Capítulo dez – Seu mentor.

“Cara, eu ainda não acredito que você conheceu os pais da Caitlin.”

Cisco meneava a cabeça em negação, ainda segurando o sorriso que insistia em crescer em seus lábios. Os olhos castanhos brilhavam em divertimento ao avaliarem o rosto inexpressivo e confuso de Barry, que ainda tentava muito frustradamente entender qual era o motivo de ver todo aquele divertimento naquela situação.

Era normal, não era? Caitlin era sua… sua… Bem, ele não sabia exatamente o que Caitlin era sua, levando em conta que eles nunca pararam para definir sua relação, ainda muito ocupados em curtir a fase lua-de-mel que estavam tendo. Sua única certeza era que ela era única, a razão por seu coração bater fora de ritmo a ponto de doer em seu peito, aquela que dava cor ao seu mundo.

Talvez seja isso. Talvez seja hora de parar de correr em círculos e definir o que há entre ele e a doutora dona dos mais belos olhos que ele já viu. Talvez Barry Allen tenha percebido que dentro de si também habitava a necessidade do mundo saber que ela é só sua e ele só dela.

Bem, com essa decisão viria também a que mais lhe trazia receios: contar para Dr. Wells.

“Eles são adoráveis, e me trataram muito bem.” Cisco ergueu o cenho, parando o de avaliar os arquivos na tela de seu computador para fitá-lo. “Não estou entendendo a sua reação.”

“Talvez seja porque o Ronnie demorou quase seis meses para conhecer os Snow, e você conseguiu essa proeza em três meses e meio.” Ele deu de ombros, mantendo as íris escuras nas esverdeadas enquanto esperava por sua resposta.

“Na verdade, não foi bem planejado. Aconteceu de eu chegar sem aviso para um jantar que Caitlin tinha com eles, a Sra. Snow me convidou para ficar e nós jantamos juntos. Foi muito gratificante conhecer o tipo de relação que ela tem com os pais…” Barry explicou, repassando as lembranças daquela noite em sua mente sem perceber os cantos de sua boca criando vida própria.

Cisco soltou um riso espontâneo, e Barry se segurou para não acompanhar o gesto.

“Gratificante? Ela e Laura sentem a necessidade de brigar como nós sentimos de respirar.” Cisco voltou a se concentrar no que fazia, quase engasgando ao ver Caitlin entrar no recinto como um furacão. “Eles ainda me devem aquele jantar com a prima Carrie.”

Barry olhou para a morena que agora estava parada perto dele com sua prancheta na mão e um olhar curioso vacilando entre ele e Cisco, tentando compreender qual era o assunto em questão. Seu sorriso se abriu ao vê-la, como sempre acontecia quando Caitlin aparecia em seu campo de visão.

Ele não poderia ser mais óbvio, tão discreto quanto uma manada de elefantes.

“Minha prima Carrie?” A Snow ergueu a sobrancelha ao questionar o amigo. Cisco ajeitou sua postura, cruzando os braços sobre o peito.

“Sim, sua prima Carrie. Ainda estou esperando pelo encontro que sua mãe me prometeu, não esqueci.”

Caitlin riu, levando os olhos amendoados para Barry que apenas riu junto ao assistir a expressão frustrada que tomou conta do rosto de Cisco.

“Ela também.”

“O que?”

“Esqueceu. Minha mãe também esqueceu, você deveria lembrá-la.”

“Oh, tenha certeza que eu vou. Eu vou lembrá-la.” Ele sorriu ferino, e Caitlin sabia que em sua mente ele estava vivendo em mais uma de suas fantasias com sua prima Carrie. “Assim como eu devo lembrá-los de um assunto muito incômodo que deve ser resolvido…”

Barry e Caitlin prenderam seus olhares no amigo, apreensivos que aquela seria apenas mais uma de suas piadinhas sarcásticas.

“Dr. Wells.” Cisco sibilou como quem conta um segredo, assistindo a mesma careta criar vida no rosto dos indivíduos a sua frente. Ali ele teve a certeza que aqueles dois eram mesmo um dos casais mais adoráveis que ele viu na vida, claramente só perdiam para o casal maravilhoso que ele e a suposta prima Carrie faziam em seus mais belos devaneios.

O riso se engasgou em sua garganta ao ver o homem que a pouco ele mencionava adentrar o laboratório em sua cadeira de rodas.

Barry pode sentir uma onda de tensão quase palpável no ambiente, e obviamente, a maior parte vinha do corpo ereto de Caitlin há pouco menos de um metro de si. Ele cogitou se aproximar e envolver os dedos finos e trêmulos da doutora entre os seus, dizer de alguma forma que não havia motivo para se sentir nervosa.

Mas havia, e conhecendo Harrison Wells como ele conhecia, sua inteligência já havia captado muito bem que algo não estava se encaixando entre aqueles três – mais precisamente seu velocista preferido e a mulher brilhante que ele acolheu em sua equipe de braços abertos.

“O que está acontecendo?” Wells oscilou os olhos claros entre os presentes, estudando-os minunciosamente como era de seu feitio.

Cisco levou o copo de água que estava sobre a bancada até a boca, assistindo Caitlin se entregar ao morder o lábio inferior aflita. Ele poderia estar se fazendo de surdo, mudo ou ignorante, mas tinha plena consciência que aquilo não iria muito longe sem o conhecimento de seu tutor.

Aquele homem parecia um fantasma, era como se ele tivesse olhos e ouvidos por todos os lugares – o que no fundo, Cisco não duvidava nada.

Barry tomou um passo a frente, respirando fundo antes de segurar a mão de Caitlin com a sua e acariciá-la. Os olhos verdes decididos como se sua vida dependesse daquilo, como se ele estivesse a ponto de entrar na jaula de um leão e seu desafio fosse sair com vida.

Olhou para Cisco e então para Caitlin, que mantinha a incerteza brilhando em suas íris castanhas. Ele suspirou, se virando para o homem que o avaliava com o típico sorriso contido nos lábios. Não havia mais volta, não tinha o que temer.

“Nós pensamos bastante na melhor forma de dizer, mas não encontramos um método mais rápido e simples, então esperamos o momento…”

“O momento certo para me dizer que estão juntos?” O mais velho arqueou a sobrancelha em descrença, como se Barry estivesse lhe dizendo que dois mais dois são quatro.

Claro que ele sabia, nada passa despercebido pela inteligência admiravelmente assombrosa de Harrison Wells.

“Você sabia?” Caitlin questionou ao tentar estabilizar seu timbre um tanto abalado, apertando a mão de Barry contra a sua com ainda mais força.

“E não disse nada?” Foi a vez de Barry perguntar, deixando que uma leve pontada de irritação criasse vida em sua voz.

O mais velho riu discretamente ao observar a indignação que só crescia entre os dois a sua frente. Cisco permanecia sentado em sua bancada, assistindo ao espetáculo como se fosse o episódio final de sua novela mexicana favorita.

“Vocês subestimam muito a minha inteligência.” Wells meneava sua cabeça negativamente, um tanto desacreditado ao atestar que aquelas palavras eram mais reais do que ele imaginava. “Não sei se é exatamente a minha benção que vocês estão procurando, levando em consideração que recebi uma ligação bastante peculiar de Peter Snow perguntando minha concepção sobre Barry Allen, se ele é ou não um cara digno de sua única filha…”

Barry cerrou os lábios em uma linha fina, ansioso para saber o que Harrison Wells disse sobre ele. Caitlin acariciava com o polegar o dorso da mão grande que ainda soava de puro nervosismo ao segurar a sua.

Ela havia conhecido o Barry Allen confiante, o engraçado, o enraivecido, o magoado e todas as outras diversas facetas de seu parceiro; contudo, prostrado agora ao seu lado estava o Barry nervoso, inseguro diante da opinião daqueles que preenchiam o lugar de figuras fortes e predominantes na vida da Snow.

Pode parecer bobo, mas no final do dia ele ainda seria um eterno romântico antiquado.

“Claro que eu gostaria que tivessem confiando em mim antes, mas também compreendo que cada um tem o seu tempo. Foi com todo o prazer que eu assegurei Peter que sua garotinha estava em ótimas mãos, por isso Sr. Allen, cuide bem de Caitlin porque seu valor é imensurável.” Os olhos claros se dirigiram aos da morena, exalando a afeição que o homem sentia pela garota que ele viu se transformar na bela e talentosa mulher a sua frente.

“Estou me sentindo em um casamento.” Cisco comentou ao limpar as lágrimas inexistentes ironicamente. “É como quando Juarez Vasquez entregou a mão de Roselita ao Santos, pedindo a ele que cuidasse de seu tesouro mais precioso em As paixões de Santos.”

Os três riram em resposta a investida de Cisco em tirar um pouco do clima pesado que se instalava no ambiente. A felicidade brilhava nos olhos de Barry ao admirar a mulher do seu lado com toda a afeição do mundo, atestando que agora nada mais o impedia de chamá-la de sua.

Sua amiga. Sua parceira. Sua namorada.

“Nada me faria mais feliz do que vê-la feliz, Dr. Wells. Obrigado!” Barry selou o compromisso em suas palavras com um aperto de mão, com uma Caitlin bastante sem jeito ao seu lado.

O mais velho direcionou uma piscadela para a morena, ainda rindo baixo ao direcionar sua cadeira de rodas para seu escritório, deixando apenas os três no recinto. Cisco bufou, soltando todo seu peso sobre sua cadeira.

“Cara, essa foi por perto… Por um momento realmente achei que vocês estavam bem ferrados e estariam me ferrando junto. Nada de relacionamentos às escuras por um tempo, certo? Meu coração precisa de descanso, foram muitas emoções.” O dono dos cabelos negros comentava risonho, pousando uma mão sobre o coração.

Caitlin riu, levantando os olhos amendoados para o homem ao seu lado, admirando-o sob os longos cílios encantadores.

“Acho que agora é oficial…” Disse destemida ao se perder nas lagoas esverdeadas, deixando que tom brincalhão se apoderasse de suas palavras. “Que belo par nós somos, Sr. Allen.”

“Sim, nós somos, Dra. Snow.” O sorriso de Barry se iluminou ao se curvar para pousar seus lábios nos dela. “Agora é hora de planejar nosso primeiro encontro…”

“Tem certeza? Sabe que sou um pouco exigente, não?” Caitlin brincou, sentindo o braço de Barry envolver sua cintura provocativamente.

“Ei, pombinhos, estou tentando trabalhar aqui.” Cisco protestou ao apontar para a tela de seu computador com indignação. “Temos um meta-humano desagradável para capturar, lembram?”

Caitlin ignorou Cisco, deixando que suas mãos percorressem atrevidas pela blusa vermelha de seu homem até chegarem a curva de seu pescoço. Seus saltos impediam que sua altura fosse um incomodo, facilitando sua busca pela boca dele na sua.

E ela o beijou, ternamente, deixando que seu estômago flutuasse em sua barriga e seu coração se aquecesse em seu peito. O polegar de Barry acariciava sua cintura e ela já não mais se importava se estava sorrindo como uma boba ao se separar dele, depositando um beijo demorado em sua bochecha.

“Acho que vamos precisar conversar com mamãe sobre a prima Carrie…” Ela murmurou no ouvido de Barry, espiando um Cisco atento por sua visão periférica. “Cisco vai precisar de uma namorada se não quisermos aguentar os comentários rabugentos.”

“Ei, eu ouvi isso!”

A morena se virou para ele, ainda presa entre os braços de Barry.

“Poderemos ter encontros de casais, o que acha?” Ela sugeriu, as bochechas levemente rosadas.

“Aww, gente! Um encontro de casais com a Carrie como par e Snowbarry de acompanhantes? O Natal chegou mais cedo.”

Barry e Caitlin riram em réplica ao comentário de seu melhor amigo, desejando que momentos como aqueles se repetissem mais vezes, que aquela dinâmica nunca acabasse.

E bem, o peso da culpa já não mais era o um problema a se lidar. Cisco e suas piadinhas desagradáveis? Talvez.

Ainda assim, Barry não desejaria nada diferente.