Sabe quando o mundo inteiro é de uma maneira, e você acha que é o único a ser diferente? Esse é o meu caso.

Na verdade não é que eu seja a única pessoa diferente, mas é como me sinto.

Eu não escolhi ser assim, eu nasci assim, e por mais que os outros pensem que é uma coisa do outro mundo, eu continuo afirmando que não é.

Levei muito tempo para assumir como eu era. Meu pai nunca encarou essa realidade de frente, e por mais que minha mãe tentasse dizer que não fazia diferença, eu sei que no fundo ela ainda tinha esperanças que eu me tornasse "normal".

A única pessoa que estava sempre do meu lado era minha melhor amiga, Hermione Granger. Eu a conheci no primeiro período da faculdade de Engenharia Química. Ela sempre foi brilhante, e suas notas eram as melhores dentre todos na faculdade. Ela era realmente a única que me entendia e me dava apoio em qualquer que fosse a situação.

Fiquei realmente muito feliz quando seu namorado chegou um dia para buscá-la, com um buquê de rosas vermelhas na mão, e na frente de todos, ajoelhou-se e a pediu em casamento.

Foi realmente muito emocionante, não só para ela, mas para os que assistiam a cena.

Pouco tempo depois, tive o privilégio de ser convidado a ser um dos padrinhos do casamento, e foi ali, na festa, que me dei conta que o amor tinha batido a minha porta.

Um rapaz moreno, um pouco mais baixo que eu, de olhos claros, que também era um dos padrinhos, havia chamado a minha atenção. Talvez fosse o modo como ajeitava os óculos, ou o jeito como parecia falar com os outros. Na verdade eu não sei dizer ao certo, mas a minha atenção estava toda nele.

Vim a descobrir bem depois que esse mesmo rapaz era o meio irmão da Hermione. Eu sabia que ela tinha um meio irmão, mas nunca o tinha visto, já que ele não morava no mesmo país que nós, e também não lembrava o seu nome.

Não sabia como me aproximar, ou o que dizer, então a oportunidade passou.

Fiquei muitos dias com a imagem do rapaz em minha mente, e não me atrevia a comentar com Hermione sobre ele, até um certo dia.

Era aniversário do Rony, e houve uma festa na qual eu fui convidado. Ele estava lá, e por mais que eu tentasse esconder, não tive como fugir por muito tempo. Hermione, esperta que era, acabou notando meus olhares em direção ao seu irmão.

– É impressão minha, ou você está interessado em alguém? - ela perguntou divertida.

– Eu? Não, não, isso é coisa da sua cabeça.

– Malfoy, te conheço há tempos, sei que se interessou pelo Harry. Posso ver isso nesses seus olhos cinzentos. - então esse era o nome dele, Harry.

– Touché! Mas não era pra ninguém ter percebido. - respondi, meio vacilante, colocando as mãos nos bolsos.

– Draco não precisa se envergonhar de nada...

– Hermione, as pessoas não compreendem muito esse tipo de coisa. Acham que somos seres de outro planeta. Você não vê quantas pessoas são linchadas nas ruas, são marginalizadas e até desvalorizadas na vida pessoal e profissional pelo simples fato de ser gay?

Hermione acabou soltando uma risada, e eu ficaria bem irritado se não fosse o fato dela ser minha melhor amiga. Nossa relação sempre foi baseada na confiança, e no diálogo. Dificilmente brigávamos, pois sempre fomos honestos um com o outro.

– Acha mesmo que eu não sei o que é isso? Tive o exemplo dentro de casa. Draco eu nunca lhe contei, não por um motivo específico, mas porque o assunto nunca surgiu.

– O que está querendo dizer?

– O Harry é gay. - tá, ela me pegou completamente de surpresa. Como assim ele é gay?

– Gay, como assim gay?

– Você realmente está fazendo essa pergunta pra mim? - tornou a perguntar, tombando a cabeça de lado.

Antes que ela pudesse terminar de falar, Harry apareceu do nosso lado, e só então olhou diretamente pra mim.

O verde cristalino dos seus olhos me fitavam intensamente, como se me avaliasse com o olhar. Não era o tipo de reação que eu estava acostumado. Normalmente era eu quem procurava avaliar os homens a minha volta. Era uma sensação nova, essa de ser fitado tão intensamente.

– Oi, sou Harry. - ele disse, estendendo a mão em cumprimento.

– Draco Malfoy. - respondi, retribuindo o aperto.

Harry continuou a me olhar por um bom tempo antes de voltar a falar alguma coisa, e quando dei por mim, Hermione havia sumido, deixando apenas nós dois.

– Parece que minha irmã sumiu. - ele disse num tom divertido.

– Bem típico dela, deixar os outros falando sozinho. Sujeitinha sangue ruim! - respondi.

– Sangue ruim? - ele parecia realmente curioso. Expliquei que era o jeito como nos tratávamos quando queríamos aprontar alguma coisa.

Harry riu de gargalhar, e por mais que o que eu tivesse falado não fosse nenhum tipo de piada, sua risada acabou me contagiando também. Rimos tanto que esquecemos o motivo pelo qual estávamos daquele jeito.

Nos tornamos amigos depois daquele dia, é claro, e acho que o jeito despojado de Harry acabou despertando em mim um interesse que eu nunca havia sentido.

Estar na companhia dele era realmente esplendoroso. Íamos para tantos lugares diferentes, conhecíamos pessoas dos mais variados tipos, nos divertíamos a nossa maneira.

Foi então que eu descobri que meus sentimentos e intenções com ele não eram somente amizade. Eu queria mais, queria que ele fosse meu.

Seria difícil contar aos meus pais, mais difícil ainda para aceitarem o fato de eu ter alguém em minha vida, mas eu realmente não estava me importando. Queria apenas que ele me aceitasse como seu homem.

Eu estava disposto a enfrentar tudo e todos na intenção de abrir meu coração, mas então, em um belo dia de outono, Harry me ligou dizendo que precisava de ajuda com um assunto totalmente delicado: ele estava apaixonado.

Meu mundo desabou, é claro. Jamais passou pela minha cabeça que essa situação um dia fosse acontecer justamente na minha vida.

Todos dizem que estar apaixonado é muito bom e tudo mais, mas não no caso em que me encontro. É extremamente ruim olhar para aquela pessoa e saber que ela não nutre o mesmo tipo de sentimento que o seu.

Não tive muita escolha quando Harry disse precisar falar comigo, então fui até sua casa como me pediu.

O verde de seus olhos sorriu ao me ver. Era uma sensação boa, mas que com certeza logo acabaria.

– E ai amigão, o que quer falar comigo? - perguntei assim que entrei na casa.

Fomos até à sala e Harry me ofereceu um dos sofás.

– É sobre aquele assunto que tratamos pelo telefone. Queria saber a sua opinião. - explicou.

– Minha opinião sobre você estar apaixonado? Ora Harry, somos amigos, você não me deve satisfação do que faz com a sua vida. - respondi, e acho que acabei sendo um pouco rude demais.

– Draco, acho que você não entendeu bem o que falamos por telefone.

Ele levantou do sofá em que estava, e sentou ao meu lado.

– Vou explicar novamente. - ele disse. - Quando liguei pra você e disse estar apaixonado por alguém, não era uma pessoa qualquer, era você Draco.

– Eu? - perguntei ainda sem acreditar no que ouvia. Harry afirmou com a cabeça e continuou a contar.

– Eu queria saber o que você achava justamente por isso. É algo que nunca me aconteceu. Nunca me apaixonei por um amigo, e não era justo que não soubesse.

– Como assim apaixonado por mim?

– Cara você está ouvindo o que eu estou dizendo? Não percebeu que eu não voltei mais para o país em que morava? Draco eu decidi ficar aqui por você, a menos que me diga para ir embora.

Eu ainda estava processando a informação. A ficha ainda não tinha caído, até o momento em que senti seus lábios colados aos meus.

Harry havia me beijado, e ali, naquele momento eu soube. Eu finalmente tinha conseguido. O irmão da minha melhor amiga era meu.