Faça-me esquecer escrita por alinerocha


Capítulo 2
Capítulo 1




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Stranded in this spooky town

Stoplights are swaying and

the phone lines are down

The Floor is crackling cold

She took my heart

I think she took my soul

with the moon I run

far from the carnage of the fiery sun

Kings of leon – Closer

Houve momentos em que tive certeza que a felicidade seria constante em minha vida, até me afundar em um mar de área movediça e não conseguir sair mais. Passei metade da minha vida aproveitando de toda alegria que me era oferecida, de todo amor e da parte mais bonita do mundo. Então, conheci a parte feia, a tristeza, ódio e feiura.

Agora, parada no acostamento e olhando para o capo do meu carro de onde sai uma fumaça branca feito ás nuvens, me pergunto se coisas ruins nunca vão parar de acontecer comigo.

Olho para o celular em minhas mãos e tento liga-lo pela décima vez, só para ter certeza que ele está realmente descarregado.

Já escureceu e poucos carros passam, e cada um deles faz meu coração quase parar pelo medo. A única coisa que não me faz ficar na escuridão é o farol do meu carro, e claro, os dos poucos que passam. Fito uma rua que está próxima, ainda estou decidindo se corro até lá, ou se permaneço aqui esperando por um milagre.

Um carro passa por mim lentamente dessa vez e buzina. Nesse meio tempo, consegui rezar todas as orações que aprendi por causa de minha mãe. Assim que ele segue em frente, respiro fundo e sem pensar duas vezes, ando depressa para pegar minha bolsa dentro do carro. Após tranca-lo e fechar o capo, corro o mais rápido que posso em direção a rua.

O que pode acontecer agora? Eu posso cair e quebrar o pé? Bater a cabeça, talvez?

Chego a um ponto com iluminação e penso no que fazer. Bater na porta da casa de alguém, á meia noite, seria estranho?

Procuro por telefones públicos e não há nem sinal de que um dia houve um aqui. Viro e entro em outra rua pacifica, as residências estão calmas, as lojas em pura escuridão. Vejo luzes de quartos acesas aqui e ali, mas não tenho coragem de bater em nenhuma destas portas.

O céu se ilumina com um raio e logo após o estrondo de um trovão soa em meus ouvidos. Oh céus, segurem essa chuva.

Ao longe, avisto um galpão com as portas levantadas e as luzes acesas. Quase ajoelho e beijo o chão quando vejo escrito: Oficina Hopper.

Antes que eu possa correr para lá, sinto o primeiro pingo de chuva, segundos depois, estou correndo o mais rápido que posso com o céu desabando em cima de mim. Entro na oficina ofegante, com os cabelos já molhados e as roupas grudadas em meu corpo. Coloco as mãos apoiadas em meus joelhos e tento recuperar minha respiração.

Botas pretas entram na minha visão e eu levanto rapidamente para ver um homem me encarando.

– Oh, merda! – Coloco a mão em meu coração e dou passos apressados para trás, já preparada para correr. – Você me assustou.

A roupa que ele usa é, de fato, da oficina. Porém meu coração não se acalma e o medo alojado em mim não permite. Seus cabelos pretos, uma bagunça, seus olhos azuis, assustados. Espero que ele diga alguma coisa, mas continua me olhando, talvez esperando o mesmo que eu.

– Hum... Desculpa entrar aqui assim, é uma longa história. – Sua mão está segurando firmemente uma chave de fenda, e eu estou a olhando, apavorada demais para poder pensar em outra coisa para dizer.

– Eu tenho tempo. – Ele diz.

Suspiro internamente, quando eu finalmente acho um abrigo e salvação para meu problema. Acontecimentos ruins não param em minha vida.

– Desculpa? – Dou mais um passo para trás.

– Eu tenho tempo para ouvir sua longa história. – Ele repete, agora me fazendo entender.

– Ah, sim. – Pigarreio e seguro em minha bolsa com força, tentando espantar a tremedeira. – Eu estava voltando para casa e começou a sair fumaça do capo do meu carro. Então parei no acostamento, com medo de ficar sozinha na estrada, entrei por uma rua e vim parar aqui. Desculpa mesmo ter entrado desse jeito, mas como você pode perceber, está chovendo muito forte e a minha única salvação é essa oficina.

Vejo seus ombros relaxarem e o aperto na chave de fenda diminuir.

Ele estende sua mão suja de graxa para mim e com um pouco de hesitação, eu a pego.

– O meu nome é Brian, prazer. Desculpe se te assustei também, mas sua entrada me pegou de surpresa. – Ele solta minha mão e vê o estrago que fez.

Soltando um palavrão, ele me pede para segui-lo. Abro minha bolsa e vejo se meu spray de pimenta está ao meu alcance. Só então, eu o sigo.

***

Ele entra em uma sala grande, e eu fico parada em frente a porta, o esperando voltar.

Ele sai com o pano branco em suas mãos e me entrega, faço o melhor que posso para tirar a sujeira de graxa.

– Desculpe por isso também. – Ele me avalia, enquanto limpa as próprias mãos. – O seu carro está muito longe daqui?

– Creio que 10 km de distancia. Você pode concertar? – Eu suplico. – Sei que está tarde, eu pago um valor mais alto se for preciso.

– Eu posso concertar. – Ele afirma, e aponta para a porta em direção a rua. – Porém está chovendo demais para isso.

Droga!

– Você pode me emprestar um celular ou telefone, então? – Digo com a voz fraca, com minhas esperanças acabando.

Ele afirma com um movimento de cabeça e entra dentro da sala de novo, e eu o sigo dessa vez.

Ao entrar vejo um amplo escritório, organizado e limpo.

– O telefone está logo ali. – Ele aponta para a mesa. – Vou estar aqui na porta. Ele passa por mim para esperar do lado de fora e eu vou em direção ao telefone. Digito o número do meu apartamento com as mãos tremulas.

O telefone chama, chama e chama e meu coração se parte em dois quando me lembro de que Kat iria dormir na casa do namorado. E ele se parte em três quando percebo que não sei o seu número de cabeça.

Apoio os cotovelos na mesa e seguro meu rosto em minhas mãos. Só então, depois de muito tempo, me permito fazer a única coisa que tenho vontade e não faço á anos: chorar.

Choro pelo meu passado, pelo agora e meu futuro. Por tentar fazer a coisa certa e falhar miseravelmente. Choro, com soluços, nariz escorrendo e coração apertado, pois é única coisa que posso fazer nesse momento.


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