Ore no Goshujin-sama escrita por Assa-chan


Capítulo 12
Separação


Notas iniciais do capítulo

O "impossivel" costuma acontecer quando menos o espera.



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Os lábios de Syaoran eram quentes, doces, famintos. Meu coração batia de forma rápida e descontrolada. Minha mente me obrigava a recusá-lo, mas meu corpo ignorava qualquer tipo de ordem. Eu simplesmente não tinha reação. Quando senti seus braços envolverem minha cintura, percebi qual era o motivo de tal comportamento: Eu estava gostando do beijo dele! Estava gostando de sentir ele mordiscar meus lábios, de sentir a língua dele tocando a minha. Era uma sensação nova e viciante. Afinal, aquele era meu primeiro beijo, mas com certeza não era o mesmo pra ele. Por um segundo me senti tentada a responder-lhe, entretanto a razão teve a melhor, e em resposta acabei empurrando-o.

 

Dei dois passos pra trás, quase cambaleando. Minhas pernas estavam bambas, minha respiração descompassada, meu coração palpitante. Limpei minha boca com as costas das mãos, ainda indignada.

 

Ele me olhava de forma inexplicável. Aquele âmbar parecia ter perdido sua vida afogado em um mar de sentimentos. Syaoran ainda mantinha os lábios entreabertos e sua respiração ligeiramente irregular deixava nuvens de vapor ao sair da boca. Ele colocou as mãos dentro dos bolsos, então olhou pra neve debaixo de seus pés. Uma meia gargalhada, então voltou a me fitar.

 

- Um beijo tem que ser inesperado. - murmurou com um semblante estranho. Sua boca sorria, mas seus olhos continuavam inértes e o cenho franzido.

 

- O que quer dizer com isso? - eu ainda me mantinha alerta e distante, pronta pra correr se ele repetisse aquele gesto. E não por não ter gostado, mas por que eu tinha medo de acabar respondendo se ele tentasse de novo. E uma pequena parte de mim suplicava para que ele o fizesse.

 

- Eu fiz isso por causa do seu amor por Yukito. - ele olhou pro céu, e eu segui seu movimento, vendo que mirava a lua. - Afinal, já que não respondeu, quer dizer que se não for ele não pode ser ninguém, certo? - Syaoran me olhou de esgueira, ainda mantendo a mesma expressão. - Bem... Boa noite, nos vemos amanhã. - ele concluiu a conversa, virando-se e começando a andar em direção à sua casa.

 

Juntei as sobrancelhas, confusa. Ele era idiota, por acaso? Dei passos largos até alcançá-lo, puxando seu braço e fazendo-o me fitar. Eu abri a boca pra dizer algo, mas de lá nenhum som saiu. Os olhos dele estavam marejados. Soltei-o com calma, recebendo um sorriso timido em troca. Syaoran continuou caminhando, e eu observei sua silhueta afastar-se devagar. Fiquei ali, parada, sem falas ou movimentos. A um certo ponto Li limpou seu rosto, logo depois chutou uma pedra que encontrou pelo caminho. Então, desapareceu ao virar a esquina.

 

Eu quis correr atrás dele. Quis abraçá-lo com todas as minhas forças e pedir o motivo daquelas lágrimas. Entretanto, algo me impedia. Não saberia dizer bem a razão... Mas talvez estivesse decepcionada. Eu realmente achei que ele fosse alguém forte e que jamais o veria chorar. Mas 'Li XiaoLang' era tão humano quanto eu, e muito provavelmente levei tempo demais antes de entender.

 

Ao chegar em casa eu sentei no canto do meu quarto, pegando a foto com Yukito em mãos. Não sentia absolutamente nada. Aquelas duas horas que tinhamos passado juntos pareciam ter desaparecido depois do beijo. Toquei meus lábios, deixando a mão com a foto descansar ao solo. Eu ainda podia sentir seu gosto, quente e doce. Sem querer lembrei dos olhos que mais pareciam duas piscinas castanhas.

 

Foi ai que eu entendi tudo: Ele gostava de mim. Gostava tanto de mim, que eu tê-lo recusado involuntariamente foi a gota d'água que fez transbordar os sentimentos que ele escondia dentro de si. Meu coração acelerou e meus olhos começaram a queimar. Respirei bem fundo, tentando não derramar choro algum. Eu fui tão cega que não consegui ver os motivos que se escondiam por trás do olhar devoto e daquela exagerada obsessão por vencer.

 

No entanto, talvez, nem mesmo ele conhecia a razão que motivava seu comportamento.

 

Levantei, hesitante. Me joguei em cima da cama, olhando pra lua no céu do lado de fora. Um ligeiro fio negro começava a cobrir uma de suas bordas acinzentadas; logo esta se tornaria minguante. Me virei pro outro lado.

 

- Com que cara vou olhar pra ele amanhã? - demandei a mim mesma, suspirando pesadamente.

 

*****

 

Nem sequer tinha apagado a luz ou trocado de roupas. As cortinas permaneceram recolhidas assim como no dia anterior. Naquela noite, por mais que eu tentasse chamar o sono, ele parecia não vir; constatei isso ao olhar pela janela e ver o amanhecer.

 

Levantei-me, bocejando. Um bom banho iria me fazer despertar de um sono que nem sequer tinha chegado. Abri o chuveiro, a água quente escorria pelo meu corpo e, por algumas frações de segundo, pareceu cancelar aquela cena da minha memória. Mas temporariamente. Logo a lembrança de Syaoran iria entrar de novo na minha mente, e eu sabia muito bem disso.

 

- Sakura! - meu irmão chamou minha atenção assim que eu cheguei ao fundo das escadas. Fui até a porta da cozinha e o vi acenando para que eu chegasse mais perto dele, que estava sentado na mesa.

 

- Que foi, nii-chan?

- Hoje eu não vou pro hospital, então decidi dar uma passada no dojo já que domingo vou fazer hora extra. Quer vir? Eu te busco na escola de tarde.

 

- Claro... Eu queria ver o taichou! - sorri. Realmente, fazia mais de uma semana que não treinava. - Mas, não vai ficar cansado pra amanhã?

 

- Não... Eu tenho que pensar que só mais esse ano e depois começo a receber algo. - suspirou, levantando-se da mesa. - Agora se vire e coma alguma coisa, monstrenga. Se não vai acabar se atrasando pra escola.

 

- Nii-chan...?

 

- Sim? - ele pegou uma maçã e a mordeu, de pé perto da mesa.

 

- Garotos também choram por amor?

- Hmm. - ele deu outra mordida, olhando pro teto como se estivesse tentando lembrar ou pensar em algo. Logo voltou a me olhar, com um sorriso entre os lábios fechados. - Acho que a resposta pra essa pergunta é difícil demais pra uma monstrenga.

 

Lhe mostrei a língua assim que se virou para recolher as coisas que tinha usado. Touya, apesar de ser enjoado e me tratar feito criança, era um rapaz muito aplicado. Tinha acabado de terminar a faculdade de medicina e estava fazendo algumas horas no hospital se especializando em pediatria. Por não receber absolutamente nada é obrigado a fazer alguns trabalhos de meio-período também, e ainda não está em condição de sair de casa. Realmente, por mais que não queira admitir, eu preferiria que ele nunca deixasse aquela casa, de qualquer forma.

 

- Ittekimasu. - meu irmão disse, pegando sua jaqueta de cima da cadeira e cruzando a porta da cozinha.

 

- Iterasshai. - respondi, acenando timidamente. Mordi uma maçã; incrivelmente não estava com muita fome, tanto menos tempo. Olhei pro relógio pendurado na parede sobre a janela da cozinha e percebi que Syaoran estava cerca de cinco minutos atrasado.

 

"Talvez... Ele não venha hoje.", pensei em conclusão, indo pegar meu casaco e a bolsa no meu quarto. Subi e desci as escadas da mesma forma: totalmente desanimada. O peso de não ter dormido começava a querer fechar meus olhos. Mas seria natural, eu acho. Quero dizer... Se o garoto que eu gosto amasse outra pessoa, eu também não iria me rebaixar ao ponto de ir procurá-lo no dia sucessivo.

 

Entretanto, nós tinhamos um acordo. E ele ainda não tinha conseguido me vencer pra poder quebrá-lo.

 

*****

 

Cheguei à escola sozinha, de novo. Era estranho não ter Syaoran ao meu lado contando que suas irmãs o tinham acordado às 3 da manhã ligando pra ele por que sempre se esquecem do fusorario, ou me explicando em que modo poderiamos competir aquele dia.

 

E, o mais estranho de tudo, era o fato que, talvez, eu estivesse com saudades. Pois eu sabia muito bem que depois daquele beijo nossa relação nunca mais seria a mesma.

 

- Sakura-chan? - uma voz masculina me chamou enquanto eu estava tirando os sapatos de dentro do armário. Olhei furtivamente pro lado, ainda prosseguindo com meu movimento quotidiano. Encontrei um par de olhos negros escondidos por óculos transparentes. Era Eriol. Eu quase nunca falava com ele, uma vez cheguei a jogar vídeo-game com ele no festival de verão, mas parecia conversar periodicamente com Syaoran.

 

- Sim? - respondi, calçando-os e colocando minhas sapatilhas no meu compartimento. - E, nós não temos toda essa intimidade. - suspirei, fechando a porta. - Chame-me 'Kinomoto-san' como o resto dos meus colegas de classe.

 

- Eu não sabia que éramos vizinhos de armário. - ele sorriu, quase como se estivesse ignorando a minha hostilidade. - Hoje não veio com o Li? - indagou, olhando despistadamente em volta de mim.

 

- Não, Hiiragizawa. - dei o sorriso mais falso que consegui, tentando encerrar a conversa. - Agora, se me permite, vou pra classe.

 

- O que é isso? Me chame de Eriol! - estalei a língua, começando a caminhar. Eu não o faria nem se ele me implorasse de joelhos. O idiota começou a me seguir, e não pude dizer nada pois estávamos na mesma classe, afinal.

 

- Você soube? - Eriol acabou com a minha calmaria mais uma vez, e eu fui obrigada a responder-lhe.

 

- O que?

- Então acho que não soube.

 

- Se você me disser o que, vou poder dizer se sei ou não... Né, gênio?

- Acho que seja bem inoportuno que ele não tenha te contado.

 

- O que? - disse um pouco mais alto, parando de andar. Eu era realmente muito curiosa, e esse joguinho estava começando a se tornar cansativo.

 

- Sakura-chan, controle-se. - reprovei-o com o olhar, vendo que tinha se voltado e começando a caminhar em minha direção. - Okay... 'Kinomoto-san'. - assenti automaticamente; não gostava que pessoas com quem não mantenho uma ligação estavel me chamassem pelo primeiro nome. - Pois é, não é meu papel contar. - Eriol virou-se, dando de bruços e andando.

 

- Hiiragizawa! - exclamei bem mais alto dessa vez, chamado a atenção de alguns alunos que passavam pelo corredor. Dei largos passos até alcançá-lo, puxando seu ombro para que me olhasse.

 

- Shh. - o garoto ousou colocar seu dedo indicador sobre meus lábios, fazendo-me calar. - Não faça todo esse barulho, Kinomoto-san. Ou vão achar que eu sou seu novo brinquedinho.

 

Afastei seu braço com um tapa, aborrecida. Ele estava passando dos limites.

 

- Olha, não tente tocar em mim outra vez, ouviu?

- Ouvi, ouvi! - ele levantou suas mãos na altura dos ombros, dando um passo pra trás. - Desculpe, Kinomoto-san. Mas, voltando ao assunto anterior, acho mesmo que eu não sou a pessoa mais adequada a dizer-lhe tal noticia.

 

- Ah, eu desisto. - senti minha cabeça começar a doer pela raiva, e preferi seguir meu caminho sozinha ao invés de continuar perdendo meu tempo com aquele garoto. Abri a porta da classe já tirando a jaqueta, por algum motivo o aquecimento parecia estar mais alto que o de costume. Observei bem as pessoas; estavam todas reunidas em volta de um único banco. Olhei melhor. Era aquele ao lado do meu. "Syaoran!" exclamei em pensamento.

 

- Li-kun, a Kinomoto-san chegou! - ouvi alguém dizendo, então, como por magia, todas as pessoas se afastaram, e do meio da multidão apareceu um rapaz alto e de porte atlético. Ele caminhou até mim, os olhos baixos e as faces rosadas. Deixei minha bolsa escorregar até o chão, sem entender bem o que Syaoran quisesse.

 

- O que... é tudo isso?

Ele suspirou. Outra vez. Mais uma. Levantou o olhar até alcançar o meu. Estava triste. Segurou minha mão, ignorando a curiosidade do resto da classe ou os comentários que desde sempre rodeavam nosso relacionamento. Puxou-me para fora da classe, caminhando com passos largos e apressados, que eu quase não conseguia seguir. Observei a minha volta; todos diziam algo enquanto passavámos. Mas Syaoran não parecia se importar.

 

Quando percebi, estávamos no terraço da escola. A neve molhou quase subitamente meus sapatos, e a jaqueta que tinha acabado de tirar começava a fazer falta.

 

- Sya-... - eu tentei dizer algo, mas aquele semblante desamparado me impediu. Abracei a mim mesma, tentando dissipar o frio e esperando uma palavra qualquer. Eu acreditaria em qualquer coisa que ele dissesse.

 

- Sakura... - Syaoran suspirou pela quarta vez, os lábios nervosos e os punhos serrados. Foi então que eu percebi que sua mão não estava mais sobre a minha, e que tinha sido eu a separar aquele toque. Por um qualquer motivo me senti em culpa, mas não tive muito tempo pra pensar nisso. - Eu... Estou indo pra China.

 

- O que foi que você disse?

- Meu voo está marcado pra esta quinta, às 10 da manhã.

 

Durante os 30 segundos que se seguiram, eu abri e fechei a boca diversas vezes para tentar dizer algo. Mas nada me vinha em mente. Aquela era a única coisa que jamais esperaria que fosse acontecer. Pra China? Quinta? Assim, do nada? Ele não morava em Sapporo? E, o pior de tudo, ele iria me abandonar?

 

Me encolhi ainda mais entre meus braços, desviando o olhar. Não sabia se ficava triste ou com raiva, se segurava o choro ou deixava que este molhasse minha face à sua frente novamente. Mas, quando voltei a olhá-lo... Syaoran não estava mais lá.

 

Deixei-me cair ao chão, ignorando o frio da neve e com o mesmo sentimento de traição que senti quando Tomoyo, anos antes, tinha destruído minha auto-confiança com tão pouco. Entretanto, de alguma forma, era diferente.

 

...Meu coração doía. E muito.

 

 


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Notas finais do capítulo

Atecipação: No capitulo 13 vamos voltar no tempo até a noite no beijo, pra dar pra entender por que o nosso amado Syaoran vai deixar o Japão.

GO0OOMEN pela demora, mas nesses tempo tensos estou podendo entrar somente domingo!
Eu leio todos os reviews, mas, como disse antes,não tenho tempo suficiente pra responder. OBRIGADA aos leitores novos! Em junho poderei voltar com tudo e juro que respondo (e reviso) tudo!