We Both Changed escrita por MsNise


Capítulo 2
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Notas iniciais do capítulo

Heey, tudo bem? Tentei caprichar nesse capítulo da história do Kyle pra vocês entenderem sobre a jornada dele. Espero que gostem :3



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Ian sempre foi mais observador e cauteloso que eu. Joguei verde, ele colheu maduro. O quebra-cabeça estava quase completo, cada peça em seu devido lugar. A única coisa que nos restava saber era: qual é a sua aparência?

Depois do dia que falei que os caras de preto continuariam nos rondando e que as pessoas estavam tendo comportamentos estranhos, Ian tentou desvendar o problema. Camuflamo-nos nos bosques atrás de algumas casas e Ian passava o dia todo observando, observando e… observando. Enquanto isso, eu dormia o sono que havia perdido enquanto tinha ficado de guarda dele. Ele me acordava às vezes para me avisar que o meu ronco estava alto demais e poderia chamar a atenção para nós, mas nada que realmente atrapalhasse o meu sono. Um dia realmente tivemos de encontrar um córrego que quase disfarçasse o barulho de meu ronco, quando percebemos que nada mais teria solução. Era perigoso chamar a atenção.

Era um dia ensolarado e cheio de esperanças quando Ian me deu a notícia que há muito eu já tinha consciência de que era verdadeira. “Alienígenas”, ele murmurou. Contou que estava relacionando as cicatrizes na nuca com os olhos com reflexo e com o comportamento gentil e recíproco. Demasiadamente bondoso para um mundo assolado por tragédias.

Eu não estava o escutando. Não de verdade. As suas palavras, as suas comparações, toda a sua análise me pareciam inúteis. Não eram detalhes que me interessassem. A única coisa que precisávamos saber era que eram alienígenas de alguma espécie — não do tipo óbvio, verde, com a cabeça enorme, talvez mais de um olho —, alguma espécie discreta e mais inteligente que nós, meros humanos que fomos vítimas de sua ocupação.

A nossa única pista eram os olhos. Sem reflexo, humanos. Com reflexo, alienígenas. Parecia o suficiente.

Escolhemos uma casa que tinha no fim do bosque para furtar a comida. Não éramos ladrões, mas era uma necessidade. Tinham várias casas de todas as cores e tamanhos, no entanto concordamos que tínhamos que focar somente em uma. Observar o comportamento dos alienígenas — descobrimos mais tarde que se autodenominavam como almas — e entrar discretamente na casa durante a sua ausência, depois partir sem deixar rastros.

Almas. Era ridículo. A minha vida toda a alma foi a essência do humano, não uma criatura que erradicasse a sua mente — saíam com frequência, iam conversar com os vizinhos, socializar, controlavam os nossos corpos. Eram muito boazinhas. Sociáveis. Monstros, de qualquer forma.

Aquelas almas que observávamos não saíram durante o dia como as outras geralmente faziam. E sua casa estava toda fechada. Cortinas fechadas, portas fechadas. Um casulo. Com certeza, eram aqueles caras de preto que pareciam mais propícios à violência do que a maioria. Talvez quisessem privacidade.

— Não sei se é exatamente uma boa ideia invadirmos essa casa — Ian murmurou ao meu lado.

— Shh — calei-o. — Eu acho que é melhor ficarmos de olho nessa. Quem sabe são os homens de preto. Quem sabe… nós descobrimos quem eles realmente são.

Ian não teve argumentos para discutir diante de minha colocação.

Afinal, não pareciam os caras de preto quando saíram de casa no período da noite. Era uma família absolutamente normal: um casal mais velho e uma jovem que deveria ter no máximo a minha idade, dezenove anos. O comportamento deles era mais reservado que o da maioria. Nada muito chamativo, principalmente.

Logo que eles entraram no carro e deram a partida eu insisti para que invadíssemos a casa. Ian estava relutante, falando para esperarmos para ter certeza. Ter certeza? Que porcaria é essa?! Sem dar atenção às palavras de Ian, atravessei o gramado e cheguei à porta dos fundos da casa… estranhamente destrancada. Dei de ombros e entrei.

A casa era um verdadeiro pandemônio. Papéis espalhados por todo o lugar, móveis antigos e desgastados, roupas jogadas no chão. Realmente imaginei que os alienígenas fossem um tanto mais organizados. Pelo menos é isso que aparentam. As aparências enganam, não é o que sempre dizem?

Ian entrou em seguida, provavelmente não querendo ficar sozinho durante a noite. Se correríamos riscos, correríamos juntos. Ele se apressou em abrir a porta da despensa e iluminar o local com uma lanterna. E, sinceramente, o meu queixo caiu no chão. Cheio de suprimentos! Mais do que em qualquer casa normal.

— O que é isso?

Eu tinha certeza que meu queixo estava no chão.

Foi então que ouvimos barulho de chave na porta. Era alguém apressado e… não deu tempo de nos escondermos. A alienígena que controlava o corpo da mais nova entrou na casa e nos flagrou observando a sua despensa muito bem equipada. Ela se interrompeu em um passo e ficou nos encarando no escuro. Por um longo tempo.

Sabia que estava na hora. Corri junto de Ian para a porta dos fundos. Precisávamos sair daquele lugar o mais rápido possível — quem sabe ainda conseguiríamos escapar e então ninguém nos encontraria. Precisávamos apostar na sorte. Porque era a única coisa que tínhamos naquele momento.

— Esperem — gritou a garota. Não pararíamos, de forma nenhuma. Sabíamos que aqueles alienígenas sabiam imitar os nossos humanos. Então continuamos correndo para a porta. Não me lembrava de ser tão longe a porta dos fundos do lugar onde estávamos… ou talvez as coisas estavam simplesmente ocorrendo em câmera lenta. Se tudo desse certo estaríamos em um sonho. De qualquer forma, senti que nunca chegaríamos na porta a tempo de uma fuga bem arquitetada. Arquitetada? Do que eu estava falando?! Corríamos como desesperados, sem nenhum senso de discrição. Se conseguíssemos nos safar nós seríamos realmente muito sortudos.

Ela jogou alguma coisa na nuca de Ian. Aquilo era uma pedra? Não, não, era um porta-canetas. Ela queria simplesmente interromper a nossa fuga. Ian caiu, mais pelo susto do que pelo impacto. Parte de mim queria continuar correndo, no entanto eu sabia que não podia. Ele tinha se arriscado comigo — por mim — quando sabia que poderia ficar protegido nos bosques em silêncio. Era meu dever protegê-lo. Ajudei-o a se levantar e pensei que poderíamos continuar correndo, mas lá estava ela em frente a porta dos fundos, interrompendo a nossa fuga. Droga! Inferno!

E então o mundo parou por alguns instantes.

.

Seria o inferno, se ela não estivesse apontando a luz de uma lanterna diretamente para os seus olhos. Humanos. Perfeitamente humanos, nenhum resquício de reflexo, nenhuma expressão gentil e suave. Seu rosto estava uma carranca.

Em uma carranca humana.

Ela era humana.

O mundo paralisou por alguns instantes mais uma vez.

.

Não prestei muita atenção em nada depois disso. Meus pensamentos ficaram distorcidos e nebulosos e eu simplesmente fazia o que me mandavam fazer. Era função de Ian escutar com atenção, analisar os fatos e levantar questões. A única coisa que vinha em minha cabeça é que aquela garota era humana, assim como seus pais. E ela era linda também. Era pequena, tinha os cabelos escuros ondulados e compridos, sua pele tinha um tom de oliva e seus olhos eram tão escuros quanto seus cabelos. E ela tinha aquela expressão firme que somente os humanos tinham.

A expressão de uma sobrevivente.

A família de humanos nos arranjou um banho e um quarto para descansarmos. Uma cama de verdade, finalmente. Queria perguntar a Ian o que estava acontecendo, que informações ele tinha coletado e, no entanto, eu estava tão exausto que não consegui elaborar as palavras. Eu simplesmente fechei os olhos e dormi.

Devo ter dormido muito tempo. Porque quando acordei já suava penosamente e o sol estava bem alto no céu pelo que eu conferi. Um relógio no criado-mudo ao lado da cama indicava que eu estava certo. Era algo perto de meio dia. Senti o cheiro de comida sendo cozida… comida de verdade, não as porcarias de salgadinhos que Ian e eu estávamos nos alimentando.

A minha barriga roncou. A cama de Ian estava vazia e arrumada, o que me fez arrumar a minha cama antes de ir comer. Estava com um ótimo humor agora que as informações estavam lentamente se clareando em minha mente. Eu ainda não sabia exatamente sobre tudo porque não tinha prestado atenção, mas nada que uma conversa com Ian não resolvesse.

Tinha uma escova de dentes no criado-mudo ao meu lado, a qual eu usei para retirar o meu hálito matinal. Quando cheguei à cozinha todos já estavam em volta da mesa, inclusive Ian, e pareciam bem animados. Exceto, talvez, pela garota mais nova. Ela parecia ainda mais bonita pela manhã.

— Bom dia — cumprimentei-os, sentando na cadeira vazia ao lado do meu irmão.

— Bom dia, Kyle — respondeu a mulher mais velha. Ela parecia ser doce e sabia o meu nome e eu, no entanto, não sabia o dela. Portanto, somente assenti e desviei o olhar.

Todos conversavam animadamente durante a refeição enquanto eu tentava coletar o máximo de informações que conseguia. A mulher mais velha se chamava Doris, o homem se chamava Warren, mas ninguém se referia à menina que devia ter minha idade. Ela era taciturna e respondia somente quando conversavam com ela. Tinha uma expressão dura, parecida com a expressão de seu pai, Warren, que era um homem atarracado.

Ian sempre tinha lidado bem com as palavras e a família parecia tê-lo adotado sem pensar duas vezes. Quanto a mim… bem, eu sempre fui o mais difícil de lidar, o mais radical e impulsivo. Eu era meio burro também. E não fazia parte da família como Ian fazia.

— Você não sabe bem o que aconteceu, não é? — perguntou-me Ian naquela noite, quando chegamos ao nosso quarto. Balancei a cabeça.

E então ele me explicou.

Toda a sua ladainha era chata demais, portanto a simplifiquei de modo que pudesse entender rapidamente quando necessitasse disso. Os alienígenas, conhecidos por almas, eram pequenas criaturas prateadas. Centopeias brilhantes. E agiam mais ou menos como parasitas. Os humanos eram seus hospedeiros e eles eram colocados dentro de nossos corpos para conseguirem viver.

Eles eram postos através da nuca do humano e era por isso que todos tinham aquela cicatriz em comum. Sua sociedade era muito pacífica e eles viram que a Terra era um planeta muito bonito para ser ocupado por bárbaros como nós. Portanto, dominaram o nosso planeta, o que me causou uma grande revolta. Ora, o mundo era nosso! Mesmo que tivesse suas barbaridades eles não tinham o direito de roubar o nosso planeta somente porque era bonito. Era bonito e era nossa função fazer o que quiséssemos com ele!

Sobretudo, eles não tinham o direito de erradicar as nossas mentes e controlar os nossos corpos, agindo como se fôssemos simplesmente objetos. Eles achavam o que? Que todos éramos monstros, que não tínhamos sentimentos, que não nos amávamos? Eles não tinham o direito de nos roubar de nós mesmos!

De qualquer forma, já era tarde demais. Eles tinham seus “chamados” — que seriam os nossos trabalhos —, e o “chamado” dos caras de preto — tinham mulheres de preto também — era ser Buscador. Buscadores de humanos. Era um tipo de polícia deles, só que como não havia nenhum crime em sua sociedade perfeita, eles foram designados para nos procurar ao redor do mundo. Eram os mais perigosos.

Aquela família agia como se fossem alienígenas. A presa no meio do predador. Era inteligente eles viverem inocentemente no meio de nossos inimigos como se fossem os próprios inimigos. Espertos.

Mas eu me esqueci de todas as informações quando descobri o nome da garota taciturna e corajosa que tinha apontado a lanterna para seu rosto na noite anterior.

Jodi.

E isso era tudo o que me importava naquele momento.


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Notas finais do capítulo

E entãããão? Surgiu a nossa Jodi *aplausos, aplausos* Gostaram dela? Imaginaram de modo diferente? Espero que tenham gostado s2 Digam-me suas opiniões.
Amo vocês. Beijinhos :*



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