Depois que Claire deixou do ginásio e o demônio subalterno do Crowley saiu do corpo do Benjamin, que caiu morto no chão, ele se virou para mim.

– Que fofo! E pensar que eu notei esse amor antes de você admitir... O amor é um perigo para as pessoas, Meghan. - Ele veio até mim e estalou os dedos, escutei uns passos pesados correndo na nossa direção.

– Cães do Inferno? Sério? Você não pode simplesmente me levar? - Arregalei os olhos quando a porta se abriu bruscamente e os rosnados aumentaram, eu pude ver o cachorro enorme e monstruoso.

– No contrato diz que apenas um Cão do Inferno pode te matar, nenhuma outra criatura. - Ele deu de ombros.

– Ah, tinha esquecido dessa parte... Pelo menos você está cumprindo o contrato.

– Claro, seria um absurdo não cumprir.- Crowley piscou um olho e o bicho se jogou contra mim passando as garras nos meus braços com força

Eu tentei gritar e fugir, mas não havia mais jeito, ele estava me destroçando ali mesmo, mordeu minha barriga e rasgou minha perna esquerda... E eu só conseguia pensar em tudo que eu estava deixando para trás... Meus garotos, minha família.

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Comecei a retomar os sentidos e percebi que estava deitada em algo macio que logo deduzi ser uma cama. Talvez tudo tivesse sido apenas um pesadelo, eu estaria viva, Claire estaria segura e o Castiel ao meu lado. Arrisquei abrir os olhos e então toda a esperança se esvaiu quando notei que não estava em casa, estava em um quarto muito escuro que mais parecia pertencer à um castelo medieval, as paredes de pedra com detalhes em arte gótica e um clima sufocante... Ah, sim! Eu estava no Inferno.

Me sentei e comecei a inspecionar meu corpo procurando pelos rasgos feitos pelo Cão, mas não havia nada... É, eu realmente morri. Ainda por cima estava usando outra roupa, um vestido preto, longo e de mangas compridas totalmente colado ao meu corpo.

– Bom dia, sunshine! - Crowley abriu a porta e colocou só a cabeça à vista - Dormiu bem?

– Eu estou mesmo morta? - Perguntei.

– Mais ou menos, você morreu e nós te curamos pois vamos precisar do seu corpo físico. - Ele entrou no quarto e veio até mim.

– Certo... Agora que tal você me dizer o que andou planejando tanto para mim?

– Ah sim! Bom, me diga querida... Já ouviu falar de Incubus e Sucubus?

– Vagamente... São tipos de demônios, certo?

– Isso mesmo! Mais precisamente, demônios que sugam energia vital de pessoas através de atos sexuais. - Ele ergueu uma sobrancelha - Há alguns anos, antes mesmo que eu me tornasse rei, a última Sucubus foi morta por uma caçadora que a pegou se alimentando do marido.

– E o que eu tenho a ver com isso? - Me levantei, começando a ficar intrigada com o rumo da conversa.

– Bom, depois de um tempinho eu acabei descobrindo quem a matou... Foi sua querida mamãe.

Ok, aquela informação deu um soco no meu cérebro e eu comecei a lembrar de um momento relacionado à isso, quando meus pais voltaram de uma caçada minha mãe estava toda estranha e meu pai com cara de culpado, lembrei de ouvi-la comentar com o Bobby algo sobre prostituta demoníaca e achei que era apenas um exagero.

– Oh... Sinto muito por vocês perderem sua... garota!

– Bem triste, mas é aí que você entra!

– Não me diga que quer eu seja A Prostituta do Inferno! - Levei minhas mãos à cintura.

– Ah, querida... Eu tenho planejado exatamente isso desde o minuto em que fechamos o pacto. - Ele abriu um largo sorriso.

– Você tem milhões de almas aqui, por que não usa elas?

– Porque a maioria já começou a ser corrompida normalmente e vão virar demônios normais, além do mais, eles não tem corpo físico. Você tem e pode passar pela transformação adequada. - Ele passou a mão pela minha cintura e foi me guiando para fora do quarto - Então, o que acha?

– Eu achei que já tinha passado essa fase de tomar decisões envolvendo meu corpo. - Rolei os olhos.

– Ah, não! Não estou pedindo uma decisão... Só quero saber se você vai por bem ou por mal.

– Que ótimo, não tenho escolha... Me sinto bem melhor assim! - Falei irônica.

Crowley foi me levando pelos corredores, admito que o Inferno era bem diferente do que eu imaginava e do que Sam e Dean contaram, talvez a versão do pequeno demônio seja realmente mais confortável.

Nós chegamos à uma sala escura que parecia a masmorra do bunker, tinha uma maca no meio dela e alguns demônios ao redor, na verdade parecia um centro cirúrgico maligno.

– Pode se deitar ali, vamos extrair o resto de graça que Metatron deixou em você. - Crowley indicou a maca.

– Tá, já que eu vou virar uma ninfomaníaca diabólica, me explique como isso vai funcionar. - Pedi.

– Bom, está vendo aquele bom moço ali? - Ele veio até mim e apontou um homem alto, aparentemente musculoso com um olhar profundo e sedutor, realmente muito bonito - Aquele é Asmodeus. Também conhecido como o Demônio da Luxúria.

– Ah, faz sentido...

– Nós vamos colocar o sangue dele em você, mas antes temos que tirar os resíduos angelicais que ficaram, caso contrário, quando o sangue de demônio entrar, você irá queimar.

– Ai que fofo, muito obrigada pela consideração! - Apertei as bochechas dele e forcei um sorriso - Já que não tenho escolha, vamos logo com isso.

Fui até a maca e deitei, alguns demônios se aproximaram para prender minhas mãos e meus pés, Crowley pegou uma seringa metálica enorme e veio até mim.

– Isso vai doer. - Ele avisou e então enfiou a agulha no meu pescoço.

Soltei um grito estridente com a dor, ele começou a extrair o poder que Metatron deixou em mim, mas a dor era tão forte que parecia estar levando até minha alma junto. Se eu desse sorte, levaria mesmo... Quem sabe levaria até minhas memórias ruins.

Parecia que haviam se passado horas naquele sofrimento, a dor não cedeu em nenhum momento e eu quase não aguentei, se pudesse teria morrido de novo bem ali. Mas finalmente tudo foi extraído, Crowley guardou a seringa cheia em uma caixa e depois pegou outra, mas essa já estava cheia com um sangue tão escuro que era roxo.

– Devo deduzir que isso será tão doloroso quanto a extração. - Murmurei olhando o Rei do Inferno se aproximando de mim.

– Só no começo, mas logo tudo irá sumir, sua dor, suas preocupações, será uma nova vida! - Ele falou enquanto perfurava meu braço.

Realmente a dor não era tão forte como a outra, mas ainda assim queimava! E muito! Fora que o sangue de demônio não estava sendo bem aceito pelo meu corpo, estava me deixando tonta e com vontade de vomitar.

– Crowley, antes que eu esqueça... Tenho que perguntar uma coisa! - Olhei na direção que ele estava, tirando mais sangue do Asmodeus para mim - Se eu vou ser sua Sucubus, quem vai ser o Incubus?

– Nós já temos um! Você irá conhecê-lo logo, garanto que se darão bem. - Ele prometeu - Sabe, eu planejei isso há tanto tempo que não estou nem acreditando que finalmente está acontecendo.

Nos intervalos entre as doses, Crowley me explicou brevemente o que eu iria me tornar. Sucubus era um tipo de demônio sexual feminino que sugava a energia vital dos homens, poderia ser de forma lenta, através de encontros sexuais nos sonhos da pessoa ou de forma instantânea com contato físico direto.

Eu viraria uma criatura asquerosa, nem quero imaginar como seria se meus garotos me vissem após eu me tornar um demônio. Eu realmente esperava que eles desistissem de me procurar, aceitassem que eu morri e seguissem suas vidas. Castiel retornaria ao Céus com Gabriel, Sam e Dean continuariam caçando com o Bobby e a Claire poderia seguir uma vida normal... Mas lá no fundo eu sabia que não seria assim, os conhecia bem demais para saber que eles não desistiriam de mim. Eu perdi tanto, tudo estava tão bem e então eu morri sem nem ouvir o anjo dizer que me amava de volta... Pelo menos ele saberia que eu o amei um dia.

Na quinta dose, eu já quase não sentia mais o fogo pelas minhas veias, estava tão anestesiada pelo sangue que nem conseguia por os pensamentos em ordem, minha consciência estava indo embora e não iria mais voltar, pelo menos não do mesmo jeito. Tentei relembrar alguns momentos para deixar guardados na memória, mas não conseguia nem lembrar meu nome completo, não conseguia focar nos rostos familiares ou nos nomes, não sabia mais quantas pessoas havia deixado para trás. Ainda consegui pensar em um último nome, Castiel, mas não sabia direito a quem pertencia... Acho que não era importante.

– Estamos quase terminando. - Crowley me prometeu.

– Tudo bem, eu vou... Dormir um pouco... - Sussurrei antes de apagar completamente.

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Um ano depois.

Las Vegas, Nevada

Terminei de fechar o zíper do meu vestido enquanto olhava o corpo jogado no chão, pobre rapazinho... Usei tanto que acabei matando ele! Pelo menos morreu feliz. Era minha terceira vítima da noite, adorava pegar as pobres almas conturbadas nas boates, era tão fácil.

Peguei o celular e disquei o número 666, mal chamou uma vez e o Crowley atendeu.

– Boa noite, minha princesa!

– Oi tio! Estou mandando mais um agorinha. - Falei enquanto retocava o batom vermelho.

– Bom trabalho, Meghan... Como sempre. - Pude sentir o sorriso orgulhoso dele na voz.

– Que nada, faço por pura diversão... A noite está acabando, então eu vou aproveitar o dia para procurar um novo local.

– Certo, mas lembre-se...

– Ficar longe do Kansas! Eu sei! - O completei - Não sei o que tem lá de tão perigoso para mim, aliás, eu sou o perigo.

– Claro que é, mas é melhor prevenir do que remediar... Agora me diga, onde está seu parceiro de noitadas?

– Deve estar com alguma das vítimas dele! - Rolei os olhos - Não sei de onde você tirou que nos daríamos bem...

– Ah, é que em outra vida vocês eram muito ligados, achei que isso iria se transferir para essa nova realidade.

– Sim! Na minha antiga vida humana e medíocre! Eu nem lembro quem ele era pra mim, só sei que atualmente eu o acho um grande bebê chorão... Vou desligar, tio. Tchauzinho.

– Até mais.

Desliguei o celular e joguei dentro da bolsa, dei mais uma olhada no meu visual e estava bem poderosa como sempre, apesar de não curtir muito os cabelos lisos, Crowley me pediu para mantê-los pois, segundo ele, atraía mais homens. Dei um sorriso para mim mesma no espelho e exibi meu lindos olhos totalmente escuros, como a noite e bem melhores do que esses olhinhos de íris azuis.

Saí do quarto do motel, o tranquei por fora e joguei a chave no lixo. Fiquei satisfeita só de pensar o desespero quando destrancarem e acharem o corpo se decompondo lá. Fui em direção ao estacionamento e peguei as chaves do meu carro, mal entrei e aquele palerma apareceu.

– E aí, Meghan? - Ele entrou no banco do carona.

– O que você quer, Kyle? - Rolei os olhos e me virei para ele.

– Terminei meus servicinhos aqui, a última deu um pouco de trabalho mas foi bem... Exótico. - Ele deu de ombros - Para onde você vai agora?

– Estou pensando em ir para Nova York e não! Você não vai comigo.

– Qual é, Meghan... Somos parceiros. - Ele ergueu uma sobrancelha e mostrou seus olhos escuros iguais aos meus.

Nossos olhos não eram pretos como os dos demônios normais, eles tinham um tom de roxo muito escuro que só dava para notar às vezes. Segundo o Crowley, esse tal de Kyle estava sendo um Incubus há muito mais tempo do que eu poderia imaginar e iria me guiar no começo. O problema é que não nos damos bem. Ele é detestável e eu não me imagino tendo um momento de paz perto dele, por sorte não consigo lembrar dele na minha vida humana, provavelmente me daria mais raiva ainda.

– Tudo bem, mas se você tirar um pouquinho da minha paciência, eu te jogo no meio da estrada.

– Não se preocupe, vou ficar quietinho... Poupar energias para pegar mais algumas senhoritas mais tarde. - Ele fechou a porta e eu dei partida.

Pegamos a estrada e antes de chegar nós paramos em um posto de gasolina, eu estava fora do carro e então o idiota me chamou.

– Está sentindo esse cheiro? - Ele veio até mim com um sorriso maldoso nos lábios.

– Hum... - Inspirei fundo e logo entendi do que se tratava - Ah, parece que temos um extra por aqui...

Olhei ao redor e identifiquei de onde vinha aquele cheiro de perdição, havia um bar do lado do posto e estava cheio de gente corrompida, prontos para queimar. Lancei um olhar cúmplice para Kyle e fomos até lá para fazer um lanchinho.

Continua.