Spirit Bound - o Recomeço escrita por Bia Kishi


Capítulo 28
Capítulo 28 - Laços de Sangue (parte I)


Notas iniciais do capítulo

Chegamos ao estacionamento do subsolo e Ivan tirou do bolso a chave do Lexus preto que Adrian costumava usar. Ele apertou o botão do alarme e destravou as portas. Quando coloquei minha mão na maçaneta, mãos pesadas e quentes me seguraram pelos ombros.
— Vai á algum lugar Hathaway?



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Eu caminhei com Ivan pelos corredores do hotel. Muitas pessoas passavam por nós com suas sacolas de compras e suas crianças. Fazia tanto tempo que eu não convivia com os humanos que sair assim no meio da nossa “noite” era curioso. Enquanto eu observava os rostos dos humanos que passavam por nós, pensei em como a vida era engraçada – eles não faziam a menor idéia do mundo que os cercavam, ou pelo menos a maioria não fazia.

            Chegamos ao estacionamento do subsolo e Ivan tirou do bolso a chave do Lexus preto que Adrian costumava usar. Ele apertou o botão do alarme e destravou as portas. Quando coloquei minha mão na maçaneta, mãos pesadas e quentes me seguraram pelos ombros.

-           Vai á algum lugar Hathaway?

      Eu engoli em seco – Stan.

            Permaneci em silêncio por alguns segundos, por que eu não fazia idéia do que dizer á ele – qualquer coisa que eu dissesse poderia (e seria) usada contra mim mais tarde.

Ivan me salvou.

-           Eu preciso sair, guardião Alto. A guardiã Hathaway vai me acompanhar.

-           Rose é guardiã da princesa, Sr. Dashkov.

Ivan sorriu para Stan com o mesmo rosto que Lissa costumava sorrir para a “alta cúpula” de St. Vladimir – compulsão. Ivan estava usando compulsão com Stan. E a julgar pela cara de Stan, estava funcionando.

            Ivan apertou os olhos um pouco mais e pronunciou as palavras com muito cuidado.

-           Rose vai comigo, Stan. Vamos fazer compras e voltaremos ao amanhecer. Diga á todos que não precisam se preocupar, que estamos bem e mantenha seu celular ligado. Se precisarmos, ligaremos.

      Stan respondeu algo como um “okay” meio perdido entre balbucios e saiu.

Confesso que eu me senti meio culpada por ter permitido que Ivan usasse compulsão nele, afinal Stan era um grande amigo e eu sabia que se explicasse tudo para ele direitinho, ele entenderia; mas Ivan achou melhor assim e eu não quis discutir com ele – talvez ele fosse o único que pudesse realmente me dar às respostas que eu queria.

      Ivan abriu a porta do carona e entrou – o que significava que ele esperava que eu dirigisse.

      Peguei a chave das mãos dele e liguei o carro.

-           Siga em frente na avenida principal, Rose. Continue no trajeto da alto-estrada até que eu avise.

      Eu fiz o que ele me disse.

Em silêncio, nós continuamos pela auto-estrada até que não se podia ver muito mais do que neve e árvores secas pelo caminho – se Ivan pretendia me matar, aquele era o lugar ideal.

-           Vê aquela estrada Rose? – perguntou Ivan.

Eu não via muito mais do que uma trilhazinha aberta no meio do mato, mas assenti com a cabeça, mesmo assim.

-           Entre por ela.

      Eu entrei.

-            Continue dirigindo Rose.

Cerca de dez minutos entrando em algum buraco que eu nem imaginava onde era – e do qual eu não fazia idéia de como sair – Ivan me mandou estacionar ao lado de um casebre de madeira.

            Assim que desci do carro, meu estômago deu sinal de vida – Strigoi.

            Eu não precisei dizer nada á Ivan – provavelmente o desespero em meus olhos falou por mim.

-           Não se preocupe Rose – Ivan olhou para o céu encoberto por nuvens, mas ainda assim claro e brilhante – eles não estão aqui agora.

            Respirei fundo e tentei administrar meu desespero – eu não queria saber quem eram “eles” porque no fundo eu imaginava.

            Ivan era um homem velho. Embora mais forte que Victor, ele ainda assim, era fraco e debilitado e eu não entendia de onde ele tirava tanta coragem, quer dizer, o cara estava entrando sozinho em uma cabana que provavelmente era esconderijo de um bando de Strigoi. Por mais que eu não entendesse, eu o admirava cada vez mais.

-           Venha Rose, entre, se ficar aí fora mais tempo vai congelar.

Toquei meu rosto com a mão e percebi que minha pele estava realmente mais dura que o de costume – Okay, melhor correr o risco de morrer do que ficar desfigurada!

Eu entrei.

O casebre – que mais parecia um cativeiro de seqüestro – estava empoeirado e escuro, por sorte, Ivan e eu não precisávamos de muita luz para enxergar.

-           Você quer vê-la, Rose?

      Eu engoli em seco, enquanto meu estomago revirava novamente, desta vez, de ansiedade.

-           Que... quero – as palavras pareciam escorregar dos meus lábios cerrados.

      Ivan me indicou uma escada no final do cômodo que deveria ser um quarto.

-           Galina á roubou assim que teve uma oportunidade. Ela sabia o quanto Anita era especial e por isso a capturou. Galina precisava de mim também, foi por isso que eu fugi.

-           Anita está aqui?

      Ivan assentiu com a cabeça.

-           Anita está aqui, esteve aqui o tempo todo! Você sabia! Como. Como pode não contar nada! Como pode não contar á ninguém? Você sabia o quanto Stan a queria!

-           Não seria a primeira vez em que ele enganaria alguém em beneficio próprio.

A voz saiu de algum lugar no meio das sombras – eu sabia exatamente de quem se tratava e não conseguia definir se isso era bom, ou ruim.

-           Você vai me culpar para sempre não é?

            Dimitri caminhou suavemente, saindo das sombras como se o mundo pertencesse á ele – tanto tempo depois e eu ainda não conseguia deixar de admira-lo. Ele escorregou os dedos entre os cabelos, apertando mais a tira de couro que os prendia.

-           Você não vai viver para sempre, Ivan.

-           Não, eu não vou – os olhos de Ivan fugiam de Dimitri todo o tempo, como se algo o envergonhasse – e você também não precisa. Me deixe te ajudar, me deixe tentar.

      A gargalhada de Dimitri me lembrava mais um demônio do que o homem que eu amava.

-           Me ajudar? Me ajudar? Quando foi que você quis me ajudar Ivan? Quando foi que tentou?

      Agora eram os olhos de Dimitri que fugiam de Ivan.

-           Eu quis sua ajuda um dia. Quis que estivesse perto. Eu quis poder contar com você Ivan, quis confiar em você. E o que eu ganhei?       

      Uma lágrima brilhante desceu na pele branca de Ivan.

-           Vai poder me perdoar algum dia?

Dimitri parou bem em frente á Ivan, com um sentimento tão duro nos olhos que eu nem conseguia entender ao certo que sentimento era.

-           Perdão é para fracos. Eu não preciso mais de você Ivan, não preciso mais de ninguém. Eu tenho tudo que quero, tudo que posso querer.

Uma rajada de dor bateu bem no fundo do meu peito – Dimitri não precisava mais de mim também.

Ivan não desviou o olhar de Dimitri, ao contrário, quanto mais perto Dimitri ficava, mas Ivan o encarava nos olhos. Não se i o que ele pretendia – qualquer outro provavelmente já tivesse corrido da cabana até Montana em segundos – mas ele não parecia temer o Strigoi que estava em sua frente. Eu não conseguia entender que tipo de sentimento unia Dimitri e Ivan, mas eu compreendia que era algo realmente forte.

-           Para provar á você – Dimitri olhou Ivan de cima á baixo com todo o desdém que era possível – que não preciso de ninguém e que mesmo assim ainda não sou um monstro, vou deixa-lo viver. É claro que não voltará, mas poderá continuar vivo.

-           Meu poder o incomoda Dimitri? Tem medo que eu fique perto de você?

-           Não me faça rir. Eu não tenho medo de você. Não tive tempos atrás, não vou ter agora.

Ivan virou-se para mim como se estivesse um pouco mais aliviado – algo em seu olhar me dizia que ele estava absolutamente arrependido de ter me levado até aquele lugar – ele estendeu a mão e esperou que eu a segurasse. Antes que meus dedos encontrassem os de Ivan, Dimitri se colocou entre nós.

-           A garota fica.

-           Não vou deixa-la aqui sozinha com você.

-           Não é uma negociação – Dimitri caminhou circundando Ivan e o encarando com seus ferozes olhos vermelhos – a garota fica. Ela fica de qualquer jeito. Quem decide se quer sair vivo ou não é você.

-           Vá – foram ás únicas palavras que saíram da minha boca.

-           Eu não posso deixa-la aqui com ele Rose, não posso.

Eu estendi a mão e deixei que meus dedos tocassem a palma da mão de Ivan.

-           Vá. Ele não vai me machucar, ele não faria isso.

Eu pronunciei as ultimas palavras sem ter muita certeza do que aqueles olhos vermelhos diziam na verdade, mesmo assim, eu precisava tirar Ivan da cabana, precisa dar um jeito de encontrar Anita e precisava fugir.

            Ivan pensou por alguns instantes que pareceram oras para mim. Algum tempo depois, ele não disse nada, apenas acenou com a cabeça e Dimitri entendeu.

            Com um pedaço de corda, ele amarrou as mãos de Ivan, cobrindo-as com um saco de pano, em seguida saiu pela porta e eu pude ouvir o barulho do alarme do carro.

            As primeiras lágrimas começaram a descer assim que Dimitri saiu pela porta. Eu não sabia exatamente porque estava chorando, mas quanto mais eu chorava, mais eu me sentia aliviada. Quando Dimitri entrou pela porta novamente, eu parecia mais uma vitima de afogamento do que qualquer outra coisa.

-           Chorar é para fracos, Rose. Pare de chorar!

As lágrimas ficaram mais rápidas.

Dimitri aproximou o rosto do meu, falando á centímetros da minha boca. Eu podia sentir o cheiro de sangue fresco em seu hálito.

-           Eu disse. Pare de chorar! Você não é fraca!

-           Você matou Ivan! Você drenou o sangue dele!

      Dimitri sorriu.

-           Não seja ridícula!

Eu continuei encarando Dimitri, enquanto ele dava voltas em torno de mim. De repente, algo em seu olhar mudou de monstro feroz para homem magoado.

-           Eu já tenho o suficiente do sangue dele em mim.


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