Era mais um dia comum em Sweet Amoris, eu estava assistindo à mais uma das longas aulas do Faraize. Bem, eu não estava assistindo a aula, a minha atenção estava voltado para o meu caderno e lápis. Eu desenhava, não tinha muita certeza do que eu estava desenhando na ultima folha do caderno, apenas sabia que estava gostando de desenhar. No começo eram simples rabiscos, que mais tarde tomaram forma de um ursinho de pelúcia creppy. Era o seguinte, eu gostava de tornar coisas fofinhas em coisas assustadoras, como o desenho que eu havia feito da My Little Poney. Meus cabelos negros cobriam a folha de papel e meus olhos cinza estavam vidrados no que eu desenhava. Assim que os traços ficaram relativamente bons, eu resolvi dar vida a aquele adorável desenho. Peguei primeiramente um lápis de cor marrom e comecei a desliza-lo suavemente pelo papel. Percebi que Ambre, que estava sentada na minha frente, olhou para mim por cima do ombro. Ela habitualmente revirou seus olhos e murmurou algo ofensivo que eu não consegui ouvir pois estava muito concentrada. Até o Faraize parar na minha mesa.

— Senhorita Roger, novamente desenhando na minha aula? - Faraize me olhou, ele não parecia estar bravo, apenas sorria da vermelhidão do meu rosto.

Pelo canto dos meus olhos eu pude perceber que Lysandre me observava discretamente. Senti minhas bochechas queimarem novamente e nervosamente me remexi na minha cadeira.

— Me desculpe professor...E-eu prometo fazer isso novamente. - Falei gaguejando e ele assentiu.

— Aliás, a bibliotecária Mirian disse que o livro que você queria já chegou. - Ele sorriu ao ver os meus olhos brilharem de animação.

— Obrigado professor.

— Certo, agora abra o caderno na minha matéria.

~•~

Quando a aula do Faraize acabou eu e Rosa ficamos conversando até a sala esvaziar, ela era minha melhor amiga. Por mais que Rosa fosse meio "maluca", ela era muito amigável comigo. Incrivelmente Rosa me conheceu um ano atrás quando o meu pai abandonou eu e a minha mãe depois de se divorciarem, a única notícia que eu tinha dele era que ele tinha outra família e estava com a mesma, no México. Eu estava em um parque sentada no playground chorando, ela me viu e sentiu a necessidade de me consolar, desde então somos melhores amigas.

— Você já está melhor? - Ela me perguntou e eu sorri torto.

— Não completamente, mesmo depois de um ano as coisas não melhoraram muito, eu resolvi abandonar a terapia. - Falei com um suspiro fraco.

— Mas Iris! Você precisa continuar indo para a terapia. - Ela exclamou preocupada. - É para o seu bem mental.

— Eu sei. - Falei cabisbaixa.

— Iris, por favor eu tenho medo de que você ente em depressão. - Ela sussurrou com os olhos lacrimejando, Rosa sabia que aquilo era golpe baixo.

— Ei! Isso não vai acontecer Rosa! - Eu murmurei tentando tranqüilizar a mesma. - Isso jamais vai acontecer enquanto eu tiver você como amiga. - Eu sorri para Rosa.

A albina secou uma lágrima e sorriu.

— Iris eu tenho que ir na loja do Leigh, tem certeza de que você vai ficar bem sozinha? - Rosalya perguntou em um tom que chegava a me irritar um pouco, eu podia muito bem voltar sozinha para casa, porém, compreendia que na verdade ela estava apenas se preocupando comigo, coisa que e apenas amigos de verdade faziam.

— Sem problemas Albina, agira vá antes que o Leigh desista de te esperar. - Falei me despedindo dela com um abraço.

Assim que Rosa se foi fiquei arrumando o meu material sozinha na sala de aula, suspirei e então, olhei distraidamente para o chão e lá vi algo que me surpreendeu. O misterioso Bloco de Notas de Lysandre aberto em uma página, senti meu coração acelerar. Eu nutria uma paixão por ele, por mais que não botasse fé no amor, apenas Rosa sabia disso.

Lysandre sempre foi gentil comigo apesar das circunstâncias. Eu nunca tentei ler o seu Bloco de Notas, sabia que aquilo era algo particular dele. Mas com o bloco aberto ali no chão, Céus, era inevitável não ler ao menos uma frase. E aquilo escrito naquele pedaço de papel fez meu coração acelerar.

" Iris

Eu desistiria da eternidade para te tocar

Porque sei que de algum modo você me sente

É o mais perto do Paraíso que eu jamais estarei

E eu não quero ir para casa agora"

Havia um risco enorme como se o que ele tivesse escrito a seguir não estivesse sido o suficiente. E logo abaixo do rabisco havia mais algumas palavras restantes.

"E eu não quero que o mundo me veja

Porque eu sei que eles não entenderiam

Quando tudo é feito para ser quebrado

Eu apenas quero que você saiba quem eu sou"

Senti lágrimas inundarem os meus olhos, larguei o bloco de notas incapaz de ler mais nada. Lysandre havia escrito aquela canção pensando em mim, se lembrando de todas as palavras que eu havia dito.

" - Sabe Lys, a separação dos meus pais me mostrou da maneira mais dura possível, de que o "para sempre" não dura, de que tudo vai ser quebrado. - Falei com a voz embargada, Lysandre apenas me abraçou sussurrando palavras de conforto em meu ouvido, como um bom amigo."

Retornei ao verso que tinha me chamado atenção, e senti o nó na minha garganta ao me lembrar daquela memória.

" Eu estava do lado de Lys na saída da escola, todos a minha volta sorriam felizes, eu não conseguia entender a felicidade deles. Mas de algum modo invejava a alegria dos mesmos.

— Você quer ir para casa? - Lys perguntou me olhando preocupado.

— Nem sei se posso chamar aquilo de casa."

As lágrimas não paravam de cair, e naquele momento eu apenas queria me abraçar e me esconder. A coisa que coisa era que alguem dentre bilhões de pessoas me entendia, finalmente alguém me entendia! Essa pessoa era Lysandre.

Mas o que falaria agora que havia lido o Bloco de Notas dele? Talvez ele nunca olhasse mais na minha cara. Aquilo doeu nais do que uma facada, não queria perde-lo.

— Iris? - Uma voz suave me chamou, me virei e vi Lys diante de mim. Cobri o meu rosto com as mãos sentindo as minhas bochechas ruborizarem.

— Me desculpe Lys...Eu não quis...Ele estava aberto no chão.... - Falei lutando contra o enorme nó na minha garganta. Quando abri meus vi Lys ruborizado e com um sorriso estampado em seu rosto.

— É isso. - Ele sussurrou pegando um lápis fazendo anotações no Bloco de Notas, desta vez me permitindo ler por cima de seu ombro.

" E não dá para lutar contra lágrimas que não vem

Ou o momento da verdade em suas mentiras

Quando tudo parece como nos filmes

Sim, você sangra apenas para saber que está vivo."

— Lys...Você não esta bravo?

Ele riu.

— Venha comigo. - Ele disse pegando a minha mão e eu senti meu coração bater mais forte.

Várias perguntas invadiram a minha mente mas eu não tinha respostas para as mesmas. Apenas deixei que aquele breve momento acontecer, estava com medo do futuro. Ele me levou para a sala de música, me pediu para se sentar e pegou um violão e começou a cantar a mesma música que havia escrito.

Lysandre cantava aquela música, mas de maneira especial ele cantava a canção para mim. Tudo o que eu podia ouvir era a sua voz, tudo o que eu podia sentir era aquela música.

Quando a música acabou eu abracei o garoto com lagrimas escorrendo pelo meu rosto, seu cheiro, seu cabelo, sua voz. Eu amava cada parte do Lysandre.

— Iris você me disse que não acredita no "para sempre", mas se você me der uma chance, apenas esta chance. Talvez eu possa lhe mostrar que o "para sempre" existe. Iris, quer ser o meu "para sempre"? - Sua voz soou suavemente.

— Sim Lys. - Disse chorando. - Eu serei o seu "para sempre". - Seus lábios doces se juntaram dos meus.

E, talvez ele realmente seja o meu para sempre.