Uma nevasca quase infernal caia violentamente, as pegadas eram deixadas para trás e se apagavam como se nunca tivessem existido. No meio daquele branco interminável, apenas um tom rosado se movendo incessantemente se destacava, embora de noite não fosse possível distinguir muita coisa. As lágrimas se congelavam na face alva da bela donzela, que a pouco, tinha escapado de uma cerimônia importante.

Vencida pelo frio, o corpo dela tremia sentindo como se facas cortassem sua pele. O vento estava muito forte, daquele jeito não seria possível seguir mais, e na verdade não faria diferença, pois não teria lugar para onde ir. Ela pendeu para trás e caiu no meio da neve com o corpo cansado, dolorido. Provavelmente acabaria morrendo naquele deserto gelado no qual se encontrava, mas preferia a morte a viver sob aquelas circunstâncias que a obrigaram a fugir. Preferia uma morte dolorosa a ter que se vender em troca de um ou dois privilégios. Aquela não era a atitude correta para uma mulher, mas naquela altura aquilo já não importava.

– Desonra para seu pai... Desonra para sua casa. – Ela sussurrou com os lábios trêmulos enquanto olhava para o céu. Não era possível distinguir nada além de nuvens. –Desonra seria se eu traísse a mim mesma. Jamais aceitarei isso...

Aos poucos os pensamentos começavam a escapar, o corpo dormente já não se movia. Ela sentia tudo se apagar, ser envolto na escuridão. Piscou os olhos verdes algumas vezes, era impossível mantê-los abertos. Uma ultima visão lhe foi contemplada, uma figura alta com olhos vermelhos como sangue, cabelos negros como a escuridão. Aquela imagem desmanchou-se em segundos. O mundo se distorcia como um mero sonho.

– Seria você a face da morte? Não importa mais... – Ela sussurrou finalmente entregando-se a inconsciência. Queria apenas dormir em paz.