Ore no Goshujin-sama escrita por Assa-chan


Capítulo 17
Uma relação inesperada


Notas iniciais do capítulo

Não se engane, sempre pode ficar pior.



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(Syaoran's POV)


Naquela noite, eu não lhe fiz sequer uma pergunta. O olhar de Sakura estava sério e frio, sem deixar que eu visse a razão através da imensidão verde destes.

O que era extremamente irritante.

Quando eu disse para Eriol que queria ajudar Tomoyo e Sakura a voltarem a se falar, não achei que seriam tão drásticos. Eu simplesmente lhe garanti que iria leva-la até a festa, mas nunca imaginei que colocariam nossas mesas perto ou que fariam aquele jogo somente para que a Daidouji pudesse pedir desculpas claramente... Tanto que meu 'presente' acabou se tornando um desastre.

Enquanto as esperávamos no salão de festas, escutamos certas partes da conversa. Ouvi algumas pessoas perto de mim comentarem sobre tal acontecimento; Que Sakura teve muitos problemas quando criança e que nunca quis que alguém se aproximasse dela. Era tudo culpa da Daidouji? O que tinha feito, afinal? Olhei a Kinomoto de lado, tentando analisar sua expressão para que esta pudesse me dar alguma pista.

Nada.

Antes de eu terminar meu discurso interno, chegamos até sua casa. Olhei pro relógio no painel do carro entre as duas poltronas; marcava uma da manhã. O dia que estava começando era domingo, e eu não tinha certeza de quando poderíamos nos ver novamente antes da volta às aulas.

- Sakura... - murmurei, e ela voltou-se para me olhar, já com a mão na maçaneta da porteira do carro. - Essas férias... quer ir ao dojo comigo algum dia?

Ela sorriu. Aquele tipo de semblante doce e despreocupado que eu não via há alguns dias em seu rosto. Assentiu, abrindo a porta.

- Até mais, Syaoran. Foi uma festa divertida. - disse, antes de desaparecer através do portão de sua casa. Wei olhou para mim, com o semblante preocupado.

- Algo aconteceu, Shaoye? - demandou.

- Mais ou menos. - bufei, colocando o cotovelo sobre o apoio da porteira do carro e o rosto sobre minha mão. Olhei para fora, vendo as ruas brancas e calmas. - Vamos. Acho que Meiling está me esperando.

- Pode apostar. - ele riu, ligando o carro. - Mas a senhorita Meiling está do seu lado, Shaoye.

- Como assim?

- Hoje, quando eu cheguei em casa após lhe levar até a mansão Daidouji... Ela me pediu se ia tudo bem entre você e a senhorita Kinomoto.

- Meiling é uma boa garota.

- Ela está perdidamente apaixonada pelo senhor, Shaoye. O que pretende fazer?

- Eu... Não sei. - olhei pra fora, sem ver nada realmente. Aquela situação se complicava a cada minuto que se passava. Sakura, Yukito, Tomoyo e agora Meiling... Tudo parecia decair sobre minhas costas, por mais que em grande parte das questões eu não era um direto relacionado.

Ao chegar em casa, vi Meiling deitada sobre o sofá da sala quando passei em frente à mesma para ir beber um copo de água. Wei se limitou a me dizer que iria levá-la até seu quarto, e que eu não precisava me preocupar. Sorri, assentindo e voltando a subir as escadas. A única coisa que eu queria fazer naquele momento era dormir o máximo possível.

Abri a porta de meu quarto, tirando meu casaco e jogando-o sobre a primeira cadeira que vi, quando escutei o barulho de algo caindo ao chão. Foquei o olhar, vendo um pequeno embrulho vermelho no pé da cadeira.

- O presente da Sakura... - sussurrei, recolhendo-o. Desamarrei a fita branca, encontrando outra embalagem - desta vez bege -, com em cima um bilhetinho.


"Syaoran,
Isto é pra mostrar que sua prima
nem sempre tem ideias ruins.
Bom natal.
Sakura."


Franzi a testa, sem entender bem o que aquilo queria dizer. Sentei-me sobre a cama, rasgando o papel sem muita paciência. Foi então que encontrei uma espécie de colocar, preto. O desenrolei, finalmente percebendo o que era.

- Uma coleira! - ri, me jogando para trás enquanto olhava o objeto que segurava em mãos. Sakura nunca falhou em me surpreender.

Tentei coloca-la, e olhando meu reflexo no espelho, notei que ficava estranhamente bem em mim. Possuia alguns detalhes prateados que me deixavam ainda mais com cara de cachorro. Mas afinal, eu era o servo ou o animal de estimação da goshujin-sama?

Bem, não importa. Enquanto eu puder ficar ao seu lado... Não interessa que tipo de relação temos, mesmo se esta for baseada no ódio ou na simples obrigação de cumprir uma aposta.

*****

- Syaoran... Vamos pra algum lugar! - minha prima exclamou, enquanto eu estava deitado sobre o sofá assistindo televisão. Era véspera de ano novo, mas eu não estava com a miníma vontade de ir até o templo rezar ou algo do gênero. A olhei de esgueira, abaixando o som da Tv com o controle remoto.

- Meiling... Eu não sou shintoista pra ir até um desses templos, e até dia 3 nada vai estar aberto. Senta aí e vamos assistir alguma coisa.

- Eu tenho certeza que se ela te ligasse agora, nem mesmo hesitaria em pular do sofá e ir até sua casa. - cruzou os braços, jogando-se sobre a poltrona de frente pra mim.

- Quer um aplauso por ter deduzido isso?

- Você anda meio estranho desde aquela festa.

- Estranho como? - perguntei, voltando a assistir aquele filme estrangeiro.

- Não quis ir até a Sakura nem mesmo uma vez e mesmo hoje, que tem a possibilidade de chamar ela pra sair, prefere ficar mofando na frente da televisão. Está com medo de que?

Suspirei fundo, prensando os olhos por alguns instantes antes de voltar a abri-los. Boa pergunta. Qual era o problema?

Eu me senti intimidado pelos sentimentos que desabrocharam em Sakura depois que Tomoyo resolveu abrir o jogo com ela. Eu tinha medo de ver de novo aquele olhar frio, ao invés do sorriso que tanto amava. Por que Sakura era preciosa demais pra mim para que eu pudesse suportar sua dor calado.

"[...] Por favor, não me abandone."*

Subitamente me lembrei daquelas palavras sussurradas entre as únicas lágrimas que jamais vi descer por suas bochechas. Antes ou depois, eu seria obrigado a abandona-la, inevitavelmente. E isto era o que mais me machucava, apesar de minhas esperanças em ser correspondido fossem praticamente nulas.

- Certo. - levantei do sofá, decidido. - Irei ligar pra ela.

Tirei o celular do bolso, e percebi que minha prima estava sorrindo. Aquele tipo de sorriso triste, difícil de se ignorar. Me veio em mente que, talvez, sua situação fosse idêntica à minha; continuava perseguindo alguém que jamais cairia em seus braços, indepentemente de quanto tentasse. Fechei o objeto novamente, voltando a guarda-lo.

- Meiling, você tem um kimono, não?

- Hã? - arqueou uma sobrancelha, confusa.

- Tem ou não?

- Tenho... Foi a primeira coisa que comprei ao vir aqui pro Japão. - respondeu, desconfiada.

- Então coloque-o. - olhei pro relógio na estante, marcava as 10 da noite. - Te dou uma hora antes de ir até o templo.

- Mas... Por que? E a Sakura?

- Qual o problema em querer passar o ano novo com minha noiva? - disse, dando-lhe um sorriso. Eu a entendia tão bem que doía.

*****


(Sakura's POV)

 

Domingo, segundo dia do ano. Acordei estranhamente cedo, talvez por estar contente pelo bilhete da sorte retirado no dia precedente. Dizia "sorte no amor com uma pessoa que conhece há anos". Será? Bem, aquela pergunta permaneceu na minha mente por algumas horas. Na virada eu fiquei em casa com meu pai, pois faziam dias desde que tinhamos ficado juntos, portanto fui ao templo na tarde do primeiro de Janeiro.

Desci as escadas com cautela, carregando minha bolsa de kendo sem fazer barulho. De madrugada tinha escutado meu irmão chegar. Deveria estar cansado, então não queria acordá-lo. Cheguei à cozinha e vi que o relógio marcava 6h30min. Fazia um pouco de tempo desde que tinha acordado tão cedo assim. Naquela manhã pensei que seria uma boa coisa ir até o dojo para descarregar a tensão. Nos últimos dias tinha ficado somente em casa por conta da neve, e um pouco sentia falta do Taichou, apesar de saber que muito provavelmente o local estaria vazio naquele dia. Sorte que o dojo é público, então qualquer pessoa pode entrar. Somente os materiais ficam trancados em algum armários cujas chaves ficam com o responsável.

Saí de casa depois de meia-hora, sentindo o vento frio da manhã soprar. A neve ainda estava sobre os galhos das árvores e nas calçadas, entretanto os carros para limpar as ruas parecia já ter passado. Comecei a caminhar com as mãos nos bolsos da calça, para que pudessem se esquentar. O céu ainda estava escuro. No inverno o dia costuma começar depois e terminar antes, fazendo com que os fracos raios de sol durem por pouco. O dojo ficava a cerca de dez minutos da minha casa a pé, cinco respeito à casa de Syaoran.

Syaoran. Supirei ao me lembrar deste nome. Fazia um pouco de tempo que ele não saia de minha cabeça. Ele tinha escutadominha conversa com Tomoyo? Por que não me procurou mais? Tudo acabava sendo coligado a ele de uma forma ou de outra, e isso irritava. Quando dei conta de mim mesma, estava de frente para o lugar predestinado.

Subi as escadas em madeira, e logo fiquei de frente para a porta. Cruzei a entrada, indo para os vestiários sem passar pela área de lutas. Não tinha tirado os sapatos por conta do frio, e sabia que estes poderiam estragar o tatame. Direcionei-me ao trocador feminino, e vi que tinha uma bolsa vermelha sobre um banco. Me aproximei, desconfiada. Era estranho alguém ir até lá no domingo, ainda mais naquela hora da manhã, no segundo dia do ano, então... Dei de ombros, retirando minhas coisas e apressando-me para me trocar.

Após colocar a proteção corporal que mais parecia uma armadura, segurei minha máscara e a shinai* em mãos. Deduzi que talvez alguém pudesse estar treinando sozinho, e que quem sabe acabaria não batendo somente em um boneco de madeira mas trocando golpes com outra pessoa.

Ao caminhar lentamente pelos corredores vazios do dojo, comecei a ouvir vozes ofegantes. Percebi que deveriam ser duas pessoas. Me aproximei lentamente, hesitante até mesmo ao respirar, para não atrapalhar quem quer que fosse.

Então, meus olhos se arregalaram. Eram Meiling e Syaoran. Eu conhecia aquela técnica; se tratava de Kung Fu. Usavam vestes aparentemente leves, todos dois com faixas pretas amarradas na cintura. Ele atacava incessantemente, ela desviava com graça, revidando casualmente alguns golpes. Os cabelos longos dela dançavam harmoniosamente seguindo o corpo esguio, enquanto Syaoran posicionava as mãos de forma rígida, assumindo o aspecto de um felino.

Pareciam com um tigre tentando capturar uma borboleta.

Eles eram terrivelmente compatíveis, tanto que aquilo me incomodava. Talvez fosse inveja. Ou quem sabe simples desconforto. Entretanto, ao sentir certo aperto no peito quando ele finalmente a colocou ao chão e os dois riram divertidos, cogitei a possibilidade de se tratar de ciúmes.

- Syaoran! - exclamei, explodindo. - Lute comigo! - os dois se voltaram para me fitar. O Li extendeu a mão para ajudar a prima a se erguer, ainda olhando-me com um semblante confuso.

- Sakura...? O que faz aqui? - indagou, caminhando com passos lentos vindo em minha direção. Eu deixei que meu olhar decaísse sobre o chão, recuperando a razão que me fora roubada pelo momento. Afinal, o que eu estava fazendo? Por que aquilo me incomodava tanto?

- Você aceita o desafio? - insisti. Ele limpou o suor da testa com o ante-braço, ainda parecendo um pouco surpreso.

- Sim... Como poderia rejeitar uma proposta de minha rival? - disse, sorrindo, enquanto se abaixava para pegar sua garrafinha de água. A levou até a boca, dando quatro longos goles.

Meiling continuava com os olhos cravados em mim. Respirava com dificuldade, acredito que os dois deveriam estar ali já há algumas horas. Suspirei, escorando-me contra a parede enquanto sentia o olhar desconfiado de Syaoran sobre mim.

- Deixe-me somente me recuperar. - o Li falou, logo depois constatando que a água tinha acabado. - Meiling, você trouxe outra garrafa?

- Sim... Vou pegar. - respondeu, caminhando até a bolsa preta e pequena no canto direito.

- Mas tem um problema, Sakura. - Syaoran prosseguiu, olhando pro teto. - Eu não estou com a shinai aqui, tanto menos com as proteções devidas.

Observei impassível enquanto ele roçava seus dedos nos dela para pegar a garrafa. De novo aquela sensação. Por que?

- Como se isso fosse um problema! - exclamei, andando com passos pesados até ele. - Vamos até minha cara pegar os equipamentos do meu irmão. - declarei, agarrando seu braço e puxando-o com toda a força que tinha. Syaoran era assustadoramente pesado, mas de alguma forma ele acabou me seguindo.

- Sakura? Ei, Sakura! - ele continuava a chamar meu nome, todavia eu simplesmente ignorava. Ouvi alguma reclamação da parte de Meiling também, mas não importava. Continuei andando, sem olhar para trás, arrastando-o pelas ruas cheias de neve mesmo se ambos estávamos naqueles trajes.

A um certo ponto Syaoran puxou seu braço, e eu me voltei para olhá-lo. Estava com uma expressão indecifrável no rosto.

- Sakura, o que é isso...? - ele demandou, no entanto sem deixar espaço para que eu respondesse. - Fazendo esse tipo de coisa, como se estivesse com ciúmes... - Seus olhos se afinaram, tornando-se duas pequenas brechas. - Não sabe que assim vai me confundir e aumentar minhas esperanças?

Arregalei os olhos. Aquela era uma meia confissão ou era impressão minha?

- Do que está falando? - virei-me, voltando a tomar o rumo de minha casa. Eu não estava preparada para ouvir os sentimentos dele, apesar de já conhecê-los. - Vamos logo! - exclamei, começando a correr.

Prensei os olhos por alguns instantes, logo me vi de frente para o portão de casa. Olhei para o lado; Syaoran estava prestes a me alcançar, então me limitei a mostrar-lhe a lingua e então seguir para dentro. Imagino qual semblante aborrecido ele deve ter feito.

Subi as escadas ainda correndo. Eram mais de sete horas, então esperava que Touya já estivesse acordado.

- Nii-chan, eu preciso da sua shinai...! - disse, abrindo a porta de seu quarto em um impulso.

Mas o que eu vi não foi exatamente algo que jamais tivesse sequer passado pela minha mente.

Touya e Yukito estavam deitados na mesma cama, o segundo adormentado sobre o peito nu de meu irmão, enquanto o outro estava com somente um olho aberto, muito provavelmente ainda confuso pela minha intromissão.

Em um primeiro instante, eu tive que olhar de novo a cena para entender do que se tratava.

Então, a ficha finalmente caiu.

Meu corpo ficou mole, e eu sem querer me deixei deslizar até o chão, acompanhando aquele movimento por um grito. Fechei os olhos, curvando-me ainda mais. Como poderia ser....?

*****


(Syaoran's POV)
 

 

Estavamos todos os quatro na sala de casa Kinomoto, Sakura sentava ao meu lado e Touya e Yukito estavam no sofá à nossa frente. Os cabelos dela cobriam sua face, seu corpo tremia, sua voz parecia se recusar a sair. Agarrei sua mão, não vendo outras saídas. Aquilo foi um choque grande demais pra ela. Quando ouvi o grito, subi as escadas no mesmo instante, encontrando-a no chão com a boca coberta e os olhos quase transbordando. Touya estava perto dela, com uma mão sobre seu ombro. Logo percebi que ele estava arrastando o lençol consigo, e que Yukito apressava-se a vestir suas roupas.

Aquela informação me pareceu tão absurda que levei um pouco de tempo para processa-la.

- Sakura... - Touya sussurrou, olhando-nos com um semblante triste. - Eu... Nunca te contei sobre nós, eu sei... - suspirou, fitando o professor ao seu lado por uns instantes antes de voltar sua atenção a nós. - Mas isso... É realmente aquilo que parece ser.

Meus olhos se arregalaram. Por Buda! Touya namorava com Yukito? Talvez foi isso que Yue quis dizer quando mencionou que "ele tem gostos estranhos".*

Sakura entrelaçou seus dedos aos meus, provavelmente procurando por conforto. Puxou minha mão, apoiando-a sobre seu colo e sobrepondo sua outra mão sobre as nossas. A olhei, percebendo que tinha se encolhido ainda mais.

- Diga algo, Sakura. - o irmão insistiu. - Eu não quis esconder isso por vergonha. Foi uma decisão nossa... Yukito é seu professor, talvez isso pudesse interf-...

- Eu vou tomar um banho! - exclamou, lenvatando-se e soltando a minha mão. Todos a olhamos assustados, e eu me espantei ao ver que, de fato, nenhuma lágrima descia por seu rosto. Nada além de confusão pairava em seus olhos. Quanto mais ela seria obrigada a sofrer? Sentia vontade de carrega-la para algum lugar e abraça-la em eterno, procurando em algum modo uma forma para amenizar sua dor. Apesar disto, eu permaneci impassível, incapaz de tomar alguma atitude.

- Sakura...? - perguntei, erguendo-me também. Ela se apoiou ao meu ombro por uns segundos, antes de ir.

- Eu estou bem. - sussurrou. Mas a voz trêmula dizia o contrário. Pouco a pouco afastou-se, e antes que eu pudesse segui-la, vi o braço de Touya se posicionar à minha frente, acabando por me parar.

- Mas o que...? - sussurrei, arqueando uma sobrancelha.

- Eu irei falar com ela. - era Yukito. Franzi o cenho, reprovando-o intimamente. Ele com certeza era a última pessoa que Sakura iria querer ver neste momento.

Assim que Tsukishiro desapareceu nas escadas atrás da aluna, Touya abaixou lentamente o braço, soltando um longo suspiro ao completar tal ato.

- Você sabe, certo? -demandei, olhando-o de esgueira. O Kinomoto fez o mesmo, esperando silenciosamente por um complemento àquela pergunta. - Dos sentimentos da Sakura para Tsukishiro. Sempre foi tão óbvio que não acreditaria se me dissesse que não percebeu.

- Não é da sua conta, pirralho. - resmungou.

- Eu sei mais do que imagina. Sobre Yue, Tomoyo, Sakura... Estou nisso até o pescoço.

Ele virou-se para mim espantado, mais uma vez perguntando sem palavras o que aquilo significava.

- Pelo modo em que reagiu... Quer dizer que também sabe da existência dele. - continuei a falar, esperando que ele possuísse uma explicação para aquela loucura toda.

- Ela sabe?

- Não.

Percebi que aquela noticia o tinha aliviado. Mas certa culpa flutuava em seu semblante desamparado. Algo me dizia que ele tinha muito a ver com a dupla personalidade de Tsukishiro, entretanto não consegui achar um espaço para verificar.

- Por favor... - aquelas palavras me surpreenderam. Desde quando Kinomoto Touya implorava por algo? - Não fique no meio disso. Existem razões pelas quais eu estou com Yuki, assim como Yue existe por causa de algumas circunstancias. E Sakura, bem... Com o tempo ela vai se esquecer desse amor que sente por Yuki. E quem sabe... Você seja a resposta para o fim de suas lágrimas que tanto me incomodam.

Arregalei os olhos, entendendo os significado daquelas palavras. Ele estava me aceitando. Estava abrindo mão de Sakura para mim... Talvez por culpa, quem sabe pelo simples motivo que ele queria fazer com que ela se esquecesse de Yukito. Bem, a razão não era tão importante. Pois, apesar de saber que estava tão distante dela sentimentalmente, um obstáculo saíra de meu caminho.

- Mas eu não o faço por você. - Touya argumentou, vendo o sorriso que estava em meus lábios. - Simplesmente não quero que Sakura chore. E, se foi capaz de fazê-la se esquecer da dor causada por Tomoyo naquela época, quem sabe consiga curar a ferida que eu e Yukito abrimos.


*****

 

(Sakura's POV)


Mais uma vez me vi correndo.

Do que? De quem? Pra onde?

Touya... Yukito... Deus, eles são homens! Quer dizer que Yukito pode aceitar ele mas a mim não? Isso significa que não importa o quanto eu tente, nunca satisfarei seus gostos por ser uma garota? Quão contorcido meu mundo pode ser?!

Ao chegar na porta de meu quarto, apoiei uma mão sobre a maçaneta, hesitante. Se eu entrasse, acabaria chorando de novo. E eu estava cansada de derramar lágrimas inúteis.

- Sakura-chan... - a voz de Yukito. Por que me chama com um tom gentil? Nem sequer me virei, apertando a maçaneta e abrindo a porta. Não queria vê-lo, tampouco ouvi-lo. Por que teve que ser ele aquele que veio atrás de mim? Aonde diabos estava Syaoran quando eu precisava dele?

- Vá embora! - exclamei, expondo toda minha raiva acumulada.

- Não faça assim... - ele delicadamente pôs uma mão sobre meu ombro. - Realmente não pode aceitar nossa relação por que somos homens...? Sakura-chan, tanto eu quanto Touya somos os mesmos. Estamos juntos desde o ensino médio, isso não vai nos mudar ou...

- Mas que droga, Yukito! - gritei, virando-me e afastando sua mão de mim. - Não me toque, não seja gentil! - sua expressão era de alguém surpreso. Mas quem não entendia mais nada era eu! - Não consegue ver que eu gosto de você? - berrei, batendo a porta com toda a força que eu tinha.

Cobri meus ouvidos, deixando que minha testa batesse violentamente contra a porta. Eu não conseguia entender quem eu deveria odiar mais; os dois por terem me enganado ou eu mesma por ter perdido metade da minha vida correndo atrás do namorado de meu irmão.

A vida é mesmo irônica. Me pergunto por que aquela confissão - que eu demorei tanto a fazer -, teve que significar o fim de algo que nunca nem ao menos passou de uma ilusão.

Entretanto, não consigo acreditar que foi uma ilusão.

Algo irreal não poderia doer tanto assim.

* Vide capitulo 9.
* Vide capitulo 11.
* Shinai é a espada em bambu que se usa para lutar kendo.


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Notas finais do capítulo

Antes dos tridentes e das tochas com fogo, deixe-me explicar: Essa fic é simplesmente sem sentido, não esperem que algo tenha um significado. Se bem que se alguém juntar os pontinhos (?) vai perceber que a relação ToxYu tava ai desde o começo, mas não mostrava. O fato de somente Sakura e Syaoran contarem a estoria a torna parcial, pois existem milhares de coisas acontecendo em volta deles que nem ao menos sabem da existência.
Bem, segunda coisa: O extra da Tomoyo foi adiado por que essa coisa do Touya e do Yukito seria mostrada, e eu queria um impacto maior.
Agora... Espero que não parem de ler por causa desse capitulo ridiculamente longo e besta. ;_;
Agora começa a parte kawaii, prometo. x3
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