Mimi ficou deitada na cama olhando para o teto. Ela jogou o celular de qualquer jeito na cama e suspirou pesadamente em pensar que ainda estava pensando nele mesmo depois do final da conversa e de toda aquela tarde em que haviam passado aquele tempo juntos. A garota não costumava ficar assim antes com ninguém de suas amizades porque se acostumara a algum tempo já com o fato de que não poderia tê-los sempre por perto.

As piores despedidas tinham sido quando deixaram o Digimundo para retornar para casa depois de todas aquelas batalhas e o tempo que haviam passado ali seguido de perto com a vez em que teve de se mudar com sua família do Japão. Havia doido muito naquelas duas ocasiões e o que veio depois foi muito mais fácil de ser superado.

Mas e agora? Uma simples tarde tinha mudado tudo fazendo com que sentisse que queria que o tempo parasse para que continuasse ao lado dele. E que raiva era aquela que estava crescendo dentro de si tão de repente e por que estava sentindo isso por si mesma? Ela estava cansada de pensar sobre aquilo porque simplesmente não podia aceitar que veria o Jou outro dia porque diferente dela não era como se o rapaz estivesse de férias.

Eles poderiam não tornar a se ver novamente o resto do verão e isso parecia ser horrível só de pensar que o ultimo momento que tinham tido foi quando ela toda desastrada acabou por se machucar. Esperava mesmo que o rapaz não estivesse se sentindo culpado afinal há tempos entendia toda aquela visão de preocupação e cuidado com os outros que Jou tinha. Ela gostava daquilo nele.

E a porta do quarto se abriu com Sora trazendo para a amiga uma bandeja com o lanche que tinha preparado. Ela ainda não sabia que Mimi tinha despertado já que a garota de cabelos castanhos tinha ficado em silêncio até então o que fez com que a ruiva ficasse um pouco surpresa quando abriu a porta do quarto e a encontrou deitada só que não dormia mais.

Sora ainda esperava que Mimi ainda estivesse adormecida e havia planejado de deixar ali no criado mudo para quando a amiga acordasse. Sendo então que ao encontra-la já assim não pode deixar de abrir um sorriso enquanto se encaminha até ela. Só que conforme teve uma visão do rosto de sua amiga pode sentir um ar de preocupação rondando sua face em especial seus olhos que nunca havia parecido tão perdidos antes.

“Estou tão confusa” – falou Mimi quando a amiga sentou-se na cama após deixar a bandeja sobre o chão. – “Nunca me senti assim antes dessa forma e...” – ela abraçou o travesseiro – “Eu não sei o que fazer”.

“Certo, então porque você não me conta o que está te preocupando tanto?” – falou Sora sentando-se mais corretamente na cama de pernas cruzadas nela e de frente para Mimi então notando o celular ali e percebendo que a garota certamente tinha ligado para alguém – “É alguma coisa em casa com os seus pais talvez?”.

“Não, não é isso...” – falou Mimi ainda com a voz meio tristonha – “Meus pais estão ótimos e o nosso relacionamento está bem agora.” – Ela soltou o travesseiro e suspirou enquanto se levantava e caminhava até a janela do quarto – “É uma coisa que aconteceu hoje”.

“Pensei que você tivesse se divertido com o Jou essa tarde” – respondeu Sora e Mimi olhou para ela – “Quer dizer, foi legal esse tempo que passou junto dele não é mesmo?”.

“Foi, simplesmente adorei estar com ele e isso é só o inicio do problema” – falou Mimi e Sora pareceu confusa com aquele argumento – “Você não consegue compreender não é?” – A morena caiu de bruços na cama e gemeu abafadamente com o rosto no travesseiro de forma dramática "Minha vida acabou!”. – Era uma declaração tão melodramática e exagerada nos gestos que Sora sentiu vontade de revirar os olhos para aquela ultima frase.

“Okay...” – pensou Sora levantando as sobrancelhas numa atitude que indicava sua surpresa e confusão com tudo aquilo – “Eu já estou arrependida de ter entrado nesse quarto e agora que estou aqui não posso deixá-la porque Mimi precisa de minha ajuda” – Ela então suspirou e esticou a mão começando a mexer nos cabelos da amiga – “Por que não me conta?”.

“Você não vai querer saber” – falou Mimi ainda com a face afundada no travesseiro o que só fez com que Sora bufasse e pegasse a garota pelos cabelos para fazer com que erguesse a cabeça – “Isso machuca” – ela deu um tapa na mão da ruiva.

“Não quer me contar o que houve?” – falou Sora levantando-se da cama – “Tudo bem, vou ligar para o Jou e perguntar o que mais aconteceu nesse passeio de vocês dois.” – Aquela ultima frase só fez com que a morena se erguesse rapidamente e puxasse a amiga de volta para a cama para que se sentar. – “Mimi, o que está havendo com você?”.

“O que está havendo comigo?” – falou Mimi então sacudindo a cabeça enquanto retornava a deitar na cama – “Eu estou tão confusa.”

“Porque então não me diz” – pediu Sora deitando-se também ao lado dela – “ Aconteceu alguma coisa enquanto você estava fora com o Jou e não quer me contar?” – a morena assentiu com a cabeça e a ruiva sentiu que tinha dado um primeiro passo bem sucedido – “Foi alguma coisa tão ruim assim para você ficar assim?”

“Não, foi bom...” – falou Mimi então fazendo uma pequena pausa – “Eu... Não sei, pode ser ruim porque eu não faço mais ideia de nada”.

“Sua mente está uma bagunça mais do que a habitual” – falou Sora – “Por que não me diz de uma vez o que foi tão ruim assim durante essa tarde que talvez eu possa te ajudar a ajeitar tudo?”

“Você não estava lá” – falou Mimi – “E eu não sei se posso explicar direito o que aconteceu”.

“Por que não conta de uma vez” – pediu Sora – “Vamos lá, me explique todo o seu drama sobre seu mundo ter acabado”. – E Mimi suspirou vendo que não havia mais como fugir – “Diga qual foi a grande catástrofe?” – ela começou a mexer as mãos enquanto continuava a falar – “Diz logo qual é dessa sua tragédia interna que está te fazendo enlouquecer?”

“Você esta debochando de mim” – falou Mimi empurrando Sora que riu.

“Bem, sim... Um pouco só talvez, mas é você que está pedindo por fazer toda essa manha para não me dizer logo sem rodeios o que está te perturbando.” – respondeu Sora então se virando para encarar Mimi.

Mimi virou a cabeça para que ela para que também pudesse ver sua amiga.

"Eu percebi que Joe é bonito" - Afirmou categoricamente com um olhar triste no rosto.

Sora deu-lhe um olhar que dizia traduzindo para palavras poderiam soar algo como descrença de que todo aquilo que a garota estava fazendo era simplesmente por conta disso sendo que seus pensamentos traduziam bem: “Sério?” “Isso é tudo?” “Não dá para acreditar” “Ah, Mimi...”

Ela suspirou então depois voltou o olhar para o teto e respondeu: “Okay... Então ele é bonito... – e virou-se para Mimi - e daí?”.

“Como e dai?” – falou Mimi irritada.

“É, e dai? Não é como se isso fosse um dos sinais do fim do mundo” – falou a ruiva então a morena se sentava na cama gesto que logo depois ela imitou.

Mimi então pegou as mãos da amiga. "Então o que?! Você não vê?” - perguntou ela com impaciência.

"Ver o quê?" – falou Sora ainda não podendo compreender o porque de tudo aquilo – “Certo, eu já tinha visto sim que o Jou melhorou bem nos últimos anos não que ele fosse feio quando mais novo...”. – Aquela frase incomodou um pouco a outra garota. – “Mas o que isso tem haver afinal?”.

“Que eu só fui perceber hoje” – disse Mimi gesticulando com as mãos – “Eu estava lá conversando com o Jou e de repente fiquei em silêncio porque estava percebendo o quanto ele era bonito”. – E Sora tomou a atitude que a outra não esperava que era rir.

“Ah, Mimi...” – falou Sora – “Você vai me dizer que nunca tinha reparado nele antes?”

“Bem, não...” – respondeu ela obvia – “Eu não costumo reparar muito em meus amigos, acho... Pelo menos não dessa forma”. – Sora percebeu algo ali porque ela estava referindo a outra maneira de olhar para o estudante de medicina.

“Mas não há problema nenhum nisso” – falou Sora – “Você pode achar amigos seus bonitos sem sentir como se isso fosse errado”. – ela pegou as mãos de Mimi - "Então Jou cresceu muito em sua aparência e você notou isso”. – ela deu de ombros – “Não é grande coisa”.

"Você está errada porque isso é uma grande coisa” - Mimi insistiu soltando suas mãos - "Não é justo que ele seja já todo fofinho assim. Porque não tem muito sentido nisso” – ela suspirou – “Além de ser bonito ele é inteligente, doce, carinhoso, extremamente corajoso quando tem que ser, atencioso, confiável, divertido para se estar junto, um bom ouvinte...”.

Como Mimi continuou a listar as boas qualidades de Joe, a boca de Sora formou uma expressão de espanto ao perceber o que estava acontecendo assim como seu rosto foi se tornando progressivamente mais atordoado com cada nova característica.

"E-espere um minuto!", Exclamou ela quando o poder da fala tinha finalmente voltou para si e então decidiu por cortar a listagem de Mimi "Você quer dizer que... Você esta tendo uma queda pelo Jou?” - ela perguntou aquilo incrédula.

“Bem... Não ou será que sim?” – falou Mimi.

“Mimi?” – insistiu Sora.

"Sim! Quero dizer não! Mas... Sim! Eu acho, não... Com certeza... Não ou poderia ser que sim – falou Mimi - Talvez... É... Talvez... – ela suspirou olhando para baixo longe do olhar de Sora - Eu acho que eu tenho... Oh que confusão! – gritou ela colocando seu rosto em suas mãos.

Sora passou a mão pelo cabelo parecendo começar a ficar também um pouco confusa com tudo aquilo. Mimi nunca havia ficado tão em duvida assim com qualquer outro garoto antes e isso podia-se notar pelos dois namorados anteriores que a morena tivera fora os conselhos que dera para a ruiva na época em que ela estava querendo engajar em seu relacionamento com Yamato.

“Pode levar um tempo tudo isso..." – falou Sora – “Admitir que esta gostando dele é uma coisa só que agora tem que decidir o que fazer sobre isso.” – a ruiva repetira a frase que tinha lhe sido dita anos atrás pela garota que estava ali em sua frente.

"Eu sei!” – disse Mimi retirando as mãos do rosto – “Acha que eu não sei disso?”.

“E ai?” – falou Sora – “Tem alguma coisa em mente?”

“Não, nada...” – falou Mimi entredentes – “Dizer a ele?” – riu só da ideia enquanto gesticulava com as mãos em negativo – “Nem pensar, ele riria de mim me achando uma boba”.

“Iria nada...” – retrucou Sora.

“Por que isso tinha que acontecer?” - Mimi vociferou irritada consigo mesma - "Por um lado, eu tenho que voltar para a América em um par de semanas e não podia simplesmente ignorar isso? Não porque não vou conseguir fazer de conta que não estou sentindo nada disso e... Eu irei e só retornarei no verão que vem ou nas festas de final de ano se tiver sorte o que é muito tempo longe dele”.

Sora acenou com simpatia.

“Distancia não deve ser problema” – falou Sora – “Se tudo der certo, ele irá para lá te visitar e você pode vir para cá com mais frequência e...” – ela foi interrompida pela outra.

“Não tente me iludir, Sora” – disse Mimi.

“Iludir?” – repetiu Sora sem entender.

"Mas o mais importante é que..." - ela continuou com um olhar triste no rosto - "Ele nunca gosta de mim de volta”.

Os olhos de Sora se arregalaram enquanto suas sobrancelhas se ergueram. Nunca clara expressão de surpresa por tudo aquilo e sua boca se abriu em um formato como se estivesse para soltar a mais alta exclamação de "O QUE?!", mas não o fez pelo simples fato de que tinha ficado sem palavras. “Como ela podia dizer aquilo?” – foi o pensamento de Sora – “Será que nunca mesmo tinha notado o que todo mundo viu durante os últimos anos?”. A outra garota colocou os braços ao redor de suas pernas e depositou o queixo nos joelhos.

"Jou não estaria interessado em alguém como eu” - Ela repetiu com tristeza. - "Eu estou sempre me aproveitando da sua bondade e eu não sou inteligente como ele.” – Ela olhou para Sora que sorria tristemente com as palavras da amiga – “Nós realmente não temos muito em comum além do Digimundo. Quero dizer, nós sempre encontrar coisas para falar e sei que ele consegue ser legal com todo mundo não apenas comigo então por que deveria sentir que sou alguém especial para ele?” – ela fechou os olhos – “Ele merece mais então por que devo me iludir?” – ela pensou na visão que tivera do rapaz naquela tarde enquanto fitava no parque – “Jou provavelmente quer uma menina que é menos frívola e mesquinha que eu” – terminou de explicar então abrindo seus olhos e os voltando para Sora como se esperasse suas palavras que não vieram.

Mimi com um olhar melancólico em seus olhos e um tom de nostalgia em sua voz fitou o nada continuando. "Ele merece alguém incrível ao lado dele... Alguém que esteja a sua altura com algo bom dentro de si além de precisar ter um grande caráter e que possa fazê-lo feliz ."

Os olhos de Sora se arregalaram. ”Será que ela não sabe realmente... Nunca soube? Mimi, por que você demorou tanto para abrir seus olhos?”.

Ela moveu-se na cama para que pudesse se ajoelhar na frente de sua amiga para que ficassem frente a frente com a morena. Sora então colocou as mãos nos ombros da garota mais nova e com um tom sério em sua voz falou: "Mimi".

Mimi ergueu o queixo de joelhos e olhou nos olhos da ruiva. Sora mordeu os lábios, rezando para que tivesse escolhido a atitude certa para se tomar. Estava fazendo a coisa certa pelo menos era o que esperava até porque não iria aguentar depois de ver tudo àquilo que havia no coração da amiga ficar calada. Mas seria o certo? Afinal, ela só tinha suspeitas, nenhuma prova.

"Pode não saber disso, mas eu tenho quase certeza que Jou costumava ter uma queda por você.” – falou Sora – “Tenho quase certeza de que ele deve ter a desenvolvido enquanto nos estávamos no Digimundo pela primeira vez não sei se isso veio antes de irmos para lá... Só sei que eu vi alguma coisa ali que me fez pensar nisso e acho que não fui só eu que posso ter notado”.

“Isso é verdade?” Ela pensou novamente em toda a situação que tinham passado no Digimundo “Mas eu achei que fosse normal tudo que ele fazia por mim afinal ele era o meu conselheiro no acampamento e por ser mais velho pensei que estivesse cuidando de mim assim como também fazia com os outros”. – Ela sorriu – “Por que ninguém não me falou isso antes?” – ela fez uma pausa falando em um tom mais baixo - “Por que ele não chegou a mim e me contou?”

“Você sabe como ele é” – disse Sora – “Ele é um pouco desajeitado com isso e não sei se naquela época você seria capaz de levar a sério uma declaração dessas... Ou irá dizer que estou enganada?”.

“Não, você tem razão” – respondeu Mimi meio desapontada com o seu eu do passado.

“Ele gostava de você Mimi” – falou Sora sorrindo para a amiga enquanto mexia em seus cabelos -“Embora quanto tempo depois que retornamos para casa isso possa ter durado, eu não poderia te dizer”.

Os olhos de Mimi iluminada na esperança antes de seu rosto amassado novamente a cabeça caindo de volta para os joelhos. "Gostava... Durado... Quanto tempo... Essas palavras são as piores. Elas são a chave de tudo. Ele não deve mais gostar de mim dessa maneira". Ela murmurou cabisbaixa.