Classe dos Guerreiros - Ascensão da Noite escrita por Milady Sara


Capítulo 14
Adeus Anjo


Notas iniciais do capítulo

Esse capitulo levou mais um tempinho pra ser postado porque ele tem fortes emoções e eu queria deixa-lo o melhor que podia!



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Canopus era tão grande e populosa quanto Andrômeda, o que dificultava um pouco o trabalho dos Guerreiros ali presentes. Era murada por tijolos brancos e tinha casas dos mais diversos tamanhos.

Hunter e Mia exploravam o lugar pelos telhados, evitando fazer barulhos fortes, não era comum as pessoas olharem para o alto e eles não queriam dar um motivo para que as figuras com capas fossem vistas.

Caleb, Lena e Drica andavam entre a multidão de pessoas e Derek cobria o perímetro da cidade pelo lado de fora.

Não sabiam exatamente o que procuravam, então todos estavam de olhos abertos para qualquer fato suspeito, o que não esperavam era encontrar tantos.

— Já contei cinco demônios. - disse Lena em um sussurro para o pequeno aparelho de comunicação em sua orelha. - Todos de pelo menos nível quatro.

— Vi pelo menos sete em um bar agora a pouco. - relatou Drica. - Mas eles parecem muito inofensivos...

— A situação ai embaixo não parece boa. - falou Hunter depois de passar para outro telhado.

— São todos peixes pequenos. - analisou Mia, olhando para baixo de onde estava. - Se fossem perigos já teriam reconhecido algum de vocês. Precisamos de algum que... Sei lá, não pareça tão civil.

As horas passavam, enquanto os três no chão se misturavam entre as pessoas observando o quanto podiam. Procurando algum demônio que mostrasse maior experiência, mas nenhum usava armadura ou parecia ter lutado em algum momento.

Derek já havia dado a volta na cidade por fora, agora apenas esperava ser chamado para um ponto específico caso algo acontecesse.
Mia e Hunter também não obtiveram sucesso, não havia rastro algum de magia em nenhuma das casas sob as quais andaram ou em lugarem próximos, e eles já tinham andado por uma boa parte dos telhados.

Devia ser por volta de meio dia quando algo finalmente agitou os graduados.

— Acabei de ver um levando uma espada. - relatou Caleb e todos ficaram tensos. - É, com certeza é uma espada que com certeza é de amato. - o moreno se virou para seguir o rapaz loiro e de olhos cor de sangue que carregava a espada. Sua mochila esbarrava nas pessoas o que o atrasava. - Vou perdê-lo! Está indo pra sudeste!

— Já vi! - disse Mia enquanto corria pelos telhados, tentando não perder o brilho que o cabo da escada do rapaz emitia. Muito esguio, o alvo passava por entre as pessoas como uma cobra entre as pedras, a cigana então, usou seu poder sobre o ar para poder flutuar acima dos telhados em uma velocidade maior, mas mesmo assim ele estava a sua frente. - Ele vai sair da cidade, Derek! Vai pro portão mais a sudeste que tiver! - indicou ela. - Estamos a caminho.

— Certo! - falou prontamente o garoto, se teletransportando para o portão indicado e escondendo-se atrás de uma árvore. Não demorou muito e viu o demônio portando a espada sair de Canopus e se dirigir a floresta. Ele parecia sério e ao mesmo tempo pacífico, se aquele lugar tinha realmente se tornado o refúgio para demônios que parecia, então ele realmente não tinha motivos para estar preocupado.

Mesmo assim, o loiro tinha um andar quase apressado, talvez estivesse atrasado ou algo assim, o fato é que andava em uma perfeita linha reta desde que saíra da cidade. Andava por uma pequena trilha que se formara na grama entre as árvores, provavelmente já havia feito esse caminho antes. Derek o seguia mantendo uma certa distância, para observá-lo sem ser visto. Estava indo muito a sudeste, perto de Calisto, sua cidade e da Classe Giebra. Sentiu raiva por um momento, havia uma base dos Noctem tão perto... E Seth nunca tinha percebido. Tudo bem, os Noctem conseguiram esconder quase perfeitamente que estavam mexendo no Fluxo, aquilo devia ser fácil de esconder, mas não pôde evitar sua frustração.

Derek?— chamou a voz de Drica em sua orelha. - Cadê você? Cadê o cara?

— Espera, tô seguindo ele. Quando descobrir pra onde vai eu volto. - ela não respondeu, mas com o silêncio foi fácil perceber que estava preocupada, mas também sabia que não conseguiria convencê-lo a voltar antes de saber para onde o demônio ia.

Cinco minutos depois, o loiro parou. Não havia nada á sua frente e mesmo assim ele estendeu a mão e tocou uma espécie de superfície invisível, desenhando ali um símbolo, que brilhou depois de terminado. Uma espécie de pequeno templo se revelou, o qual, depois de o rapaz passar pela porta, voltou a sumir. Com um piscar, Derek se teletransportou de volta para o ponto de partida, onde seus amigos o esperavam.

— E aí? - perguntou Hunter.

— Eu segui ele até entrar em um prédio que eu não sei bem o que é. Não é muito longe, posso transportar todos até lá se quiserem. - propôs dando de ombros.

— Ou podemos esperar até amanhã, quando Luna estiver conosco. - disse Drica, evidentemente se dirigindo à Caleb.

— Ainda é cedo. - respondeu o moreno. - Dá tempo de examinar o lugar antes de escurecer.

— Caleb, nós estamos cansados, patrulhando há horas e...

— Drica. - ele a interrompeu. - Amanhã podem nos descobrir, amanhã podem ir para outro lugar, amanhã podem haver mais deles... Nossa situação é melhor enquanto nós pudermos surpreendê-los e não eles a nós.

— Nós estamos bem. - tranquilizou-a Lena, segurando seu ombro. - Vai dar tudo certo. Confiamos no seu julgamento, Caleb, o que você decidir, nós faremos. - disse a última parte para seu líder, que ponderou por alguns segundos.

— Consegue levar todos nós? - perguntou Caleb para Derek, que assentiu. - Então vamos lá. - os graduados largaram suas mochilas no chão e tiraram suas capas, ficando apenas com o necessário: suas armas. Em seguida, todos seguraram nos ombros de Derek.

Logo, todos estavam no local em que o mais novo vira o loiro com a espada pela última vez. Assim que chegaram, Derek cambaleou e caiu sentado no chão, exausto por transportar tantas pessoas por uma distância razoável.

— É sério, Caleb. - pediu Drica uma última vez, apenas para o moreno ouvir. - Eu não tô com um bom pressentimento.

— Vai dar tudo certo. - foi apenas o que disse para a ruiva, antes de dar uma olhada ao redor. - Okay, qual a pegadinha? - perguntou em voz alta.

— Aqui. - disse Derek ficando de pé e repetindo os passos do rapaz loiro. Sua mão procurou por uma superfície até encontrá-la e reproduzir o símbolo que vira. O mesmo de antes aconteceu, todos ficarama atônitos ums segundo antes de andarem até mais perto do prédio, que apenas de perto foi possível ver, tinha no seu lado esquerdo uma cerca que continha uma enorme quantidade de ovelhas. - É... Um super feitiço de camuflagem. - comentou quando chegaram na frente da porta da construção.

Nenhum moveu um músculo. Todos nervosos imaginando o que poderia estar atrás daquela porta. Poderia ser a resposta para muitas perguntas, poderia ser apenas um novo mistério, mas o medo e a expectativa os impedia de entrar.
Hunter foi o primeiro a se mover, colocou sua lança em posição de luta e foi seguido pelos outros que também ficaram em guarda. Então, Caleb empurrou as portas.

O que se revelou foi um grande e largo cômodo de granito liso e bem iluminado. Com um grande corredor. Não havia nada além das orbes em cada coluna que provinham a luz. Nada, exceto um alçapão no fundo do cômodo. Cuidadosamente, todos andaram até lá, ouvindo seus passos ecoando e sentindo seus corações baterem mais fortes.

Quando estavam a dois passos de distância da porta de madeira do alçapão, este se abriu. O rapaz loiro saiu de lá, e parou na frente dos Guerreiros, que apontavam suas armas para ele. Não estava mais com roupas comuns, agora estava com a armadura negra dos Noctem, segurando seu capacete.

— Que bom que vieram. - disse ele com uma voz macia. - Estávamos esperando vocês. - sem se mover, os jovens ouviram o som das portas se fechando no início da construção. Era uma armadilha. - Mas sinto dizer que este não é o lugar que procuram.

— Quem é você? - conseguiu perguntar Caleb com uma voz esganiçada. - Você é Allen? Ele está aqui com você?

— Pode me chamar de General. - esclareceu pondo seu capacete. - E receio que o Capitão esteja em nossa base, onde ele é mais útil.

— Eu reconheço essa voz... - murmurou Derek tremendo. - Você atacou Melanie e eu, você a envenenou!

— Muito esperto garoto. - respondeu sacando sua espada e fazendo os jovens recuarem, paralisados por um medo que não conseguiam explicar de onde vinha.

— Mas acho que não aprendeu muito desde que nos vimos da última vez, já que novamente eu tenho você exatamente onde eu quero. Bem-vindos ao meu campo de treinamento. - e com essas palavras, inúmeros ruídos de passos puderam ser ouvidos do túnel de onde o General havia saído.

Os Guerreiros mal puderam correr de volta para as portas, quando dezenas de Noctem saíram do túnel e os atacaram. Cercados de todos os lados, os jovens não tinham outra escolha se não lutar. Tudo parecia uma grande bagunça, mas os cavaleiros de armadura pareciam de certo modo coordenados, atacando os inimigos sem esbarrar em seus companheiros.

Hunter brandia e girava sua lança como podia, conseguindo mais afastar os inimigo do que ferí-los realmente, já que não tinha tanto espaço para usar sua arma. Caleb arrancava cabeça após cabeça com golpes solitários enquanto os inimigos conseguiam apenas arranhar a cobertura de metal que era seu corpo. Derek queria poder tirar todos dali, mas esfraquecido, conseguia se teletransportar apenas alguns centímetros de distância, o que usava para se mover rapidamente pelo chão, dando golpes certeiros nas pernas dos cavaleiros.

Lena não parava de lançar suas adagas, tentando sempre atingir o rosto ou o ombro de seus oponentes, e quando o metal que trazia em seus bolsos acabou, começou a usar a armadura dos inimigos para fazer novas adagas, aquilo parecia sugar sua magia mais rápido, mas não tinha escolha. Drica brandia o machado com destreza ao mesmo tempo em que lutava corpo a corpo, derrubando inimigos, sem se importar com os ferimentos que lhe eram causados, pois logo se curavam. Mia começou usando seus poderes, queimando os inimigos ou os mandando para longe, mas a segunda tática não era efetiva devido ao espaço reduzido, apenas alguns minutos depois passou a usar seu arco e flechas.

Os cavaleiros eram fáceis de derrotar, fracos e sem experiência. Mas a cada um que derrubavam, lembravam das palavras do Nox que fizeram prisioneiro. Aqueles espíritos iam retornar para novos corpos, aquilo não passava de um treino para eles, que como vantagem traria a morte dos seis ali presentes.

Corpos se amontoavam pelo chão, quando cavaleiros diferentes apareceram, agora em um número levemente menor. Não eram diferentes na aparência, mas sim em sua postura, eles com certeza sabiam lutar e seriam mais difíceis de combater, e assim foi, a batalha ficou mais acirrada, com os jovens ficando cansados.

Em certo momento, as flechas de Mia acabaram, e esta foi até Lena, que com seus poderes pôs lâminas nas pontas do arco para que a morena pudesse lutar, porém acabaram encurraladas lutando juntas.
Perto dali, Drica enfrentava um cavaleiro duas vezes maior do que a maioria, ele a estava subjugando, usando sua espada para empurrá-la até o chão, ao que ela resistia usando o cabo de seu machado.

— CALEB! - gritou a ruiva para o líder, a poucos passos dali, pedindo ajuda com seu olhar.

Porém, o rapaz travou. Ajudar Drica... Significava chegar perto dela, perto como ele evitava chegar há dez anos desde o incidente naquela noite. Não conseguia fazer nada senão olhá-la, paralisado. E se os poderes dela saíssem de controle novamente? A lembrança de ter sua vida totalmente sugada surgiu em sua mente, e ele pôde sentir aquela dor novamente, uma dor que no momento ele associava com a morte.

Percebendo o perigo de Drica, e a paralisia de Caleb, Mia correu até a ruiva. Passou por entre os cavaleiros os mantendo levemente afastados usando seu poder sobre o ar. Chegando onde a amiga estava, acertou o Nox com uma das lâminas de seu arco, fazendo-o cambalear para trás e Drica cair no chão.

Os dois lutaram por um segundo, Mia evitando como podia os ataques com a espada com seu arco, até que o inimigo fez um movimento rápido que ela não percebeu, e perfurou sua barriga, na altura do umbigo.

O tempo pareceu parar por um segundo, todos ouviram o grito de Drica pela amiga entre o clangor das armas e ficaram sem reação momentaneamente ao ver a morena cuspir sangue. Em um último movimento, Mia com um aceno de cabeça, quebrou o pescoço do Nox usando a água em seu corpo, mas enquanto este caía, não largou a espada, o que fez a lâmina subir do umbigo até o ombro esquerdo da morena, abrindo um grande corte em seu corpo.

A garota caiu, o sangue jorrando de seu tronco e sua boca, a respiração não mais que um assobio, e os olhos perdendo a cor.

Nesse momento, uma grande fúria pareceu surgir em todos os outros que lutavam. Drica, com os olhos cheios de lágrimas, ficou de pé, e quando o próximo Nox foi até ela, segurou seu rosto por cima do capacete e depois puxou a mão para si. O cavaleiro caiu, não morto, mas totalmente atrofiado, sem conseguir se mover, apenas emitindo um gemido perturbador, a ruiva havia sugado a vida do corpo em que habitava. E repetiu esse processo com cada um que chegava perto.

Hunter girou sua lança o mais rápido que pôde, deixando a outra mão com garras enormes, rasgando tudo em que encostava. Derek se teletransportava velozmente, agora mais alto, cortando pescoços com o espadim e quebrando-os com chutes. Caleb golpeava desesperado com sua espada, queria ir até sua amiga, era sua culpa ela estar assim, por sua covardia, por seu medo estúpido.

Lena ficou estática, antes de dar um agudo e sofrido grito. Enquanto o fazia, manipulou as armaduras dos inimigos, de modo que fechou todas as frestas nelas com o próprio metal, decepando os membros e as cabeças de todos. Com tanta ferocidade vindo dos Guerreiros, os inimigos foram rapidamente derrotados, podiam ouvir mais chegando pelo túnel, provavelmente lutadores ainda melhores, mas não importava, o que importava era Mia.

Todos se reuniram ao redor da garota, inevitavelmente pondo seus pés na grande poça de sangue que se formara ao redor dela. Os olhares era preocupados e assustados, a respiração da morena era apenas um arquejo e seus olhos não pareciam enxergar.

— Drica... - murmurou Caleb pondo as mãos ao redor do rosto da melhor amiga. - Você pode curá-la? - a ruiva não respondeu, olhou para as feridas em seu corpo que não estavam se curando e seu lábio inferior tremeu. Estava esgotada, não tinha poder nem pra se curar, quanto menos salvar Mia.

— Desculpa Mia... - falou ela com uma voz estrangulada. - É um corte grande, você perdeu muito sangue e eu... Desculpa. - e abaixou o rosto enquanto as lágrimas escorriam por suas bochechas, Hunter a abraçou, sem conseguir dizer ou fazer mais nada, nunca tinha visto tanto sangue em sua vida.

— Temos que fazer alguma coisa. - disse Lena.

— Podemos levá-la. - disse Derek. - Eu consegui levar a Mel e...

— Não. - pronunciou-se Mia. - Não me levem. Só atrasaria vocês. - ela se forçava a dizer cada frase sem perder a voz.

— Mas...

— Você e Melanie, não tinham inimigos no encalço. Tinham Damon... Me deixem aqui.

— Não, Mia, de jeito nenhum. - rebateu Caleb. - Não vamos abandonar você. - ela sorriu para o amigo, e aquilo o destruiu por dentro. Como se todo seu interior tivesse sido esvaziado, aquele sorriso fez o moreno se sentir sem chão. Sua melhor amiga estava morrendo, por sua culpa e ele não podia fazer nada. Os sons de passos se tornaram mais fortes.

— Vocês tem que ir, campeão. - e num último esforço, ela tirou sua bandana do cabelo, puxou seu colar do pescoço e junto com o arco ainda em suas mãos, o pôs na de Caleb. - Façam uma estátua bem bonita pra mim, tá? - ele não sabia o que dizer, nenhum deles sabia, nada daquilo parecia real.

—Não podemos, deixar você aqui... Sabe-se lá o que vão fazer com você! - disse Hunter. - Podem usar seu corpo pra abrigar um demônio...

— Eu sei... Eu sei... - suspirou ela. - Mas não estou dando escolha pra vocês. Desculpem morrer assim, adeus.

Com essa última palavra, sua mão que ainda encostava na de Caleb bateu no chão, evocando grandes raízes que quebraram o mármore para surgir ali. Elas agarraram cada um dos jovens, arrombaram as portas e os jogaram do lado de fora, para em seguida usar os pedaços quebrados de mármore para selar novamente o local.

Derek foi o primeiro a se recuperar do ocorrido, e tentou se teletransportar para dentro do local novamente, mas estava muito fraco, apenas tremeluzia sem ir a lugar nenhum. Todos foram até os grandes pedaços de mármore e tentaram inutilmente movê-los. Menos Caleb, que apenas olhava para os pertences ensaguentados de Mia em suas mãos, até que finalmente se recompôs ficando de pé.

— Vamos embora. - falou ficando de pé. - Quando chegarmos em Canopus de novo não deixem as mochilas, eles podem tentar usar para nos rastrear.

— O que? - disse Lena incrédula. - Ir embora?! Mia está lá dentro!

— E se não formos agora o sacrifício dela terá sido inútil! - os dois se encararam, até que finalmente todos obedeceram o líder e correram na direção de Canopus, mas chegando perto da cidade, apenas colocaram as mochilas nas costas e deram a volta.

Pouco depois de deixarem os limites do local, Luna apareceu voando e com um rugido ela desceu para que todos subissem nela. Sentindo que algo estava errado, a dragão ganiu, olhando pra os jovens e ao ver o arco de Mia nas mãos de Caleb, alçoou voo dando o mesmo lamento que havia dado com a morte de Melanie e Cassandra. A viagem foi silenciosa, exceto pelo momento em que Derek disse baixinho:

— Sequer pudemos dizer adeus...

~*~

Mia respirava devagar enquanto sua visão ficava turva. Podia ouvir os Noctem lutando com as raízes que ela havia criado para tapar o túnel e conseguir mais tempo para seus amigos.

Não havia morrido pelas mãos daquele que amava.

Os Videntes tinham errado, e se erraram sobre aquilo, erraram sobre todo o resto.

Flash Back On

— Você morrerá pelas mãos daquele que ama. - falou Eduardo sem maiores delongas.

— O que...? - disse Mia confusa.

— É isso. - sustentou o de cabelos vermelhos, como se não entendesse a confusão.

— Isso... Isso é muito vago!

— Não é não. - disse Roxie naturalmente.

— É sim... Amor em si é uma palavra vaga, que tipo de amor, e o que pelas mãos significa? - todos os videntes deram leves risadas com a reação da Guerreira. - Que bom que divirto vocês.

— Perdão, arqueira. - desculpou-se Eduardo.

— Não falamos por enigmas ao contrário do que muitos dizem. - falou Zan com seu ar sonolento. - Ao falar de amor, falamos do amor que todos procuram e pelas mãos, significa... Bem... Pelas mãos.

— Pudemos ver você morrendo nos braços de alguém, de um rapaz na verdade. - procurou esclarecer Vivian, tirando uma mecha dos cabelos anis do rosto. - Não conseguimos ver o rosto, por alguma razão, mas conseguimos sentir o que você sentia por ele, e você definitivamente o amava, de um modo incrivelmente puro e sincero.

— Nenhum de nós sentiu algo assim. - disse Jeff num sussurro. - Foi muito profundo e envolvente para todos nós... - a garota apenas olhava para seus pés.

— Sentimos muito... Especialmente pelo que virá depois da sua morte.

— O que virá? - perguntou ela num sussurro.

— Não conseguimos enxergar direito. - disse Ollie. - Apenas vimos, uma bruxa, uma ave envolta por chamas, dor, sofrimento, algum poder muito grande e antigo... E mortes.

— Presumimos que os Guerreiros serão o alvo disso tudo. - continuou Eduardo. - Na verdade, temos quase certeza. Perdendo você, o desequilíbrio se alastrará e... Coisas ruins vão acontecer.

— Por que me contar isso? - perguntou a morena com o olhar triste.

— Isso você terá que descobrir sozinha, meu bem. Nos perdoe por sermos os portadores dessas notícias. - ela não esboçou reação. - Álvaro a levará para seu quarto. - o rapaz de cabelos Violeta saiu de seu cubículo e gentilmente puxou a garota para fora, segurando seus ombros.

— Adeus, arqueira. - disseram os seis Videntes que ficaram no recinto enquanto Mia saía de lá.

Flash Back Off

— Tudo vai ficar bem. - e com o mais leve dos sorrisos, sentiu-se dominar pelo sono.

~*~

— De seis vocês abateram apenas uma? Impressionante. - disse Médio saindo do túnel e chutando os pedaços de raízes que ficavam em seu caminho.

— Acho que os subestimamos, senhor. - defendeu-se o General andando ao lado de seu superior.

— Guarde suas desculpas para Máxima, não é como se eu me importasse. - falou quando finalmente chegaram até Mia. O homem a olhou atentamente antes de se abaixar para vê-la mais de perto. Depois de alguns segundos de contemplação, ele afastou uma mecha do cabelo dela que estava em seu rosto e tocou levemente sua testa. - Incrível... Ela ainda está viva.

— Isso é possível, senhor? - perguntou o cavaleiro, espantado.

— Ela tem uma incrível vontade de viver, meu caro. - abriu seu casaco e tirou dele três tubos de ensaio, um quase vazio, com um líquido de cor amarela esbranquiçada, e dois pela metade, um azul e outro rosa. - Então vamos proporcionar isso a ela. - ele destampo os vidros pela metade e despejou o conteúdo de um no outro.

— Senhor?

— Sabe... Máxima prometeu que eu poderia ter o meu exército novamente sabia? - comentou observando a reação borbulhante de seus líquidos.

— Quer dizer...

— Sim, meu exército de succubus. Que dias gloriosos foram aqueles! Ainda lembro de quando encontrei aquela moça... Ensaguentada, amarrada há uma árvore por arame farpado, assim como essa, uma linda sobrevivente. Seu coração ainda batia quando a encontrei... E o pouco que me disse, nossa ela estava furiosa com seus agressores, então eu a prometi vingança. - depois da eferverscência terminar, misturou lentamente o novo conteúdo com o do amarelo. - Eu a levei para meu laboratório e usando seu sangue e o ódio em sua alma... A trouxe de volta, mais poderosa. Depois de matar os que a condenaram ela aceitou me servir... - o amarelo esbranquiçado se tornou vivo, brilhante. - Ela infectou tantos... - Médio pareceu feliz com aquelas lembranças. - Até os destruírem, é lógico. Mas eu consegui guardar esse pouco de seu sangue. - observou o líquido dourado de perto. - Ambos esperando, para quando ela pudesse voltar e começássemos novamente.

Médio pôs a mão em cima da boca de Mia e como se atendendo ao chamado de seu toque, uma esfera, do tamanho de uma ervilha, levitou para a frente de seus olhos. Ele sorriu, maravilhado, e pôs a esfera brilhante em um dos tubos agora vazios. Ela ainda estava entorpecida, mas logo ele precisaria colocá-la em um recipiente melhor. Guardando a alma de Mia em seu casaco, ele delicadamente derramou o líquido amarelo dentro da boca da morena.

De início, nada aconteceu, mas de repente, o grande rasgo no tronco de Mia começou a se fechar, ao mesmo tempo em que seu cabelo pareceu se reconstruir da raiz até as pontas, ficando mais brilhante. Suas unhas cresceram em forma de fortes garras e seus músculos ficaram ainda mais definidos, sua pele mais pálida e seu lábios mais vermelhos.

Ela moveu seus dedos pelo mármore, o arranhando com as unhas, como se quisesse ter certeza de sua volta para este mundo. E ao abrir os olhos, ao invés da cor castanha que deveria haver ali, sua íris estava amarela como ouro líquido.


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Notas finais do capítulo

E ai gente? Foi tão emocionante pra vocês quanto foi pra mim?



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