*Narrativa em Primeira Pessoa*

Abri os olhos de súbito e rolei para o lado saindo do buraco na pedra. Me afastando de Legolas que me olhava confuso. Não não não não não não! Eu não posso pensar nessas coisas! Não posso perder o controle! Não posso me deixar levar! Eu não posso me desviar da minha missão! Preciso acabar o quanto antes minha missão para poder voltar a Pandora e esquecer de vez qualquer coisa que tenha acontecido aqui.

A voz de Gandalf me tirou dos meus devaneios.

_Eram espiões de Saruman. A passagem pelo sul esta sendo vigiada. Vamos ter que ir pela Passagem de Caradharas.

Olhei para a montanha que Gandalf falava. Ela era impressionante e intimidadora. Seria no mínimo trabalhoso subir aquilo tudo, mas eu poderia ajudar um pouco.

Juntamos nossas coisas e eu coloquei minha máscara no lugar. Sério, se Legolas tirar ela de novo, vai levar um murro no meio daquela cara idiota...

Olhei para baixo e dirigi um breve olhar para meu Bracelete Guia, até agora não tinha recebido nenhuma noticia ou ordem de Pandora, aquele silencio dos Alquimistas era estranho... Mas no meu intimo sabia que esse silencio não duraria muito tempo.

Então começamos a subir a montanha, no começo quase não tinha neve e foi relativamente fácil, subíamos em fila indiana tendo os hobbits no meio, no lugar mais seguro. Eu ia na retaguarda, um pouco atrás de Aragorn. Subimos assim por duas horas até começarmos a ter problemas, a neve ficava cada vez mais funda e fofa, aquilo estava se transformando em um pesadelo para os pequenos.

Então do nada Frodo escorregou e saiu rolando montanha abaixo. Imediatamente eu e Aragorn pulamos e paramos sua queda.

_Frodo? Esta tudo bem? -Perguntei um pouco aflita enquanto tentava olhar se ele não tinha machucados. Ele parecia bem, mas então Frodo começou a procurar algo... O Anel! O Anel não estava no pescoço dele! Olhei desesperada em volta buscando o Anel, até que o vi caído na neve e Boromir se aproximava dele.

Meu corpo ficou tenso quando Boromir pegou o Anel e o ergueu. Seus olhos estavam vidrados e ele pareceria falar para si mesmo.

_É um destino estranho que devamos sofrer tanto medo e aflição por uma coisa tão pequena. Uma coisa tão pequenina...

Aquilo não estava tomando um bom rumo. Todos da sociedade pararam e ficaram olhando para Boromir. Pelo canto do olho vi que Aragorn segurava o cabo de sua espada, pronto para usa-lo. Eu também estava pronta para reequipar Sora se necessário.

_Boromir, devolva o Anel a Frodo.

O filho de Gondor não se mexeu para cumprir a ordem de Aragorn. Eu podia ver a tensão crescendo ali. Aragorn pediu mais uma vez.

_Boromir!

Como se despertasse de um transe Boromir olhou em volta e depois caminhou até Frodo e entregou o Anel. Agora seus olhos estavam normais e ele balbuciou algo sobre não se importar com o Anel.

Quando Frodo voltou a colocar o Anel no pescoço e a caminhar, suspirei aliviada e sai do estado de alerta. Aragorn fez o mesmo e continuamos a subir a montanha. A neve já passava da minha canela e ficava cada vez pior. Não queria que os integrantes da sociedade sofressem sem necessidade então coloquei em prática meu plano.

Usei minha concentração e mais uma vez pedi que o Ar me erguesse da neve, sai voando a poucos centímetros do chão e passei por todos, que me olharam admirados.

_Gandalf! Gandalf! -Precisei gritar para que o mago virasse pra mim.

_Sim?

_Eu posso ajudar. Posso usar o elemento da Água e fazer a neve ir um pouco para os lados e com isso abrir caminho, vai melhorar nossa caminhada.

_Você pode fazer isso? -Devo dizer que ele parecia impressionado.

_Acho que sim. Nunca tentei algo parecido, mas neve é água só que em outro estado... Eu posso controlar a Água, então devo ser capaz de fazer isso.

_Então vá! Vá na frente e abra caminho!

Certo, agora era a hora de usar de verdade meus poderes, tudo que eu fiz até agora com eles não passou de brincadeiras e truques. O desafio era esse agora. Claro, eu sabia que teria que pagar o preço por usar tanto poder assim, afinal eu teria que abrir caminho montanha acima por horas, mas eu estava disposta a isso. Pedi que o Ar me descesse na neve e imediatamente afundei nela.

Respirei fundo, limpei minha mente, usei toda a minha concentração e estiquei as mãos para frente... Pude sentir a constituição do gelo, da neve, da água... Fiz um movimento amplo com os braços, os abrindo e fechando, como se estivesse nadando e impus minha vontade sobre a Água, a ordenei que afastasse a neve para os lados. A neve começou a se mexer e abrir caminho em cerca de um metro para ambos os lados e em cinco metros para frente, assim fazendo nascer uma trilha irregular no meio da neve. Quando a trilha acabava eu precisava repetir o processo de novo até a neve se abrir. Fui subindo a montanha a abrindo caminho desse jeito, agora eu podia ver que todos caminhavam com muita mais facilidade e a neve estava mais firme.

Com profunda inveja pude ver Legolas caminhando à frente, sem que eu precisasse abrir caminho para ele, já que ele era um maldito elfo que não afundava na neve devido a sua leveza. Idiota.

Depois de seis horas daquela caminhada montanha acima, eu já estava exausta. Estava gastando muito do meu poder para abrir caminho já que agora à neve estava na altura do começo dos meus seios e na altura da cintura dos outros integrantes. Com o meus míseros 1.60 de altura eu não era exatamente alta e isso só complicava a situação. E os hobbits estavam em pior estado.

Sentia minha respiração cada vez mais cansada, falha e uma tontura começava a tomar conta da minha visão... Cerrei os dentes e me obriguei a continuar em frente abrindo caminho. Não posso ser fraca. Preciso ajudar a sociedade.

Até que Legolas para há alguns passos a minha frente e exclama.

_Há uma voz torpe no ar!

Deixei-o com o raio dessa voz torpe que só ele parecia escutar e continuei concentrada na tarefa de abrir caminho.

_É Saruman! Ele quer derrubar a montanha! -Isso chamou minha atenção de fato. Se Saruman derrubasse essa montanha todos iriam morrer, eu não conseguiria deter isso, nem todo meu poder seria suficiente. Até que ouvi Gandalf entonar algumas palavras, era como se ele estivesse atacando o mago branco e em reposta a isso começou a cair uma quantidade assustadora de pedras e neve em cima da gente.

O tempo pareceu parar pra mim. Vi tudo com bastante clareza. A neve. As pedras. Os rostos assustados de todos ao olhar para cima...

Eu senti o pânico pelas vidas de todos da sociedade surgindo dentro de mim e então senti uma nova energia se acendendo no meu interior... Senti a Luz do Viajante crescendo dentro de mim de uma forma que nunca tinha sentido antes. Era uma força pura e boa que preenchia todo meu corpo, já não sentia mais o cansaço e nem tontura de antes. Era como se minha mente e corpo soubessem exatamente o que fazer, no último instante antes das pedras nos acertarem, ergui minhas duas mãos e gritei com toda a minha força uma única palavra.

_PARE! -As maiores pedras se desviaram do nosso caminho e a neve caiu em nossa volta, não nos acertando. Era como se eu tivesse criado uma espécie de poderosa barreira protetora usando o Ar e Agua em volta de todos. Estávamos seguros, ninguém tinha se machucado.

De repente sentir toda aquela força, aquela energia misteriosa me abandonado... Senti-me vazia, como se algo tivesse sido arrancando de mim, estava sem forças, minhas pernas não me obedeciam mais, minha visão começou a ficar escura, tudo estava distante... Me senti desfalecendo e caindo na neve. Até que braços fortes me pegaram e ergueram.

_O que houve com ela?! -Pude ouvir Gimli gritando... Mas não encontrava minha própria voz para responder que estava bem, que não era necessário se preocuparem.

_Peregrina acabou de salvar nossas vidas, mas em troca usou quase toda sua força vital. –Ouvi ao longe a explicação de Gandalf para todos.

Queria abrir a boca e reclamar. Dizer que estava longe de gastar toda a minha força vital, mas não conseguia. Parecia exigir um esforço descomunal falar qualquer coisa.

Ao longe pude ouvir vozes discutindo que caminho tomar, pra onde iriam, mas não passam de sussurros pra mim. Tudo parecia muito distante...

Depois de um tempo senti meu corpo ser carregado... Eram tão quentes aqueles braços, tão confortáveis. Usei o resto das minhas forças e abri um pouco meus olhos...

_Legolas... -O nome dele escapou dos meus lábios sem minha permissão. Era ele quem me carregava.

_Shiiiu... Descanse, você esta segura comigo. -Pude ver aqueles incríveis olhos azuis me fitando com preocupação. _Você não devia ter feito aquilo. No que estava pensando? Podia ter morrido... Eu não quero que nada de ruim lhe aconteça, Peregrina... -Agora eu via dor e tristeza nos olhos de Legolas. Isso estava errado, os olhos de Legolas não deviam ser tristes. Ele não devia estar triste, não tem motivo para isso. Mas invés de discutir com ele, disse algo que nem eu esperava.

_Bleumer...

_O que?

_Meu nome verdadeiro é... Bleumer. -Não resisti mais e deixei meus olhos se fecharem de vez, mas ainda pude ouvir Legolas dizer.

_Finalmente posso te pegar no colo, minha Bleumer. -Mesmo sem poder ver, sabia que ele tinha um sorrisinho convencido nos lábios. Um sorrisinho que eu adorava odiar.

Entreguei-me a escuridão que me cercava e desmaiei ou dormi profundamente, não sei. Mas no meu último suspiro de consciência ouvi a voz suave de Legolas dizer.

_Eu... Te...- E apaguei de vez.