– Vocês dois estão me escondendo alguma coisa – insinuou Diana quando Serena e Thomas trocavam olhares e sorrisinhos cúmplices pela 3° vez naquela tarde.

– Osh Di, é claro que não, porque a gente esconderia algo de você? – respondeu Serena e logo depois pegou um papel que estava no chão e o jogou no lixo.

– Eu quem deveria estar perguntando isso, não?

– Deixa de ser boba mulher, a gente não tem porque te esconder nada.

– Então eu posso saber o motivo dos olhares e sorrisinhos cúmplices? – perguntou erguendo uma de suas sobrancelhas e se sentando em uma mesa da praça de alimentação junto com eles.

– Eita Di, eu acho que você dividir quarto com o Enzo está afetando seu cérebro hein. Toma cuidado.

– Haha, muito engraçadinho você Thom. – o garoto começou a rir e se dirigiu ao Mcdonald para fazer seus pedidos, deixando apenas as duas garotas a sós na mesa.

– Enfim, vai me dizer ou não o porquê das gracinhas? – Diana já estava ficando irritada com isso, odiava de toda alma ser a ultima, a saber, das coisas, quem dirá então que lhe escondessem e não quisessem lhe contar, aí ela odiava mesmo.

– Você vai brigar comigo se eu te disser. – falou Serena brincando com seus dedos sobre a mesa.

– Então a merda foi grande né Serena, pra eu brigar com você...

– Eu... Eu decidi que vou pedir desculpas ao Gabriel. O que eu sinto por ele é maior que o meu orgulho então vou jogar esse meu patético orgulho de lado e vou fazer uma surpresa pra ele. – falou a menina ainda brincando com seus dedos sem conseguir encarar a amiga.

Diana para por um momento e olha para os lados procurando palavras, que no final foram:

– E... Por que eu ficaria com raiva disso? – perguntou novamente erguendo sua sobrancelha que abaixara sem perceber.

– Ah, depois de tudo que aconteceu, os choros, a festa, e logo após eu vim te dizer que vou correr atrás dele, pensei que ficaria com raiva de mim.

– Sei lá, - Diana deu de ombros - talvez ele realmente goste de você, não te impediria de tentar. – falou Diana indiferente para não transparecer que sabia de algo, no caso, que Gabriel estava sofrendo por Serena, era melhor que ele revela-se isso a ela. – Além de que eu sou sua amiga, tenho que torcer pela sua felicidade, se você acha que essa é a sua felicidade, então vai fundo.

– Você é uma amiga perfeita Di.

– E eu concordo! – declara Thom enquanto se senta á mesa junto delas.

~*~

– Você tem mesmo certeza disso? – pergunta Serena.

Agora estavam juntas apenas as duas meninas, depois que um grupinho de meninas passou a dar mole para o Thom no shopping ele pareceu simplesmente se esquecer da existência de suas amigas.

Após dar várias voltas enquanto Serena contava seus planos a Diana elas resolveram ir embora sozinhas e agora se encontravam na escada que separava a ala masculina da feminina.

– Se eu não fizer isso hoje, não faço mais.

– Boa sorte, princesa!

– Obrigada. – falou e abraçou a amiga que estava mais radiante do que nunca, na verdade, as duas estavam.

Diana respirou fundo como de costume e entrou no corredor masculino, porém levou um susto. O corredor ainda estava sujo, e cheio de “bagulhos”, mas não havia sequer uma alma viva no local, estava vazio, aquele lugar cheio de vida, agitação e nojento, agora estava apenas nojento.

Diana pega o celular e vê as horas:

01h47min.

A garota arregala os olhos e corre dando tudo de seu fôlego para ir para seu quarto, ela se esquecera completamente do horário, provavelmente Dante já esteja dormindo em seu quarto, com certeza ele não esperou por ela, afinal, quem esperaria tanto tempo? Passou a julgar-se estúpida, pois jogou fora a chance que tinha, desperdiçou-a sem nem ao menos perceber, o que a frustrou mais ainda.

Ao chegar à porta de seu quarto ela entrou com tudo e parou assim que se deparou com uma cena inesperada.

– Ah, finalmente chegou Diana. – falou Enzo com seu olhar indiferente de sempre.

O garoto que estava sentando em sua cama que ela havia deixado arrumada e agora estava uma zona, virou-se para ela e deu-lhe um sorriso sincero, sessando as gargalhadas que estava dando quando ela entrou.

– Pensei que tinha desistido de conversar comigo. – falo dando-lhe um sorriso galanteador.

– Ah não. – falou devagar ainda pelo efeito do choque e depositou suas chaves sobre a cômoda e parou diante os dois meninos que a encaravam. – Então... Será que podemos conversar lá fora? – disse indicando a porta.

– Ah claro, desculpe. – disse e sorriu. Despediu-se de Enzo e saiu, com Diana em seu encalço.

Os dois foram para uma praça que fica ali próximo e sentaram perto da fonte.

– E então, o que você quer comigo?

– Okay. Hãn, por onde eu começo... Sabia, gosto de você chegar assim, arrancando páginas dentro de mim. Desde o primeiro dia. Sabia, me apagando filmes geniais. Rebobinando o século. Meus velhos carnavais. Minha melancolia. Sabia que você ia trazer seus instrumentos. Invadir minha cabeça, onde um dia tocava uma orquestra. Sabia que ia acontecer, você um dia. E claro que já não me valeria nada tudo que eu sabia. – a garota soltou um risinho. – Chico Buarque.

– O que você quer dizer com tudo isso?

– Eu gosto de você. Eu gostaria de ter a chance de poder invadir sua cabeça com meus instrumentos, e acabar com sua orquestra.

– Como é? – o garoto fala e começa a rir. Ele ri descontroladamente e a menina apenas o olha e abaixa a cabeça ainda sentada no banco. – Você acha mesmo que eu iria ter algo com você? Uma preta de cabelo ruim, cega, carente e ainda por cima uma obcecada por limpeza. Você é o que? Por acaso algum tipo de ‘Rainha da Organização’? Ah poupe-me. Eu nunca namoraria uma garota sem sal como você, sem sabor, deve ser até virgem, não duvido nada, você é patética! Só o Enzo pra te aguentar mesmo, pra te aturar. – Ele ri exageradamente outra vez e diz: - Nem sei mesmo porque me dei ao trabalho de vir aqui.

Ele se levantou sem nem mesmo olhar para a garota, mas antes que ele saísse, ela falou:

– O que você pretendia com todos esses insultos? – falou olhando para o nada, para o vazio profundo de sua mente. – Me fazer chorar, me humilhar, fazer de mim uma piada? Suas palavras foram tão percas de tempo quanto as minhas. Não se vanglorie da minha desgraça, você não é o primeiro a me dizer essas palavras. Agora me admira eu – vira-se para ele – ter me apaixonado por um imbecil como você.

E ela se vai deixando o garoto perplexo, com sua atitude incomum.