. Os olhares furiosos se revezavam entre o réptil e eu.

Bianca e João pareciam pensar em algum escape para a situação.

— Depende do que você tá pensando — João respondeu calmo enquanto bebia o suco de laranja.

— Você dormiu aqui, moleque? — disse zangado em direção a Cobra.

— Tem certeza que essa é a pergunta certa, mestre cruel? — provocou o gamer.

— João! — repreendeu Dandara e Bianca.

Ouvi a respiração pesada romper suas narinas. Alguns segundos de silêncio antes da resposta.

— Dormi.

Uma única palavra que gerou o caos.

Meu pai rosnou antes de perder o pouco da sanidade que ainda lhe restara, partindo para cima do réptil, que me colocou atrás de si em um movimento rápido enquanto esperava o ataque do mestre. Ataque esse que não veio, graças a professora, João e Bianca que o seguravam.

— Eu vou acabar com você! — estreitou os olhos, o ameaçando.

Revirei os olhos enquanto dava um passo a frente, ficando de novo ao lado dele.

— Pai, você não vai fazer isso. Não vai fazer nada! — disse com uma convicção que eu nem ao menos sabia de onde havia saído — Nós estamos juntos. Nada vai mudar isso. Nem mesmo você.

Ele, para total supresa, assentiu enquanto respirava o mais profundamente que conseguia, se acalmando. Depois de alguns segundos naquilo, pediu para que o soltassem.

— E o pior é que eu já desconfiava disso, mas te ouvir falando é muito pior — falou mais para si mesmo que pra qualquer outra pessoa dali — Desde quando? — perguntou como se voltasse a consciência.

Seu tom já era controlado e eu agradeci por aquilo.

— Desde o dia em que Jade disse que eu estava agarrando a K no QG — respondeu Cobra.

Eu lembrava daquele dia. Depois de alguns desentendimentos acabamos nos acertando. Foi o dia em que ele deixara claro que queria tentar.

— Então era verdade? — devolveu já se descontrolando — Você estava agarrando a Karina?

— Não, pai! — neguei brava — Ele nunca me forçou a nada — garanti.

Ele maneoou a cabeça como se ainda não acreditasse em tudo o que estava acontecendo.

— Você viu só, Dandara? — perguntou para a professora em um suspiro — O dedo podre que as minhas filhas têm?

— Ei! — a professora bateu em seu ombro — Ele é meu filho — apontou para João que tinha uma falsa indignação estampada na cara.

— Eu sempre esqueço essa parte — disse casualmente.

Eu ri sem querer e fui acompanhada pelos outros.

— Então... — Cobra começou depois de um tempo — Você aceitou de boa, mestre?

De boa não, mas aceitei — sussurrou calmo — Você, lá no fundo, é um cara bacana. Gosta dela de verdade e a faz bem — disse simplesmente me fazendo ficar um pouco surpresa.

Gael deu alguns passos até o réptil, que o olhava fixamente como se quisesse adivinhar o golpe que viria.

— Mas se você a magoar... Eu te mato, Cobreloa — sussurrou novamente. Dessa vez em uma clara ameaça. Cerrou o punho, acertando um soco em seu ombro fortemente, o que o fez cambalear para trás — Decorou, moleque?

— Decorei! — garantiu em um tom firme.

— Tô de olho! — fez o gesto já tão conhecido por todos enquanto nos olhava — Agora eu preciso comer. Toda essa coisa me deu fome e muita dor de cabeça.

Fui até a sala de estar sendo acompanhada por Cobra. A professora e o casal nos lançaram alguns sorrisos discretos.

Não havia sido tão ruim, afinal. Não tanto quanto eu pensava.

— Tá na minha hora, gente boa! Ainda preciso abrir o QG — informou o réptil.

— Também acho, lutador! — concordou meu pai enquanto passava a manteiga no pão — Não volte tão cedo — avisou enquanto dava uma bela mordida na massa lhe sorrindo falsamente.

Revirei os olhos. Algumas coisas nunca iriam mudar.

— Eu vou com ele até o QG, pai — avisei enquanto seguia Cobra que já estava na porta — Te encontro na academia!

— Precisa mesmo acompanhá-lo? — questionou a contra gosto.

— É, meu amor, precisa — Dandara respondeu enquanto sentava ao seu lado — Deixa os dois em paz...

— Na verdade, deixa os quatro em paz, mestre — corrigiu João enquanto puxava Bianca pela cintura e a beijava — Nós merecemos também, né?

Meu pai começou uma outra discussão a respeito de Joanca, e antes que sobrasse para nós dois, abri a porta nos tirando do fogo cruzado.

— Viu, só? Nem foi tão difícil, lutador — sorri brincalhona enquanto bagunçava alguns fios do cabelo do moreno.

— Meu ombro ainda tá doendo, marrenta — lembrou do soco que levara — Mas nada que eu não possa aguentar! — sorriu de lado.

Cobra pegou uma de minhas mãos me puxando para um abraço. Me aninhei em seu peito enquanto ouvia as sonoras batidas de seu coração.

— Namorados, né? — perguntei baixinho, lembrando do que ele havia dito para Bianca.

— É. Namorados!

— Eu não lembro de nenhum pedido, Ricardo — provoquei-o.

— Não me chame assim — repreendeu em uma falsa ameaça enquanto se afastava um pouco, desfazendo o abraço — E não seja por isso. Karina Duarte, namora comigo?

— Eu... Eu — comecei nervosa. Quando notei um aperto fraco em minhas mãos, demonstrando sua apreensão, sorri verdadeiramente — Eu aceito, idiota!

— Isso vai ter volta! — disse quando notou o que havia feito.

Os braços fortes me puxaram em sua direção, fazendo com que meu corpo se chocasse com o dele. Os lábios do réptil se aproximaram dos meus, mas nunca os tocavam. E quando eu fazia menção de acabar com a distância, ele de novo se afastava. O sorriso maroto preso em sua boca denunciava que ele estava gostando daquelas provocações. E quando perdi a paciência para elas, meus dedos agarraram o cabelo de sua nuca e o puxei, o beijando finalmente.

— Somos o assunto do momento, Cobra — comentei quando me afastei. Notando que a maioria das pessoas que passavam na praça nos olhava.

Não éramos novidade. Na verdade, agora éramos a certeza de um boato que assolava o bairro a meses.

— Somos — confirmou — Mas só por uma semana ou duas — disse com uma certeza exagerada — E afinal, até eu estaria surpreso se me falassem há alguns meses que eu estaria com você.

Ri com a careta que ele fez.

— Vamos logo para o QG! — o arrastei pela mão, atravessando a rua — Meu pai pode aparecer a qualquer momento. E eu não tô a fim de aturá-lo.

— Vamos!

O Perfeitão já estava aberto. E não fiquei surpresa ao vê-lo. Antes de encontrar meus olhos, os de Pedro encararam fixamente as nossas mãos entrelaçadas. Depois de um tempo, subiu o olhar encontrando finalmente os meus. Sorriu para nós dois e acenou. Devolvi o gesto, tendo toda a certeza de que estava tudo resolvido entre nós finalmente. Sem mágoas e ressentimentos.

Éramos amigos agora.

— Maria macho, vagabundo... — cumprimentou Jade ironicamente.

A bailarina estava apoiada na porta da loja de suplementos de uma maneira bem provocativa.

— Dama — Cobra devolveu o cumprimento da mesma forma.

— Ei... — disse baixo.

— Parece que finalmente assumiram — comentou casualmente enquanto encarava as unhas enormes pintadas de um prata estonteante.

— É, estamos juntos — Cobra confirmou enquanto cercava minha cintura, plantando um beijo em meu rosto.

— Sempre soube que eu tinha razão pra desconfiar da sua "preocupação" com a lutadora — disse o encarando fixamente, parecendo mergulhar em lembranças.

— Talvez você tivesse... — sussurrou à ela.

Eu me sentia perdida no meio dos dois. Pareciam compartilhar as mesmas lembranças de uma época distante.

— Eu não vou poder conversar contigo agora, Dama — ele falou alguns segundos depois. Talvez achasse que ela estava ali para conversar com ele como sempre fazia.

Cobra e Jade também eram amigos. O réptil tentava sempre estar com ela, a apoiando em tudo. Me disse uma vez que Lucrécia estava reagindo bem ao tratamento e que isso vinha aliviando a bailarina que estava apreensiva de início.

— Qual é, vagabundo? — soltou divertida — Não se ache tanto. Eu não vim por você.

— Não? — questionei surpresa.

— Não, novinha! — beijou o meu rosto e sorriu ao notar a carranca que eu fazia e os olhares ameaçadores de Cobra — Ela veio por mim — Thawick disse enquanto saía da loja de suplementos e cercava a bailarina com os braços.

— Estão juntos? — Cobra sorriu de uma forma marota parecendo esquecer totalmente o motivo que o levara a raiva a alguns instantes.

— Quase isso! — o loiro respondeu a olhando com malícia — Espero que não se importe, cara.

O réptil levantou as mãos em rendição enquanto ria da situação.

— Faça bom proveito! — desejou.

E quem diria. Jade e Thawick juntos.

Sorri enquanto entrávamos finalmente no QG.

Cobra trancou a porta enquanto rastejava até mim. Sabia que o réptil estava próximo de dar o bote. E eu nunca quis tanto provar do veneno. Veneno esse que eu já era imune.

— Nós temos muito tempo, marrenta? — perguntou me guiando até o improvisado quarto.

— O suficiente... — sussurrei rouca enquanto sentia os lábios dele percorrerem toda a extensão do meu pescoço.

Meu corpo encontrou, de novo, um colchão. Dessa vez o baque foi mais forte, mas não doloroso. O corpo dele caiu sobre o meu, mas não totalmente. Da mesma forma de antes.

Antes que seus lábios encontrassem os meus, os dedos dele percorreram meu rosto com tamanha leveza que fizeram meus olhos fecharam e um leve repuxar de lábios surgir.

— Obrigado por insistir no erro, Karina! — beijou minha testa — Obrigado por errar... — sussurrou.

— De nada — disse baixinho, me fixando nos castanhos que me olhavam docilmente — É sempre um prazer! — minhas mãos mergulharam em seus cabelos, o aproximando. Impulsionei meu corpo um pouco mais, permitindo que meus lábios encontrassem os dele. Sem preocupações, sem pressa.

Cobra se afastou quando o ar se fez necessário. E foi a minha vez de percorrer e analisar cada centímetro do rosto dele.

A barba ralha e mal feita roçando em meus dedos lhe davam um ar mais maduro. Os olhos castanhos escuros tinham um brilho espetacular. Mas ainda faltava uma coisa. E bastou eu rir largamente para ele aparecer. O seu sorriso. O melhor que ele já lançara. Do tipo que deixava os caninos a mostra e faziam pequenas covinhas se formarem.

E ali eu tive a certeza. Ele era o erro mais belo que já passara na minha vida e, sem sombra de dúvidas, era o que eu mais amava.

— Amo você... — me sussurrou com a voz rouca.

E que me amava também.

[...]

Há erros que valem a pena. Ricardo Cobreloa valia.


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Notas finais do capítulo

Pela primeira vez as notas iniciais do capítulo ficaram em branco. Não por eu não ter o que dizer. Eu sempre tenho! Mas porque realmente odeio despedidas.

Como devem ter percebido, Wrong chegou ao seu fim. E juro que estou tentando controlar as lágrimas ao escrever essas notas. Nunca achei que fosse sofrer tanto com o encerramento de um ciclo. Mas cá estou. :'(

Espero sinceramente ter feito um bom trabalho. E se não fiz, minhas sinceras desculpas.

Por falar em desculpas, acho que são por elas que devo iniciar. Desculpa pela demora nas atualizações. Desculpa pelos erros na escrita. Desculpa se desapontei. Desculpa pela fic nunca ter tido uma capa decente - eu realmente sou mó perdida nessas coisas -. Enfim, desculpas...

Agora vamos aos agradecimentos: MUITO OBRIGADA a cada um de vocês! Aos que leram, sorriram, choraram e vibraram por Cobrina - ao menos por aqui -Vocês são parte de mim. Para sempre. Foi a minha primeira fic. Vocês foram meus primeiros, e mais especiais, leitores. Nunca irei esquecer isso.

Foram os oito meses mais fodas da minha vida. Sério! As vezes eu estava tão pra baixo com a minha vida e eram vocês que tiravam da foça e me faziam querer continuar nessa loucura que comecei! Todos os comentários, acompanhamentos, favoritos e recomendações - a propósito: eu amei a recomendação, Alasca! - foram e são muito importantes e fundamentais para mim. Obrigada por todos eles! Aos que são leitores(as) fantasmas: meus sinceros agradecimentos também. Espero um dia ver sua cara, hsuahsua.

Wrong além de experiência, me trouxe pessoas incríveis. Que além de guardar no coração, gurdo no whatsapp - kkkk -. Quero que saibam que foi um imenso prazer conhecer vocês, compartilhar estórias, alegrias, tristezas, surtos, maluquices e tudo que vem no pacote, kkkk.

Aos mais atentos: não, eu não marquei a estória como concluída. Por que? Bom, planejo escrever um bônus e o postar algum dia. '-' O que acham da ideia?

Mais uma vez, obrigada por tudo! Quero ver todos vocês nos comentários, galera! E aos que, por alguma razão, não querem comentar, me mandem uma MP. Eu AMO conversar.

Beeeeijos! E não esqueçam: amo vocês!