Spirit Bound - o Recomeço escrita por Bia Kishi


Capítulo 30
Capítulo 30 - Tábuas Soltas


Notas iniciais do capítulo

Fraco! Minha mente repetia para mim o tempo todo.
A verdade é que fraqueza ou não, ela me fazia sentir um pouco mais perto do homem eu que quis ser um dia, e eu não queria deixar isso para trás.



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Anita estava chorando. Meio soluçando, meio tremendo. Eu corri até onde ela estava e coloquei a mão sobre seus ombros.

-           Anita?

      Ela não respondeu.

-           Anita? – eu chamei mais alto.

      Nenhum sinal de resposta.

      Segurei seus ombros, um pouco mais forte, e a chacoalhei um pouco.

-           Anita, Anita, Anita! – eu gritei.

Como se tivesse voltado ao próprio corpo Anita abriu os olhos assustados. Seu rosto era um misto de desespero e susto.

-           Rose? É você mesma? Rose?

-           Sou eu!

      Ela se jogou em meus braços com tanta força que eu caí para trás, de costas no chão.

-           Ah Rose, eu fiquei tão preocupada! Achei que o moço bonito tivesse te machucado.

      Baixei meus olhos para as tábuas do piso novamente.

-           Ele machucou; mas não do jeito tradicional.

Eu não expliquei mais nada e Anita também não perguntou mais nada – para minha sorte a garota não era do tipo tagarela, ou melhor, não era como eu – essa devia ser á parte em que ela se parecia com o pai.

            Ajeitei-me um pouco melhor sentada no chão da cela e Anita se ajeitou ao meu lado. Ela recostou a cabeça sobre meu ombro e eu passei o braço em volta dela - era engraçado finalmente estar ao lado de Anita – fiquei pensando em Stan. No que ele pensaria da cena que acontecia agora dentro daquela cela.

-           Lissa vai nos ajudar.

      A voz de Anita fez um arrepio gelado escorregar por toda a minha coluna.

-           Como assim Lissa?

-           Sabe, Lissa! Sua amiga Lissa! Ela vai nos ajudar.

-           Oh meu Deus Anita, me diga que não falou com Lissa!

-           Eu falei!

            Eu engoli em seco – Lissa, metida nessa história era tudo que eu não podia deixar acontecer!

            Anita me olhou com os olhinhos mais tristes que eu já tinha visto, ou melhor, quase! Sim porque Lissa era especialista naquele olhar tristonho que me fazia sentir o pior meio-humano da face da terra.

-           Hey, não estou chateada com você – eu disse, segurando seu rosto entre minhas mãos – só estou preocupada com ela.

-           Desculpe Rose, mas eu estava mesmo preocupada – ela choramingou – na verdade, eu estava apavorada. Sabe, o moço bonito, ele traz as pessoas aqui e depois elas não voltam Rose, eu sei! Eu sinto!

-           Eu sei Anita, eu entendo – eu a tranqüilizei.

-           Não Rose, você não entende. Você não sabe como é. Eu sinto. Eu ouço. O moço bonito que mora aqui, ele não é bom. Ele é mau. O outro, o outro é bom.

Minha cabeça era uma confusão só!

-           Eu queria ajudar ele Rose. Eu queria muito ajudar ele – a garota começou a chorar compulsivamente – eu não sei como Rose! Mas eu sei que tem um jeito! Eu sei.

-           Acalme-se Anita. Acalme-se – eu a abracei – nós vamos sair daqui. Vamos conseguir e então vamos poder ajudá-lo.

            Anita me abraçou com tanta força que quase me faltou o ar. Eu a segurei junto á mim até que ela adormecesse.

            Depois de deixa-la tão confortável quanto era possível naquele chão frio e úmido, eu me levantei e andei em volta da pequena cela. Era um espaço apertado e baixo, com algumas tábuas soltas no teto. Eu alcançava as tábuas facilmente – o que me deu algumas idéias de fuga. Claro que carregar Anita em plena luz do dia pelo meio da neve – e sem nenhum tipo de transporte – seria bem difícil, uma vez que Anita era mais Moroi do que deveria, já que era filha de um Dhampir; mas se essa fosse a única solução, eu teria que fazer. O que eu não poderia era deixar a garota ali, sem ter uma vida decente – não que a minha fosse decente, ultimamente minha vida se resumia a correr atrás de Dimitri e correr “de” Dimitri, mas isso era outro assunto.

            A sensação desconfortável em meu estômago me avisou que eu receberia uma visita em breve – Mason.

-           Não acredito que caiu nessa de novo, Rose! Estou começando a achar que o que te mantinha em segurança era mesmo eu! – Mason brincou.

-           Há, há! Estou morrendo de rir, Hashford!

-           Não pode dizer que não é engraçado Hathaway.

-           Não quando é o meu pescoço que está na guilhotina.

-           Ah Rose, não seja boba! Sabe que ele não vai te matar. Se ele quisesse mesmo, já teria te matado.

Isso era mesmo verdade – se Dimitri quisesse me matar, não precisaria de ajuda nenhuma. Não precisaria nem mesmo da minha falta de senso de auto-proteção!

            O espírito de Mason se sentou na banqueta de madeira que ficava ao lado do colchão de Anita.

-           O que está fazendo Rose? – ele me perguntou.

-           Procurando uma tábua solta.

-           Não está pensando em fugir, não é?

-           É claro que estou Mase! Acha mesmo que eu ficaria aqui, esperando um acesso de fúria – ou fome – de Dimitri para que ele acabe comigo e com Anita?

-           Rose, não seja boba! A garota está aqui desde que era quase um bebê. E você, como eu já disse, Dimitri não vai matar.

            Eu olhei para ele franzindo o cenho e fazendo careta.

-           Eu não contaria tanto assim com as boas intenções de um Strigoi.

-           Porque? Só porque ele não a quis?

            Eu senti o sangue correr de todo o meu corpo e se concentrar em meu rosto.

-           Ah Rose, pare de bobagens, eu já vi você fazendo coisas piores!

-           Mase!

O espírito de Mason soltou uma gargalhada tão gostosa, que me lembrou meu amigo. Eu sorri junto.

-           Sabe porque ele não quis?

-           Porque eu não sou tão desejável assim? – eu brinquei, jogando meu cabelo para trás.

-           Não sua boba! É porque você traz á tona o que ele tem de bom, e Dimitri está lutando contra isso. Está lutando contra você, contra o que ele sente por você.

      Eu soltei a tábua e baixei os braços, encarando Mason.

-           Acha mesmo?

-           Eu não acho Rose, eu sei!

Vários pensamentos passaram em minha mente naquela fração de segundos em que eu fiquei em silêncio – Mason sempre me dava bons conselhos. Até quando me ajudava em meus planos suicidas, ele me dava bons conselhos.

-           Eu preciso sair daqui Mase. Preciso sair e tentar ajuda-lo – eu parei e deixei meus olhos encontrarem o chão – mais uma vez.

-           Rose, Rose – Mason sorriu – você está muito mais perto disso do que imagina.

            Eu não havia compreendido o comentário o suficiente, mas era uma boa noticia, sem duvida. Então, eu continuei a procurar uma tábua solta no piso da cabana.

-           Hey garoto, vamos lá, me ajude!

-           Acho que está pedindo para o cara errado, Srta Hathaway – Mason apontou para a própria forma iluminada – eu sou um fantasma, e fantasmas não tirar tábuas do chão!

-           Só se você nunca assistiu poltergeist! – eu brinquei.

            Mason sorriu.

-           Essa é a minha garota!

-           Achei!

      Eu puxei uma tábua no canto da cela e ela se soltou em minha mão.

-           Mase, veja se Dimitri está lá fora.

-           Não Rose, ele não está. O dia já amanheceu, ele está descansando.

-           Perfeito!

Eu continuei tentando soltar as outras tábuas ao lado para que formassem uma abertura grande o suficiente para que eu e Anita pudéssemos passar. Mason continuou ao meu lado, olhando e rindo das minhas técnicas – nada convencionais – para arrancar a madeira do piso da cabana.

***

            Aquele sentimento perturbador me acompanhava a cada vez que eu a deixava. Era tão patético que mesmo depois de tudo que eu havia feito, a garota ainda me quisesse. Eu não entendia porque. Ela era tão linda e tão jovem. Deveria ter aprendido a ser mais inteligente também. Eu já não era bom para ela quando era um Dhampir, seria pior ainda agora que sou um Strigoi.

            Entrei no Bentley e dirigi até meu esconderijo – o dia estava começando a clarear e eu precisava me proteger do sol. Pensei em minha existência mais uma vez. Em como seria a eternidade sem ela – eu não poderia mais tê-la em meus braços. Não poderia mais dar vazão á um sentimento que só me tirava o foco. Que só me lançava mais longe dos meus objetivos.

            Entrei na cabana antiga e me sentei em uma das poltronas de couro da sala – tudo parecia tão vazio e solitário – por um momento mais eu a quis comigo. Quis que ela estivesse ali ao meu lado. Quis que fosse como eu. Não! Eu não queria. Eu não queria que ela fosse como eu, porque ela tinha uma opção. Eu não tiraria nada dela, nunca. Eu nem mesmo conseguia tira-la do meu coração.

            Fraco! Minha mente repetia para mim o tempo todo.

            A verdade é que fraqueza ou não, ela me fazia sentir um pouco mais perto do homem eu que quis ser um dia, e eu não queria deixar isso para trás.


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