VSM-02 escrita por aieincie, Jujuba


Capítulo 12
Capitulo 12


Notas iniciais do capítulo

Agora siiiiim, o capítulo de verdade. Esperamos que gostem!!!!



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–Como você está?- ele pergunta, os cabelos loiros reluzindo à luz do sol.

Respiro fundo antes de falar, inalando o ar puro da relva onde estamos andando e tentando ao máximo guardar seus detalhes em minha mente.-Sinto muito a sua falta.

Ele parece abatido. Se aproxima e me abraça por cima. Envolvo sua cintura com os braços. Antes que eu note, lágrimas correm soltas.

–Sinto sua falta, Luke! E da mamãe e do papai! Eu estou sozinha. Luke eu...

–Shh... Eu estou com você, Annie. Vai ficar tudo bem. Seja forte, como sempre foi e como tem sido todos esses anos. Só não se esqueça de que ninguém é de ferro. Às vezes você precisa se lembrar de que também é humana.

Me afasto o suficiente para encará-lo. Ele está com uns 20 e poucos anos, alto, forte, bonito. Mas...

É como se eu não estivesse realmente ali. Como se aquele lugar ficasse à bilhões e bilhões de quilômetros de distância da Terra, mas um pequeno fio ainda me ligasse a ela.

–Mas agora você precisa acordar, Annie.

Franzo as sobrancelhas. Enquanto fala, uma mancha vermelha se espalha por sua camisa branca, na altura do peito.

–O quê? Acordar? O que é...

–Annie, você precisa acordar.

Me desespero. Sinto falta de ar e aquele fio conectado à mim se engrossa, fazendo com que eu me sinta puxada. A mancha na camisa aumenta, e eu de repente sei o que é.

Sangue.

–Annie, acorda.

–Luke, eu...

–Annie, acorda.- sua voz assume um tom de urgência.

–Mas...

–Acorda!

Minha visão turva, e o pequeno fio me envolve. Sou puxada para a realidade.

...

Estou em uma ala da enfermaria, noto. Em cima de uma maca, meu corpo parece pesado e me sinto cansada. Ao escutar sussurros, penso ainda estar entre o sonho e o que é real. Até que escuto a voz feminina e infantil. Olho ao redor, procurando a origem do som.

Do outro lado do lugar, Percy, encostado na parede, segura Calipso pelos cotovelos. Esta lhe manda comentários baixos e joga o cabelo claro para trás, fazendo com que ele caia em cascata por sobre o ombro.

Faço esforço para ouví-los.

–... Então você faz a sua parte que eu faço a minha.- ele diz.

–Você tem que contar para ela, Percy.- a garota fala.

–Se eu contar, não sou só eu que estarei em perigo.

–É, eu sei. Então o acordo está de pé, não está?

–É claro. Mas, se eu, por acaso, ouvir algo relacionado a isso...- sua voz assume o tom que usou comigo na sua primeira semana aqui na 3. Ameaçadora, quase hostil.

–Já entendi, você me mata. Não se preocupe, minha boca é um túmulo. Já vou indo, até mais.

Sinceramente? Eu levar um tapa da criança mais nova da Colônia seria bem menos estranho do que essa conversa.

Calipso sai da sala, saltitante como sempre. Fecho os olhos rapidamente enquanto ouço Jackson se aproximar. Sua mão passeia por meus cabelos e ele sussurra:

–Você não consegue, não é? Não consegue se segurar. É impulsiva quando o assunto é salvar pessoas, mesmo que você sofra por isso. Mas, Annabeth, você prometeu. Por favor, acorde. Eu não aguento mais isso.

Mordo a parte interna da bochecha para não sorrir.

Ao ouví-lo se afastar, sento-me na maca, o mais silenciosamente possível, e pergunto:

–Sinto muito, mas enquanto houver pessoas à quem posso ajudar, não vou ficar parada. E você sabe muito bem disso. Ninguém mandou se aproximar de alguém como... eu.

Sua mão trava na maçaneta. -Annie?

Não posso deixar de sentir meu peito se apertar ao escutar o apelido. Analisando melhor, se tudo o que ele disse for real, e ele realmente se importa comigo... Talvez o tempo em que estive desacordada tenha sido horrível para Percy.

Salto ao chão. O impacto faz uma dor excruciante se alastrar por toda a região de minhas costelas. Minhas pernas falham, mas, antes que eu caia, ele segura meus braços, dando-me apoio.

Permito-me olhar para baixo e noto o shorts extremamente curto e o top de ginástica que estou usando. Mas não é isso que chama a atenção.

Faixas de pano manchadas de vermelho cobrem toda a minha cintura. Meu ombro esquerdo está nas mesmas condições, não menos pior em relação à dor. Com o aperto do curativo, até mesmo a cicatriz em minhas costas (ainda devo uma bela vingança à Frank Zhang por isso!) se faz lembrar, e pontadas dolorosas pulsam sobre si.

–Isso vai estragar meu dia.- digo à mim mesma.

Percy me abraça, tomando o cuidado de não pressionar o ferimento. Retribuo.

–Annie, eu estava...- ele, de repente, se afasta e fica ereto. Franzo as sobrancelhas até me recordar do ocorrido.

Nós não temos nada, certo?

Errado.

–Percy, tenho que te dizer uma coisa.- as dores continuam e eu mal consigo me manter em pé. Ignoro-as. O que tenho a falar é mais importante.

Em seus olhos verdes, vejo confusão. E, talvez, tristeza. Ele realmente se sente mal com isso, e eu não percebi.

–Sabe aquilo que eu disse, sobre não existir nada entre nós?

–Claro. Se é o que você quer...- começa.

–Pois é, não. Não é o que eu quero.

Espero ele processar a informação. Levanta a cabeça e me encara.-Annabeth, você acabou de acordar e...

–Não me venha com essa conversa. Tenho sentimentos fortes por você, Percy. Só preciso descobrir se são bons ou ruins. (N/A: Quem notou a referência do filme "O Ladrão de Raios" aí levanta a mão o/ !) Então acho que não vou aceitar essa maldita idéia de nos afastarmos...

–Mas a idéia foi sua e...

Ele é obrigado a se calar quando selo nossos lábios, minhas mãos em sua nuca e cabelos. Percy se surpreende, mas logo coloca os braços ao redor do meu corpo.

Se eu estou apaixonada? Não. Mas não posso nem pensar na idéia de ficar longe dele.

Depois de certo tempo, nos afastamos, ofegantes.

–Eu já disse que odeio quando você me interrompe.- digo, sorrindo.

–Céus, lembre-me de te interromper mais vezes.

Eu rio. O que faz o lado esquerdo do meu tronco explodir em dor. Gemo e me apoio em seus ombros para não cair.

–Volte para a maca, Annie.

–Não, estou bem.

–Não foi um pedido. Até a comandante deve seguir ordens de vez em quando.

Reviro os olhos e Percy me ajuda a chegar até o projétil de cama. Me deito com dificuldade, enquanto pontos negros dançam em minha visão.

–Droga. Quem foi o monstro acéfalo que atirou em mim?- pergunto.

–Ahn... Octavian.

–Não! Digo, na segunda vez.

Ele me encara, sério.-Octavian. Ele... Não morreu pelos tiros. Você mesma viu. Ele havia sido mordido por algum Ryank e se transformou. Estava meio louco, sua lucidez se esvaindo à cada instante. E os instintos dos zumbis vieram à tona: raciocinar para sobreviver e tudo mais. Então ele atirou.

Processo as informações. Ele foi mordido? Faz quanto tempo?

Ou melhor, fazia.

–O tempo todo você disse "era, havia, estava...". Como ele morreu?- indago.

O gesto familiar de passar a mão pelos cabelos se repete. Percy respira fundo antes de falar.- Um soldado atirou. Ele fugiu e não encontraram o corpo.

Emito um som como um riso irônico.-Percy, já te conheço. Você está nervoso. Então, por favor, fale a verdade.

–É a verdade.- ele diz, mas sem muita convicção.

–Não vai mesmo me contar?- insisto.

Annabeth!

–Certo, certo. Então me conte o veredito do médico.- peço.

Ele parece se aliviar. Puxa uma cadeira no canto da sala e se senta ao meu lado.

–Dr. Solace disse que perdeu muito sangue. Mas você já levou balas em lugares piores, então se recuperou rápido. Faziam três dias que estava dormindo e eu estava desesperado.

"Mas os cientistas que trabalham com Quíron criaram algo incrível. Um estimulador de células, que consegue fazer as pessoas melhorarem três vezes mais rápido que o comum. Então já vai poder voltar à atividade amanhã. Por hoje, está suspensa."

Eu rio, e ele franze as sobrancelhas.-Qual é a graça?

–Ah, Percy. Você não acredita mesmo que vou esperar até amanhã, acha?

Vejo seus olhos revirarem.-Não. Eu nem estava pensando nisso. Mas, aconteça o que acontecer, você só sai se eu for junto.

Dou risada novamente.-Eu já esperava.

Ele sorri de leve, depois se aproxima da maca. -Mas, Annie, por favor. Não faça isso de novo. Eu sei que você é uma heroína profissional, e que nosso relacionamento não é muito profundo, mas...- sua voz se torna um sussurro.- não posso perder você.

Meu peito se oprime e a culpa recai com força sobre mim. Levanto o braço que não está ferido e toco seu rosto. Talvez só eu veja a situação sem sentimentos. Talvez ele não tenha só atração por mim.

–É claro.-falo baixo. -Me desculpe por isso. Prometo que vou tentar não me machucar. Se depender de mim, você não vai me perder, entendeu?

Sua mão toca a minha.-Sim, comandante.

Ele se inclina e me beija de modo suave. Paz, é o que sinto com ele.

E com ele.

Antes que eu possa fazer qualquer coisa, seus lábios se separam dos meus, mas não se afasta. Sorri de canto e meu coração falha uma batida. Ele sempre foi assim tão lindo? O cabelo negro caindo nos olhos verdes-mar, a cicatriz no canto da testa... Talvez eu deva reconsiderar a idéia de ficar no meu apartamento hoje e talvez ele também possa... Foco, Annabeth!

–Essas histórias de zumbis estão me dando nos nervos. Vamos conversar com o Sr. Brunner. Ele deve ter novidades.- digo.

–Certo,- Percy assente.- É melhor eu ir chamar a enfermeira para te liberar, não é?

–Por favor.

...

Estamos na sala de experiências. Graças àquela invenção nova, o acelerador de moléculas humanas, já posso andar de forma normal, sentindo dor apenas ocasionalmente. Percy veio, claro. Por algum motivo, ele parece conhecer bastante a natureza Ryank. Tanto ele quanto seus irmãos adotivos.

Quíron, em sua cadeira de rodas, parece tenso quando termino de contar sobre Octavian e Calipso.

–Isso só concretiza minhas dúvidas.- ele diz.

–Como assim?- pergunto, quase desesperada.- Eu estava pensando numa idéia bem louca de que, talvez, eles estejam...

Paro na última parte. Quíron sugere: -Evoluindo? Não é louca, comandante Chase. É bem provável, na verdade, que isso esteja mesmo acontecendo.

–Mas... Mas como?

Vejo seu peito subir e descer de forma descompassada.- Se esse soldado, Octavian, havia sido mordido à algum tempo e não demonstrou sinais animalescos até aquele instante, quando sua mente começou a enlouquecer; ou se essa menina, Calipso, não ataca ninguém, mesmo com o DNA dos animais em seu sangue; isso só pode significar duas coisas: ou o VSM-02 está se extinguindo...- ele para.

–Ou? -Percy indaga.

–Ou está melhorando de verdade. E logo todos nós estaremos sujeitos aos instintos super-evoluídos. -completo, terminando a linha de pensamento.

...

Nos dirigimos para uma ala do outro lado do andar. É onde fazem os testes dos remédios e aparelhos novos criados. Há prateleiras e mais prateleiras com pequenos frascos de cores distintas. Pessoas em roupas brancas e óculos de plástico andam de um lado para o outro, enquanto conversam animadamente. Mas não é aqui que vamos parar.

Quíron avança até os fundos, onde uma porta grande e de ferro se posiciona na parede, resoluta à barrar a entrada de todos os que não estão autorizados a passar por ela. Ele digita um código sobre um pequeno monitor à direita e o painel brilhante desliza para a esquerda, nos dando passagem.

A sala é bem iluminada, totalmente branca. Apenas três cientistas estão no local. Ao nos ver, fazem um aceno para o Sr. Brunner, e apertam alguns botões numa mesa digital. No centro da sala, um círculo surge no chão e se abre devagar. Do buraco, uma grande redoma de vidro sai à tona, completamente cheia de uma gosma transparente que, se me lembro bem, conserva as células.

E, em meio a ela, um corpo machucado repousa, adormecido, se movendo apenas ao ritmo do líquido, como uma valsa solitária e aterrorizante.

–Uau!- Percy exclama, baixo, ao meu lado.- Isso é...

–É. É sim.- digo, divertida.

A cadeira de rodas segue até o grande aquário.-Este Ryank foi capturado pela comandante Chase, a um tempo atrás. Andamos fazendo experiências com ele, mas nada muito inquisidor.

Quíron assente novamente em direção às figuras de branco e uma segunda bola sobe ao lado da primeira. É uma mulher.-Já este aqui foi capturado à três dias, quando a vice-comandante Avilla-Ramirez nos alertou sobre uma mudança de comportamento nos zumbis.

Percy e eu nos aproximamos e observamos também. Parecem calmos, dormindo. Quase como pessoas comuns.

–Eles não aparentam muita diferença.- digo.

–De fato. Mas, estão vendo aqueles fios ali?- noto os eletrodos ligados às cabeças dos dois.- Nós acompanhamos o desenvolvimento cerebral de cada um. E a segunda, ela está cada vez mais sendo possuída pelos instintos animais. Porém, também está raciocinando para isso. Acredito que estamos novamente na linha tênue. Raciocínio ou impulso. -uma idéia surge em minha cabeça.- Octavian conseguiu se controlar: raciocínio. Mas, será que não fez isso apenas para esperar a hora certa para atacar?: impulso dos instintos evoluídos. Calipso não mata: raciocínio. Mas pode muito bem estar fingindo: seria impulso animal, porém adaptado pela evolução da mente. Não estou dizendo que não mudaram. Pelo contrário, mudaram muito. Só não sabemos se o bem ou o mal. Sugiro que prendam a menina.

Antes que eu possa falar qualquer coisa, Percy me corta: -Não. Ela tem 15 anos e está estável. Ninguém vai tocar nela.

Quíron me encara:- Comandante?

Olho dele para o tenente. Este se inclina e sussurra ao meu ouvido:- Por favor. Confie em mim, mais essa vez.

Respiro fundo.- Sinto muito, Sr. Brunner. Ninguém vai tocar na garota.

Ele suspira.-Certo.

O silêncio abate todos nós. Meu coração parece prestes a explodir. Ansiosa, penso. Estou ansiosa. Para colocar o plano que bolei em meio à conversa em prática.

Percy, notando minha aflição, enrosca seus dedos nos meus e, subitamente, me acalmo. Dirijo-me à Quíron sem soltá-los:

–Continuem com as pesquisas. Logo, provavelmente, eu traga mais material para vocês. Se nos dão licença...

Puxo-o para fora do lugar e para o elevador (há apenas dez elevadores na Colônia, todos são rústicos, usam correntes para subir e descer). Quando as portas se fecham, Percy pergunta:

–Que coisa é essa de materiais de pesquisa?

Reviro os olhos.- Você não vai gostar da idéia.

–Annabeth...

–Lembra daquele maldito caderno de anotações sobre os zumbis que a Hazel não jogou no rio? Pois é. Acho que vamos para sua antiga casa. E você não vai reclamar.

Parece tenso, mas assente. -Sim, Comandante.

...

–Bem caidinha, ahn? -digo, entrando, pela terceira vez.

–Ahn? Ah, sim! - Um tanto... não sei. Estranho, talvez. Devem ser as lembranças que ele tem da mãe e irmãos aqui.

Deve ser.

–Eu vou subir.- aviso, e ele rapidamente responde querer ir comigo. -O quê? Por quê? Não precisa...

–Annabeth. Eu vou com você.

Até me oporia, mas isso está muito suspeito.

Subo as escadas reparando em cada detalhe. Em cada maldito detalhe. Procurando por qualquer coisa. Mas nada.

Apenas as camadas de papel de parede rasgadas, sobre a parte inferior dos degraus. Mas não são rasgos normais. São cortes, como unhas.

Não existem predadores aqui. Não depois do vírus. E eu nunca vi uma garra com tanta profundidade assim, à ponto de perfurar a madeira. Tão profundos que, se fosse em um corpo, certamente a pessoa teria algum tipo de hemorragia ou morreria apenas pela profundidade do corte.

–Vocês tinham algum cão de estimação? - pergunto, vendo mais alguns rasgos.

Ele ri de alguma piada interna e responde que não. Olha pra mim, e tento desviar o olhar das escadas, mas não dá tempo. Então quando ele engole em seco eu sei que tem alguma coisa, muito errada.

Forço um sorriso e dou de ombros, como se em minha antiga casa também tivesse isso. Mas ela fica em São Francisco, à muitos quilômetros de distância de Paris.

–Vamos... Ahn... Continuar subindo.- ele responde rápido.

Murmuro qualquer coisa e continuamos até chegar em um dos quartos . O de Frank.

–Percy? -chamo e rapidamente procuro uma desculpa -Aqui ainda existe um banheiro?- pergunto. Ele sorri, e diz estar em algum lugar lá em não lembro onde. Realmente não ligo a mínima.

O problema foram aquelas escadas. Eu sei que tem alguma coisa nelas. Eu senti. Aqueles cortes... São anormais demais para serem de qualquer animal doméstico dos que já existiram.

Chego devagar no primeiro degrau e vasculho-o com o olhar, à procura de pistas, quando reparo um desenho. Um entalhe, para ser exata. Um tipo de S e uma estrela do mar, mas tão pequenos que não tenho certeza.

O mais silenciosamente que posso, passeio a mão por baixo da elevação e vou arrancando a base do eucalipto. Quando finalmente consigo enfiar o braço lá dentro, minha preocupação é com o tempo que levei. O que o Percy acha que eu estou fazendo no lavabo todo esse tempo?

E o que encontro...

Inacreditavelmente, com todas as probabilidades contra isso, é o livro. O livro da Hazel (Como eu sei? Ela escreveu na capa "Hazel". A menina realmente precisa rever o termo "camuflagem")!

Arfo em alegria e depois em desespero. Jackson saberia que eu li. Eu não conseguiria esconder. Então, já que ele vai descobrir de qualquer jeito, melhor ver algumas partes antes de ele chegar.

Abro as páginas e começo. É apenas um diário comum. Primeiro namorado não-zumbi. Primeira DR e etc.

A segunda parte, porém, está toda pintada de preto, à lápis. Desenhos de DNAs e células. Desenhos de Leo com olheiras e olhos vidrados.Desenhos de Frank com sangue nas mãos. Desenhos de cachorros mortos. Sangue. Tem muito sangue.

Com o coração acelerado leio e releio mil vezes a legenda até acreditar no que vejo.

"Percy perdeu o controle de novo. Dessa vez, com o cachorro da vizinha, essa que o nosso querido zumbi comeu ontem". Viro as folhas o mais rápido que posso. Ainda tem várias dessas anotações e muito desenhos. Fecho o caderno à ponto de vomitar quando escuto-o descendo.

–Alguma coisa, loira? -pergunta e quando me vê com o objeto, para bruscamente. Dou uns passos e olho bem fundo em seu rosto.

Todas as evidências do que, agora eu tenho certeza, vem em minha mente. As piadas sem sentido. Os segredos. Os olhares. O conhecimento. As mentiras. O fato de não terem encontrado o corpo de Octavian, pelo que ouvi. Calipso! Meu Deus, Calipso.

Nada do que eu pensava. Nada do que eu imaginava. Eu nunca sonharia. Agora tudo se encaixa.

–Não. Só o diário de uma menina de 14 anos.

Viro as primeiras páginas onde tudo está rosa e feliz, depois jogo-o no sofá. Como se o resto não importasse.

Percy sorri, aliviado. Com muita dificuldade eu forço um sorriso.

–Sabe -começo.- estou com saudades daquele beijo que você me deu aquele dia.

–Sério? - ele se aproxima e tenho vontade de socá-lo de mil maneiras possíveis.- Qual deles?- enlaço seu pescoço e cuspo internamente.

–Realmente importa? -e ele chega perto o suficiente.

Rasgo sua camisa, desejando mil vezes estar errada.

Mas não. Certa. A marca infectante: três projéteis de círculos e riscos.

Uma constelação de lágrimas invade meus olhos e fico tonta. Ele tenta vir até mim.

Não se aproxime! - grito e um segundo depois quase vomito as tripas fora.

Quando finalmente consigo respirar, ele ainda está lá. Com o semblante arrasado.

Mentiroso. -murmuro. Me afasto. - Pra que fez isso? Poderia ter me matado da primeira vez que eu encostei em você. Não fez nada!

–Era para dar ventagem aos meus irmãos...

Mentira!– grito. As lágrimas indo, vão tantas e tão frias. Tão frias que eu não as sinto mais, depois de um tempo -Eles são iguais à você! Poderiam ter me matado!

Ele abaixa o olhar. Eu caio.

–Você decidiu.– minha voz falha.- Você quis ir para a Colônia 3. Queria ficar sabendo de como andavam as coisas sobre a sua raça.- olho para Jackson com nojo o suficiente pra matá-lo com os olhos. -Você foi ruim o suficiente para encostar em mim. Você encostou em mim para ter oque você queria, seu animal. -ele me olha sem expressão. Eu quero machucá-lo. Igual fez comigo. - Você, seu imundo infectado, me usou, para obter oque queria. Usou à Hazy e ao Leo. Crianças! Aposto que ele criou essa sua historinha de levar vantagem.- agora as coisas vêm claras para mim. Eu consigo ver. -Aposto que eles foram lá de propósito aquele dia. O Frank e a Hazel sabiam, não é? Era realmente para eu morrer aquele dia, com o computador? As malditas cicatrizes? Aquela encenação toda? Foi para Reyna. Para ela achar que você se importava.

Tomo fôlego, caída no chão. Quebrada, dilacerada. -E posso apostar ainda mais alto: -lembro da conversa que escutei quando acordei. -você devorou Octavian! Me levou até a enfermaria para acharem que você...- arfo.- que gostava de mim. E eu acreditei! Não é?

Percy olha para mim. Olha verdadeiramente pra mim. Eu... Achei que o conhecia. Pensei até que ele... Se importava.

–Sim.- responde.

–Seu maldito Ryank. Eu vou te matar.

–Mas não é tudo mentira, Annabeth, eu...

Tiro a arma do coldre e disparo. Já não ligo para o silenciador.

Já não ligo para nada.


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Notas finais do capítulo

Comeeeeentem por favor!! Bjs e até mais!