Sangue Mestiço escrita por Selenis


Capítulo 18
Salas Vazias




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Salas Vazias

Resolvi não fazer alarde. 

Lá estava eu, parado, fixo ao chão, incapaz de me mover. Olhando para a janela aberta, ainda tentando absorver o que minha mente era incapaz de compreender. Como?  Como?

Quando finalmente acordei do transe, me enchi de fúria e desespero. De imediato, me agachei e olhei debaixo da cama, à procura de alguma pista sobre o sumiço de Hermione. Nada. Procurei na cama; revirei os lençóis, joguei o travesseiro e retirei a fronha. As penas de ganço voaram ao meu redor, e ergui o colchão para olhar em baixo. Não havia nada. Era como se ela tivesse vaporado no ar junto com suas coisas. 

Saquei a varinha e apontei-a para frente.

Revelio!

Nada aconteceu, porém. Frustrado, desci a escada e fui direto para o meu quarto. Tranquei a porta e escorei-me nela. O sangue fluía com mais rapidez por todo meu corpo, e o nervosismo tomava forma. Passei as mão nos cabelos, jogando-os para trás. A temperatura começou a aumentar e gotas de suor projetaram-se em minha testa. Me convenci de que precisa ir a um local aberto para respirar melhor. 

Saí, caminhando apressadamente pelos corredores e afrouxando o colarinho. Quando cheguei ao salão, vi o corredor. Aquele corredor vazio e escuro. Lembrei da conversa de Olívia e Klein com Hermione. A forma como ela havia deixado a sala ficou na minha mente, como uma curta metragem sempre a se rebobinar. Agora pausada, focando em seu rosto atribulado. 

Intrigado, resolvi me arriscar. Enquanto me aproximava, formulei diversos argumentos que pudessem explicar o desaparecimento dela. Certamente tinha vários motivos para ir embora, mas os poucos meses em que passei com Hermione Granger foram suficientes para cravar em mim a certeza de que ela não faria nada imprudente. 

Hermione era cautelosa, inteligente, afoita e orgulhosa. Mas a sua maior qualidade era a paciência. Indubitável era esse questionamento dela ter essas características. Ninguém poderia me contradizer a respeito disso. Então por que fazer isso? Ela sabia das consequências. Ficar na minha casa, era uma ordem de Severo Snape, confirmada pela Professora Mcgonagall. E tenho certeza de que Alvo Dumbledore não teria aderido a isso se essa informação não tivesse lhe sido entregue. 

Parei.

E se ele não soubesse? Que Hermione e eu estamos aqui, a receber instruções de agentes do Ministério para fazer as NOUMs? Isso pareceu absurdo demais.

Como era de se esperar, a porta estava trancada. Mas nada que um Alohomora não resolvesse. Entrei, e fechei-a logo atrás de mim. Dei um boa olhada nas prateleiras, abarrotadas de livros e pergaminhos. A escrivaninha de Olívia tinha um retrato de Cornélio Fudge, sempre olhando ao redor. Por sorte, seu campo de visão ainda não havia me alcançado. Então, para não ser pego, com furtividade me aproximei por trás do retrato, e o deitei sobre a mesa. Contudo, ainda tinha que me preocupar com os quadros presos às paredes. Todos eram dos antigos ministros, e todos estavam com seus olhos fechados; com a cabeça pendendo para o lado. 

Haviam cerca de dez quadros. Não podia dar conta de todos sem que fizesse barulho. A única alternativa era ser o mais cauteloso possível. Comecei pelas gavetas da escrivaninha. Tirei as papeladas e folheei os arquivos. Encontrei minha redação com um " E " gigantesco no começo da folha de " Excede as Expectativas ".

Joguei o papel de lado e vasculhei pela redação e Hermione. Talvez a resposta de seu desaparecimento se encontrasse nela. Depois de uma vasta e exaustiva procura, não a encontrei. Então ocorreu-me apenas um lugar pouco improvável. A lata de lixo. 

E ali, revirando o cesto, tirando os picotes de papeis e penas imprestáveis, encontrei o pergaminho de Hermione, amassado em uma bola. Desamassei-o. Havia um enorme " T " de Troll no topo. Pus-me a lê-lo com atenção:

" A respeito das artes dos trouxas, deve-se estabelecer um conceito adequado. Porque o preconceito contra eles ainda prevalece no mundo bruxo. Muitas de suas obras são usada em nosso mundo, e isso nos serviu bem mais que o suficiente. O Expresso de Hogwarts é um ótimo exemplo disso. 

Agora, formulando os argumentos lançados pelo Profeta Diário contra Alvo Dumbledore e Harry Potter, a respeito do regresso do Lorde das Trevas, isso é uma total faxada para encobrir o medo que cerca o Ministro da Magia, Cornélio Fudge. A chegada de Dolores Jean Umbridge a Hogwarts é um ataque de Fudge a Dumbledore. Seu argumento é que o diretor está conspirando com Potter para poder assim tomar o ser cargo de ministro.

Essa injúria é facilmente descartada, pois aqueles que presenciaram o jogo da Irlanda contra a Bulgária na Copa Mundial de Quadribol do ano passado, sentiram na pele o terror dos antigos seguidores de Lorde Voldemort: os Comensais da Morte. Eu, inclusive, fui uma das vítimas. Vi o símbolo agourento da cobra saindo da boca da caveira impresso no céu junto com meus amigos; Ronald Weasley e Harry Potter. "

Eu percebi furiosidade em suas palavras. Aquilo não era uma redação, e sim um desabafo. 

Guardei comigo o pergaminho e saí dali o mais depressa possível.

Enquanto andava, pensei nela. Sua imagem, seu sorriso, ficou em minha mente como uma velha fotografia da qual não consegui me livrar. Porque essa foto, não sei como, de repente alfinetou meu coração e preencheu o seu recinto vazio. Assim como apaziguou as tribulações de minha mente. Agora que a fonte se fora, os fantasmas começavam a retornar. 

Era hora de enfrentá-los. 


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