Por você mil vezes - Se não fosse amor escrita por Suy


Capítulo 82
Se não fosse amor - Cap. 39: Novas esperanças.


Notas iniciais do capítulo

Bom diaaaa!!!
Capítulo muito especial hoje, dedicado a uma pessoinha que eu tive o prazer de conhecer graças a essa Fic. Tessa, meus parabéns, muitas felicidades, que Deus te encha de bençãos e alegrias. Obrigada por fazer de tudo isso aqui e pelas conversas bestas de todos os dias hahaha Um beijo enorme minha linda e que você tenha um dia incrível!

Boa leitura!



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POV Sophie Trammer

Sábado de manhã, o dia após meu aniversário. Matthew estava deitado ao meu lado na cama, assistindo a algum programa na televisão, para onde eu estava olhando distraidamente. Depois que todos tinham ido para as suas casas, após o jantar de comemoração, Matthew e eu tomamos um banho rápido e quando deitamos, ele caiu no sono na hora, mas eu fiquei divagando em meio a pensamentos. Eu não sabia explicar nem para mim, mas de alguma, ver todos os meus amigos ali, juntos, tinha mexido comigo. Eu não queria, nem conseguia imaginar ficar sem eles e não sei como eles ficariam sem mim. Eu sei que com o tempo eles iriam se acostumar com a minha ausência, mas mesmo assim, eu não queria que eles ficassem mal por minha causa.

“Amor?” Matthew colocou a mão em meu braço, me fazendo voltar minha atenção para ele.

“Que foi?”

“Falei que vai estrear um filme muito legal e perguntei se você quer ir ver.” Ele riu.

“Ah, sim...” Sorri. “Claro amor, vamos sim.” Beijei seu rosto e deitei a cabeça em seu peito.

“Tudo bem?” Ele começou a alisar minhas costas e eu assenti.

“Você vai à empresa hoje?” Perguntei.

“Sim... Eu devia estar me arrumando para ir, na verdade.” Ele riu. “Mas não vou demorar. Quer sair para almoçar?”

“Hum... Não.” Olhei para ele. “Prefiro sair para jantar.”

“Você quem manda.” Ele sorriu e me beijou. “Eu ligo para o Luke vir, ou quer ir ficar no apartamento dele?” Essa era uma regra que eles tinham criado, eu não podia ficar sozinha, então quando Matthew saia para trabalhar, Luke ou Kenny vinham ficar comigo ou vice-versa.

“Eu vou para lá, fiquei de ajudar ele a organizar o closet.”

“É, mas nada de abusar viu?”

“Pode ficar tranquilo, não vou fazer o trabalho pesado, prometo.”

“Acho bom mesmo.” Ele beijou minha testa e levantou indo para o banheiro.

Fiquei passando os canais rapidamente, procurando algum filme para assistir quando comecei a ouvir barulho de unhas na porta do quarto. Revirei os olhos e abri a porta, Baby e Cristal entraram correndo e pularam na cama e eu voltei a me deitar no meio deles dois, prestando atenção na televisão enquanto fazia carinho neles. Matthew saiu do banheiro enrolado em uma toalha e parou, cruzando os braços.

“Vai fazer eu me atrasar mais ainda desse jeito Sophie.”

“Por quê?”

“Por que ainda está deitada, nem sequer trocou de roupa e eu não vou te deixar sozinha.”

“Desde quando eu preciso me trocar para ir para o apartamento do Luke?” Perguntei confusa. Sempre que eu ia para lá de manhã, nem me dava ao trabalho de trocar de roupa, ia de pijama mesmo.

“Acontece que o Ethan voltou e deve ir visitar o irmão.” Ele se aproximou ficando ao meu lado.

“E...?!”

“E que eu sou legal, mas não sou idiota de te deixar com uns shorts que cobrem metade da sua bunda no mesmo apartamento com o seu ex.” Ele foi andando para meu closet e eu bufei.

Matthew voltou com uma calça jeans e uma camiseta e colocou ao meu lado na cama, entrando de novo no closet e eu entendi que era melhor me trocar mesmo. Levantei e vesti a calça, tirei a blusa e olhei para Matthew que estava se vestindo também.

“Me joga um sutiã.” Pedi e ele pegou um de dentro da gaveta onde os guardava e jogou para mim. “Esse?” Franzi a testa olhando para o sutiã que ele tinha pegue. “Não dá pra pegar um mais bonitinho?”

“Ninguém vai ver ele.” Ele falou e eu suspirei derrotada.

“Grosso.” Resmunguei e ouvi seu riso.

Terminei de me vestir e fui ao banheiro escovar os dentes, quando voltei para o quarto, Matt estava calçando os sapatos. Sentei ao seu lado e ficamos conversando sobre como estavam as coisas na empresa e eu disse que queria ir lá e participar da próxima reunião com os acionistas. Quando ele terminou, peguei sua gravata e dei o dó enquanto ele esperava pacientemente que eu terminasse. Fomos para a cozinha e começamos a tomar nosso café da manhã. Matthew terminou primeiro e ficou me observando enquanto eu continuava comendo.

“O que foi?” Perguntei.

“Estou esperando você terminar de comer.”

“E precisa ficar me encarando?”

“Te incomoda?”

“Na verdade um pouco...” Disse dando mais uma mordida no bolo que estava comendo e Matthew apoiou o queixo nas mãos, me encarando mais fixamente e eu revirei os olhos.

“Você se esforça muito pra ser irritante assim, ou saí naturalmente mesmo?”

“Saí naturalmente.” Ele sorriu cinicamente e olhou para o relógio.

“Já entendi! Meu Deus!” Levantei do banco e coloquei meu bolo e torradas em um prato, peguei minha xícara de café e saí andando em direção à porta.

“Vai levar a comida junto?” Matthew disse vindo atrás de mim e rindo.

“Mas é claro, só assim pra poder comer sossegada.” Falei.

Entramos no elevador e Matt apertou o botão para o andar de Luke, as portas abriram e entramos no apartamento dele, eu ia tocar a campainha, mas graças a deficiência de Matthew de bater em portas antes de entrar em algum lugar, isso não foi possível. Luke estava na cozinha e nem sequer se assustou quando entramos.

“Bom dia vida minha!” Disse e ele soltou um beijo para mim.

“Bom dia meus amores.” Luke falou e eu sentei no sofá, cruzando as pernas e colocando o prato em meu colo, enquanto ligava a televisão e Matt foi dar um abraço em Luke.

“Eu vou indo lá então, não devo demorar muito, umas 2hrs só.” Ele disse e eu o olhei.

“E meu beijo?” Disse perplexa, ele riu e se abaixou me dando um beijo.

“Agora posso ir?” Ele perguntou e eu fiz que não com a cabeça. “Outro beijo?”

“Sim.” Sorri e ele me beijou de novo. “Mais um...” Disse e ganhei mais um beijo.

“Outro?” Ele perguntou ainda rindo e eu assenti rindo também. Começamos a nos beijar de uma forma mais intensa e quando menos percebi, já estava deitada no sofá com ele por cima de mim.

“Crianças, vão ao menos para o quarto, por favor!” Ouvi Luke gritando e caímos na gargalhada.

“Está bem, é melhor você ir logo para voltar logo.” Falei e dei um beijo rápido em Matthew, que beijou minha testa e se levantou.

“O almoço é por minha conta hoje, Luke.” Matthew falou e eu voltei a sentar, bebendo meu café.

“Ai, graças!” Luke sentou ao meu lado. “Hoje eu estou naqueles dias que dá preguiça até respirar.”

“Até mais tarde então.” Matt disse indo para a porta. “E juízo vocês dois!” Ele disse antes de fechá-la.

“E o Ken? Dormindo ainda?” Perguntei para Luke que estava comendo uma das minhas torradas.

“Foi comprar uns equipamentos novos.”

“Tá pronto para operação closet novo?”

“Eu tenho escolha?” Ele me perguntou desanimado.

“Nenhuma! Já está passando da hora de liberar algum espaço ali. Vamos começar logo!” Levantei o puxando pelo braço e fomos para o closet dele.

Sentei em um banco e Luke começou a tirar as peças de roupa, me mostrando o que eu acharia que deveria continuar lá e o que deveria ir embora. Como sempre, doávamos as roupas que não queríamos mais e eu iria fazer isso quando mudasse para a casa nova, tirar algumas peças que não iria mais querer e afinal, acho que tudo iria para doação mesmo quando eu começasse a piorar.

“Não sei... Não acha que já está fora de moda?” Luke pôs uma camisa em cima do seu corpo, a analisando na frente do espelho.

“É camisa preta, camisa preta é básica, você tem que ter uma. Essa fica.” Peguei uma listrada que estava no chão. “Listras horizontais não dá né?”

“Em minha defesa, essa eu ganhei.” Ele a pegou de volta. “Do meu querido marido.”

“Seu querido marido tem péssimo gosto para presentes.” Falei debochando.

“E você? Não está sentindo nada, está tudo bem mesmo?”

“Sim...” Falei e ri com um pensamento que me veio a cabeça.

“O que foi?” Luke riu também e eu sentei em cima da sua mesa.

“É que eu estou me sentindo bem, de verdade. Acho que ver todo mundo ontem, se divertindo, brincando... Aquele clima descontraído, diferente dos pesadelos que os dias anteriores tinham sido... Tudo tão melancólico, me ajudou a melhorar.”

“Eu entendo.” Luke suspirou e se aproximou de mim. “Acho que vai ser melhor para você viver nesse ambiente mais alegre mesmo, é que tudo isso nos pegou desprevenidos, sabe?” Eu assenti. “Vou beber água, quer um pouco?”

“Água?!” Ah, não...

“Sim, o que foi?” Luke me olhou confuso.

“Eu esqueci de trocar a água do Baby e da Cristal.” Desci da mesa, saindo do closet. “Eu vou lá rapidinho.”

“Não quer que eu vá?” Luke veio me seguindo.

“Não precisa, só vai levar cinco minutos no máximo.” Sorri. “Ainda não estou tão inválida que não possa colocar um pouco de água em duas vasilhas.” Debochei, mas Luke me olhou feio.

“Quando vai parar de fazer piada da situação?”

“É rir para não chorar.” Dei de ombros e saí do apartamento de Luke, voltando para o meu.

Quando entrei em casa, peguei as vasilhas de água dos dois monstrinhos, como Matthew chamava, as lavei e coloquei água limpa e geladinha. Os dois atacaram as tigelas, pareciam comer a água ao invés de beber. Aproveitei e coloquei mais um pouco de ração para eles e fui limpar as sujeiras que eles tinham feito na varanda. Como eu sabia das tendências dramáticas de Luke, mandei uma mensagem avisando que só estava terminando de limpar o banheiro dos cachorros e já estava subindo. Era muito chato ter que contar o tempo todo o que estava fazendo e nunca ter um momento a sós para mim, mas eu entendia que eles só estavam tentando cuidar e se preocupavam com meu bem estar e eu podia reclamar de ter pessoas que gostavam de mim? Acho que não...

Terminei de limpar tudo e saí do apartamento, trancando a porta.

“Sophie!” Ouvi uma voz conhecida quando o elevador abriu. Virei na direção e vi Richard se aproximando de mim.

“Você?!” Perguntei perplexa.

“Podemos conversar?” Ele disse em um tom sério, o mesmo tom sério de sempre, porém não era nada agressivo como ele costumava usar comigo.

“Richard, eu não quero ter uma discussão agora e...”

“Eu não vim discutir, vim conversar.” Ele falou e eu, ainda chocada com aquilo tudo, abri a porta de novo.

“Entre.” Falei e ele entrou atrás de mim, fechando a porta. “O que houve?” Cruzei os braços.

“Teve noticias de Beatriz?”

“Não mais. Da última vez que verifiquei, há algumas semanas, ela estava em Chicago. Já faz algum tempo que ela se estabeleceu lá.”

“Hum...” Ele falou pensativo.

“Era só isso?” Perguntei.

“Não... Na verdade, Brian me contou o que está acontecendo com você. Você sabe... Que está doente.”

“Ah... Bom, acredito que você e Amy já soltaram fogos de artifício.” Disse e Richard riu amargamente.

“É sério mesmo? Toda essa história de tumor?” Ele perguntou e eu fiz que sim com a cabeça. “Eu...” Ele falou tirando um pedaço de papel do bolso. “Eu tenho alguns contatos...” Richard me entregou o papel. “Petrus Heinz é um pesquisador alemão e tem algo que pode te ajudar. Pelo o que ele me disse, não dá para curar por completo, mas se tudo ocorrer bem, pode diminuir o tamanho do tumor, isso diminuiria os sintomas e te daria mais uns bons anos de vida, além de tornar uma possível cirurgia mais fácil.” Ele falou e eu o olhei incrédula.

“Isso... Não...” Senti meus olhos encherem de lágrimas. “Mas eu fui atrás em todos os lugares possíveis, como não soube disso?”

“São novos experimentos, uma medicação que começou a ser testada no ano passado, não tinham permissão para disponibilizar. Mas os testes foram promissores, na maioria dos casos, o tumor foi reduzido em, pelo menos, 60%.”

“60%?!” Fiquei boquiaberta. “Mas... Isso é incrível.” Sorri involuntariamente. Eu havia pedido mais tempo na noite anterior e talvez eu estava ganhando o que pedi naquele exato momento.

“O pesquisador responsável não fala nossa língua, mas acredito que seu namorado não vai se importar de fazer o papel de tradutor como na última vez que lidamos com alemães.”

“Eu fiz um curso de Alemão.” O olhei ainda sorrindo pela felicidade que estava sentindo naquele momento, eu tinha uma pequena esperança de ter mais oportunidades de viver minha vida.

“Ótimo.” Ele disse tranquilamente. “Ok então, eu já vou indo.” Ele falou indo em direção a porta e eu caí na real.

“Richard, espera!” Disse e ele se virou de volta para mim. “Por quê?”

“Porque o quê?” Ele franziu a testa.

“Por que está tentando me ajudar?” Falei sem conseguir entender nada. “Eu achei que depois de tudo o que houve sobre você e Beatriz, depois de tudo o que eu fiz...” Parei e respirei fundo. “Achei que ia ser o primeiro a comemorar quando soubesse disso.” Falei e ele riu.

“Um Trammer não dá as costas para o outro.”

“Eu não sou uma Trammer, você melhor que ninguém sabe disso.”

“Você pode não lembrar, era muito pequena, mas meu pai sempre contava histórias de como os Trammers sempre conseguiam sair por cima de todos os problemas, que eram uns teimosos que não aceitavam opiniões que não fossem requeridas por nós mesmo e que, principalmente, não desistíamos do que queríamos, não importa se tivéssemos que passar por cima de alguém para alcançar nossos objetivos.”

“Aonde quer chegar com isso?”

“Tentei de tudo para te atrapalhar, te desanimar, te fazer desistir... Mas você não fez nada disso. Quando te demiti, eu pensei: Consegui!” Ele riu. “Tinha as rédeas da situação de novo, aí você me volta e compra parte das minhas ações, assim assumindo oficialmente a empresa.”

“E você me odeia mais do que nunca por isso.”

“Sabe a primeira coisa que me veio na cabeça assim que coloquei meus pés fora daquela empresa?” Fiz que não. “Primeiro eu senti alivio. Nunca gostei daquele lugar... Meu pai não dava atenção para mim ou minha mãe, ele sempre estava ocupado demais trabalhando. Nunca quis assumir aquela empresa, mesmo sendo minha por direito, eu apenas não queria dar o braço a torcer, não queria admitir que você ia se sair melhor que eu. Então quando você fez aquela bela cena, recuperando o comando de tudo, tão decidida, tão imponente... Com o nariz em pé. Aquela postura de que nada pode me parar...” Ele ficou sério. “Olhei para o prédio e disse para mim mesmo, que uma legitima Trammer tinha assumido a frente de tudo.” Sequei as lágrimas que haviam caído enquanto ouvia Richard falar. “Ligue ainda hoje, estão esperando sua ligação, vão mandar os medicamentos o quanto antes.” Eu assenti em silêncio, congelada no mesmo lugar. “A propósito...” Ele pegou uma caneta e o papel que havia me dado e escreveu algo atrás, me devolvendo. “Essa é a conta que foi aberta em seu nome, conforme meu pai pediu. Não foi mexido em um centavo sequer. Achei que entregar uma conta com milhões de dólares, não ensinaria nada a uma adolescente, por isso mantive em sigilo, queria que aprendesse o valor do dinheiro e que é preciso trabalhar muito para se ter o que merece. Sei que não precisa desse dinheiro, mas em todo caso, é seu.” Ele deu de ombros. “Faça com ele o que quiser.” Eu concordei ainda em silêncio e Richard saiu.

Sentei no sofá olhando para o pedaço de papel que ele havia me dado, ainda chocada com tudo o que eu tinha ouvido, com tudo o que Richard tinha falado e uns momentos depois a porta se abriu. Quando dei por mim, Luke já estava abaixado de frente para mim, preocupado.

“Você está chorando. Eu sabia, não devia ter deixado você vir sozinha. O que aconteceu? O que você está sentindo? Onde está doendo?” Eu fiz que não com a cabeça e pedi um minuto para recuperar o meu fôlego.

“O Richard...” Sussurrei e limpei a garganta, Luke me olhava com uma expressão de completa confusão. “Richard saiu daqui, agora a pouco.”

“Então foi isso? Aquele filho da mãe veio te encher de novo?”

“Não... Não, pelo contrário.” Eu comecei a rir e olhei para Luke. “Foi a conversa mais bizarra que eu já tive com ele.” Luke pareceu chocado com o que tinha ouvido e eu contei a ele como tudo tinha acontecido.

“Tem certeza? Sobre esse remédio?” Luke perguntou com a voz falha.

“Eu não sei, o Richard me deu o contado... Vou ligar agora mesmo!” Me estiquei pegando o telefone e disquei o número que estava no papel.

Petrus me explicou tudo sobre o medicamento, com uma certa cautela, já que eu não era nenhuma profissional em falar Alemão, mas dava pra entender algumas coisas. Ele disse que o motivo de ter se dedicado tanto a isso por tantos anos, era por que havia perdido seu pai por conta de uma cirurgia no cérebro para a retirada de um tumor, quando ainda era pequeno e vinha se dedicando a encontrar uma cura mais viável e menos perigosa que operar ou que ao menos deixasse esse procedimento menos perigoso. Ele me contou sobre alguns efeitos que poderiam ser causados por conta da medicação, mas não era nada muito absurdo, eu já tinha passado por coisas piores e ele me pediu que entrasse em contato com o médico que estava cuidado do meu caso antes de começar a tomar os remédios, apenas para saber se eu teria alergia ou algum tipo de intolerância há algum dos componentes e informou que estaria enviando as medicações no dia seguinte. Quando desliguei o telefone, contei tudo detalhadamente para Luke sobre o que Petrus havia me dito e comemoramos animados. Era a primeira esperança concreta que tínhamos de que eu melhorasse e mesmo não sendo algo certo, por existir a possibilidade de eu não poder tomar os remédios e se tomasse, ainda havia também a chance de não diminuir o tamanho do tumor, já era alguma coisa.

“Já ouviu falar que pra quem não tem nada, metade é dobro?” Luke disse rindo e me fazendo rir também.

“É justamente isso!” Falei e voltei para o apartamento de Luke com ele.

Algumas horas passaram e já estávamos quase terminando de arrumar o closet, quando ouvimos a porta abrindo. Fomos para sala e Matthew entrou com Kenny, carregando algumas sacolas com nosso almoço e cerrou os olhos quando nos viu.

“Vocês aprontaram alguma coisa.” Matthew falou desconfiado e Luke e eu trocamos olhares.

“Você fala ou eu falo?” Perguntei para Luke.

“Você fala.” Luke riu.

“Falar o que gente?” Kenny disse confuso.

Eu respirei fundo, tentando conter minha alegria e entusiasmo, sem muito sucesso. Contei para Matthew e Kenny sobre minha conversa com Richard e sobre a ligação para Petrus. Matt não conseguiu conter a emoção, me fazendo ir ás lagrimas ao vê-lo tão feliz também.

“Isso...” Matthew levantou e me abraçou. “Isso é maravilhoso!” Ele disse, Luke e Kenny vieram nos abraçar também.

“Se tudo der certo, eu vou poder ter mais tempo com vocês, podemos até pensar em planejar um futuro, nós todos!” Falei emocionada.

“Vamos sim meu amor.” Luke disse e beijou meu rosto.

“Você vai ver, vai dar tudo certo, eu tenho certeza disso!” Ken falou.

“Já deu tudo certo!” Matt me deu um beijo.

Eu não queria criar expectativas, mas era impossível não fazer isso, porque só a mínima possibilidade de poder ter a chance de mais alguns meses, quem sabe anos de vida, significava muita coisa para mim. No fundo eu não sentia que era a minha hora de me despedir de todo mundo, embora eu estive consciente dos riscos desde o começo, eu acho que meu subconsciente simplesmente não aceitava isso, ele se recusava a me deixar ser derrotada por um simples tumor.

POV Matthew Davis

Fazia uma semana desde que Sophie tinha tido a ilustre visita de Richard. Eu estava com o pé atrás em relação à isso, assim que ouvi sobre, mas quando soube o motivo da vinda dele, confesso que até a raiva que sentia por ele passou um pouco. Estávamos todos ansiosos para saber como ela iria reagir a esse novo tratamento, nossas esperanças estavam em seu auge. Mesmo que nesses poucos dias ela tenha tido que enfrentar convulsões, enjoos, dores, tonturas, tremedeiras... Ela passou por tudo isso com muito otimismo, um otimismo que nos contagiava. Ela não se sentia a vontade o suficiente para falar sobre como estava se sentindo de verdade, eu sabia quando ela estava sentido dores, mas ela sempre negava e falava que não era nada demais, bastante suportável. Mesmo eu sabendo a verdade, não questionava. Eu imaginava que pra alguém que sempre foi independente se ver dependendo de todos para fazer tarefas pequenas e simples, como ir a um supermercado por exemplo, ou até o costume de ficar sozinha em casa... Tudo isso havia sido tirado dela por nós mesmos, que fazíamos o papel de chatos, mas não dava para deixar ela sozinha, isso era fato.

No dia anterior, voltando para casa depois do trabalho, estava parado no sinal, quando olhei para o lado e vi uma joalheria, que me chamou a atenção. Ouvi uma buzina e percebi que estava parado, mesmo com o sinal já tendo aberto, dei a volta no quarteirão e estacionei na rua ao lado da joalheria, entrei e pedi para ver a peça que tinha me interessado.

“Aqui está!” Um senhor, de cabelos grisalhos, disse para mim, ao entregar uma caixinha.

Quando a abri, vi o anel que tinha me feito parar ali.

“É muito bonito...” Falei distraído ainda admirando a peça, com um diamante rosa e rodeado de outros pequenos diamantes.

“Ela deve ser muito especial...” O senhor falou e eu olhei para ele. “Pela forma que está sorrindo para o anel, só pode ser uma mulher especial.”

“Ela é sim.” O devolvi o anel. “Eu só...” Falei um pouco sem graça. “Não conversamos ainda sobre dar esse passo, então não sei se estaria sendo precipitado e honestamente, se ela disser um ‘não’, vai ser muito constrangedor.”

“Com a minha experiência com mulheres e joias...” Ele riu. “Elas gostam de ser surpreendidas, por mais que digam o contrário. Você deve amá-la, não é?”

“Sim, muito.”

“Acha que ela sente o mesmo por você?” Pensei por um segundo e assenti. “E acha mesmo que se pedisse a ela para passar o resto da vida com o senhor, ela iria dizer não?” Quer saber? Não é hora de ter medo dos nãos que eu posso receber...

“Quando o anel fica pronto?” Perguntei e o senhor sorriu mais abertamente.

“Esse modelo aqui é exclusivo, feito sob medida. Se puder trazer a medida ou até mesmo algum anel que sirva em seu dedo, a peça fica pronta em uns 10 dias.”

“Eu vou trazer amanhã então.” Falei e apertamos as mãos nos cumprimentando.

Saí da joalheria e foi só entrar no carro e respirar mais fundo para sentir a dúvida sobre o que estava prestes a fazer. Casamento... Sophie, eu e casamento. Não soava ruim, eu podia imaginar nós dois, uma cerimônia simples, família e amigos nos olhando enquanto fazíamos nossos votos e ela mesma já tinha dito algumas vezes que queria aproveitar todo o tempo que tivesse comigo, o problema é que eu não sabia até quando isso iria. Bom, ainda terei 10 dias a partir de amanhã para pensar sobre isso... O plano era, de alguma forma, mencionar sobre casamento sutilmente, apenas para observar a reação dela, se ela não vomitasse ou surtasse, eu a pediria para casar comigo, do contrário... Melhor não pensar no contrário, pensamento positivo Matthew.

Cheguei ao andar do apartamento de Sophie e fiquei planejando o dia seguinte mentalmente. Não deveria ser muito difícil conseguir um anel dela, ela tinha tantos que nem sentiria falta. Então antes de ela acordar eu iria invadir silenciosamente o closet e pegar um e...

“Ah, olha só quem chegou!” Meus pensamentos foram interrompidos por Sophie. Baby e Cristal pularam em cima de mim, quase me fazendo cair. “Sabe o que é isso aqui rapazinho?” Ela mostrou uma toalha para mim.

“Acho que uma toalha...” Falei com diversão sem entender nada, mas ela estava séria.

“Não é uma toalha, é a sua toalha.” Ela cruzou os braços. “Quantas vezes eu já pedi pra não deixar toalha molhada em cima do sofá? Meu Deus...” Ela bufou e foi andando até a cozinha. “É tão difícil assim entender?”

“Desculpa, um erro meu. Não vai acontecer de novo.” Disse tirando o paletó. Sentei no sofá afrouxando a gravata e coloquei os pés em cima da mesa.

“Se não tirar esses pezinhos sujos daí, eu corto eles fora!” A ouvi gritar e revirei os olhos, começando a me questionar acerca dessa história de casamento.

Liguei a televisão e quando ia me levantar para ir a cozinha procurar algo para comer, Sophie apareceu do meu lado com um prato e talheres, os colocando na mesa a minha frente.

“Eu pedi aquela lasanha que você gosta, sem azeitonas e com muito molho. Ah e no forno, tem uma torta de maçã que eu fiz para você.” Ela sentou em meu colo e me beijou. “Você demorou hoje, senti sua falta.” Ela sorriu me fazendo sorrir.

“Perdi a hora no trabalho...”

“Sei como é, já passei muito por isso.” Ela riu e me deu um beijo rápido. “Luke está lá dentro com Mabel, eles estão me ajudando a empacotar o resto do closet. Dá pra acreditar que em menos de um mês a gente vai para a nossa tão sonhada casa?”

“Eu mal vejo a hora.” Tirei uns fios de cabelo do seu rosto e percebi como seus olhos brilhavam para mim.

“Eu vou ver como estão as coisas lá dentro, você me chama se precisar de algo.” Ela beijou meu rosto e se levantou entrando no quarto.

É... Definitivamente é a mulher com quem eu quero me casar.


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