01:00

O ataque estava ficando mais forte a cada minuto que se passava. Era sulista, definitivamente sulista.

Clarkson estava cansado, e o problema em seu coração influenciava muito nisso. Olhava para ele enquanto corria. Meu marido, o homem que sempre amei. Para mim, ele sempre seria um príncipe, o príncipe que se apaixonou por mim com a mesma intensidade que eu por ele. O príncipe que fez tudo por mim. O príncipe que desistiu de uma vida com uma Dois para se casar comigo.

Meu príncipe.

00:43

O barulho de bombas ficava cada vez mais alto, e a cada novo ribombar, meu medo crescia. Era aterrador, uma sensação que eu podia sentir no bater de meu coração. Olhando para a face de Clarkson, vi que ele tentava esconder seu medo, tentando fazer com que eu me sentisse segura.

Como ele sempre fez.

00:38

Ao chegar em um quarto vazio, que provavelmente pertencera a alguma selecionada eliminada. Maxon iria escolher America, e eu mesma esperava que ele tomasse essa decisão. Via muito de mim naquela menina.

Corremos até o canto e nos escondemos ali, esperando que a escuridão fosse o suficiente para nos encobrir. Clarkson estava muito agitado, então o abracei de um modo protetor, lembrando-me do modo com o qual ele me abraçara 20 anos antes. Na Seleção, onde conheci a verdadeira Rainha Abby e Rei Porter. A rainha bêbada e o rei com sangue nas mãos, ao invés da viúva e do homem bondoso que a televisão mostrava para o público.

Continuei abraçando-o enquanto sua respiração se estabilizava, até que me perguntou:

- Amberly, você ainda me ama? Depois de tudo que passamos?

- Claro que sim, meu amor, nunca vou deixar de te amar. Eu te amo, no presente e no futuro.

- Eu também a amo muito, Amberly. Por toda a nossa vida.

00:29

- Você aprova America? Não pelo país, mas pela felicidade de nosso filho?

- Acho que ela será a queda de nosso país, se Maxon deixar que as ideias dela sejam seguidas. Mas ela tem potencial, basta que nosso filho lembre-a disso.

- Mas pela felicidade dele, não pelo país.

- Bom... Eu vejo que o que aqueles dois têm é mais forte do que muitos outros têm. Eles me lembram de nós durante a Seleção. Ela o fará feliz.

Ouvi passos pelo corredor. A insegurança e o medo tomavam conta de mim. Não tinha certeza que iria viver naquele ponto. O ataque estava mais forte que os outros. Clarkson me acomodou em sua frente, com minha cabeça embaixo de seu queixo e me abraçando. Para tentar me controlar, comecei a conversar sobre minha Seleção com Clarkson.

- Você se lembra do nosso primeiro beijo?

Eu não podia vê-lo, mas pude sentir que ele havia inflado o peito.

- Claro que lembro. Você havia se vestido como uma rainha aquela noite. Eu tinha que te dizer como você estava estonteante.

- Nunca esqueci de quando você me disse que eu seria sua esposa no meu quarto, no meio da noite. Eu estou te deixando tranquilo?

Ele me respondeu, sorrindo:

- A pessoa mais tranquila que poderia existir.

00:05

Depois de mais um tempo, estava quase dormindo. Mal conseguira pegar no sono na noite anterior, o que me deixava em um estado de sonolência enquanto estava abraçada a ele.

- Amberly, - Clarkson sussurrou. - acho que eles estão vindo.

- Eu te amo, não importa o que aconteça.

- Eu também te amo, minha rainha.

Eles entraram no quarto. Depois de olhar um pouco, nos viram e apontaram as armas dizendo para nos levantarmos. Assim fizemos.

Logo depois disso deram uma risadinha cínica e miraram em Clarkson, como se celebrassem.

Como podiam ser tão frios? Não sabiam que ele não era somente o rei? Ele tinha uma vida, uma vida pela qual eu estava disposta a lutar.

Não pensei duas vezes.

Pulei em sua frente enquanto a bala fazia seu caminho. A próxima coisa de que me lembro foi de estar encostada na cama, com Clarkson pressionando o ferimento, em uma tentativa de estancar o sangue. Os cantos de minha visão iam se escurecendo até que ouvi um grito que me pareceu estranhamente distante. Mas como? Clarkson estava ao meu lado!

- Agora me mate! Nada mais me resta aqui, não sem Amberly! Agora me mate! Agora!

Em resposta, um sussurro débil saiu de meus lábios:

- Clark... Não...
E tudo ficou escuro. Pela última vez, a negritude ao meu redor foi tudo o que vi.

00:00

É estranha a sensação de estar morta. Tudo é tão claro em sua mente, o que é certo ou errado, o que é bom ou ruim. E me lembro de tudo que aconteceu na minha vida. Cada momento que vivi. Minha memória já não me falharia mais. E agora me lembro do que Danica falou uma vez...

"É mais que isso. Você levaria um tiro por ele se necessário."

Recordo de meu pensamento, logo depois dessa frase dita por ela.

"Não é como se fosse acontecer algum dia."