Impressões Enganam, as escrita por MyKanon


Capítulo 15
Ela é muito perseverante




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_ E-eu sinto muito, Vitor...

Ela esperou o garçom se retirar para se desculpar mais uma vez.

_ A culpa não é sua Veri. Até parece!

Sua chateação era autêntica. Ela parou de me encarar para olhar para as mãos cruzadas sobre o colo.

_ Não sei... Eu... Eu fiz tudo errado...

_ Por que está dizendo isso?

Ela permaneceu alguns instantes em silêncio. Cheguei a pensar que havia esquecido minha presença, quando voltou a me encarar:

_ Vocês tiveram chances diferentes, afinal. Foi injusto de minha parte.

Não entendi o que ela quis dizer com “chances diferentes”. Ela percebeu meu semblante confuso, por isso explicou:

_ Eu te dei informações.

Isso era verdade. Mas eu as havia passado ao Robinson também.

Porém... Era um assunto sigiloso. Eu não deveria ter dito a ninguém.

A dúvida era corrosiva. Deixá-la se culpando ou decepcioná-la?

Se ela soubesse pelo Robinson que eu havia dito alguma coisa, seria bem mais decepcionante...

_ Sobre isso, Veri...

Odiei-me quando ela me deu atenção.

_ Eu disse para o Robinson estudar fluxo de navegação. E disse que ele poderia ser demitido se não passasse, mas ele não se importou.

Mesmo depois de eu terminar de falar, ela continuou em silêncio. Comecei a me sentir constrangido.

_ A-ah... - ela gaguejou como se dando conta que tinha que dizer alguma coisa – Então... Você disse?

Seu tom era delicado, como sempre. Mas algo me dizia que aquilo não era o que ela esperava de mim.

_ Eu não disse que foi você, Veri.

_ Hum-hum. - ela concordou sem me encarar.

Fomos interrompidos pelo garçom que nos serviu nossos sucos. Ela pegou seu copo e começou a sugar seu conteúdo.

_ Veri, me desculpe... De verdade, sinto muito.

_ N-não! Não tem pelo que se desculpar... Tinha sido mesmo injusto...

_ Eu não devia ter contado a ninguém.

_ Nem eu. E... Já que contei, deveria ter contado a todos eles. A culpa é minha por não terem ido bem.

_ Já disse que não... O Robinson foi negligente.

_ A Dani não sabia de nada...

_ Ele contou a ela, pois ela me perguntou no dia da prova. Claro que deve ter sido a versão descrente dele, mas... No fim todos ficamos sabendo, Veri.

Ela meneou a cabeça, ainda não convencida de sua inocência.

_ Eu... Eu vou dar um jeito. É. Eu já sei o que eu tenho que fazer.

_ Do que está falando?

Ela hesitou em me contar. Senti uma estranha angústia ao admitir que ela tinha esse direito, uma vez que eu já havia falado demais sobre seu trabalho.

Por isso, ela me surpreendeu quando começou a falar:

_ Esse teste faz parte da auditoria de qualidade dos recursos da empresa. Estão auditando ferramentas, equipamentos, materiais, alocações e... pessoas.

_ Hum.

_ Você não percebeu nada de estranho?

_ Estranho? O quê?

_ Vocês estão sendo testados como meros recursos da empresa. Você acha isso justo?

_ Eu? Bem... - Na verdade nunca havia parado para pensar a respeito.

_ Vitor, vocês são pessoas. Não podem ser usados como recursos... Vocês são o patrimônio mais valioso da MH. Deveriam ser tratados como tal.

Eu naturalmente não soube como prosseguir com o diálogo.

_ Bem, isso sim eu preferiria que você não dissesse a ninguém... Por favor. Já imaginou o motim que poderia causar entre os funcionários? - depois forçou um sorriso.

_ De forma alguma. Pode ficar tranquila.

Em seguida nossos pratos foram servidos. A racionalidade da Veridiana chegou a me assustar um pouco naquele momento. Eram raros os momentos em que ela não estava avoada ou falando de banalidades.

 

*

 

Não a vi mais durante a tarde e fiquei o tempo inteiro me perguntando se estaria atrás de resolver nossos problemas.

Na quinta-feira seguinte quando cheguei, a encontrei ao lado da impressora, esperando algumas folhas terminarem de ser impressas.

_ Veri, bom dia.

_ Bom dia, Vitor! - ela sorriu animada como habitualmente.

_ Tudo bem com você?

_ Sim! E com você?

_ Tudo certinho.

Ela sorriu outra vez e pegou seus documentos que haviam ficado prontos.

_ Ah, acho que você vai gostar de saber que aquilo está quase resolvido. - disse, balançando-se de um lado a outro.

_ Sério?

_ Hum-hum – confirmou – Mas ainda não é oficial... Tá?

_ Claro. Bem, que tal um cafezinho rápido?

_ Hum... Tá bom!

Ela deixou seus papeis sobre a mesa e seguiu para a copa.

_ Você ainda lembra de usar seus copos durante o dia, não é? - perguntou-me quando a alcancei na copa.

Balancei a cabeça positivamente e em seguida a beijei. O café era só um pretexto, afinal, nunca gostei.

Dei risada quando percebi que ela estava rindo, e fui obrigado a me afastar.

_ O que foi? - perguntei.

_ Ah... Esses... Beijos matinais. São divertidos.

_ Divertidos? Oras! Pra mim é coisa séria!

_ Bem, eu... Eu não queria ofender, claro!

Puxei-a novamente para perto de mim:

_ Estava só brincando.

_ Eu também.

_ Você sempre se safa com essa resposta.

_ Eu ainda não pensei em uma melhor...

Tentei beijá-la novamente, mas o som de passos fez com que nos separássemos rapidamente.

_ Oi, bom dia, pessoal.

_ Bom dia, Robinson. - cumprimentei.

_ É, bom dia! - cumprimentou a Veridiana constrangida.

Seu rosto estava de um vermelho intenso. Desajeitada ela despejou um pouco de água quente no copo e pegou um sachê de chá.

_ Até mais. - despediu-se sem nos encarar ao deixar a cozinha.

Foi inevitável rir.

_ Interrompi mesmo, hein! - brincou o Robinson.

Eu não ia falar do meu relacionamento com ele. Me limitei a encher um copo de água.

_ É segunda-feira que sai os nossos resultados, não é mesmo? - ele perguntou numa tentativa de manter diálogo.

_ Foi o que aquela moça disse.

Ah se ele soubesse o risco que estava correndo... E com certeza ficaria extremamente envergonhado se descobrisse o que a Veridiana fazia por ele e pela namorada.

Mas eu não podia fazer isso novamente com ela.

_ A gente se vê, Robinson.

Dei um leve tapa em seu ombro e também deixei o lugar.

Voltando para a minha mesa, não me surpreendi ao notar que a Veridiana já não estava em seu lugar, nem a pilha de documentos que havia imprimido logo pela manhã.

Pouco antes do almoço, recebi um telefonema seu.

_ Oi!

_ Oi, Veri. Onde você está?

_ Bem em cima de você... Uhn... Não, espere... Eu teria de dar alguns passos para a esquerda para ficar bem em cima...

Eu já tinha entendido que ela estava alguns andares acima.

_ Ahn, não precisa se dar ao trabalho... Você está indo almoçar agora?

_ Então... Era sobre isso que eu queria falar... Acho que não vai dar... Tenho uma reunião bem agora... Não poderei sair.

_ Eu posso te esperar.

_ Mesmo depois, eu não poderei sair... Tem um monte de coisas da Marissol para resolver...

_ Você vai ficar sem comer?

_ Eu tenho uma maçã! Sempre tenho uma... Elas são ótimas para ocasiões como essas... Além de serem nutritivas e saudáveis... Você está rindo?

_ De encanto, só isso.

_ Certo. Rir de encanto deve ser uma boa coisa.

_ É sim. Pode acreditar.

_ Ahn, eu acho que tenho que ir agora... Estão começando sem mim...

_ Nesse caso, então é mesmo melhor. Nos vemos mais tarde.

_ Tá! Até logo!

Não foi tão divertido almoçar sozinho, mas se a reunião era algo importante para a Veridiana, esperava que se desse bem.

Quando cheguei na sexta-feira seguinte, ela não estava em seu lugar, mas seu computador estava ligado.

Vi quando ela entrou no meio da manhã e sentou-se silenciosamente em seu lugar.

Não ouvi som nenhum por alguns minutos, como por exemplo o do teclado, e curioso, ergui-me para ver o que acontecia.

Seu queixo estava sustentado por uma das mãos, apoiada na mesa pelo cotovelo. Seu olhar parecia perdido em algum ponto de seu monitor desligado. Não consegui decifrar que tipo de expressão era aquela.

_ Veri?

_ Hum? Oi, Vitor! - sorriu ao me cumprimentar.

_ Oi. Tudo bem?

_ Hum-hum. - confirmou.

_ Parece distante.

_ Ah... Estava planejando algumas coisas...

_ Pessoais ou profissionais?

Ela revirou os olhos tentando decidir. Depois pareceu ficar verdadeiramente chateada quando disse:

_ Acho que as duas coisas estão muito misturadas.

_ O que quer dizer com isso?

_ Hã? Ah, não, nada com você, claro!

_ Ufa! Me assustou! - depois ri.

Ela acompanhou meu riso, mas logo parou. Seu trabalho parecia estar mesmo difícil.

_ Acho melhor deixá-la fazer seu trabalho. Já parece bem complicado sem minhas interrupções.

_ Elas são motivadoras.

_ É a primeira cantada que você me dá, sabia?

_ S-sério? Bem, eu... É que...

_ Eu estava brincando.

_ Eu também!

_ E por que suas bochechas estão vermelhas?

_ Por que elas também estavam!

Sussurrei-lhe um elogio e voltei a me sentar, antes que nossas risadas começassem a ficar indiscretas.

 

*

 

_ E como foi a reunião de ontem? - perguntei-lhe enquanto aguardávamos nossos pedidos.

_ Foi bem. Algumas mudanças vão acontecer... Especialmente no quadro de funcionários, sabe.

Ela sorriu singelamente ao dizer isso, e entendi que era uma boa notícia com relação às famigeradas provas.

_ Jura? - perguntei empolgado.

Ela balançou a cabeça positivamente.

_ Mas vou deixar seu chefe fazer o serviço dele e contar pra vocês. Ele também está empolgado.

Alcancei uma de suas mãos e a beijei.

_ Você é mesmo incrível, Veri.

_ Se isso quer dizer “persistente”, você tem razão.

_ Isso quer dizer tudo que há de melhor.

Ela enrubesceu e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.

_ Também não precisa exagerar...

_ Tá bom, não quero deixá-la sem jeito.

Mentira, eu adorava vê-la envergonhada. Mas era maldade de minha parte deixá-la desconfortável só para apreciá-la.

Fizemos a refeição em silêncio e achei que ela ainda estivesse com algum problema com seu trabalho. Depois de pagarmos as contas, perguntei:

_ E então, vamos sair amanhã?

_ Oh... Poxa... Eu tinha algo para fazer amanhã...

_ Tudo bem. E no domingo?

_ Então... Eu só voltarei domingo...

_ Vai viajar?

_ Mais ou menos... Eu preciso resolver um problema da casa da minha mãe... Eu sou procuradora dela, agora que ela... Não pode mais fazer esse tipo de coisa.

_ Ah... Certo. Tudo bem. Se eu puder ajudar em alguma coisa...

_ O senhor que eu tenho que encontrar mora em uma cidadezinha no interior... Parece ser um lugar adorável... Não é turístico, mas é bonitinho...

_ É mesmo?

Eu só não entendia por que ela estava me contando sobre as características da tal cidade.

_ Hum-hum! E... Não sei... Talvez você gostasse de conhecê-la... Se você não tivesse nada para fazer no fim de semana!

_ Está me convidando para ir com você?

_ Eu? B-bem... De certa forma, não é? Digo, se você não quiser que eu convide, eu não convido! Ou melhor, eu retiro o convite! Você está rindo de encanto outra vez?

_ Completamente.

Ela arregalou os olhos, sem saber como proceder. Levantei-me e fui até ela. Beijei-lhe os lábios ternamente.

_ Eu adoraria te acompanhar.

_ Ahn! Nesse caso... Eu não retiro o convite, hee!

Peguei sua mão e deixamos a mesa.

Ela ainda parecia desconcertada com o convite que me fizera, mas eu me sentia muito à vontade.

Me sentia à vontade  com ela como se eu a conhecesse desde sempre.

 

Continua


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Notas finais do capítulo

*
N/A: Desculpona pela demoraa!! #CanYouForgiveMe?
Mas as férias estão aí, logo postarei com frequência decente!! Rsrsrs!
Kissus e obrigada a todas e cada uma pelo carinho!