We Both Changed escrita por MsNise


Capítulo 9
Desistindo


Notas iniciais do capítulo

Sexta-feira significa mais um capítulo de We Both Changed!
Espero que gostem :*



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Estávamos somente Doc e eu no seu consultório quando ele me informou que o corpo de Jodi não aguentaria mais tanto tempo. Durante alguns minutos, simplesmente segurei na mão do corpo inerte e analisei a sua face desacordada. Parecia a minha Jodi de tempos atrás enquanto dormia. A minha Jodi, que talvez nunca mais fosse acordar.

Era difícil tomar a decisão crucial, a decisão de desistir. Não era desistência, era? Achei que tivesse muita pouca fé na Jodi quando tomei a minha decisão, mas não podia perder todas as minhas esperanças. Sabia que Sunny continuaria tentando.

Acariciei sua face e depositei um beijo em seus lábios antes de falar a minha decisão.

— Coloque Sunny de novo.

Doc pareceu ficar surpreso com a minha decisão, no entanto não a questionou. Simplesmente pegou o criotanque de minhas mãos e iniciou o seu trabalho cuidadosamente. Dei-o um pouco de espaço e observei enquanto Sunny deslizava para dentro do corpo de Jodi.

— É injusto — Ian falou, sentando-se em uma cadeira ao meu lado. Tinha o semblante cansado e continuava segurando o criotanque de Peg com muito carinho. Não tinha percebido quando ele entrou na sala. — Sunny não faria isso com você.

— Estou dando vida a ela novamente, Ian — protestei, mas a minha voz era fraca e desacreditada. — Ela vai gostar.

— Você a está dando uma vida para continuar procurando por Jodi — ele argumentou. — Ela não devolveria um corpo para você procurar pelo amor passado dela.

— Mas eu sou humano e egoísta — argumentei. — E não consigo pensar no que ela faria ou não faria por mim.

— Kyle — e pelo seu tom de voz, parecia que Ian estava falando com uma criança. — Não é questão de pensar no que ela faria ou não faria por você. É questão de pensar no que ela merece.

Fiquei em silêncio por um tempo, processando as informações.

— Ela vai continuar tentando — murmurei. — Eu só preciso que o corpo de Jodi permaneça intacto.

— Sim, ela vai continuar tentando — Ian confirmou. — Mas é muito improvável que Jodi retorne à vida. Faz muito tempo que ela foi capturada. E ela não resistiu… Enfim, ela não quis resistir. Então, se Sunny continuará tentando por você, você deveria fazer algo por ela.

— O que quer dizer? — minha voz estava gélida. Temia que tivesse entendido qual era a intenção por trás das palavras de Ian.

— Você deveria tentar… entendê-la. Aceitá-la.

— Eu não vou me apaixonar por uma alma, Ian — minha voz já se exaltava. — Muito menos pela alma que está no corpo da mulher da minha vida.

— Não é culpa dela em qual corpo ela está — Ian continuava defendendo o inimigo, a criatura prateada. — E que mal tem se apaixonar por uma alma, Kyle?

— As almas tiraram Jodi de mim! — explodi, esquecendo que Doc estava na sala. Pensei que tivesse o visto dar um pulo com a minha revolta repentina, mas ele permaneceu educadamente em silêncio. Era bom que nos deixasse discutir mesmo. — Eu não posso me apaixonar pelo monstro, Ian, para eu mesmo não me tornar um monstro! Jodi me odiaria!

— Jodi não está mais aqui — Ian argumentou. — E Sunny é uma boa alma.

— Para continuar procurando Jodi para mim.

— Não. Para você amá-la. Sunny é uma boa alma para você amar.

— Isso não vai acontecer — sentenciei, desviando o meu olhar e vendo o corpo desacordado de Jodi, que acordaria com Sunny em seu controle.

Sunny era uma boa alma, mas não era a minha Jodi. E vê-la em seu corpo, roubando as expressões, agindo de forma diferente, fazia o meu estômago embrulhar. Se fosse Sunny em qualquer outro corpo, talvez eu até pudesse simpatizar com ela. Peg, por exemplo. Eu havia aprendido a simpatizar com ela. No entanto, Sunny… Só de imaginar as expressões serenas e o sorriso simpático eu já tinha vontade de retirá-la daquele corpo.

Quando tinha sido amigável com Sunny, eu tinha certeza do retorno de Jodi. Agora ela só me representava alguém que roubara um corpo inocente que não seria reivindicado.

Eu queria Jodi. Queria suas expressões intensas, a sua valentia, a sua indiferença. Queria sorrisos raros e certeiros. Queria jogar verdade ou consequência com ela e com Ian novamente. Isso foi anos atrás. Passado; e nunca mais vai acontecer. E, no entanto, presente o suficiente para o meu coração ter sido rasgado quando Sunny piscou confusa e encontrou o meu olhar melancólico e cheio de dor. Ela parecia preocupada.

— Kyle? — ela parecia confusa. Meus olhos deviam estar tão perdidos quanto os dela. Seus olhos prateados, suaves e preocupados. Olhos que não a pertenciam.

Engoli em seco e segurei em sua mão pequena, cobrindo-a com a minha mão grande. Isso me recordou de Jodi e, por um segundo, pareceu que ela estivesse lá comigo, mas quando eu ergui o meu olhar, encontrei Sunny sorrindo delicadamente por causa de minha atitude.

Parecia-me repulsivo acariciar a face de Sunny. O movimento não vinha espontaneamente. E a única coisa que eu queria era separar as nossas mãos, separar-me dela, afastá-la. Eu queria Jodi. Ela tinha roubado Jodi de mim.

— Por que… pensei que vocês me quisessem longe — sua voz estava trêmula e insegura. Seu olhar, confuso. — Por que estou aqui?

Respirei fundo.

— Jodi não acordou — murmurei com uma voz sóbria. — Para o corpo não morrer, colocamos você nele.

— Ah… — ela parecia realmente triste. Eu só não saberia dizer se era porque ela só tinha voltado à vida para ressuscitar o corpo ou se ela estava mal pela minha situação de perda. — Sinto muito.

Não conseguia sustentar o seu olhar.

— Eu também.

Estava de luto. Por Jodi. Por Sunny também. Por ela ter caído nas minhas mãos. Sunny merecia uma vida melhor, um humano melhor. Ela não merecia a criatura egoísta que eu era, a criatura que a fez voltar à vida para ela continuar procurando por uma morta. Porque era isso que Jodi era. Jodi estava morta. E admiti-lo era doloroso. Muito doloroso.

A verdade nunca tentou ser gentil, afinal.

— Continuarei procurando-a — Sunny murmurou, apertando as nossas mãos unidas.

Fechei meus olhos. Jodi. Minha Jodi, minha humana, o amor de minha vida. Morta dentro de si mesma. Com uma alma generosa controlando seu corpo, mas incapaz de fazê-la voltar à vida. Porque Sunny não tinha esse poder. Sunny não poderia resgatar Jodi das escuridões, mesmo que continuasse tentando. Ela nunca conseguiria.

— Obrigado — era tudo o que eu poderia dizer.

Estabeleceu-se um silêncio educado no local enquanto eu permanecia de olhos fechados. Tinha certeza de que minha testa estava vincada em sofrimento.

— Talvez fosse melhor você ir comer alguma coisa e descansar, Kyle — Doc falou, provavelmente lendo o desespero em minha expressão. Provavelmente sabendo que eu precisava ficar sozinho. Abri meus olhos.

— Eu fico com ela — Ian murmurou, ainda sentado ao meu lado. Ele também deveria estar de luto, mesmo que simpatizasse com Sunny. Ele entendia o que eu estava passando.

Olhei-o severamente, querendo avisá-lo para não falar nenhuma bobagem. Ele não poderia encher Sunny de esperanças, falando que eu a amaria como um dia amei Jodi e que eu a aceitaria como parte da família. Ele não poderia ser cruel ao ponto de falar isso para a alma que estava no corpo da minha antiga amada.

— Não se preocupe — e eu sabia que ele respondia à minha pergunta silenciosa.

— Obrigado.

Primeiramente, dirigi-me à sala de banhos a fim de relaxar na água quente. Tentei esquecer de meus problemas, contudo eles não evaporaram de minha mente imediatamente. Continuavam lá, perseguindo-me. Depois, fui até a cozinha comer alguma coisa. E, por fim, dirigi-me ao meu quarto. Precisava descansar.

Minha mente não parou nem por um segundo. Como eu conseguiria suportar Sunny? Tê-la perto de mim enquanto eu ainda tinha esperanças era uma coisa, mas vê-la controlando um corpo que não a pertencia e que nunca seria reivindicado… Essa era outra coisa, bem mais dolorosa. Um corte de navalha no meu coração.

Eu não chorava mais. Não me permitia chorar por nada, por nenhuma situação. Não podia dar-me ao luxo de vacilar, para não ficar preso nessa infinita prisão. Mas, naquele dia, não consegui controlar as minhas lágrimas. Deixei-as escorrer pelo meu rosto em meu luto, em minha perda. Jodi, que não voltaria para mim. Jodi, a garota que ficou bêbada um dia antes de ser capturada, que se esgueirou até meu quarto para falar que não conseguia dormir, que apontou a lanterna para seus olhos e me revelou a esperança.

Sunny não ajudaria em nada. Sunny não a faria retornar. Sunny era simplesmente vítima de um homem machucado pela infinita dor da perda. Vítima de um homem cheio de sequelas e cicatrizes irreparáveis. Vítima de um homem que queria ser forte e que, ao mesmo tempo, morria de medo.

Esse homem tinha medo de sofrer como sofria naquele momento. Esse homem tinha medo do sofrimento que o perseguiu durante anos.

Esse homem era eu, Kyle O'Shea, o fugitivo que tinha prometido ser forte.

Aparentemente, a minha promessa foi por água abaixo quando consegui aceitar que Jodi, a minha amada, jamais voltaria para mim.

Nunca mais.


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Notas finais do capítulo

E entãããão? O que acharam? Digam-me suas opiniões, eu amo lê-las!
Até sexta que vem :3