– E então senhor Enzo, posso saber aonde vamos? – fala a garota descendo com todo cuidado a escadaria que dá acesso ao estacionamento interno da faculdade. “Privilégios dos riquinhos” ela e Serena costumavam zombar.

Enzo para ao lado de uma moto preta e começa a mexer na mesma.

– Não, você só pode estar louco! Você acha mesmo que vou andar de moto com você de vestido? Sem chance, filho. - diz ela voltando pelo caminho que fez.

– Di, Di, Di. - o rapaz chama a puxando pelo braço. - olha, é só não se apertar muito a mim okay? Relaxa, não vou te estuprar com minha bunda! Anda, vem. – disse a puxando mais para perto dele e da moto.

– Você só pode estar de brincadeira. - diz a moça pegando o capacete da mão do rapaz.

– Você vai amar o passeio, pode apostar. – diz o rapaz rindo e subindo na moto.

– Duvido!

~*~

– Ainda bem que o vestido é rodado. – a garota grita sobre o barulho brutal do trânsito enquanto eles estão a toda velocidade. Uma mão vai no ombro do rapaz, a outra na barra do vestido.

– Sério? Porque eu estava pensando o oposto disso. – grita o rapaz em resposta, logo em seguida leva um tapa da mão que segurava o vestido e que rapidamente volta para o mesmo.

– Você ainda não me disse onde está me levando.

– Te falei que seria pra jantar, isso é o suficiente pra muitas pessoas, sabe.

– Pra mim não é!

– Imaginei. – o rapaz parou em um semáforo.

–Você só pode estar muito maluco se acha que haverá um restaurante vazia no dia de hoje.

– Qualquer coisa a gente come em uma barraquinha de churrasco.

– Sabe, não seria uma má ideia!

– Vocês mexicanos. – diz o rapaz soltando uma breve gargalhada e partindo trânsito á dentro.

~*~

– Ainda não acredito que esse restaurante esteja tão vazio.

Diz a moça após fechar o cardápio e dispensar o garçom despejando o seu pedido, assim como também o rapaz. O garçom repetiu novamente sobre Quesadilla e Poutine para ter certeza que anotara os pedidos corretamente, sendo confirmados tais pedidos pelo garoto mal-humorado.

O papo foi rendendo sobre tudo que se pudesse imaginar, principalmente sobre a falsa história contada por Enzo que havia dito ter viajado apenas ele e Dante para arejar um pouco a mente, a garota de certa forma estranhou, porém, não questionou.

– Mas e você, o que fez nesses dois dias de feriado?

– Bom, liguei para meus pais, e conheci uma pessoa nova. – fala a moça saboreando com os olhos o seu prato que acabara de chegar.

– Nossa! Quem é essa pessoa? Qual o nome dela? É gata?

– Olha que é bonita é! Mas você só errou na conjugação do gênero. – diz abocanhando seu primeiro pedaço da Quesadilla.

“Bosta!” grita o rapaz mentalmente após lembrar-se do que Dante disse sobre o tal ‘ataque do negão’.

– O nome dele é Nick. Ele é extraordinário! Tem 21 anos, mas tem cara de 16, 17. Ele é adotado sabe, tem olhos verdes e cabelo loiro, na verdade pensando bem ele parece irlandês, já perguntei qual a verdadeira nacionalidade dele e ele me falou que nunca buscou saber, que está contente de como é a vida dele. Ele foi fruto de uma inseminação artificial sabe, pra todos ele diz que é adotado pra não ter que explicar todo esse processo de inseminação e tal, achei muito leal da parte dele não se importar em me contar e explicar sobre isso.

E assim se passaram 15 minutos ao qual eles comiam e Diana falava sobre Nick, seu tão novo e interessante amigo.

Enzo já havia acabado seu jantar e nem mais prestava atenção na moça, ele agora brincava com seu garfo nos seus restos de queijo deixado no prato. Ele tentou, segurou e prendeu, mas uma hora deixou de conter e disse tudo que queria, mas não devia dizer.

– Você está de brincadeira comigo né?

– Hãn? – diz a moça saindo de seu devaneio de palavras.

– É sério isso? – diz ele com o olhar mais indiferente e talvez até mais significativo do mundo. – Eu te trouxe para jantar, para termos um tempo só pra gente longe daquele maldito quarto e você me passa o jantar inteiro falando de um carinha qualquer que você está toda apaixonadinha.

– Eu não estou apaixonada por ele. Eu mal o conheço.

– Sério? – disse com grande tom cético e irônico – Pois não parece! – diz ele pegando seu dinheiro da carteira e jogando sobre a mesa e se retirando com passos brutos e firmes.

A garota sem reação, sem saber o que fazer joga o peso de seu corpo sobre a cadeira e tenta entender o que acabara de acontecer naquela mesa. Fechou os olhos, expirou e comeu seu último pedaço de Quesadilla, sua comida favorita, pegou o dinheiro sobre a mesa e se dirigiu ao caixa para pagar o jantar.

Em sua mente ela já havia admitido o erro. Ela e Enzo nunca se deram bem, e quando o rapaz tem uma atitude de talvez uma socialização entre os dois ela fala de outro cara. De outro cara. Logo para Enzo que ás vezes é excessivamente conservador, logo para ele que tem seu ego do tamanho de toda a zona tropical de temperatura, logo para ele que mal conseguia ouvir seus bom dias quem dirá então sobre alguém que nem conhecia. Ela reconheceu mentalmente o tamanho de sua mancada, mentalmente.

A garota procurou ao longo do estacionamento e viu a moto lá, parada. Logo próximo à moto tinha um banco, onde havia um rapaz de jaqueta preta sentado mexendo furiosamente no celular. “Com quem será que ele está falando?” Foi tudo que ela conseguiu pensar enquanto se dirigia a ele.

– Eu sabia que não me deixaria no restaurante sozinha.

– Deveria. - diz o rapaz sem olhar para a garota guardando o celular no bolso da jaqueta.

– Sabe, o Nick...

– Acho que já deixei bem claro que não quero saber nada desse cara. - diz ele se virando para a moça, aparentemente enfurecido.

– Isso acho que você vai querer saber. - o rapaz não se pronunciou - ele só veio aos Estados Unidos de passagem no feriado para ver a mãe - diz a moça assoprando suas mãos pra aquecê-la. - Ele na verdade é Canadense.

– Pensei que todo o encontro de vocês tivesse se resumido ao fato de ele parecer mais jovem.

– E foi. Ele me contou pelo whatsapp.

– Ele tem seu número?

– Ele me pediu e não vi problemas, ele até agora se demonstrou um ótimo colega.

– Entendi.

Os dois se silenciam por um tempo apenas observando o movimento das pessoas que passavam por ali.

– Eu não entendi o porquê de tudo isso.

– Acho melhor irmos embora. - diz o rapaz se levantando.

– Enzo eu quero uma explicação. - diz a moça séria.

O rapaz se agacha na frente da moça se apoiando nos joelhos dela e a olha nos olhos.

– Sério que ainda não entendeu?

– Seria tão óbvio assim?

O garoto apenas deu um leve sorrisinho e se levantou.

– Deixemos isso pra outra hora. Estou cansado da viagem, quero dormir.

– Mas En...

– Vamos logo Di, se não te deixo aí. – diz o rapaz já de pé de costas para ela.

– Você nem é louco! – sorriu.