Estavam sozinhos em cima do telhado da casa da garota, era quase meia-noite e esperavam ansiosamente a queima dos fogos. Era quase uma tradição dos dois, ficarem apenas olhando os fogos, fechar os olhos e fazer um pedido para o novo ciclo que se iniciava. A família tinha uma grande tradição no natal (comida da vovó, vovô vestido de papai noel, grandes pegadinhas pregadas pelos tios e primos, casacos de presente e várias músicas horrorosas da Celestina Warbeck), mas no ano novo quase nem comemoravam, os primos mais velhos iam brindar com os amigos em pubs e os mais novos dormiam cedo. Mas desde que se lembrava por gente Hugo fugia de seu quarto na casa vizinha e subia a sacada até o quarto da prima, para juntos irem ao telhado olhar os fogos. Começou quando tinham cinco anos:

– Lily – sussurrava baixinho em sua porta.

A prima abria meio que assustada pelas altas horas da noite, logo os dois já estavam sob o telhado.

Tinham uma visão privilegiada, dava para ver certinho a London Eye e até ouvir as milhares de pessoas que lá perto estavam para contagem regressiva.

A prima adorava qualquer tipo de fantasias e acreditava fielmente que tudo que ela pedia na virada do ano viraria realidade, então a primeira vez que subiram no telhado ela lhe sussurrou seu segredo:

– Sabia que tudo o que se pede na virada do ano acontece no ano seguinte?

Hugo achava meio impossível, mesmo aos cinco anos, ele sabia que se pedisse aquele jogo de videogame caríssimo pro próximo ano provavelmente não iria ganhar, ou se pedisse para ir para Hogwarts mesmo aos cinco anos seria impossível. Ia dizer isso para a prima, mas achou melhor pedir outra coisa.

– CINCO... – ouviram ao longe algumas pessoas contarem.

– Feche seus olhos.

Ele não obedeceu o pedido da prima continuou com os olhos bem abertos e olhando para ela.

– TRÊS...

– Você não sente a magia em volta? – ele reparou que a garota tinha os pelos do braço eriçados de empolgação pelo o que estava prestes a acontecer.

– DOIS...

– Feche os olhos! – gritou a garota quando numa espiada viu o primo de olhos abertos.

– UM!

Então ele fechou os olhos e ouviram os fogos explodindo. Hugo não sabia o que a prima havia pedido, mas desde aquele dia pedia sempre, que subiam no telhado de um ano para outro, o que seu coração mais precisava, não sabia o que era, obviamente, mas sempre pedia a mesma coisa. Que acontecesse o que seu coração mais precisasse.

E naquele ano, já com 17 anos e com o medo aflorando por estar acabando Hogwarts sem saber o que viria pela frente, ele voltou a fechar os olhos assim que ouviu o início da contagem regressiva.

– Da para sentir a magia... – comentou a prima sorrindo com os pêlos do braço eriçando vagorosamente – Hugo o que pede todo ano?

O rapaz não sabia o que responder, abriu os olhos ouvindo o número três ser gritado.

– Não sei o que pedir esse ano, acho que já tenho tudo o que desejo.

– DOIS...

– Peço sempre o que meu coração mais precisar.

Ela sorriu quando ouviu a resposta dele e fechou os olhos instantaneamente ouvindo os fogos subirem aos céus.

Hugo fechou os olhos, mas naquele ano não pediu o que seu coração mais precisava e transferiu o pedido para outra pessoa, pediu o desejo do coração de sua prima.

– Hugo... é tão lindo! – a frase de sempre soou ao seu lado assim que viu a prima com os olhos abertos admirando os fogos de artifício.

Seus olhos brilhavam de excitação como todo ano, e ela suspirava de alegria ao ver o show pirotécnico dos Trouxas.

Depois de uns dez minutos vendo os fogos já estavam deitados, o primo com o braço embaixo da cabeça dela, ainda admirando o espetáculo.

– Acho que já está na hora de realizar o que o meu coração mais precisa.

Então ela levantou um pouco a cabeça e beijou a boca dele levemente. Por um milésimo de instante o garoto ficou completamente perdido, mas retomando a consciência do que estava acontecendo puxou o rosto dela para si e a beijou profundamente.

Estava frio e logo começou a nevar, logo estavam encharcados e tremendo, mas não conseguiam sair de perto um do outro, ficaram se beijando até os fogos acabarem de subir aos céus. Tudo era uma loucura, eram primos, certamente o que estavam fazendo era algo errado, era algo a ser escondido, então porque parecia tão certo?

– Você, era o que estava faltando em mim – foi a primeira coisa que a garota falou quando desgrudaram os lábios assim que os fogos cessaram.

Hugo apenas sorriu e beijou-a levemente nos lábios.

Se abraçaram tentando esquecer o frio e o que estava por vir, Hugo já não tinha mais medo do futuro, sabia que em todos esses anos enquanto desejava o que o seu coração precisava, ela era a resposta.