Capítulo sete - Seu ciúmes, part II.

Caitlin Snow sempre foi uma mulher confiante.

Se ela queria, ela conseguia. Se ela almejava, ela alcançava. Raramente deixou que algo abalasse sua força, suas convicções. Sempre lutou com unhas e dentes, tendo em mente que nada era difícil demais para ser conquistado, nenhum obstáculo seria grande demais para pará-la.

E assim ela se tornou uma das mulheres mais renomadas em sua profissão, consideravelmente feliz por ter alcançado seu objetivo.

Sua vida profissional não poderia ser melhor, mesmo com seus altos e baixos, ainda teria confiança para driblar qualquer situação. Contudo, ela não poderia dizer o mesmo de sua vida amorosa.

Caitlin tinha uma característica impertinente que só quem sofreu e se desiludiu muito por amor adquire: a auto sabotagem.

Se antes ela era uma tão confiante no amor quanto era em seu trabalho, agora suas expectativas em torno de relacionamentos haviam se tornado o foco de seu pessimismo. Se sua vida fosse uma fruta, sua crença no amor seria certamente a parte podre.

E talvez por isso – e mais um pouco – aquele dia tinha terminado daquela forma tão… odiosa.

Quando Barry a ligou naquela manhã pedindo para que ela o encontrasse na cafeteria para tomarem café juntos antes de seguirem para seus respectivos trabalhos, Caitlin já esperava ter que encontrar com Iris.

Não que ela detestasse a garota, claro que não, longe disso. Muitas vezes ela até mesmo entrava em conversas aleatórias com a morena, abrindo um sorriso simpático e educado como fazia com todos a sua volta. Apesar de não gostar de admitir, as vezes era bom ter alguém do sexo feminino para jogar papo fora.

Mas nunca passou disso. Quando Iris a parava para perguntar gentilmente sobre Barry, principalmente na semana do natal em que ficaram alguns dias sem se falar devido ao clima do ocorrido, ela amigavelmente respondia da forma mais breve possível. Era inevitável o sentimento estranho que aflorava, a sensação inquietante de quem não queria presenciar aquele tipo de situação.

E bem, foi naquela manhã que ela se deu conta de que depois do acontecimento com Barry na dispensa, aquelas emoções haviam adquirido uma magnitude fora de controle.

Ela o cumprimentou com um beijo simples, mas que deixava claro sua intenção de mostrar que ele não estava mais sozinho. Seu possesismo aflorou como o pior dos venenos, não deixando tempo sequer para se sentir culpada.

Tudo só piorou quando ela analisou meticulosamente as expressões da morena, que manteve a pose simpática de sempre, exceto por seus olhos que não escondiam o conflito que acontecia dentro de si. Oh, e se havia algo em que Caitlin Snow era perita, era em linguagem corporal.

Foi bem ali que a sua insegurança criou espaço, e ela desejou mentalmente não ser tão sensitiva.

Tudo correu bem no decorrer do dia. Cisco continuou com o seu papel – qual ele estava levando muito a sério – de quem não sabia de nada, Dr. Wells permaneceu grande parte do tempo estudando os mais novos exames que havia feito em Barry e Caitlin, bem, Caitlin tentou assiduamente manter seu foco em suas pesquisas.

Falhando miseravelmente sempre que lembrava do convite que Iris havia feito aquela manhã, uma maldita noite no karaokê comemorando seu maravilhoso aniversário. E foi quando soltou seu milésimo suspiro exasperado que a voz de Cisco a tirou de seus devaneios – bastante raivosos, só para constar.

“Alguém está com problemas no paraíso.” Ele cantarolou, e Caitlin simplesmente fingiu não ouvir.

Se ela descontaria sua frustração em alguém, não seria em Cisco. Mas sim no principal culpado por fazê-la se sentir de tal forma em primeiro lugar.

E foi com isso em mente que ao se preparar para a noite que tinha em frente, ela entrou em um dos seus melhores vestidos, se sentindo bastante orgulhosa com o olhar deslumbrado que recebeu de seu acompanhante.

Ninguém no recinto tinha conhecimento do que estava acontecendo entre eles, exceto claro, Iris e Cisco. Joe vez ou outra os fitava de uma forma estranha que deixava claro suas suspeitas, Eddie estava muito empolgado dedicando canções para a aniversariante para notar algo além da mesma.

Foi quando Barry se levantou e subiu no palco para dedicar a sua música que ela sentiu a realidade sugando-a novamente para aquela parte de seu subconsciente em que sua razão prevalecia. A sensação de estar em um lugar que não a pertence a devastou como um furacão faria com uma pequena cabana.

“…são muitos anos de amizade, não é mesmo? Eu me sinto lisonjeado por participar de mais um ano da sua vida, por ser seu melhor amigo e ter oportunidade de conviver todos os dias com a pessoa maravilhosa que você se tornou. Você é única, Iris West, e nisso eu posso apostar que todas as pessoas presentes concordam. Por isso eu dedico essa música, que foi trilha sonora dos momentos mais incríveis que vivemos e espero que ainda seja de muitos. Feliz aniversário!”

Barry escutou as palmas e os assovios com um sorriso que chegava até seus olhos, fazendo-os brilhar como uma das coisas mais belas já vistas. Caitlin pousou as íris amendoadas sobre a aniversariante que limpava as lágrimas no canto de seus olhos retribuindo o sorriso, algo dentro de si se contorcendo ao assistir toda aquela cena.

E mais uma vez, ela sentiu como se ali não fosse seu lugar. Aquela sensação agoniante correndo por suas veias, os olhos ardendo como se fossem denunciá-la a qualquer minuto. E após passarem os três minutos mais dolorosos daquela noite, ele desceu do palco para envolver sua não tão melhor amiga em seu abraço, depositando um beijo em sua testa ao sussurrar algo inalcançável aos seus ouvidos.

Ali Caitlin viu sua deixa, pegando a bolsa sobre a mesa e ignorando o olhar confuso que Cisco lhe lançou ao vê-la se levantar abruptamente da mesa e se esgueirar pelas mesas em direção a saída. Logo após atravessar a grande porta de vidro, um raio se iluminou no céu anunciando a tempestade que estava por vir.

Ela não se importava. Aquela altura seu único e maior desejo era se esconder debaixo de seus edredons assistindo De repente 30 com um pote de sorvete em mãos, como já era de costume sempre que sua autoestima chegava a níveis desastrosos.

Quisera ela que o problema fosse apenas sua autoeestima.

“Caitlin.” Barry gritou quando ela já estava perto de atravessar a rua em busca de um táxi. “Caitlin, mas o que…”

Ela se virou para a figura confusa de Barry Allen, sentindo as primeiras gotas de chuva em seu rosto.

“Não, Barry. Volte para lá, as pessoas estão te esperando.” Sua voz o interrompeu sem emoção alguma, vencendo o nó que se formava em sua garganta ao olhar para aquele rosto.

“Mas por que? O que você acha que está fazendo? Eu não vou voltar sem você.”

Seus dedos apertaram a pequena bolsa clutch em sua mão quando Iris apareceu logo atrás de Barry, as feições gentis contorcidas em confusão.

“O que houve? Por que vocês estão aqui fora quando uma chuva torrencial tá perto de acontecer?” Ela indagou, vacilando os olhos escuros entre os dois.

“Quer saber? Eu realmente não vou fazer parte disso.” Caitlin deu de ombros já não mais tentando esconder sua frustração. “Vocês dois claramente acham que eu sou idiota. Barry, você de todas as pessoas deveria saber que eu não sou – posso parecer, mas não sou. Eu não vou ficar no meio do que quer que vocês tenham, por isso, ele é todo seu Iris.”

Barry a olhava como se tivesse visto um fantasma, enquanto a morena ao seu lado permanecia estática, ainda analisando cada palavra que por um momento jurou não ter ouvido realmente.

Ele abriu a boca para respondê-la quando ela voltou a falar, interrompendo-o.

“Vamos ver se, pelo menos, dessa vez você vai deixar de lado sua pose de sonsa e ter coragem de deixar seu namorado perfeito pra encarar os fatos. Façam bom proveito!” Seus braços levantaram em rendição, a chuva caindo impiedosa sobre si quando o táxi havia finalmente encostado a guia.

A última coisa que viu pelo vidro do veículo foi o rosto inexpressivo daquele que possui seu coração.

***

Dois longos dias se passaram e as ligações constantes e os intermináveis recados na secretária eletrônica iam finalmente se cessando. Barry havia entendido que talvez tempo fosse realmente necessário naquela situação, e passou a acreditar que no final tudo daria certo.

Sua paciência, seu otimismo e sua certeza de que aquilo era algo por qual lutar deixavam claro que suas esperanças tinham sim fundamentos, e que ele faria Caitlin Snow acreditar tanto quanto ele mesmo já o fazia.

Dois longos e dolorosos dias sem se perder naquelas lagoas amendoadas ou se inebriar com o aroma de morangos. Quarenta e oito horas longe de sua presença encantadora e seu sorriso contagiante.

E durante todo esse tempo, ele remoía cada palavra que escapou por seus lábios naquela noite.

Iris apareceu na porta de seu apartamento no dia seguinte, confirmando todas as acusações de Caitlin – as mesmas que ele jurou serem sem fundamentos – e o deixando completamente sem chão por alguns intermináveis minutos.

Ele viu em seus olhos a sinceridade conforme as palavras escapuliam por seus lábios, as mesmas palavras que ele tanto sonhou em ouvir há alguns meses. Foi compreensivo até mesmo com o fato dela ter o pegado desprevenido, realizando seu sonho adolescente de finalmente sentir como era tocar aqueles lábios.

Caitlin Snow era mesmo uma mulher inteligente e observadora, e ele deveria ter sido mais sagaz ao perceber que seu comportamento estava particularmente obscuro nos últimos dias. Por alguns momentos até mesmo a possibilidade de estar com ciúmes passou por sua cabeça, o que não era totalmente errado.

Iris havia se declarado para ele da mesma forma que acontecia em todos os seus devaneios desde que percebeu que seu coração batia mais forte ao vê-la, e ele simplesmente não sentiu nada além de um vazio imenso tomando espaço em seu peito.

Naquele mesmo dia, a certeza de algo que já imaginava lhe atingiu como um soco no estômago: seu coração não mais lhe pertencia, ele estava completamente entregue as mãos de uma certa doutora.

Após a vigésima quinta ligação, Barry decidiu que era hora de ligar para alguém diferente. Alguém que o compreenderia e diria exatamente o que ele precisava ouvir. Alguém que o conhecia como a palma de sua mão, e entenderia aquela situação melhor do que ninguém.

“Barry, são duas horas da manhã…” O timbre sonolento de Felicity adentrou seus ouvidos como música, e ele não conseguiu evitar os lábios se repuxando em um sorriso.

“Eu sei, me desculpe. Eu realmente preciso de sua ajuda, Caitlin não responde as minhas ligações e tirou dois dias de folga do STAR Labs.” Deixou com que seu peso caísse em seu sofá junto de um suspiro exausto. “Eu não sei o que fazer, Felicity.”

“Considerando que Caitlin tem mais amor ao trabalho do que a própria vida, eu diria que algo importante aconteceu.” Foi a vez da loira suspirar. “O que você fez, Barry Allen?”

“Ela estava agindo de uma forma muito estranha nos últimos dias, principalmente quando Iris estava por perto. Então no dia do aniversário, ela simplesmente saiu do bar e chamou um táxi, dizendo que Iris deveria criar coragem e tomar uma atitude em relação a mim.”

“Oh, não…” Felicity gemeu e Barry jurou ter ouvido-a bocejar.

“Depois disso ela não respondeu minhas ligações ou meus recados e eu tenho recebido mais olhares tortos de Cisco do que gostaria nessas últimas quarenta e oito horas.” Ele grunhiu ao seu lembrar da cara de poucos amigos de Cisco sempre que se dirigia a ele para falar sobre mais um de seus meta humanos. “E o pior é que, no final das contas, ela tinha razão. Iris veio até meu apartamento falar sobre seus sentimentos. Eu nunca me senti tão perdido em toda a minha vida.”

“Caitlin é muito sensitiva e racional, ela certamente percebeu que a Iris estava agindo diferente com você e isso foi o suficiente pra desencadear toda uma guerra interna qual ela provavelmente perdeu.” A loira suspirou, montando toda a imagem em sua mente. “E o que você decidiu fazer? Você demora tanto tempo pra perceber as coisas e quando percebe isso acontece. Fico feliz por saber que você é um cara perseverante.”

“Depois de ter mais de vinte ligações ignoradas, eu decidi dar a ela o espaço que precisa.”

“Você é tão bobo às vezes. Ela não precisa de espaço, ela precisa de você! Ela precisa que você lute por ela, que acredite no que vocês tem, mesmo que ainda pareça confuso demais. Ela precisa de esperança, Barry, e só você pode dar isso a ela.” Ela pausou por um instante, deixando que seus pensamentos vagassem em outra pessoa. “Eu gostaria que Oliver tivesse ouvido essas palavras quando eu decidi desistir. Gostaria que ele tivesse lutado mais, acreditado mais, mesmo sabendo que nada disso faz mais diferença agora.”

“Eu ouvi sobre o noivado, estou muito feliz por vocês.” Barry disse, e Felicity quase pode vê-lo sorrindo bem em sua frente. “Obrigado Felicity, eu estava precisando dessas palavras.”

“É para isso que estou aqui, mesmo que a quilômetros de distância.” Ela riu brevemente. “E por favor, cuidado com a Iris, certo? Caitlin sabe que vocês tem um histórico, e vai sempre tentar se sabotar quando lembrar dele. Pelo menos até conseguir compreender seus próprios sentimentos.”

“Ok, obrigada novamente. Mande um olá para o Oliver, estou com saudades da nossa parceria.” Falou ao se levantar do sofá, imaginando a carranca do Arqueiro ao ouvir sua leve provocação.

“Tenho certeza de que ele também está com saudades. Boa noite Bar, não faça nada que eu não faria!”

“Boa noite, Felicity.” Ele riu ao desligar o celular, enfiando-o novamente no bolso dianteiro de seus jeans.

Uma, duas, ou quatro da manhã, ele não se importava. Foi com essa determinação e juntando toda a coragem que lhe restava que Barry Allen saiu pela porta de seu apartamento com uma coisa em mente…

Recuperar Caitlin Snow a todo e qualquer custo.