Spirit Bound - o Recomeço escrita por Bia Kishi


Capítulo 33
Capítulo 33 - Em busca de uma alma


Notas iniciais do capítulo

Eu entrelacei meus dedos nos dele.
— Por favor. Por mim.
— Não sabe o que está me pedindo garota. Não tem idéia.
— Eu te amo – eu sussurrei.



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Eu não sei por quanto tempo as coisas permaneceram daquele jeito. Tudo que eu sei é que meus olhos não se desviavam de Dimitri. Ivan havia tomado o remédio. Dimitri o havia ajudado a se deitar na pequena cama de cimento. Eu não resisti, precisava me aproximar.

            Entrei na cela e me sentei em uma cadeira.

-           Porque o mantém aqui se sabe que ele está doente.

-           Você não entende – Dimitri me respondeu.

-           Eu sou uma ameaça, Rose. Por isso passei boa parte da minha vida me escondendo de todos.

-           Como pode ser uma ameaça Ivan? Você é bom.

Dimitri sorriu.

-           Eu não fui sempre assim, Rose. Como acha que eu ganhei a indiferença do meu filho?

          Em bora nenhuma palavra tenha saído da boca de Dimitri, seus olhos me diziam que Ivan tinha razão.

-           Eu não sou Deus Rose. Não posso brincar de Deus. Além disso, minha mágica é perigosa. Se cair em mãos erradas, isso... isso... – eu o interrompi.

-           Qual é sua mágica Ivan?

            Dimitri fitou o chão, como se pudesse prever minha reação.

-           Eu posso restaurar uma alma, Rose. Posso manda-la de volta ao corpo.

          Minha mente toda parou. Eu sentia como se tudo se movesse em câmera lenta – Ivan poderia trazer uma alma de volta? Ele poderia trazer Dimitri de volta? Eu quase não podia acreditar.

-                  Você... Você... – eu não conseguia ordenar as palavras.

-           Não! – Dimitri interrompeu – ele não agüentaria. Está fraco. E eu não tenho salvação.

Ivan deslizou a mão pelo braço de Dimitri.

-           Você não está perdido, meu filho. Ainda é o mesmo homem. Deixe-me te ajudar.

-           Você não pode. Eu não tenho mais uma alma para ser curada.

-           É claro que tem! – a voz doce e meiga de Anita nos interrompeu – eu sei onde está a sua alma.

            Todos na cabana olharam direto para Anita.

-           Não dêem ouvidos para a menina. É só uma criança – enfatizou Dimitri.

-           Engano seu, meu filho. Essa criança vai salvar a sua vida.

Dimitri se levantou tão rápido que a cabeça de Ivan bateu contra o travesseiro.

-           Quem foi que disse que eu quero ser salvo? Eu estou ótimo assim! Aliás, eu estou muito melhor assim. Vão! Vão todos embora daqui, antes que eu me arrependa e os coma no jantar.

-           Não! - eu o segurei pelos pulsos – eu não vou á lugar algum. Não vou deixa-lo. Se quiser ficar livre de mim terá que me matar.

-           Não me dê idéias, garota, não me dê idéias.

-           Dimitri? – a voz de Ivan era tão fraca que quase não conseguíamos ouvir – eu estou morrendo. Vou morrer de um jeito ou de outro. Deixe-me fazer isso. Deixe-me salva-lo antes de partir.

            Eu entrelacei meus dedos nos dele.

-           Por favor. Por mim.

-           Não sabe o que está me pedindo garota. Não tem idéia.

-           Eu te amo – eu sussurrei.

Dimitri me abraçou apertado, enquanto eu escondia meu rosto em sua camisa – não existia nada melhor no mundo que sentir aquele cheiro. O cheiro de loção pós-barba do homem que eu amava. Meu Dimitri. Eu não o deixaria ir sem lutar.

-           Eu também Roza. Eu também.

-           Então me deixe te salvar.

            Dimitri passou os olhos em todos nós por um instante. Desde Lissa e Adrian até a pequena Anita, todos o olhavam com encorajamento. Por mais que ainda fosse um Strigoi, Dimitri sempre teria algo do homem que havia sido. Seus olhos se perderam nos de Ivan. Nenhum dos dois disse nada, mas eu sabia que o momento ali era de perdão. Perdão e amor. A maior mágoa de Dimitri era sem duvida alguma não ter tido o amor do pai, agora Ivan estava ali, oferecendo á ele á própria vida.

-                  Tudo bem – Dimitri deixou escapar entre dentes.

Eu sentia um misto de esperança e desespero – se algo não desse certo eu não teria outra chance, e eu não podia considerar essa hipótese.

-                  O que temos que fazer? – eu perguntei para Ivan.

-                  Trazer a alma de Dimitri até aqui.

Meus olhos foram direto para Adrian.

-                  Você pode! Quer dizer, você sempre consegue. Você entra nos sonhos.

Adrian deixou os olhos se perderem.

-           Não é bem assim Rose – seus olhos fugiam dos meus – minha mágica ao funciona com os mortos. Eu não posso encontrar Dimitri.

          Eu não sabia o que pensar, nem sabia o que dizer, mas eu não desistiria.

-           Talvez eu possa! Se Mason me ajudar, talvez eu possa!

Concentrei-me o máximo que pude para chamar o fantasma do meu amigo.

Mason apareceu alguns instantes depois. Cmo se ninguém nos observasse, eu conversei com meu fantasma.

-                  Mase eu preciso de ajuda.

-                  Eu sei Rose. Eu estava observando.

-                  Então vamos lá, me diga o que eu preciso fazer!

Mason me olhou com os mesmos olhos de Adrian.

-                  Eu não posso ajudar Rose. Não posso trazer Dimitri para cá. Nem você pode.

Meus olhos encheram de lágrimas e minha voz ficou embargada – depois de tudo, a única oportunidade real de salvar Dimitri acabaria assim, sem nem mesmo ter começado.

            Dimitri me abraçou e eu enterrei meu rosto em sua pele mais uma vez – se não houvesse outra saída, eu me transformaria. Eu me tornaria um Strigoi. O que eu não poderia era ficar longe dele. Não mais.

-                  Não acredito que nenhum de nós pode! – Lissa desabafou.

-                  Eu conheço alguém que pode

A voz era tão suave que mais parecia de um anjo. Eu olhei para afigura sem ter certeza se todos podiam vê-la. Quando percebi a reação de meus amigos, eu entendi que só eu e Anita a víamos – Diana, minha tia.

-           Mamãe! - Anita falou.

-           Sim querida, sou eu.

-           Eu não sei como fazer. Eu não posso.

            Diana caminhou até ela e estendeu a mão.

-           É claro que pode! Você é minha garota!

          Mesmo sem nada ver, Stan sorriu. Ele fechou os olhos e aspirou o ar em torno de si – o aroma de lírios e madressilvas, o cheiro dela.

          Anita se levantou e olhou para Stan.

-                  Eu preciso ir.

-                  É muito perigoso, querida. Não posso deixa-la ir só.

Anita sorriu ao mesmo tempo que Diana.

-           Eu não vou sozinha – ela parou e encarou a forma iluminada da minha tia – Mamãe vai comigo.

          Stan não a impediu. Ao invés disso a aconchegou no colo mais forte. Anita adormeceu e eu a vi sair de seu corpo. Mais uma vez, ela era a forma iluminada que havia me visitado.

 

***

Eu nunca pensei que seria fácil. Não seria. Convencer alguém de que precisa voltar para o sofrimento e a dor nunca é fácil. Dimitri estava bem. Ou pensava que estava. Mas eu precisava tentar. Eu precisava tentar por ela. Eu não queria que Rose sofresse como Stan. Meu Stan. Olhar novamente em seu rosto e ver que ele ainda se lembra de mim foi ainda mais doloroso do que eu pude imaginar.

Afastei os pensamentos de minha mente e caminhei segurando a mãozinha de minha filha pelo campo. Um campo florido. Alguém já lhe disse que o céu tem a forma de seus maiores desejos? Pois bem. O céu de Anita era florido. Doce e suave como meu bebê.

A cabana onde Dimitri estava não ficava muito longe. Eu entendia perfeitamente porque ele havia escolhido aquele céu – era o lugar onde ele havia sido mais feliz. Era o lugar onde ele e Rose haviam se amado.

Bati na porta e esperei que alguém abrisse.

Dimitri apareceu.

-                  Oi guardião! Lembra-se de mim?

-                  Diana!

-                  Memória boa a sua.

-                  Eu não me esqueceria de alguém como você.

-                  E vejo que ainda continua galante!

Dimitri sorriu. E eu sorri com ele.

-                  É sua filha?

-                  Sim – eu respondi olhando para Anita.

-                  Ela... Ela... – Dimitri não sabia como perguntar.

Eu sorri novamente.

-                  Não. Ela ainda está viva. Só tem algumas peculiaridades.

Dimitri sorriu, acariciando o rostinho de Anita.

-                  E como não teria sendo sua filha.

Ele fez sinal para entrássemos e nós o acompanhamos na pequena cabana. Anita se sentou e pegou um biscoito.

-                  Porque veio, Diana? Pessoas como nós não vem apenas fazer uma visita.

-                  Eu vim ajuda-lo. Anita vai ajuda-lo, na verdade.

-                  E porque eu precisaria de ajuda?

-           Você precisa voltar Dimitri. Precisa deixa-la te ajudar. Ela o ama.

-           Eu não quero. Estou bem aqui. Eu não quero voltar – Dimitri pensou um pouco antes de dizer – ela vai acabar me esquecendo.

-           Não Dimka, ela não vai – eu segurei suas mãos entre as minhas – assim como você não vai esquece-la. Assim como eu e Stan não esquecemos. Você está tendo uma chance de ouro. Não desperdice.

            Dimitri baixou os olhos e ficou em silencio. Eu não sabia o que se passava em sua mente, mas fazia idéia. Duvidas.

            Anita se levantou e caminhou até Dimitri. Suas mãozinhas pequenas quase se perdiam nas dele.

-           Por favor moço bonito, ajude a Rose. Ela pensa que não sei, mas ela chora tanto. Á noite, ás vezes, ela chora por você. Eu queria tanto ajuda-la, mas eu não posso, não consigo.

Dimitri engoliu em seco.

            Sues braços fortes seguraram Anita entre eles e ele chorou.

-                  Eu também choro, pequena.

Anita sorriu.

-                  Então vamos! Não podemos perder tempo!

Eu sorri vendo minha garotinha arrastar aquele homem imenso pela mão – Anita era mesmo muito parecida comigo.

Acenando para mim, minha garotinha se foi, levando com ela o maior presente que alguém poderia dar á minha sobrinha. Uma nova chance.


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