Quietly bleeding escrita por Clarinha


Capítulo 1
Funeral


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem do primeiro capítulo! Enquanto leem, escutem https://www.youtube.com/watch?v=T6r5bo_D9QY.



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Aleks {narra}

Todos da escola tinham sido comunicados sobre a morte de Dominik Santorski, o menino que não aparecia na escola a um bom tempo. Nos últimos dias que o vi, sentava na última carteira; vestia uma blusa de frio preta e tinha seu cabelo jogado no rosto.

Nunca mais conversamos depois daquela aula de Judô. O que fiz foi o pior erro da minha vida. Digamos que espalhar sobre a ereção de Dominik não foi muito legal de minha parte. Foi humano.

Independente de mim, a zoação só foi aumentando. Por fim, quase não o víamos; mas tínhamos notícias. Não saía de seu quarto; e quando saiu; foi parar no hospital.

– Olha só onde estamos. Seu funeral... Ah, eu sinto muito! - Falei baixo.

Eu olhava para seu corpo no caixão; branco e sem aquela maquiagem preta que usava. Parecia com o antigo Nik que eu conheci. Confesso que tentei conversar com ele diversas vezes, mas ele não queria me escutar. Eu o intendia por isso.

– Meus pêsames. - Disse, cumprimentando a mãe de Dominik.

Sra. Santorski apenas chorava, enquanto dava-lhe as mãos à seu assistente de trabalho. Sr. Santorski não estava presente. Pelo visto a família toda era cheia de problemas.

Quando estava saindo, vi uma menina de cabelo extremamente preto sentada ao banco perto da porta. Inconsolavelmente, suas lágrimas caiam em direção ao chão. Pude ver seus braços; todos cortados.

– Oi. Você é parente de Dominik? - Perguntei.

– Hm, eu n-não... Hm, sou amiga.

– Ah sim. Nunca te vi. É de nossa escola?

A menina me encarou diversas vezes. Olhava dos pés aos cabelos.

– Você é Aleksander, certo?

– Como sabes?

– Sou Sylwia. Dominik Santorski me contou muito de você, e de como foi um babaca. Destruiu a vida dele!! Não doeu ver aquele menino jogado ao chão?

– Do que está falando?

– Disso!

Retirou de seu bolso o celular. Nele, um vídeo de Dominik num banheiro. Pelo barulho, provavelmente de uma boate. Ele dançava muito no começo; podíamos ver que havia bebido. E então, ele caiu no chão.

Um casal que estava no mesmo ambiente gravava, sem fazer absolutamente nada. Ele pedia por ajuda; chorava... Estava desesperado. O vídeo então acaba com a moça pedindo ajuda ao telefone, e alguns jovens entrando no cômodo para levantar o corpo. Ele já não respira mais.

– Onde... Onde achou isso?

– Fizeram upload. Em pouco tempo, obteve muitas visualizações. Pessoas hipócritas como você apareceram de todos os lugares, dizendo que ele era um bom garoto. VOCÊS NEM O CONHECIAM!!

Sylwia saiu correndo do ambiente. Fui em sua direção, mas quando saí, não pude mais vê-la.

Voltei para dentro e permaneci por algum tempo. Depois fui para casa. Procurei por ela em todas as redes sociais, mas não achei nada. Busquei então pelo nome de Dominik, e tudo que achei foi seu nome num fórum.

Tinha apenas um amigo em sua conta. Ahá! Sylwia. Usava o nome como 'sala_samobojcow' e na foto, tinha cabelo rosa. Ué, não é preto?!

Em seu perfil, um vídeo de uma mulher se cortando; provavelmente ela. Em baixo, uma frase: "żyje cicho krwawiąc" ("I'm living, quietly bleeding"). Era em polonês. Procurei o significado e em português obtive: "estou vivendo, silenciosamente sangrando". Melancólico!

A última vez que haviam conversado foi um dia antes da morte dele, e pelo visto, as coisas estavam realmente fodidas. Pelo que entendi, se conheceram nesse fórum e então começaram a jogar juntos. Que merda! Eles nem se viam, e agora essa menina sai por aí dizendo que o conhecia?!

Fiz uma conta no tal jogo. Criei e personalizei meu avatar, e então busquei por ela. Me chamou no jogo.

– O que faz aqui?

– Ué, é um jogo.

– Sei que não é só por isso. Poderia ter colocado outro nome; seria mais discreto.

– Sozinha aqui? Hm, que surpresa pra alguém que se corta...

– Não ouse falar de mim sem ao menos me conhecer!!

– Ora, então por quê não tentar!? Conheceu Nik por aqui?

– Sim...

Sylwia {narra}

Um menino vinha em minha direção. Tive certeza, era Aleks. Dominik me falou muito dele, não tinha como eu errar.

– Você é parente de Dominik?

– Hm, eu n-não... Hm, sou amiga.

– Ah sim. Nunca te vi. É de nossa escola?

Eu tinha certeza. O olhava e pensava nos detalhes que Dom havia me passado.

– Você é Aleksander, certo?

– Como sabes? - Espantou-se.

– Sou Sylwia. Dominik Santorski me contou muito de você, e de como foi um babaca. Destruiu a vida dele!! Não doeu ver aquele menino jogado ao chão?

– Do que está falando?

– Não se faça de bobo. Estou falando disso!

Retirei de meu bolso o celular, e o mostrei o vídeo de Dominik morrendo no chão imundo de uma festa. Pela reação, o rapaz ainda não tinha visto

– Onde... Onde achou isso?

– Fizeram upload. Em pouco tempo, obteve muitas visualizações. Pessoas hipócritas como você apareceram de todos os lugares, dizendo que ele era um bom garoto. VOCÊS NEM O CONHECIAM!!

Saí em direção a porta e fui correndo para a esquina. Fiquei ali, esperando que tivesse despistado o sujeito. Fui para casa. Me tranquei e entrei no jogo. Os meus antigos amigos não entravam mais. Me culpavam pela morte de alguém que ainda tinha esperança. Eles tinham razão.

Após uma hora que estava numa sala sozinha, um pedido de amizade aparece em minha tela: 'Aleks_Lobo quer seu teu amigo'

"O que esse desgraçado quer?" - Pensei. Chamei-o na sala.

– O que faz aqui?

– Ué, é um jogo.

– Sei que não é só por isso. Poderia ter colocado outro nome; seria mais discreto.

– Não enche! Olha, está sozinha aqui? Hm, que surpresa pra alguém que se corta...

Como ele sabia??? Será que Dom conversou com ele na escola e não contou pra mim? Apenas me disse que Aleksander estava tentando falar com ele mas... Não! Não pode ser.

– Não ouse falar de mim sem ao menos me conhecer!!

– Ora, então por quê não tentar!? Conheceu Nik por aqui?

– Sim...

– Por quê pintou o cabelo de preto?

– Porque eu quis...

– Entendo. Vocês "namoravam" virtualmente ou coisa do tipo? - Disse, zombando.

– Não. Éramos amigos, já disse!

– Ah...

O que ele queria com tantas perguntas, e íntimas, sobre Dominik?! Foi então que percebi...

– Minha vez. Você gostava dele? - Perguntei.

Tudo ficou em silêncio. O ar parecia ter ficado mais denso em meu quarto. O tempo parecia ter parado.

– Ham...

– Anda, responde!

– ... Ainda gosto.

Eu sabia!! Um menino que fosse escroto do jeito que Dom falava não iria querer pedir desculpas e tentar conversar se não se importasse realmente.

– Eu só... Não consegui falar isso à ele. A culpa é minha.

Percebi que o mesmo agora chorava. A mesma culpa que pesava sobre mim, estava também em suas costas.

– Culpa? Sei como é. Se uma parte é sua, a outra é minha.

– Como assim?

– Eu e Dominik tínhamos um grupo aqui no jogo. Sempre conversávamos sobre depressão, afinal, todos os membros passavam por tal situação. Um dia, cobrei uma coisa difícil a ele. Mais do que ele podia oferecer. Pílulas... Eu só pensei em mim Aleks!! Eu fui egoísta o suficiente pra exigir muito de alguém. Não vi que ele estava fraco... E com aquilo nas mãos, poderia fazer besteira.

– Então... Ele tomou os remédios? Os seus remédios?

– Sim...

– Não posso acreditar. Aquele inú...

– Não fale assim dele! - O interrompi - Dominik estando fraco era muito mais como pessoa do que você é, estando forte.

Calado, o menino disse baixinho.

– Tem razão. Quando eu ferrei sua vida, ele ainda conseguia olhar na minha cara.

– Você não o conheceu direito. Só sabia de seu exterior.

– É. Quando ele me deu a oportunidade de ser mais próximo, eu só pensei em meu orgulho.

– Orgulho?

– Sim. Tinha medo do que minha família iria dizer. Não queria que eles me vissem como "o fracote" e coisas do tipo. Eu não queria desapontá-los...

– E então desapontou a si mesmo...

– Exatamente. Só quando não falei mais com ele que, percebi o quão importante era pra mim... Por mais que só nos falássemos nas aulas da escola ou de luta.

– Fiquei sabendo que se beijaram na frente de todos. É verdade ou Dominik estava blefando?!

– Sim (risos). - É verdade. Acho que foi a primeira vez que entendi aquela frase, "borboletas no estômago". Foi maravilhoso. Bem... Eu só queria voltar o tempo e pedir perdão...

Ele chorava novamente. Permaneci quieta. Bem que Santorski havia dito que ele era legal. E por mais que Aleks fosse frio e irracional, eu entendia o porque de Dom querer protegê-lo e amá-lo. "As vezes pessoas caladas são apenas pessoas com medo", pensei.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Espero que tenham gostado. Em breve, o segundo capítulo sairá.