O Peregrino escrita por Deusa Nariko


Capítulo 28
Capítulo XXVIII


Notas iniciais do capítulo

Vigésimo oitavo capítulo dedicado à Karenin pela recomendação maravilhosa! Espero que goste! *-*
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Boa leitura e leiam as notas finais!



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O Peregrino

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Capítulo XXVIII

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Taki no Kuni (País da Cachoeira), dias atuais.

Havíamos percorrido uma milha ou duas antes que parássemos subitamente numa campina, num trecho em que as grandes árvores já começavam a rarear, Sakura pousou bem ao meu lado; seguíamos meticulosamente o plano que havíamos traçado.

Tirei da minha bolsa o manto reserva que eu tinha e o estendi para ela:

— Vista — disse-lhe e ela apanhou a capa preta das minhas mãos, desdobrando-a e revelando seu verdadeiro comprimento. — E coloque o capuz.

Ela o atirou sobre os ombros, abotoando o fecho na frente e não demorou a puxar o capuz sobre a cabeça, ocultando o róseo primaveril dos seus fios dos meus olhos. A capa cobriu-a da cabeça aos tornozelos, apenas suas botas curtas continuavam visíveis.

— Precaução? — perguntou-me, por fim, com um sorriso delicado e eu dei de ombros.

— Você seria facilmente reconhecida e eu quero prolongar o elemento surpresa pelo máximo que puder.

Sakura apontou para mim, para o Rinnegan à vista no meu olho esquerdo, mal escondido pela minha franja que havia crescido nos últimos anos e que eu não me importei em cortar.

— E não vão supor a sua identidade com facilidade quando te virem também? — ela brincou e eu suspirei, puxando o capuz do meu manto por sobre a minha cabeça também.

Em seguida, mordi meu polegar, forçando meu canino na pele áspera o suficiente para rompê-la e trazer à tona uma gota brilhante de sangue. Apoiei minha mão na relva, que se sacudia sob uma brisa fria e inconstante.

Kuchiyose no jutsu!

Da nuvem de fumaça que surgiu na campina, a figura imponente de Garuda tomou forma, com seu bico curvado e sua penugem lustrosa. Aproximei-me dele e subiu no seu dorso com um salto. Sakura fez o mesmo, porém um tanto incerta, percebi. Lancei a ela um olhar de incentivo quando se acomodou ao meu lado, apoiada sobre um joelho e sobre ambas as mãos enluvadas.

A partir dali, seguimos pelo ar: Garuda estendeu suas asas imensas e levantou voo em direção ao céu azul, cortando o ar gelado com suas pontas delgadas e seu bico curvo, batendo-as no ritmo a que estava habituado. O Taka seguiria por terra e se infiltraria na vila assim que recebessem nosso sinal. Teríamos de criar uma distração perfeita para atrair a atenção de todos os Shinobis de Takigakure, inclusive dos membros do clã Mori e da Higanbana.

Nosso timing também teria de ser perfeito: um erro na sincronização de nossos movimentos e todo o plano estaria perdido. Por sorte, eu confiava nas habilidades de infiltração daqueles três. Se tudo corresse bem, o Lorde Feudal estaria a salvo antes que a batalha verdadeira tivesse início.

Voltei minha atenção para Sakura, que estava incomumente silenciosa agora, e observei seu perfil de perto: a capa esvoaçante às suas costas, o capuz quase totalmente empurrado para trás, revelando uma parte do seu rosto para o sol do fim da manhã, inclusive seu olhar entrecerrado e a boca comprimida.

— Ansiosa? — perguntei-a, de súbito, atraindo seu olhar diretamente para o meu rosto.

Para a minha surpresa, ela meneou a cabeça devagar; o vento forte atirava mechas de cabelo contra os seus olhos beligerantes e seus dentes acabaram mordiscando seu lábio inferior com um pouco mais de força do que de hábito.

— Preocupada — corrigiu-me e em seguida tornou a menear a cabeça, mas desta vez com o propósito de desanuviá-la: — Mas ficarei bem, não se preocupe.

Não voltei a tocar no assunto, embora soubesse que havia algo consumindo seus pensamentos. De todo modo, decidi que o melhor seria me concentrar na missão. A esse ritmo, dentro de poucos minutos avistaríamos a vila de Takigakure.

E, de fato, mais alguns minutos se passaram antes que tivéssemos o primeiro vislumbre da vila oculta da Cachoeira. Nossa primeira visão consistiu no imenso paredão de rocha de calcário que cerceava todo o perímetro da aldeia. Uma formação geológica tão antiga quanto impressionante, coberta por líquens aqui e ali. Em alguns pontos, filetes de água brotavam de fissuras fundas na pedra, desaguando cerca de trezentos metros na floresta densa logo abaixo. Era a defesa natural e quase intransponível de Takigakure.

No seu interior, árvores colossais emergiam, de copas tão vistosas e verdes cujo vigor resistia bravamente mesmo contra as intempéries. Eu sabia que mais adiante, encontraríamos o aglomerado de edifícios baixos, de telhados cor de terra cota, típicos da região que compunham a vila.

— Prepare-se, estamos nos aproximando do território de Takigakure — alertei Sakura, estendendo uma mão à frente do seu corpo.

— Entendi — assentiu, focando sua atenção totalmente na vastidão mais abaixo.

Garuda bateu suas asas apenas mais uma vez antes de plainar acima da mata cerrada e acima do vento, mergulhando seu corpo robusto adiante como a ponta veloz de uma seta. Sakura e eu nos seguramos com mais afinco à sua penugem densa enquanto o ar frio assoviava fino nos meus ouvidos.

— A mansão do Lorde Feudal não fica próxima à vila — Sakura observou, fazendo sua voz soar acima do sibilo contínuo do vento e mirando a floresta logo abaixo; eu assenti.

— Fica na região mais alta — acrescentei então, taciturno: — Mas é sem dúvida a parte mais guarnecida da vila, precisaremos chamar a atenção de todos os Shinobis para que o Taka possa se infiltrar.

— Nesse caso, vamos em frente! — Sakura meneou a cabeça, decidida, e, sem mais uma palavra, saltou do dorso de Garuda na direção das árvores.

Abri um sorriso incisivo antes de resmungar um “irritante” e então saltei do dorso de minha invocação também. O vento feroz atirou minha capa para longe do meu corpo e arrancou o capuz da minha cabeça. Mergulhei no vazio, numa velocidade que para alguns seria fatal, enquanto as copas das árvores se aproximavam numa progressão quase impossível de ser acompanhada.

Acima de mim, Garuda descreveu um círculo perfeito no céu azul antes de desaparecer numa nuvem de fumaça tão logo liberei o chakra que mantinha sua invocação. Eu pousei no instante seguinte, no galho robusto de uma faia gigantesca que só crescia na região, penetrando a sua abóboda de ramagens verde, e ativei meu Sharingan instantaneamente para procurar por Sakura e para antever qualquer ataque inesperado, vasculhando os arredores.

Ela me encontrou primeiro, entretanto, pousando silenciosamente ao meu lado.

— O único acesso à vila é seguindo por uma das várias cavernas que passam por dentro do paredão — ela apontou para baixo, para uma trilha estreita que certamente nos conduziria a uma dessas cavernas, entrecerrando o olhar à medida que traçava sua estratégia. — Essas cavernas estarão fortemente vigiadas tanto na entrada quanto na saída. Da última vez em que estive aqui, eu tive ajuda do informante da Aliança para conseguir entrar. Ele subornou um dos guardas para mim.

— Você ainda tem algum meio de contatar esse informante? — perguntei-a, mas ela meneou a cabeça lentamente com evidente frustração. — Então, teremos de forçar uma entrada — concluí, endurecendo o olhar.

Sakura assentiu e nós dois descemos do galho, a ideia é que nos passássemos por visitantes comuns à primeira vista. Percorremos um trecho bastante úmido e fortemente fechado da floresta que protegia os arredores da vila. Eu sentia o suor escorrer pelo meu rosto e pela minha nuca, sob o capuz que eu havia recolocado. Felizmente, não demoramos a encontrar uma das tais entradas para a vila, no sopé do imenso paredão de calcário que circundava a vila.

Era um túnel úmido e escuro, e já na entrada nos deparamos com um dos Shinobis de Takigakure, enfadado no seu posto. Olhei rapidamente para Sakura, aquiescendo, e ela abaixou a fronte, cuidadosa em não fazer contato visual com o sujeito.

Assim que nos notou, o homem se empertigou e endureceu o olhar, encarando-nos sem receio:

— Quem são vocês? — interpelou-nos a nós dois, porém como nós mantivemos o silencio e o ritmo de nossas passadas, ele certamente se enfezou e viu-se obrigado a repetir sua pergunta: — Identifiquem-se, forasteiros, ou não passarão daqui!

Cobri meu olho esquerdo com a palma de minha mão assim que o alcançamos e levantei o meu rosto para o dele. Meu Sharingan já consumia o chakra que eu havia especificamente concentrado ali.

— Q-quem... — ele balbuciou a princípio, perplexo, encarando-me diretamente nos olhos: um erro fatal, meu genjutsu o apanhou naquele exato momento.

Os olhos pequenos do homem perderam foco, desviando-se do meu rosto e passaram a encarar o nada. Uma gota de suor deslizou por sua têmpora, por baixo do hiataite que usava, com a insígnia da Cachoeira: uma seta apontada para baixo, incompleta. Seu rosto se tornou lívido, como se ele houvesse acabado de encarar um fantasma e sua boca se apartou numa lamúria. Sakura manteve a fronte abaixada o tempo todo.

Descobri o meu olho esquerdo, revelando ao homem o meu Rinnegan, mas ele não esboçou qualquer reação, já tendo sido pego na minha técnica ocular. Quando seu corpo enfim cambaleou, enfraquecido, escorando-se à entrada estreita da caverna, ouvimos uma voz masculina bradar às nossas costas:

— Ei, vocês forasteiros, o que pensam que estão fazendo?!

Sakura ergueu o rosto abruptamente e virou-se para encontrar o mesmo que eu: um esquadrão de Shinobis de Takigakure, já armados e prontos para nos enfrentar. É claro que o Lorde Feudal teria reforçado a segurança da vila, seria ingenuidade acreditar no oposto. Cerrei os dentes, mas Sakura agiu depressa.

— Vem! — gritou para mim, apanhando meu pulso e me puxando para dentro da caverna estreita.

Corri junto dela, ciente de que os três Shinobis estariam no nosso encalço. Felizmente, Sakura também pensou nisso e, por isso, via-se concentrar, numa velocidade incrível, uma grande quantidade de chakra no seu punho direito.

— Tome a dianteira! — disse-me e assim eu o fiz, ultrapassando-a enquanto a luz no fim do túnel se tornava cada vez mais nítida.

Estávamos a poucos passos da saída quando ouvi Sakura bradar. Virei-me a tempo de vê-la chocar a lateral do seu punho cerrado contra a parede do túnel, causando um imenso reboliço dentro da caverna. Sua força sobre-humana esmigalhou a rocha, esfarelando-a como pó e causou um deslizamento atrás de nós, bloqueando a passagem para os outros três Shinobis que vinham logo atrás, forçando-os a fugir dos tremores que reverberavam por toda a caverna e das pedras que desabavam sobre suas cabeças.

Sakura e eu cruzamos a saída da caverna sem diminuir o ritmo, sãos e salvos, e, uma vez que meus olhos se ajustaram à claridade ofuscante da luz do dia outra vez, eu reconheci que agora não havia mais volta: havíamos invadido a vila.

Percorremos menos de duzentos metros antes que o primeiro relance real da vila saltasse à minha vista. Localizada num baixio do rio Kitakamu, cerceada por um trecho menos cerrado da floresta e por uma imensa ribanceira à sua esquerda, Takigakure consistia em um amontoado desorganizado de edifícios baixos e retangulares, na sua maioria residencial pelo que percebi.

Apenas um se destacava em meios aos telhados chamativos, um prédio de pedra branca de teto cupular e com um pináculo assomando sobre este. Também havia uma torre amarelada, mas afora isso, as demais construções limitavam-se a seguir um único padrão. As ruas, como as de Konoha, eram estreitas e bifurcadas, tão confusas como um labirinto, por isso, toquei o ombro de Sakura e indiquei para que seguíssemos pelos telhados.

Ela assentiu e nós saltamos; agora cruzávamos o território da vila por cima e isso me permitiu ter uma percepção mais aguçada do entorno e dos perigos que corríamos. Vi poucos rostos assombrados com nossas presenças, eles cruzavam a minha visão periférica como meros borrões desbotados.

E é claro que a demonstração de poder de Sakura lá atrás já havia colocado praticamente toda a porção sul da vila em alvoroço. Notei o exato momento em que quatro Shinobis saltaram por cima dos telhados, perseguindo-nos.

— Sakura! — alertei-a e ela concordou de sobrecenho franzido.

— Eu sei!

Kunais foram atiradas contra nós em seguida, forçando-nos a nos separar e a seguir em direções opostas, cravando-se nas telhas de barro sob os nossos pés. Eu fui pela esquerda, saltando para outro telhado enquanto Sakura, que seguiu pela direita, pousou em uma das vielas cobertas por lajotas brancas.

Impulsionei meu corpo para frente e para cima, pulando sobre o telhado de um grande edifício com as solas dos meus pés envoltas em chakra para me ajudar a manter o equilíbrio e a velocidade. Desviei de mais uma saraivada de kunais, girando rapidamente para a esquerda para dar meia-volta e seguir na direção de Sakura, deixando os meus perseguidores para trás.

Não precisei esperar muito, de fato, para localizá-la: ouvi o brado de Sakura muito antes de sentir os tremores causados por seu ataque. A cerca de quinze, dezesseis metros, a sudeste de minha posição, uma imensa nuvem de poeira se ergueu do chão ao passo que os alicerces do edifício sob mim estremeceram com a potência do seu soco. Ouvi lamentos masculinos e não demorei a seguir na direção da nuvem de pó, saltando sobre o telhado da construção vizinha, sondando o entorno com meu Sharingan.

Quando a nuvem de pó se dispersou, encontrei-me sobre os escombros de um edifício, com Shinobis de Taki feridos (não fatalmente) e caídos por todos os lados, gemendo baixo. Sakura estava cercada por mais deles — é claro que nós dois já havíamos chamando a atenção de quase toda a vila, àquela altura. Se meu exibicionismo de agora pouco não o fez, o soco poderoso de Sakura havia acabado de fazer soar todos os alarmes da vila.

— Identifique-se, Kunoichi, e renda-se caso não queira se ferir! — um deles ordenou ferozmente para ela, empunhando um par de kunais diante do rosto.

Era a minha vez, pensei no momento em que ela me notou ali, no topo de uma pilha de escombros, a poucos metros de si. Desembainhei minha Kusanagi com um silvo e me movi feito um fantasma na direção daqueles Shinobis. Estabeleci a única condição daquele combate: eu não poderia ferir nenhum deles gravemente, tampouco lesioná-los. Talvez incapacitá-los com o mínimo possível de dor. Seria fácil, sorri um tanto perverso.

Meus pés deslizaram como fumaça por sobre os escombros, minhas mãos manusearam minha Kusanagi, retraindo sua lâmina afiada no meu braço direito, virando seu punho para o lado de fora, ainda entre os meus dedos firmes. Girei-a novamente, traçando um semicírculo perfeito e bati o cabo de minha espada contra a nuca do primeiro deles; ele nem ao menos soube o que o atingiu.

Infelizmente, meu golpe atraiu a atenção de todos os demais enquanto o primeiro Shinobi que nocauteei ainda desabava no chão, inconsciente. Não lhes dei chance de rechaçar-me, entretanto; movi-me velozmente mais uma vez, avançando contra eles, ziguezagueando por entre suas figuras estupefatas; bati o cabo de minha espada contra o rosto de mais dois antes que um terceiro, um pouco mais robusto que os demais, bloqueasse meu caminho.

Saltei por cima dele sem dificuldades e foi nesse momento que vi um borrão mover-se por baixo do meu corpo. Era Sakura; não demorei a reconhecê-la. Ela deslizou de lado pelo chão, apoiada em uma mão e em um lado do seu quadril, uma perna flexionada garantia estabilidade ao restante do corpo, já a outra estava completamente esticada. Sua bota bateu num dos calcanhares do homem, desestabilizando-o. Esguia, ela escorregou sem dificuldades por debaixo do corpo dele, que tombava em direção ao solo.

O homem bateu as costas contra o chão irregular com um praguejo na ponta da língua enquanto Sakura manuseou o corpo de forma ágil, apoiando-se sobre ambos os joelhos e ambas as mãos para se reerguer. Com meu Sharingan detectei o próximo ataque antes dela: um Shinobi que vinha pelo seu flanco direito, armado com uma katana. Antes que tivesse ao menos a chance de alertá-la, entretanto, ela também o notou e desviou da lâmina que caía sobre si balançando o seu corpo para trás numa pirueta.

Ela deslocou toda a parte inferior do seu corpo para cima em seguida, apoiando-se somente sobre as mãos, no instante em que a lâmina de aço resvalou seu rosto, errando-a por um triz e batendo com um silvo agudo no solo mais abaixo. Assim que seus braços, até então tensionados, se flexionaram, sustentando todo o seu peso numa incrível demonstração de força e autocontrole, Sakura saltou para longe do Shinobi armado com a espada, pousando a alguns metros dali.

Foi a minha vez, então: eu avancei contra ele enquanto, com minha visão periférica, vi Sakura rebater duas kunais atiradas contra ela ao buscar no compartimento em sua coxa a sua própria kunai, extraviando suas trajetórias; ela saltou dali e rebateu um par de shurikens dessa vez. Voltei a me concentrar no meu próprio oponente e ergui minha espada a tempo de chocá-la com a dele, sentindo o golpe reverberar pelos ossos do meu braço.

Encarei-o altivo, forçando minha lâmina contra a dele, e enviei chakra para o meu braço direito, deixando-o fluir através da minha Kusanagi. Minha técnica Chidorigatana tomou forma no mesmo instante, iluminando o medo no rosto do meu inimigo. Pequenos relâmpagos deslizaram ao longo da lâmina da minha espada. Com minha mão esquerda, apliquei só um pouco mais de força contra a lâmina daquele Shinobi e ela se partiu, esmigalhando-se bem diante dele.

Ergui minha perna e flexionei meu joelho; quando a estiquei, plantei a sola do meu pé no seu abdome com força, chutando-o. Virei-me para a direita a tempo de destruir algumas kunais que foram atiradas contra o meu rosto, cortando-as com minha lâmina de Chidori como se cortasse papel.

Um grupo de Shinobis continuava no solo conosco, enquanto outros haviam se ajuntado no telhado de um edifício para reunirem uma grande quantidade de chakra. No momento em que meu Sharingan captou a cor e a natureza, eu me virei para Sakura e a alertei:

— Suba! — gritei para ela, mas os cinco Shinobis, àquela altura, já haviam reunido chakra suficiente.

Eles formaram os selos do javali e do tigre agilmente: três deles eram exímios usuários de doton, os outros dois deveriam ser usuários de suiton.

Doton: Yomi Numa! — conclamaram os usuários do elemento terra que plantaram as mãos com firmeza no telhado, transmitindo seus chakras para o solo de toda a região.

Saltei para longe dali, de um telhado derrubado para outro, escalando entre as telhas quebradas e as vigas expostas enquanto casas eram tragadas para baixo, afundando num lamaçal fundo o bastante para me preocupar. Eu já havia ouvido falar daquela técnica e de como Jiraya a havia utilizado para imobilizar duas invocações de Orochimaru. A técnica do pântano do submundo definitivamente não poderia me apanhar.

Por isso, movi-me de um telhado a outro, até que o solo sob os meus pés não mais trepidasse. Sakura pousou bem ao meu lado, deixando as casas destruídas que afundaram no lamaçal para trás, assim como eu. Era notório que os civis e os Shinobis de baixa patente já haviam sido evacuados da região. E é claro que nós estávamos enfrentando Jonins, mas eu me perguntava quanto tempo levaria para que atraíssemos Ichiro e seus comparsas.

— O que acha? — perguntei a ela, indicando os cinco Shinobis sobre os telhados, próximos à nossa posição.

Sakura sorriu incisivamente e então estralou um dos punhos.

— Eu mal comecei a me aquecer — declarou, exalando autoconfiança e eu tornei a empunhar minha espada, cuja lâmina ainda chiava sob a minha técnica.

Nós nos movemos em conjunto a partir dali. Galgamos o telhado sob os nossos pés, avançando contra nossos oponentes lado a lado até que os três usuários de doton tornaram a reunir chakra para mais uma técnica.

— Deixa comigo! — Sakura gritou para mim, assim que reconheceu os selos manuais que eles faziam e logo em seguida tratou de concentrar chakra em um dos seus punhos.

Os três Shinobis se prepararam para executar a tal técnica e eu apertei o passo, seguindo logo atrás de Sakura. O chakra que eles reuniram enfim deu forma ao jutsu:

Doton: Dosekiryū!

Do solo mais abaixo, um imenso dragão de terra e pedra surgiu, esguio e feral com uma bocarra esgarçada que se abria para nós. Sakura escolheu o momento preciso para saltar e direcionar o punho carregado de chakra para o animal de pedra.

— SHANNARO! — seu brado furioso reverberou por um bom tempo e seu punho colidiu contra a cabeça do dragão com tamanha força que o impacto do seu golpe causou um estrondo tão poderoso quanto destruidor.

A cabeça do dragão desfez-se como pó, assim como o túnel de antes havia cedido sob a potência do seu punho. Terra a pedra despencaram numa chuva a poucos metros de mim, levantando uma imensa cortina de poeira. Eu ergui a bainha de meu manto até o meu rosto a fim de proteger os meus olhos da nuvem densa de pó que emergiu.

Ao final, Sakura tornou a pousar ao meu lado, retrocedendo com uma pirueta. Foi a minha vez então e eu reagi no mesmo instante em que os dois usuários de suiton prepararam seus chakras e selos de mãos. Meu Sharingan acompanhou cada um deles, bem como me forneceu uma leitura clara da natureza de seus chakras.

Sem demora, plantei minha Kusanagi no telhado sob os meus pés e também realizei os meus próprios selos. Todos concluímos nossos jutsus no mesmo compasso, impulsionados pelo ardor da batalha que se intensificava. Minha técnica reagiu à deles:

Suiton: Suishōsha no jutsu! — os dois Shinobis declararam uníssonos.

Com seus chakras reunidos, um imenso vórtice de água surgiu diante de mim e de Sakura, cuspido de suas bocas, rodopiando veloz sobre o seu próprio eixo e varrendo telhas por onde quer que passasse. O chakra que eu reuni nos meus pulmões enfim se expandiu, subindo numa lufada de vapor quente pela minha garganta até explodir na minha boca.

Katon: Gōkakyū no jutsu!

Soprei uma imensa esfera de fogo que colidiu contra o vórtice gigante de água, levantando uma nuvem de vapor ainda mais densa do que a cortina de poeira que Sakura havia criado ao destruir o dragão de pedra. Usei ainda mais chakra quando percebi que o vórtice era mais poderoso do que eu houvera imaginado, mas, pouco a pouco, minha técnica consumiu toda aquela imensa quantidade de água, condensando-a numa bruma úmida e quente.

— Fique por perto e não abaixe a guarda — adverti Sakura quando percebi que ela houvera dado um passo em falso para frente e aproveitei o ensejo para recuperar minha espada.

Mantive os meus olhos bem abertos para qualquer movimentação fora do comum, mas com a densidade daquela névoa tive um pouco de dificuldade em identificar os próximos passos de nossos oponentes. Conforme segundos expectantes se arrastaram, até mesmo Sakura começou a estranhar aquela calmaria inóspita.

— Por que está tudo tão calmo e silencioso?

Seu punho se cerrando foi o último som que ouvi com clareza antes que uma imensa parede de rocha surgisse entre nós dois, divisando-nos e fazendo ruir o edifício sobre o qual estávamos, rachando o telhado ao meio e destruindo as fundações com estrépitos violentos.

— Sakura! — chamei por seu nome, mas em vão.

Forçado a recuar dali, saltei para o telhado vizinho, firmando-me com cuidado sobre as telhas e foi nesse momento que meus reflexos rápidos salvaram minha vida. Ergui minha Kusanagi a tempo de repelir o golpe que por pouco não ceifara minha vida; a névoa de vapor úmido ainda se dispersava quando Kazuhiko, o espadachim usuário de Fūton, me abordou de espada em riste. Reconheci-o tanto por seu manto escarlate quanto por seu cabelo fino cor de areia, caindo-lhe sobre os olhos.

Nossas lâminas colidiram com um tinido profundo e então tornaram a se entrechocar enquanto digladiávamos em cima daquele telhado. Meu Sharingan acompanhava e previa cada um dos seus golpes e garantia-me a possibilidade de rechaçar cada um deles.

Num contra-ataque que ele não esperava, encontrei minha oportunidade para derrotá-lo: investi de espada em riste contra ele e com um floreio do meu pulso desci a lâmina envolta pela minha técnica contra sua espada com força. Tive o prazer de ouvir a lâmina de sua katana trincar, mas, infelizmente, ele recuou antes que meu golpe pudesse atravessar sua espada, saltando vários metros para longe de mim.

Foi nesse momento que meus pensamentos se voltaram para Sakura. Virei-me para a esquerda e encontrei-a pelejando contra Ichiro, desviando habilmente das colunas de rocha amalgamada que ele fazia emergir do chão e, quando tentou abordá-lo diretamente, percebi pelo chakra que ele reunia nos pulmões que se tratava de uma armadilha.

— Sakura, espera! — gritei para ela, no intuito de que percebesse a advertência no meu tom e recuasse.

Era tarde demais, entretanto. Ela saltou na direção dele e ergueu um punho. Foi nesse instante que ele revelou seu plano:

Katon: Bakufū Ranbu!

Da sua boca, uma espiral de fogo surgiu, explodindo diante do seu rosto numa fonte intensa de luz e calor, e envolveu Sakura em pleno ar. Assisti, inerte, enquanto as chamas brilhantes abarcavam seu manto negro, chamuscando-o. Cerrei os dentes e preparei para entrar no combate, mas não fui rápido o bastante para deter a próxima técnica de Ichiro.

Unindo as mãos em selos novamente, ele preparou seu golpe final:

Doton: Sando no jutsu!

Duas paredes imensas de pedra emergiram do solo e se fecharam sobre Sakura, ainda envolta nas espirais de fogo, com um estrondo. Saltei de telhado em telhado até onde ela e Ichiro estavam lutando, mas fui barrado por Kazuhiko que, ao saltar por cima de mim, disparou uma de suas técnicas de vento, soprando lufadas cortantes de ar.

Fūton: Shinkūgyoku!

Consegui desviar da maior parte, esquivando-me com agilidade, porém não pude evitar a última delas. Senti a fisgada de dor no meu ombro direito quando a rajada de vento, tão afiada quanto o gume de uma espada, cortou minha carne. Forçado a recuar mais uma vez, franzi o rosto para Kazuhiko e mostrei-lhe minha espada.

— Fique fora do meu caminho — alertei-o num grunhido e recebi seu olhar debochado como resposta.

Eu precisava passar por ele se quisesse chegar até Sakura e já estava começando a traçar uma estratégia para tirá-lo do meu caminho quando as paredes que haviam se fechado sobre Sakura explodiram inesperadamente com um estouro, lançando pedregulhos e poeira a vários metros de distância.

— Que merda foi essa? — Kazuhiko indagou-se, distraindo-se tanto quanto eu e, aparentemente, surpreendendo Ichiro, que a julgar por sua expressão desgostosa não esperava que ela conseguisse escapar de sua técnica tão depressa.

Observei-a, à distância, emergir do que restara dos imensos paredões da técnica do Terumi. Seu manto havia sido completamente queimado, restando apenas farrapos de tecido que não mais se agarravam ao seu corpo, porém quando ela se levantou e ergueu o rosto é que verdadeiramente me surpreendeu.

Apesar da sujeira e das manchas de fuligem em suas vestimentas e pele, Sakura estava intacta e isso só poderia ser explicado pelos selos negros espalhados ao longo do seu corpo: o selo de sua técnica mais poderosa, que se iniciava no centro de sua testa e cobria-a por todo o comprimento de suas pernas e braços.

Sakura olhou de viés para mim, de cima do que restara dos paredões de pedra de Ichiro e murmurou arrogante:

— Eu disse que mal tinha começado a me aquecer.

Dei de ombros, permitindo-me compartilhar do seu sentimento contagiante de empáfia.

— Humpf — resmunguei com crescente satisfação íntima.

Nosso plano para atrair a Higanbana havia dado certo no fim, mas nossa batalha para salvar Takigakure de uma conspiração e de uma guerra civil ainda estava apenas começando.

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Ho no Kuni (País do Fogo), três anos antes.

— Todos sabemos — Kakashi disse com clareza para que todos os ouvissem, de pé e defronte para os demais Kages — que a contribuição de Sasuke na guerra foi crucial para a vitória da Aliança.

Ele enfiou seus punhos nos bolsos da calça e caminhou alguns passos a esmo pelo salão, sem ter um rumo certo.

— Todos nós sabemos que sem a ajuda de Sasuke, não só Kaguya Ōtsutsuki não teria sido selada, como o Mugen Tsukuyomi não poderia ter sido desfeito e todos estaríamos em grandes apuros, eu tenho certeza.

À frente dele, o Raikage bufou impaciente:

— Poupe-nos da sua ladainha, Rokudaime, nós sabemos o que esse moleque fez ou deixou de fazer em nosso benefício e não é por isso que estamos aqui. Esse garoto insolente deve responder pelos seus atos e também deve pagar por eles. Que tipo de impressão nós passaríamos às demais nações se demonstrássemos leniência para com um criminoso como ele?!

Ex-criminoso — Kakashi o corrigiu com um brilho frio nos seus olhos cinzentos. — Devo lembrá-lo, Raikage-sama, de que Sasuke tem demonstrado um comportamento exemplar desde o término da guerra?

Depois, ele recomeçou, num tom mais brando, para aplacar a tensão que se adensava naquele salão.

— Escutem-me, eu lhes peço. É verdade que Sasuke cometeu muitos erros e que seus atos causaram problemas não só para Konoha como também para outros países, mas o que eu gostaria de salientar é que esse garoto — ele apontou para mim, tirando um dos seus punhos dos bolsos — é agora o último membro do clã Uchiha. Seria uma lástima permitir que uma linhagem sanguínea tão poderosa como a dele desapareça para sempre, não concordam? Especialmente se essa linhagem sanguínea foi, em parte, responsável por nossa vitória sobre os planos de Madara e Kaguya.

Ele pausou o suficiente para resfolegar e para deixar que todos absorvessem suas palavras.

— Sasuke, além de ser o único portador do Sharingan atualmente, também é o único a possuir o dōjutsu do Rinnegan, que tornou possível, junto do poder das bijūs, a nossa vitória.

O Tsuchikage pigarreou de leve, interrompendo Kakashi.

— Explique melhor o seu ponto, Kakashi. Aonde quer chegar com isso?

O atual Hokage de Konoha deu de ombros, quase indiferente e entediado demais para responder aquela pergunta apropriadamente. Era o Kakashi, afinal, concluí, tão indiferente quanto ele.

— Aonde eu quero chegar? Bem, estou tentando lhes alertar, ora.

— Alertar-nos para o quê, Rokudaime-sama? — Agora havia sido a vez da Mizukage se sobressaltar, encarando Kakashi com seriedade.

Kakashi circulou pelo salão, passou à frente dos estrados onde Naruto e Sakura estavam sentados lado a lado e o fez com o único intuito de prolongar aquele suspense imbecil. Eu bufei dessa vez, impaciente. Quando ele se virou para os demais Kages, entretanto, sua expressão sombria surpreendeu-me:

— Já pensaram na possibilidade de que em algum lugar, à espreita, haja uma ameaça tão perigosa quanto à de Kaguya Ōtsutsuki?

— Isso é ridículo! — o Raikage protestou, zangado. — Até a guerra todos pensávamos que Kaguya não passava de um mito! Tal qual a existência do Rikudō Sennin!

— Mas eles são reais — Kakashi meneou sua cabeça afirmativamente e sua feição se tornou suave, tal como seu tom brando: — Não podemos descartar a possibilidade de que Kaguya não seja a única ameaça com a qual devemos nos preocupar. Afinal, o que sabemos do clã Ōtsutsuki? O que sabemos do Rikudō Sennin? Ou de seus filhos Ashura e Indra Ōtsutsuki que são os ancestrais dos clãs mais poderosos que já conhecemos?

Depois de mais uma pausa dramática — e desnecessária —, ele concluiu com pesar.

— Nós não sabemos nada e, portanto, não podemos afirmar nada, tampouco. Isso também impossibilita que descartemos qualquer possibilidade quanto ao que concerne o clã Ōtsutsuki.

“É por isso que estou pedindo a vocês que sejam sensatos; se perdoarem Sasuke, se permitirem que ele reconstrua a sua vida, algum dia, em um futuro não tão distante, talvez ele seja, mais uma vez, responsável por salvar o nosso mundo e por impedir que outro alguém como Kaguya tente nos destruir. Pensem bem nas vantagens que ele nos traria, sendo o último Uchiha e possuindo o dōjutsu do Rinnegan.

— É isso aí, Kakashi-sensei — ouvi Naruto apoiá-lo num murmúrio satisfeito. — Mandou bem, ‘ttebayo!

Olhei-os rapidamente e vi Sakura suspirar aliviada enquanto a tensão no salão era amenizada pelo efeito positivo que o discurso de Kakashi criou. Eu mesmo precisava reconhecer que ele havia pensado com cuidado em cada palavra.

— Sendo assim — Kakashi prosseguiu, abrindo um sorriso por debaixo de sua máscara —, pensem com cuidado com o que farão com o futuro desse jovem Uchiha, amanhã ele pode vir a se tornar o nosso maior trunfo numa batalha de vida ou morte.

Então, de repente, estava feito: o que Naruto, Sakura e Kakashi poderiam ter feito por mim, para me salvar, eles fizeram. Agora, meu destino já não era mais de suas alçadas.

Todo o meu futuro jazia nas mãos dos Kages e no veredito que eles decidiriam.


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Notas finais do capítulo

E a treta começou! :v HAHAHAHAHA
...
Bem, tenho duas notícias para vocês, uma boa e uma ruim, então, vamos lá:
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A boa notícia é que esse mês O Peregrino completará um aninho de existência! *-* Sim, um aninho com vocês já! Passou tão rápido que mal posso acreditar Hehe Então, para comemorar um ano de existência decidi escrever uma one-shot especial no ponto de vista da Sakura (aka: The Queen :v) para contar como foi a batalha dela contra a Higanbana + uma cena inédita de O Peregrino ainda na perspectiva dela.
Essa one-shot será postada até o dia 19 desse mês, data em que a Fanfic completa um ano! Então, fiquem atentos ;)
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E, por fim, a notícia ruim, amados, é que, infelizmente, O Peregrino está se aproximando do fim =( Pois é, chegou mais rápido do que eu imaginava! Estamos prestes a adentrar o clímax da Fanfic. Estou chutando (CHUTANDO) que talvez tenhamos uns... 35 capítulos + um Epílogo? É mais ou menos por aí, eu acredito. Pode ser tanto para mais quanto para menos, vai depender de como minha criatividade vai fluir daqui em diante, mas eu já adianto que tenho tudinho planejado na cabeça.
...
Para completar, depois de amanhã completarei 23 primaveras de existência :v Sim, sim, por mais que eu deteste essa data, quinta-feira é meu aniversário e, ah! Estou aceitando reviews e recomendações de presente, então, caprichem, amados! :*
...
E aguardem os próximos capítulos (e a one-shot) para a nossa Rainha UCHIHA SAKURA (:v) lacrar e mostrar porque recebeu o título de Kunoichi mais poderosa da sua geração :v Hehehehehehe
...
Nos vemos nos reviews e até o próximo!