Melody narrando

Passar a manhã ao lado do Luke era simplesmente adorável. Além de lindo, ele sabia bem como entreter as pessoas ao seu redor e o clima sempre parecia mais leve com a sua presença. Eu não sei como e nem o porquê, mas precisava ver o sorriso dele pra ter a certeza de que as coisas ficariam bem. Estava pensando em contar à ele sobre a paixão da Angelina, entretanto achei que isso fosse como uma traição, eu não tinha o direito de falar sobre os sentimentos dela. E por incrível que pareça, minha melhor amiga o conhecia muito bem, tudo o que ela havia dito sobre ele, era a mais pura verdade, não era inventado ou coisa da cabeça dela, como acontece quando estamos apaixonados e fantasiamos a imagem de alguém de uma forma boa. Ele era real. Luke Washington era totalmente perfeito.

Fiquei observando-o caminhar com a Rihana e ele lançava alguns olhares pra mim de forma protetora, depois sorria. Eu me sentia atraída de uma forma inexplicável. Como isso era possível? Será que eu já nutria uma paixão platônica por ele e não sabia? Não, que viagem. Me lembro muito bem de até ficar irritada pela falação da Angelina sobre ele. Droga. Por que não consigo focar meus pensamentos em outra coisa que não seja aquele loiro lindo?

— Tudo bem aí? - falando em beleza, olha só quem resolveu aparecer para completar o  clube dos snowboarders maravilhosos. Ele. Sim! Noah.

— Eu estou bem, Noah - sorri de lado e depois suspirei - mas acho melhor você dar o fora daqui se não quiser perder nenhum membro precioso.

— O quê? Por quê? - ele perguntou em meio à uma risada que me contagiou. Apontei para a montanha e só então ele viu a Rihana. Vi seus olhos ficarem tristes e ele mordeu o lábio inferior assentindo - agora entendi.

— Por favor - pedi com um sorriso no rosto. Ele era meu amigo, apesar do que tinha feito com a Rihana me deixava enjoada e bem brava, eu não podia fazer com que ela o visse ali. Já estava sofrendo bastante.

— Como queira - levantou bufando e caminhou com ódio para dentro do hotel.

Eu não conseguia entender o que teria levado ele à fazer aquilo com a Rihana. Noah era um cara muito legal e sempre gentil, alguma coisa deve ter acontecido. Aquele olhar triste ao observá-la, ali tinha coisa e eu descobriria em breve.

— Eu preciso ir, ladies— Luke disse olhando no relógio, assim que os dois voltaram até onde eu estava sentada - vocês ficarão bem sem mim?

— Desde quando precisamos de um chato como você? - Rihana revirou os olhos encenando e o Luke fingiu estar ofendido.

— Ficaremos bem - respondi por nós e só então ele me encarou. Seus olhos azuis estavam com um brilho especial e eu queria muito saber o que estava pensando naquele momento.

— Tudo bem - Rihana ficou no meio de nós dois - eu estou sofrendo e vocês ficam se comendo assim com os olhos? Qual o problema de vocês? - perguntou fazendo com que ríssemos.

— Desculpe por isso - Luke mordeu o lábio inferior e umedeceu os lábios, ainda me encarando - eu só não consigo me controlar.

Eu tive que respirar fundo naquele momento. Senti meu coração saltitar feito um cabrito e aquilo me deixou irritada. Como pode os meus batimentos cardíacos me traírem assim? Será que dava pra ver como estava acelerado por cima do moletom? Deus. Senti minhas bochechas corarem e quis me matar por isso. Tinha que parar de pensar essas coisas perto dele ou qualquer dia desses ele resolveria perguntar os meus pensamentos e eu soltaria sem pestanejar. Como alguém consegue recusar qualquer coisa que saia daqueles lábios?

— Pois controle-se. Não sou obrigada à isso - Rihana agora tinha um sorriso de deboche e olhava pra mim. Óh céus! Por favor, não faça nenhum comentário constrangedor, por favor, não faça, por - o que aconteceu com a sua bochecha? Parece que seu sangue todo subiu pro seu rosto. Está se sentindo bem? - ela riu quando eu lancei um olhar maligno.

— Me sinto ótima - fiz cara de tédio e isso fez com que ela risse ainda mais. Vi de relance que o Luke não estava entendendo nada.

— O que eu perdi? - ele tinha um sorriso brincalhão nos lábios e eu quis muito beijá-lo.

— Você deixa ela sem jeito - Rihana respondeu e senti meu sangue ferver de raiva. Traíra!

— É mesmo? - o loiro pareceu gostar da informação e deu uma risada pelo nariz - me desculpe por isso. Prometo me comportar - piscou pra mim e eu senti minhas bochechas corarem mais uma vez.

— Eu não disse? - ela disse vitoriosa. Luke assentiu e sorriu pra mim - você não tinha que ir, chato? - Rihana perguntou e ele colocou a mão na cabeça parecendo se lembrar de alguma coisa.

— É mesmo! Estou atrasado - conferiu o relógio mais uma vez - te vejo mais tarde? - direcionou o olhar pra mim e arqueei a sobrancelha em questionamento - só se você quiser, claro.

— Pensei em descansar - admiti, já que o campeonato voltava amanhã e eu não estava ali para ficar me apaixonando. Espera! Eu pensei isso mesmo?

— Pelo menos no jantar - ele sugeriu e eu sorri, me animando. Já que eu não poderia ficar sem comer mesmo.

— Nos vemos no jantar - afirmei. Luke veio até mim e depositou um breve selinho em meus lábios e aquilo já seria o suficiente pra eu ter ganhado o meu dia. Ele se despediu da Rihana com um beijo estralado em sua bochecha.

Fiquei observando-o se afastar e suspirei. O que será que ele tinha pra fazer agora? Senti um pouco de inveja de qualquer que fosse o seu compromisso e principalmente, com quem ele estaria o dia todo.

— Você precisa de um babador? - minha colega de quarto perguntou me tirando de meus devaneios e eu revirei os olhos, rindo em seguida.

— Cala essa boca - disse ainda em meio à risadas.

De longe, vi Luke se encontrar com a Ashley no saguão do hotel. Ela parecia bem irritada e depois de uma discussão aparente, ele pareceu acalmá-la, os dois entraram em um táxi e sumiram do meu campo de visão. É, aquela sim era uma garota de sorte. O que eles foram fazer? A curiosidade estava me matando. E eu estava me sentindo uma perfeita boba, nós nem éramos namorados pra eu ter ciúmes. Epa! Eu estou com ciúmes? Não, é claro que não estou. Só preciso dormir, isso sim.

Luke narrando

Caminhei com pressa, leia-se correndo, até o saguão de hotel e a Ashley já estava lá, com uma cara nada boa. Na hora eu sabia que eu teria que acalmá-la e essa não era uma tarefa nada fácil.

— Qual o seu problema hein? - ela perguntou mostrando o celular com o horário pra mim. Totalmente desnecessário. Eu tinha um relógio de pulso.

— Eu só perdi a noção do tempo, me desculpe - confessei e pude ver ela estreitando os olhos, tentando me ler. Ela tinha esse dom.

— Por acaso o seu atraso tem o nome Melody? - ela deu um sorriso de lado, quase debochado. E isso me fez lembrar que eu a tinha beijado na noite passada. Droga. Sou um idiota.

— Acertou em cheio - respondi - agora vamos logo! - a puxei sem ser rude pelo braço e caminhamos até ao ponto de táxi mais próximo e passei o endereço para o motorista pedindo pra que ele fosse o mais rápido possível até o restaurante indicado.

Nós tínhamos um almoço com os nossos pais. Era algo que eles faziam muito. Sempre queriam nos apresentar para alguém importante e isso também era bom para alavancar a nossa carreira no esporte. Mas, atrasos não eram tolerados e eu já estava preparado para um discurso do tamanho do mundo vindo do meu pai.

Paguei o taxista e descemos sem dizer nenhuma palavra. Eu não deixaria que a loira ao meu lado levasse sequer uma bronca por causa de um deslize meu. Se bem que valeu muito a pena. Estar com a Melody sempre é válido. Foco Luke. Seu pai está bem à sua frente, qual a sua desculpa? Se disser que foi por causa de uma garota, ele arranca a sua cabeça fora. Você sabe disso.

— Eu achei que seu pai fosse fazer um buraco na calçada - Margot comentou com um sorriso debochando do futuro marido. Eu sorri pra ela. Era uma boa mulher.

— Foi tudo culpa minha, me perdoem. Isso não irá mais acontecer - me pronunciei e pude ver os olhos do meu pai me comerem vivo.

— Não vai mesmo, Luke. Eu juro por Deus que se você estava com uma garota, os dois pagarão muito caro - ele ameaçou e eu mantive a postura, dando uma risada para a minha encenação de cara galinha que não se importa com ninguém.

— Está me estranhando, velhote? - dei um abraço nele e comecei a caminhar junto com ele para dentro do restaurante.

— Está com cheiro de garota - meu pai disse dando um olhar de reprovação - Luke - soltou derrotado.

— Pai, qual é - dei um sorriso de lado - não esquenta. Eu sempre distraio muito bem os convidados, não é mesmo? O que são quarenta minutos esperando? - tentei convencer mais à mim do que à ele.

O garçom nos conduziu até a mesa que tinha mais de vinte pessoas sentadas e elas não pareciam nem um pouco incomodadas com o meu atraso, muito pelo contrário, quando me viram, deram acenos e sorriram alegremente. Fizeram o mesmo ao perceber quem estava logo atrás de mim. A Ashley deu um sorriso tímido e procurou com os olhos as cadeiras vazias. Teríamos que nos sentar um ao lado do outro. Que ótimo. Isso seria memorável.

— É um prazer finalmente conhecê-lo, Luke! - uma senhora com aparência jovial disse estendendo a mão e eu rapidamente correspondi ao cumprimento.

— O prazer é meu - sorri meio sem jeito. Não gostava quando as pessoas me achavam alguém muito importante. Eu só era, eu.

— Por favor, sentem-se - Douglas, um amigo do meu pai disse pra nós. Eu assenti e segui Ashley ao redor da mesa.

— Primeiramente, queria pedir desculpas pelo atraso - eu dei o meu melhor sorriso - tive um imprevisto de última hora. Não deu pra adiar. Sinto muito fazê-los esperar tanto - todos deram risadinhas contidas do meu pedido, sentindo-se gratos por alguém "como eu" estar se desculpando com eles.

— Imagine, filho! Alguém tão importante sempre deve ter a agenda lotada - um senhor logo à minha frente disse animado. Eu ri pelo nariz.

— Que isso - passei a mão pelos cabelos um pouco sem graça pela atenção recebida e a Ashley percebeu, logo depositando sua mão sobre a minha que estava repousada na minha coxa. Eu dei um olhar de agradecimento e ela sorriu em resposta. Não disse que ela me conhecia bem?

— Conte-nos sobre os seus planos - alguém pediu e eu não vi quem era, mas respirei fundo antes de começar a falar. Aquele seria um longo almoço e uma longa conversa. Eu não via a hora de poder ir embora e poder ver a Melody mais uma vez. Era tão bom poder ser só eu com ela. Me sentia completamente livre. Sem os holofotes, sem obrigações. Luke Washington, era só o Luke Washington.

Melody narrando

Não lembro de como consegui dormir tão rápido, mas acho que meu corpo estava realmente muito cansado. Me senti incomodada quando me sentei na cama. Minha perna parecia inchada e aquilo não era nada bom, não mesmo.

Levantei-me com um pouco de dificuldade e então senti a dor quando coloquei o pé no chão. Só não gritei porque a Rihana parecia tranquila dormindo e eu não queria acordá-la, não depois da barra que estava passando. Respirei fundo indo lentamente até o canto do quarto e buscando a minha muleta para conseguir me apoiar. Eu precisava ir ver o meu médico e tinha que ser agora. Alguma coisa estava muito errada.

Fui até ao banheiro e escovei os dentes, ainda gemendo de dor por ter que ficar em pé. Dei uma ajeitada no cabelo e lavei o rosto para aliviar a cara de sono, até que deu uma boa melhorada. Caminhei pra fora do quarto com a muleta e suando frio. Parecia que eu ia desmaiar a qualquer momento de tanta dor. O que estava acontecendo? Não lembro nem da metade do trajeto até o hospital, devia estar delirando de dor naquele momento. Só me recordo de pedir pra falar com o meu médico responsável e ele parecer um pouco assustado ao me ver. Depois senti a luz diminuir e acho que naquele momento apaguei. Não tenho certeza.

Estou ouvindo um bip horrível, então acho que ainda estou no hospital, mas apavorada demais para abrir os olhos. É, o bip aumentando consideravelmente de velocidade me faz imaginar quantas pessoas estão observando isso. Abri os olhos, sofrendo nos primeiros segundos pela claridade e depois reconhecendo o George sentado na poltrona no canto da sala.

— Pai? - chamei e percebi que a minha voz estava rouca. Garganta extremamente seca. Parecia que não bebia água há dias.

— Oi - ele pareceu despertar do que estava em suas mãos e veio ao meu encontro - que bom que acordou. Como está se sentindo? - perguntou passando a mão nos meus cabelos. Agradeci mentalmente pelo toque.

— Com sede - umedeci os lábios que também estavam secos. Ele pegou um copo de água e trouxe pra mim, tendo que repetir o processo algumas vezes e isso fez com que meu pai risse.

— Realmente, você estava com sede - sorriu e depois suspirou - aposto que está pensando no que aconteceu com você.

— Acertou - assenti preocupada.

— O médico disse que os remédios não fizeram o efeito que deveriam e isso fez com que você delirasse de dor. Até porque nem desincharam o seu pé, não é mesmo? Muito pelo contrário. Agora sua perna inteira está comprometida - disse calmamente e aquilo me fez imaginar quantas vezes eles havia treinado pra me dizer aquilo. George não era uma pessoa calma.

— Eu não entendo - disse sem esconder a frustração em minha voz - estava funcionando bem até.

— Ele disse que é normal - deu de ombros e sorriu me confortando. Funcionou e em nenhum momento tocamos no assunto: "campeonato". Senão eu desabaria ali mesmo e seria vergonhoso.

— O que estava vendo de tão interessante pra não perceber que eu tinha acordado? - perguntei para quebrar o silêncio e ele ficou sério de repente - o que? - arqueei a sobrancelha.

— Uma foto sua e do Luke - sua voz estava séria e bem brava - se beijando.

— Como é?! - me alterei e peguei o celular da mão dele sem acreditar.

O nome da notícia era: "Quem é a garota?" e logo abaixo tinha uma foto nossa, realmente estávamos nos beijando e era uma foto do nosso primeiro beijo. Mas não dava pra ver que era eu, eles só tinham certeza de que era o Luke e isso me deixou um pouco aliviada. Pelo menos não teria que me explicar com a Angelina, ainda. Comecei a ler a fofoca e estava um pouco chocada.

Quem é a garota?

Luke Washington, o mais jovem snowboarder medalhista de todos os tempos foi flagrado aos beijos com uma garota misteriosa. Fontes afirmam que ele não está mais namorando Ashley Gorlan. Então será que o coração do nosso queridinho já está com uma nova dona? Eles pareciam bem a vontade no terraço e passaram um tempo sozinhos, bem longe dos holofotes. É claro que não foram páreos para o nosso paparazzi. Quem será a sortuda da vez? Vamos aguardar por maiores aparições.

Fiquei muda por alguns segundos e depois soltei o ar dos meus pulmões, que eu nem percebi que estava segurando.

— Ah não - ouvi a voz dele - você já viu? - Luke perguntou preocupado ao fitar o celular em minhas mãos. Ele ainda estava com a mesma roupa que de manhã. Ou seja, provavelmente tinha acabado de chegar.

— Como isso é possível? - minha voz saiu por um fio - e como você sabe que sou eu? - olhei pro meu pai, que fechou a cara em resposta.

— Eu te reconheceria até cremada - respondeu me fazendo dar uma breve risada - o que vocês pretendem fazer sobre isso?

— Ser mais cautelosos - Luke afirmou - eu não quero que ninguém te envolva nessas coisas. Me desculpe por isso - seus olhos era de pura dó.

— Eu iria sugerir que parassem - George disse firme e depois bufou - tudo bem, sejam cautelosos. Por Deus! Já não basta você não poder mais estar no campeonato? Agora isso - ele ficou branco de repente. Eu abri a boca e fechei-a várias vezes. Eu não ia mais participar do campeonato?

— O que disse? - perguntei com lágrimas nos olhos.

— Sinto muito, querida. O médico disse que você precisa de repouso total e eu prezo a sua saúde em primeiro lugar - ele deu um beijo na minha testa e deixou-me sozinha com o loiro que me encarava com pena.

— Nós vamos resolver isso - Luke apontou discretamente para o celular que o George tinha esquecido em cima da minha maca - e quanto ao que ele disse, eu concordo totalmente. Saúde em primeiro lugar - deixou um beijo molhado em minhas bochechas e eu corei com o toque.

Será que nós íamos mesmo resolver isso? Eu estava perdida!