A neve tinha coberto todo o terreno em volta da casa do Bobby, a visão era linda e me deixava com uma sensação aconchegante e agradável. O cheiro dos biscoitos no forno davam aquele sentimento de "lar, doce lar" e a árvore decorada deixava tudo com um brilho especial a mais. Eu estava na varanda apreciando aquela bela vista, o dia tinha tudo para ser desse jeito, tranquilo. Mas é óbvio que com o tipo de pessoas que eu convivo, isso nunca seria possível.

– VOLTA AQUI! - Sam passou correndo atrás do peru que batia as asas e grugulejava loucamente.

– Sam! Atire logo nele! - Dean corria atrás do irmão com uma arma.

– Seus idiotas! Não vão atirar no peru! - Bobby gritava da porta.

Eu fiquei parada rindo da cena, Sam se jogava na neve tentando pegar o peru e Dean atirava no bicho mas nunca acertava. Ele parecia estar debochando dos irmãos.

– Perdeu o jeito, Deanno? - O provoquei.

– Se está achando ruim, venha aqui pega-lo, Meghan! - Ele revidou.

– Você que o deixou fugir! - Gargalhei mais ainda.

– Olha ruiva, você também tem uma parcela de culpa. - Bobby se virou para mim - Por que raios você trouxe um peru vivo?

– Porque eu deixei para comprar de última hora e não tinha mais nenhum no mercado. - Dei de ombros.

– Mentira! Ela perdeu o último peru em uma briga com uma mulher! - Sam gritou depois de conseguir pegar o peru, mas o animal se debatia loucamente nas mãos dele e bicava sua cabeça.

– A mulher era louca! Ela tentou me morder! - Me defendi.

– Não importa, vamos mata-lo de uma vez. - Dean pegou o animal pelo pescoço, o meu machado (sim, aquele do bunker que agora eu levava praticamente para todo lugar) e foi para a parte de trás da casa.

– Eu não quero ver isso. - Entrei novamente na casa acompanhada por Bobby.

– Está com pena do peru? - Ele perguntou me provocando.

– Não gosto de ver animais sofrendo, me lembra que eles se tornam os lanches que eu tanto amo... E isso me deixa depressiva.

Tirei os biscoitos do forno e coloquei em cima da mesa da cozinha, Sam tinha feito uma cobertura de morango e eu a coloquei nos biscoitos jogando granulado verde e vermelho por cima, tudo bem natalino.

– Sabe, eu não levei fé que vocês iriam preparar a ceia... Mas até que estão se virando bem, matando o próprio peru, fazendo biscoitos... - Bobby pegou uma cerveja e sentou de frente para mim - Estão levando isso a sério.

– Eu sei que por mais que aqueles dois escondam, eles estão gostando da ideia de comemorar o natal. - Comentei terminando de decorar os biscoitos, os deixei em cima do balcão e dei uma olhada nas outras coisas, essa noite teria filé, peru, salada de frango, lasanha, arroz à grega, maionese, pudim, torta de cereja e sorvete de gelatina.

Claro que preparar cada prato foi uma aventura diferente, eu quase perdi um dedo cortando os legumes da salada de frango. Dean quase não deixou a torta ser preparada pois sempre pegava os ingredientes. Depois de alguns minutos, os irmãos entraram na casa cabisbaixos.

– Perderam o peru de novo? - Bobby perguntou quando os viu.

– S-Sim... Foi exatamente isso que aconteceu. - Dean deu seu sorriso amarelo nos deixando desconfiados - Certo, Sammy?

– É... Foi isso! - Sam concordou sem muita certeza.

– Vocês não o perderam... Vocês não conseguiram mata-lo! - Bobby riu balançando a cabeça negativamente.

– Tá, não o matamos! Aquela coisa ficou nos olhando e foi muito esquisito! - Dean jogou o machado para mim.

– Então, sem peru para o natal? - Eu perguntei.

– Nada é perfeito! - Sam deu de ombros.

Eu não reclamei, teríamos comida de sobra e eu confesso que também tive pena de ter que matar o peru. A noite chegou e eu fui me arrumar, logo os convidados chegariam e a mesa já estava posta. Aproveitei o feriado para me vestir de um jeito diferente, nem tanto na verdade, a maior diferença é que eu estava de saia e maquiada. Me senti a coisa mais fofa desse mundo! Ouvi algumas batidas na porta e pude deduzir que as pessoas estavam chegando, dei uma última olhada no espelho, arrumei o laço que prendia meus cabelos de um lado (mais fofa, impossível) e fui para a sala.

Quando cheguei lá, a Xerife Mills já estava no sofá conversando com Garth e sua esposa, que mais tarde eu descobri que também era lobisomem, Bobby andava de um lado para o outro com uma cerveja na mão. Logo Sam e Dean apareceram também.

– Nossa! - Sam exclamou quando me viu - Você está linda!

– Obrigada, Alce! - Sorri para ele e o abracei - Feliz Natal!

– Feliz Natal, ruiva! - Ele retribuiu meu abraço.

– Son of a bitch! Tudo isso é para conquistar o anjo? - Dean me olhou de cima a baixo - Você está muito gostosa.

– Isso não tem nada a ver com o anjo e obrigada pelo... elogio. - Ergui uma sobrancelha - Falar nisso, cadê nossos convidados penosos?

– Falando de mim, sweety? - Gabriel apareceu no meio da sala usando um suéter natalino bem engraçado. - Feliz Natal!

– Hey Gabe! Feliz Natal! - Me joguei contra o arcanjo o abraçando - Que bom que você veio!

– É, esse ano não vai rolar a festa no céu... Sabe como é, né? Sem falar que eu não perderia a chance de te ver tão bela desse jeito, não é a toa que o Castiel... - Ele parou de falar entortando a boca.

– O Castiel o quê? - Perguntei.

– Nada não, estava falando coisas aleatórias aqui. Hey Dean, Sam! - Gabriel desconversou e foi falar com os Winchester me deixando sozinha ali.

– Ei, mocinha. - Bobby veio até mim - A senhorita está chamando atenção hoje. Cuidado com esses abutres, hein? A começar pelo Dean!

– Não se preocupe, tio. Eu me entendo com eles. - Eu sorri encostando a cabeça no ombro do Bobby, assim como os Winchester eu também o considerava como um segundo pai.

– E tenha cuidado com o Castiel também, parece que você tem uma tendência a perder o foco perto dele, não é?

– Até você com essa história? - Me afastei dele rolando os olhos.

– Parece que só você não notou que está caidinha pelo anjo. - Bobby riu.

– Como assim?

– Você nega para si mesma o quanto gosta dele. Eu te conheço desde sempre, Meghan. Vi você passar por vários rapazes, até pelo Dean e você nunca agiu com eles do jeito que você age perto do Cass... Talvez seja a hora de você sossegar e tentar algo sério, mesmo que seja com um soldado do céu.

– Quantas cervejas você bebeu hoje, tio? - Indaguei puxando a garrafa da mão dele - Está escutando o que está dizendo?

– Eu não estou bêbado! - Ele puxou a cerveja novamente - Apenas tentando te ajudar! Quando Castiel chegar, faça o que quer fazer e depois veja no que vai dar. Só fique esperta, anjos não são confiáveis.

Bobby saiu de perto de mim e retornou à sala para salvar a Xerife Mills das conversas malucas do Garth. Continuei ali por um tempo e decidi ir para o lado de fora, a neve começou a cair de novo e o frio se intensificou, mas ainda assim eu estava achando tudo aquilo muito agradável, ouvir as risadas de todos dentro da casa era muito satisfatório.

– Olá Meghan. - A voz rouca do anjo sussurrou no meu ouvido e eu quase coloquei o coração pela boca.

– Que droga, Cass! - Me virei para ele - De novo? O que aconteceu com suas asas que eu não te escutei chegando?

– Eu cheguei lá dentro, mas Gabriel disse que você estava aqui, então eu vim andando mesmo. - Ele sorriu... E que sorriso lindo! - Feliz Natal, Meghan.

– Feliz Natal, Cass. Que bom que conseguiu vim.

– É, eu não poderia deixar de vim. Sei o quanto essa data é especial para humanos... - Castiel olhou ao redor - Por que está sozinha aqui?

– Na verdade eu não sei, acho que gosto do frio e aqui está bem agradável. - Dei de ombros.

Castiel me encarou por alguns segundo e depois soltou uma leve risada, ele me olhava como se estivesse intrigado com alguma coisa.

– Você é estranha, Meghan. - Ele se aproximou mais de mim quase colando seu corpo no meu - De todas as pessoas que eu já vi, você é a mais fascinante. Você é diferente, corajosa e... Linda.

Nesse momento o ar me faltou totalmente, eu esqueci completamente como se fazia para respirar, a única coisa que eu escutava era o meu coração batendo em um ritmo absurdo. O que estava acontecendo comigo?

Castiel. Era isso que estava acontecendo comigo. Eu decidi seguir o conselho do Bobby, engolir todas essas incertezas. Castiel seria só mais um, se desse errado era só passar e seguir e frente até que viesse o próximo, o próximo e o próximo.

Provavelmente a minha face era de puro pânico, bem diferente da do anjo que estava serena. Deslizei a mão pelo seu pescoço até chegar na nuca dele e o puxei para um beijo e, para minha surpresa, ele retribui avidamente, agarrou minha cintura com uma mão e com a outra nas minhas costas ele me puxou para perto dele. Como os lábios dele eram macios, não resisti e mordi o lábio inferior dele, o que o fez soltar um leve gemido quase inaudível e isso me fez pirar. Eu não ousei largar aquele anjo, eu queria mais e mais dele.

Castiel estava me surpreendendo, naquele momento ele não estava sendo nem um pouco inocente. Ele beijou minha bochecha, meu pescoço e depois voltou para minha boca. O que aconteceu com ele?

Quando fui obrigada a larga-lo para retomar o fôlego, olhei em seus olhos e senti minhas pernas fraquejando. Era quase como se eu me afogasse dentro daquela imensidão azul.

– Minha nossa... - Falei respirando fundo - O que foi isso?

– Creio que vocês chamem isso de "beijo". - Ele ergueu uma sobrancelha e eu ri - E você parece saber muito bem do que se trata.

– Mas eu não esperava que você correspondesse, ainda mais tão bem assim. - Dei um meio sorriso.

– Devo deduzir que você achou agradável. - Ele se afastou mais de mim e eu senti o frio finalmente me pegar.

– Agradável é pouco, Cass... - Eu ri me encolhendo em minha própria jaqueta. - Acho melhor entrarmos.

Me virei em direção a porta e vi na janela ao lado todo mundo se escondendo rapidamente. Estavam espionando! Entrei rapidamente e todos fingiam agir normalmente.

– Ah, Meghan! Você apareceu, onde estava? - Garth perguntou.

– Como se vocês, curiosos, não soubessem, não é? - Coloquei as mãos na cintura e Castiel veio até mim. De repente eu me dei conta do que eles tinham visto e já senti minhas bochechas queimarem.

– Ei, my cherry ! - Gabriel me chamou - Não precisa ficar envergonhada, todos já esperávamos que você e o anjo se agarrassem hoje. - Ele deu de ombros.

– Ah, por favor! Como se fosse surpresa ver a Meghan se agarrando com alguém por aí! - Bobby comentou tomando outro gole da cerveja e piscando um olho para mim.

Essa foi a gota d'água pra mim, escondi meu rosto com as duas mãos e segui para o meu quarto. Essas situações todas eram até engraçadas, mas eu morria de vergonha quando todos voltavam a atenção para mim. Sentei na cama e comecei a rir sozinha, como uma idiota. Na verdade eu estava bem feliz pelo beijo com o Cass.

– Olá, garota! - Crowley surgiu sentado ao meu lado.

– Credo! Fazendo visitas de natal? - Perguntei rindo e olhando para ele.

– Talvez... - Ele me encarou - O que houve? Você está tão vermelha que parece que passou uns dias lá em casa.

– Não foi nada... - Sorri sem graça.

– Ah, então acho que não tem nada a ver com essa baba angelical espalhada pelo seu rosto.

– Não comece... O que você veio fazer aqui? Sabia que os Winchester querem te matar? E que aqui tem dois anjos que já devem ter sentido sua presença?

– Ah, eu tenho tempo até que eles me notem aqui... Eu vim te dar um presente de natal.

– Eu prefiro não aceitar, nada vindo de você é bom... - Me levantei a fim de me afastar dele.

– Não se preocupe, não é nada demais... Só uma pequena iguaria para uma linda caçadora como você. - Crowley tirou uma pulseira dourada do bolso do terno com um pingente vermelho pendurado - Você é a coisa mais próxima que eu tenho de uma... Amiga, então eu quis ser gentil e te trouxe isso.

– Amiga do Rei do Inferno, nossa! Tenho que rever minhas amizades. - Eu ri - Essa pulseira vai fazer algo comigo?

– Não mesmo, mas eu sei que você não confia em mim... De qualquer forma, espero que goste. - Ele colocou a pulseira em cima da cama e sumiu.

Fiquei com medo da pulseira, vai que ela arrancasse minha alma ou algo do gênero, me aproximei para pega-la mas o barulho da porta se abrindo bruscamente me impediu.

– O que é isso? - Me virei e vi Dean e Sam entrando com as facas, Bobby com uma arma e enfim, todo mundo estava na porta do meu quarto.

– O Crowley esteve lá embaixo! - Dean entrou e começou a vasculhar o quarto - Ele disse que veio desejar um bom natal e que já havia entregado seu presente!

– É, ele deixou mesmo, aquela pulseira ali. - Apontei a pulseira na cama.

– Você não tocou nela, tocou? - Castiel entrou preocupado.

– Claro que não! Não sou idiota! - Coloquei as mãos na cintura.

Castiel pegou a pulseira e ficou confuso, olhou atentamente para ela, até cheirou.

– O que é? - Sam perguntou.

– Nada. Não tem nada de diferente. - Ele falou sério - O que isso significa?

– Que ele quis nos deixar paranoicos. - Bobby guardou a arma e saiu do quarto seguido pela maioria das pessoas.

– De qualquer forma, vamos nos manter atentos. Ele te disse algo, Meghan? - Dean me perguntou.

– Não, não disse nada demais. Acha que ele está tramando algo?

– E quando ele não está? - Sam respondeu - Mas parece que hoje ele só quis nos importunar... Vamos voltar lá para baixo, está na hora da ceia.

– Torta! - Dean comemorou e saiu do quarto acompanhado pelo Sam, me deixando com o anjo ali.

– Você está bem mesmo? - Castiel se aproximou de mim.

– Sim, não se preocupe... - Olhei por cima do ombro dele e constatei que não havia ninguém ali - Eu quero mais um beijo seu.

Castiel sorriu e depois me puxou para ele esmagando seus lábios nos meus, deslizei minhas garras pelo seu pescoço até alcançar a gola do sobretudo e o puxei para mais perto de mim. Antes que eu perdesse completamente o juízo, me afastei dele.

– Melhor descermos. - Castiel falou sério - Antes que venham nos procurar.

– É melhor mesmo. - Concordei.

Nós dois descemos e sentamos na mesa onde todos já estavam acomodados, a maioria já havia começado a comer, Gabriel já atacava as sobremesas é claro. Mesmo sendo um arcanjo e sem precisar comer, ele acabou pegando o costume de ser viciado em doces desde que era o Trickster, Dean ameaçou depena-lo caso ele acabasse com a torta.

Todos conversavam e pareciam estar apreciando o jantar, eu e os Winchester ficamos orgulhosos de pelo menos dessa vez termos acertado em alguma coisa. Castiel não comia nada, mas estava se divertindo também. Garth e sua esposa acabara comendo por educação mesmo, mas eles preferiam uns bons corações de boi crus.

Bobby e a Xerife Mills conversavam animadamente entre eles e estavam totalmente alheios ao resto das conversas, eu gostaria que eles engatassem algum tipo de relacionamento, ela era uma boa pessoa e sabia lidar com nosso mundo. Bobby estava sozinho a tanto tempo que essa companhia o faria muito bem.

No final das contas, nós tivemos o natal mais agradável de todos, pouco depois das duas da manhã a maioria dos convidados se foi só restando eu, Dean, Sam e Bobby, até mesmo os anjos tinham se mandado.

Fui para o meu quarto, tomei um banho quente e coloquei meu moletom mais quente e me joguei na cama relembrando os beijos que trocara com Castiel naquela noite. Ok, eu estava louquinha por ele! Eu admito!