“Chega! Agora foi a gota d’agua. Quem aquela Hyuuga pensa que é? Ela chegou aqui nesse colégio bem depois de mim, mal conhece o Sasuke-kun e acha que pode ter toda atenção dele só para ela? Eu não vou deixar isso acontecer. Aquela mosca-morta irá me pagar muito caro.”

Faltavam alguns minutos para as aulas chegarem ao fim e Sakura estava com os nervos à flor da pele. Há alguns dias atrás, Sasuke mudou totalmente de comportamento com relação à ela e Naruto. Antes, os três colegas passavam a maior parte do tempo juntos, mas agora ele estava cada dia mais distante. Sakura acreditava que a culpa por tudo aquilo estar acontecendo era de Hinata, afinal a morena era a única envolvida nas mudanças repentinas de seu Sasuke-kun.

Assim que o último sinal soou, Sakura foi tirada de seus devaneios pelo barulho da sirene. Notando que Hinata já havia se retirado da sala, ela guardou rápido os materiais e seguiu rumo aos corredores movimentados. A maioria dos alunos nota o olhar raivoso que a rosada carregava nos olhos esmeraldinos, temendo pela pobre alma daquele que ousou tirar o autocontrole da mesma. Algo não iria acabar bem.

Quando enfim chegou próximo aos armários, Sakura avistou Hinata terminando de arrumar alguns livros no armário. Ela estava distraída e não notou a rosada lhe encarando com os punhos cerrados à poucos metros de distância. Após a morena fechar o armário, virou-se na direção oposta de onde Sakura estava, e começou a caminhar para a saída principal sem sequer notá-la.

A rosada seguiu-a até os portões da frente, sabia que não podia fazer nada com Hinata até que ela saísse do “território escolar”. Fora da escola as chances de ser expulsa diminuíam, talvez pegasse apenas uma suspensão pelo que planejava fazer com a Hyuuga. Talvez, se a ameaçasse, ela ficaria calada e acataria com suas ordens.

Após se afastarem alguns metros dos portões principais, Hinata adentra em uma lanchonete pouco movimentada. Essa era a chance de Sakura, enfim colocaria a Hyuuga mosca-morta em seu devido lugar.

Determinada em seguir até o fim, Sakura entra no estabelecimento poucos segundos depois. A rosada vasculha o estabelecimento com olhos ágeis, procurando pela Hyuuga, quando enfim a encontra sentada em uma mesinha num canto mais isolado da lanchonete. A morena estava, como de costume, lendo um livro.

“O que o Sasuke-kun viu nessa garota? Além de ser uma mosca-morta, é sem sal e CDF. Deve cheirar a mofo de tanto que lê esses livros.”

A rosada tratou de fazer a pior cara possível de menina má, séria e com as sobrancelhas franzidas, e, em passos rápidos, chegou à mesa em que Hinata estava sentada, distraída com seu livro. Para chamar a atenção da morena, apertou fortemente os punhos e os bateu com força em cima da mesa, fazendo-a tremer e quase quebrar. No mesmo instante, Hinata a encara com um olhar amedrontado e o coração acelerado.

— Sa-Sakura-chan? – Perguntou em um tom baixo. Sua mão direita tentava inutilmente acalmar seu coração que batia forte devido ao susto que levara. Hinata mal teve tempo de se acalmar e Sakura logo apontou o dedo indicador em seu rosto, começando a falar e esbravejar de forma rápida e descontrolada.

— Escute aqui Hyuuga, eu quero que você fiquei longe do MEU Sasuke-kun está me entendendo? Quem você pensa que é para chegar assim do nada e roubar ele de mim? Que eu me lembre não te dei esse direito. – O rosto de Sakura estava tão vermelho que ficava estranho em contraste com o cabelo cor de rosa. Hinata estava soando frio, sabia que o temperamento de Sakura não era dos melhores.

— E-eu não es-estou... – Antes de conseguir, ou ao menos tentar, defender-se das acusações de Sakura, a rosada lhe interrompe aproximando ainda mais os rostos uma da outra.

— “E-eu não es-estou...” Será que não consegue terminar nem uma frase sem gaguejar? Ontem você estava toda durona quando fui educadamente lhe pedir explicações. Para onde foi  sua coragem mosca-morta? Enfim, não importa. Só te segui até aqui para deixar uma coisa bem clara, FIQUE LONGE DO SASUKE-KUN! ELE É MEU E DE MAIS NINGUÉM! – A rosada, sem se importar com as pessoas que olhavam com preocupação para o “pequeno showzinho” que havia armado, simplesmente gritou as últimas palavras para que todos soubessem que Sasuke Uchiha era somente dela. Além de ofender a morena com o apelido de “mosca-morta”, ainda gritou chamando a atenção até de alguns alunos que passavam pela frente da lanchonete.

Naquele momento, uma fúria repentina dominou o corpo pequeno da morena que levantou-se rápido fazendo a cadeira ranger na madeira envernizada do chão. Porém, diferente da rosada à sua frente, Hinata tratou de dizer cada palavra com calma e convicção, como se estivesse dando uma bronca em uma criança travessa e escandalosa.

— Sakura-chan, eu não roubei o Uchiha-san de ninguém e peço que não me insulte mais desta forma, porque não lhe fiz nada desde o dia em que coloquei meus olhos em você. – Ela sentia que a qualquer momento iria desmoronar, seus olhos já estavam ficando turvos, mas ela tinha que continuar, tinha que acabar com aquilo de uma vez por todas. – Você acha mesmo que eu queria estar aqui? Que eu quero ficar com o “Sasuke-kun”? – Hinata imitou a voz melosa de Sakura ao pronunciar o nome do moreno, o que serviu para deixar a rosada com mais raiva. – Uma última coisa, o Uchiha-san não é meu, não é seu e não é de ninguém.

Sakura tinha os dois punhos próximo ao peito, os braços flexionados para trás em um claro sinal de que iria atacá-la a qualquer momento, os nós de seus dedos estavam brancos tamanha força que utilizava para tentar se controlar.

O que aconteceu no momento seguinte foi algo muito rápido, Sakura esticou o braço direito na direção de Hinata, pronta para desferir um soco certeiro no rosto angelical. A morena, sabendo que era tarde demais para reagir, simplesmente fechou os olhos pronta para receber a surra que viria, mas o que ouviu foi um estalo alto e nenhum sinal de ardência em sua face.

Com certo receio, Hinata abriu seus olhos lentamente, o corpo ainda estava encolhido esperando uma nova reação de Sakura, mas o que viu a deixou abismada, literalmente de queixo caído.

Sakura estava com o rosto em chamas, não pela raiva que sentia, mas sim de vergonha. Os olhos esmeraldinos estavam esbugalhados e a boca aberta em total espanto. A pessoa que segurava fortemente seu pulso, possuía uma expressão séria e calma no belo rosto, mas seu olhos demonstravam um brilho diferente, ali estava guardada toda a raiva que sentia.

— O que você pensa que está fazendo Sakura? – Os olhos, antes ônix, adquiriam um coloração avermelhada. A mãe grande de Sasuke aperta ainda mais o pulso fino da rosada.

— Sa-Sasuke-kun, está me ma-achucando. – Disse com certa dificuldade devido as lágrimas que começavam a se formar, ela gemia baixinho de dor.

Enojado pelas lamentações da ex-amiga, Sasuke solta o pulso da rosada com certa brutalidade, fazendo-a recuar dois passos para trás e cair sentada no chão duro de madeira. Sakura, percebendo o grande problema que havia criado, encontrava-se com o rosto encharcado pelas lágrimas. A rosada olhou uma última vez para Sasuke, na esperança de que ele se arrependesse por tê-la empurrado, mas tudo que viu foi a mesma expressão fria e distante de sempre. Olhou também para Hinata, a morena estava no mesmo local, com uma das mãos no coração e a outra tampando a boca. Diferente de Sasuke, Hinata sentia pena de Sakura e queria ajudá-la, mas não tinha coragem.

 A rosada, por fim, fechou os olhos com força e colocou as duas mãos na cabeça. Ela não queria acreditar, não podia acreditar que o SEU Sasuke-kun preferia defender a mosca-morta do que defender à ela. Tudo que queria era ir para casa e chorar até que não sobrasse mais lágrimas. Decidida a sumir, levantou-se rapidamente do chão e saiu correndo, sem olhar para trás ou dizer qualquer palavra.

Aos poucos, as pessoas que assistiam ao “pequeno showzinho” armado, voltaram as suas rotinas normais, como se nada tivesse acontecido. Após alguns segundos, Sasuke voltou ao seu “estado normal”, o rosto sem expressão nenhuma e os olhos frios como gelo, mas havia um brilho diferente neles que Hinata não conseguiu decifrar.

— Tudo bem? – Perguntou o moreno olhando-a diretamente.

— Não muito... – Murmurou baixinho abraçada ao seu próprio corpo.

Hinata mantinha a cabeça baixa e, sem querer, deixou uma fina lágrima escorrer livre pelo rosto angelical de porcelana. Ela não queria chorar, não na frente dele, mas algo nas palavras de Sakura a afetaram profundamente. Não sabia se era pelo apelido maldoso utilizado, afinal nunca ninguém havia sentido tanta raiva dela, além de seu pai lógico. Talvez não fosse capaz de ser forte quando o assunto envolvia brigas e discussões. Durante toda a sua infância, assistiu as brigas constantes de seu pai e sua mãe, até a segunda adoecer. O olhar de Sasuke ao mirar as esmeraldas de Sakura foi algo tão frio, tão impiedoso, que a fez lembrar de Hiashi.

— N-não precisava ter sido tão rude com a Sakura-chan, ela ama você. – Hinata só notou que seria melhor ter ficado com a boca fechada, quando encontrou as sobrancelhas grossas de Sasuke franzidas em um claro sinal de irritação.

— Hinata, não a defenda. – Sasuke mantinha os braços cruzados e o porte altivo. –Sakura não me ama, ela é obcecada por mim o que a torna uma mulher perigosa.

— Mas... – Tentou argumentar, mas Sasuke foi mais rápido.

— Sem “mas” Hyuuga. – Disse em um tom mais elevado, fazendo Hinata calar-se por completo.

Sasuke sabia que estava pegando pesado com Hinata. Apesar de conhecê-la muito pouco, o sentimento de sempre se preocupar em primeiro lugar com os outros, era algo visivelmente nítido na personalidade da morena. Mesmo Sakura tendo a humilhado, gritado e quase a agredido, Hinata não conseguia deixar de querer ajuda-la e defende-la. E foi com esses pensamentos, que Sasuke tentou concertar sua burrada.

— Quer que eu te acompanhe até em casa? – Perguntou utilizando um tom de voz preocupado. Após alguns segundos raciocinando, Hinata respondeu.

— Não, eu só preciso ficar sozinha sabe? – A morena guardou o livro que ainda se encontrava em cima da mesa e colocou a alça da bolsa escolar em cima do ombro direito, pronta para ir embora.

— Tudo bem, mas amanhã iremos fazer o trabalho logo após as aulas, então me espere no banco da árvore.

E assim partiram para lados opostos, com pensamentos e corações confusos pelos acontecimentos daquela tarde. O que Hinata não sabia, é que um certo loiro também acompanhou a confusão do lado de fora da lanchonete e não pôde deixar de notar que a pequena e frágil Hinata se transformava na determinada e corajosa Hinata quando o assunto era defender seus ideais.