Charlotte DarkShadow

Você já se perguntou o que diabos você estava fazendo num lugar mesmo você querendo estar ali?

Eu sei que é uma situação meio confusa, mas não tem outra maneira de descrevê-la.

Eu podia sentir meu café-da-manhã querendo sair por onde ele entrou algumas horas atrás. A pergunta que não queria se calar ficava pairando pela minha cabeça: será que eu fiz a escolha certa?

Olhei no relógio. Colby estava atrasado e até os dois patetas estavam atrasados.

Eu queria matar todos eles.

O primeiro a chegar foi Frank se desculpando pelo atrasado. Poucos minutos depois Joshua e Colby chegaram juntos culpando o trânsito.

Parece que nenhum de nós estava acostumado a morar numa cidade tão grande como Londres.

Pois é, eu saí de Gales e vim para Londres. Eu finalmente me formei e vim para cá.

Eu sempre quis cursar essa faculdade desde que eu ouvi as histórias malucas de meus pais que estudaram já nessa universidade. Acabei convencendo Colby e os meninos de virem comigo.

Esses últimos anos se passaram calma e rapidamente desde que eu e Colby começamos a namorar. Resumindo os fatos que aconteceram, basicamente a relação que Joshua tentou com aquela menina – que até hoje eu não lembro o nome - que o viu vestido de patinho feio não deu certo, Frank arranjou uma namorada no começo do quarto ano do nosso colegial, mas eles tiveram que terminar porque ela não queria um namoro à distância e Frank não queria ficar em Gales, eu e Colby – como era de se esperar – ainda estamos juntos e felizes (mesmo eu tentando me obrigar a odiá-lo, eu não consigo).

Então cá estamos, em frente a nossa mais nova fase: a universidade. Eu decidi prestar Letras para me especializar em traduções de livros e trabalhar em editoras, Joshua prestou Relações Internacionais, Frank optou por Pedagogia e Colby também vai estar fazendo Letras comigo, mas com o propósito de ser professor.

Segundo a minha mãe eu não sirvo para ser professora, afinal eu provavelmente iria martelar a cabeça de meus alunos no momento em que eles me tirassem do sério.

Eu adoro quando aquela mulher me entende tão bem.

Falando em meus pais, foi uma escolha difícil ter os deixado, mas eles entenderam completamente e bem, não é como se eles não pudessem me visitar quando quisessem.

Já com Colby, a situação foi diferente. Ele trouxe seus irmãos conosco e os ingressou numa escola perto da casa que nós quarto alugamos.

Ele perguntou aos seus irmãos o que eles queriam. As duas coisas fofas responderam que preferiam morar conosco a ficar em Gales ou morar com a mãe deles.

James acabou decidindo ir para Cambriadge, ele tem uma tia lá então preferiu morar lá, mas quase todo o final de semana ele vinha visitar a gente. Vontade de ferro, se me permite dizer. Afinal, Cambriadge ficava um “pouquinho” mais longe que duzentos metros de distância de Londres.

Andrew foi para Nova York. Ele sempre quis mexer com TV e os shows que ele mais gosta sempre estão por lá, então ele acabou indo para os Estados Unidos.

— Charlie? Você está brisando de novo, nós temos que ir — Colby disse, tirando-me de meus pensamentos.

— Já vai, já vai — eu disse andando logo atrás dos meninos.

Era bastante movimentado o lugar, mas nada que eu não conseguisse me acostumar.

Eu e Colby nos separamos de Joshua e Frank assim que entramos em nosso prédio. As aulas passaram rapidamente, logo no primeiro dia eu já pude identificar uns babaquinhas e umas meninas tentando parecer melhores que as outras pessoas, mas ignorei eles como sempre fiz e sempre vou continuar fazendo.

E Colby, como sempre, não teve dificuldade nenhuma de se enturmar. E para onde ele ia, ele me arrastava como se eu fosse um gato preguiçoso que não queria sair da cama.

Oh Meu Deus! Eu era a versão humana do Garfield!

Eu devo ter falado isso alto porque logo Colby começou a dar risada, eu calei ele dando uma cotovelada em sua costela.

No intervalo sentamos junto com Joshua e Frank. Colby trouxe com a gente uma menina chamada Aline que era toda fofinha. Joshua estava praticamente babando pela menina, eu revirei os olhos. Frank segurou uma risada.

— Vocês de Gales vão perceber que aqui em Londres você precisa ter um guarda-chuva 24h por dia com você. O tempo é úmido e é basicamente um milagre aqui não chover. E olha que tem regiões muito piores que essa — ela disse tomando seu suco.

— Chuva não me assusta, eu não sou feita de açúcar — eu disse mastigando meu lanche.

— Delicada como uma porca — Joshua disse revirando os olhos. — Não se preocupe, Aline, é que Charlotte não sabe ser civilizada.

— Não sou eu babando pela menina nova do grupo.

Joshua ficou vermelho. Eu sorri diabolicamente ao vencer a discussão.

Aline soltou uma tosse meio que encerrando o assunto, ignorou o fato e o meu comentário de Joshua estar babando por ela e continuou dizendo sobre os ingleses.

Eu estava tão entretida sobre Aline falando sobre os jogos da faculdade que eu não tinha percebido que minhas batatas foram comidas por um certo alguém.

E esse certo alguém, tinha uma expressão de completa satisfação estampada no rosto.

Esse certo alguém iria morrer.

— Eu não acredito que você comeu minhas batatas — eu disse ficando vermelha de raiva.

— Calma, Charlie, eu vou comprar mais batatas pra você.

Respirei fundo e decidi dar um gelo pelo resto do dia em Colby.

Foi uma escolha difícil essa, tenho que lhe dizer.

Durante o resto das aulas até que foi fácil, mas quando voltamos para casa foi ruim. Ele tentava me fazer falar de qualquer jeito.

Ou até mesmo me fazer rir. Eu bati palmas para mim mesma ao conseguir ficar com uma cara séria e sem pronunciar nenhuma palavra para ele pelo resto do dia.

De noite, eu decidi ficar no meu quarto lendo “Cidades de Papel”.

A casa tinha quatro quartos. Um era meu, outro era das crianças, outro era de Colby e Frank e outro era de Joshua que ganhou no “pedra, papel e tesoura”. Eles disseram que iam revezar o quarto durante os anos, a cada ano seria um deles quem estaria no quarto sozinho.

Eram nove horas quando alguém bateu na minha porta. Gritando “entra” percebi a cabeleira de Colby e logo o vi entrando no meu quarto.

— Eu só vim te trazer isso — ele disse, colocando uma caixa de batatas fritas em meu colo. — Eu disse que ia retribuir.

Ele tinha uma expressão de criança que foi mal criada e queria perdão.

Não conseguindo me segurar dei um beijo nele e enfiei uma batata em sua boca.

— Venha, eu não sou capaz de comer isso tudo sozinha — eu disse com um sorriso que Colby logo retribuiu.

Se eu estava com a dúvida que eu tinha feito a escolha certa, eu claramente já tinha a minha resposta ainda mais com Colby em meu lado.

Eu olho para trás por tudo o que eu passei e percebo que tudo valeu a pena.

A partir de agora, uma nova fase estava começando, mas algo que nunca iria mudar era que eu teria que ser forte para não odiar Colby – e é claro, como sempre sabemos que isso não é verdade. Não importa o quanto eu queira, eu jamais conseguiria odiá-lo.