Os ventos estavam cada vez mais gelados ao Norte. Mas isso não incomodava Sansa. Era uma Stark, afinal de contas. Os Starks eram do norte, e estavam acostumados com o frio.

Sansa respirou profundamente o ar, permitindo que enchessem seus pulmões. Os pelos de seus braços, mesmo cobertos por uma manta cinza de lobo, se eriçaram. Ela sorriu, satisfeita com a imagem que via à sua frente: as estrelas no céu, com a lua brilhando tímida no horizonte. À sua frente, a árvore do Bosque Sagrado, gigantesca com suas folhas cor de sangue. Sansa olhava para o rosto esculpido, e ele a olhava de volta. Parecia sorrir-lhe.

Logo uma parte da neve na sua frente foi coberta por uma sombra grande, que Sansa sabia pertencer a um homem. Olhou para trás e vislumbrou Sandor Clegane, e, como todas as vezes, notou cada detalhe de seu rosto.

Seus olhos cor de mel, sua boca vermelha pelo frio, suas bochechas brancas, suas cicatrizes e a metade de seu rosto queimado e deformado. Para Sansa, não havia nenhum outro homem no mundo que ela poderia amar mais. Se levantou para cumprimentá-lo.

– Passarinho. - Ao ouvir seu apelido, sorriu satisfeita. O cavaleiro não disse mais nada, apenas a tomou nos braços e beijou seus lábios gelados. Os pelos de seus braços de eriçaram novamente, mas dessa vez não foi por conta do frio.

Como tudo está mudado, não deixou de pensar. Antes era uma garotinha tão tola, que não via nada além da beleza. Hoje consigo ver através disso, refletiu enquanto acariciava o rosto de Cão de Caça. Hoje percebo que o amor é mais que isso.

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Sansa acordou sozinha em sua cama. Havia passado uma parte da noite no Bosque Sagrado, e a outra na cama com Sandor. Mas sabia que o cavaleiro iria embora enquanto a mesma dormia, no meio da madrugada, para nenhum de seus vassalos os verem juntos.

Muitos já haviam visto as trocas de olharem e até de carícias de ambos, mas eles fingiam que não existia nada entre eles.

Sansa se levantou da cama e olhou pela janela, vislumbrando uma nova manhã, onde o sol misturado com ondas de frio acariciavam seu rosto.

Ao chegar no salão para fazer o desjejum, não encontrou nenhum pão ou bacon e frutas à sua espera, como era de costume. Apenas Grande Jon Umber, com um semblante perturbado e com um homem desconhecido ao lado. Atrás dele, haviam mais dois soldados de Sansa, olhando como se houvesse algum tipo de inimigo naquela sala.

– Vossa Graça, desculpe incomodá-la em seu desjejum. Esse homem chegou aqui durante a madrugada, e meus soldados prenderam seus amigos no calabouço.

– E porque só fui informada disso agora? - Perguntou Sansa, confusa.

– Não quis incomodá-la durante a madrugada, minha Rainha. - Respondeu Jon. - Ele insiste em falar com a senhora.

– Eu me chamo Euron Olho-de-Corvo. - O homem misterioso se pronunciou. - Euron Greyjoy.

Sansa o analisou por alguns instantes. Era um homem esguio e elegante, porém com uma pele muito pálida, cor de leite. Em um forte contraste, seus cabelos e barbas eram negros. O seu olho visível era de um azul muito pálido, quase sobrenatural, enquanto o outro estava tapado.

De todo, era um homem muito bonito e interessante. Mas o sobrenome Greyjoy arrepiava sua espinha, e algo a dizia para não confiar nele.

– Deixe-nos a sós. - Ordenou Sansa, decidida. Sabia que Euron estava lá por algum motivo relacinado ao Trono de Ferro. Não havia qualquer outro motivo. Ouviria o que ele tinha a lhe dizer. A essa altura, qualquer aliança é necessária, pensou.

– Vossa Graça. - Grande Jon Umber fez uma referência e saiu do grande salão, junto com os outros soldados, fechando a porta atrás de si.

Não tinha medo de Euron Olho-de-Corvo. Não o conhecia, mas sabia que seus homens estariam lá fora, atentos a qualquer barulho suspeito.

– E então? O que o senhor deseja? - Sansa Stark perguntou, sem rodeios.

O Greyjoy sorriu. Seus dentes eram extremamente brancos. Ele pareceu sorrir-lhe também com os olhos.

– Minha Rainha do Norte. - Fez uma reverência. - A Senhora é muito direta. Permita-me ser também: eu desejo você.

Sansa demorou alguns segundos para compreender.

– Como? - Perguntou, sentindo seu coração se acelerar.

Euron Greyjoy continuou sorrindo, e começou a se explicar devagar:

– Você é uma mulher muito, muito ambiciosa. E bela. Isso a torna extremamente... - Parou alguns segundos, como se estivesse pensando. - Sexy. - Disse, fazendo uma pausa antes de continuar. - Soube que a senhora almeja os Sete Reinos e aquela cadeira de ferro. E também soube que a senhora sofreu uma grande derrota nas mãos de Daenerys Targaryen. Metade de seu exército foi queimado pela fúria dos dragões. - Completou, sem seu sorriso malicioso deixar seus lábios pálidos.

Sansa franziu o cenho, irritada. Não gostava da maneira que aquele homem lhe dirigia a palavra.

– E o que o senhor tem a ver com isso, Greyjoy? - Perguntou, seus olhos azuis tentando decifrar os pensamentos daquele homem extremamente misterioso.

– Eu tenho um exército. Um tanto modesto, é verdade, mas não deixa de ser um exército. Homens de ferro são selvagens e ferozes em batalha, tanto quanto os nortenhos, ou até mais. Seu exército está pequeno, o meu também. Mas se juntássemos os dois, ficaríamos a altura de realmente derrotar a Rainha Dragão. - Disse. Seu sorriso havia sumido, agora Euron falava sério. - A única coisa que a senhora teria que fazer para conseguir essa aliança seria se casar comigo. Assim, quando eu tomasse o Trono de Ferro, o lobo e a lula reinariam os Sete Reinos.

Sansa foi pega de surpresa. Seu coração estava acelerado, suas mãos estavam suando e sua boca estava seca. Ficou tonta momentaneamente, mas jurou que se controlaria.

Imediatamente, pensou em Sandor. Oh, meu amor... Eu nunca poderia me casar com você, se lamentou. No fundo, sempre soube que não poderia. Sou a Rainha do Norte, não posso me casar por amor. Se lembrou de seu irmão Robb, quando escolheu o amor ao invés do dever, e em como rapidamente perdeu tudo que havia conquistado, inclusive a vida.

– Precisarei de alguns dias para tomar essa decisão. - Disse, se sentindo um pouco mais calma com a expectativa de que poderia ao menos pensar mais sobre isso.

– Não. - O homem respondeu quase que imediatamente. - Estou propondo essa aliança agora. É pegar ou largar, Vossa Graça.

Pegar ou largar, refletiu. Era a Rainha do Norte, mas ali estava, tão indefesa como uma garotinha, enquanto um homem de ferro a dizia o que fazer.

– Eu... - Começou, sem saber se conseguiria proferir as próximas palavras. Sabia que era uma boa aliança, sabia que era o certo a se fazer, mas as palavras ficavam engasgadas em sua garganta. - Eu aceito.

Euron Greyjoy sorriu novamente, causando arrepios medonhos em Sansa.

– Ótimo. - Respondeu, abrindo as grandes portas do salão e saindo, deixando a Stark apenas com seus pensamentos e seus vassalos a guardando na porta.

De repente, suas pernas ficaram bambas e sentiu que não havia mais forças para continuar. Sentou-se, colocando a mão na cabeça.

– O que foi que eu fiz? - Sussurrou para si mesma. Havia perdido completamente o apetite.

Ao fechar os olhos, o semblante de Sandor apareceu em sua mente. "Nunca confie em um Greyjoy", ouviu a voz de sua mãe, e se perguntou onde a Senhora Coração de Pedra estaria nesse momento.