Inuyasha deixava as lágrimas rolarem sobre o seu rosto pálido e infantil. Corria descompassadamente, tentando fugir de tudo e todos. Já era fim de tarde e as primeiras estrelas começavam a aparecer. O parque estava praticamente vazio. E ele estava perdido, não sabia como voltar pra casa. Na sua frente, pode ver um rio com águas azuis e brilhantes. Lembrou-se dos olhos de Kagome. Balançou a cabeça, para afastar os pensamentos, e sentou-se na beira do lago, jogando um pouco de água no rosto. Ao observar mais atentamente o seu reflexo na água, Inuyasha fitou suas orelhinhas que se assemelhavam às de um gato no topo da cabeça e viu que nunca poderia ser normal, nem poderia fingir ser.


– TE PEGUEI! – Uma voz já conhecida invadiu as orelhas de Inuyasha, assustando-o.

– HÃ?! – Ele se desequilibrou e caiu na água. Ao mesmo tempo, sentia algo o abraçar por trás suavemente. Ao voltar pra superfície, Inuyasha virou o rosto, ainda assustado, e viu a garotinha de antes, rindo para ele.

– Ahá! Ganhei! Agora é sua vez! – Kagome disse alegremente, enquanto saía do rio.

– ?! – Inuyasha a encarou perplexo.

– Ué? Não estamos brincando de pique-pega? – Ela se ajoelhou na margem do rio, encarando o hanyou.

– Do que... você está falando...? – Ele não sabia o que era pique-pega. Na verdade sabia, mas nunca pode brincar.

– Inucchan, você é engraçado. – Kagome começou a rir abertamente e estendeu a mão para Inuyasha, com a intenção de tirá-lo do rio.  


Ele a observava com atenção. Já havia visto humanos brincarem entre si mas... sempre se acostumou a brincar sozinho. Aquela garotinha... Inuyasha segurou a mão da dela, e ao subir, ficou com o rosto bem próximo ao dela, encarando-a nos olhos. Tinha uma única pergunta.


– O que... você quer de mim, exatamente? – Ele apertou um pouco a pequena mão de Kagome.

– E ainda pergunta? Quero ser sua amiga! – Kagome abriu um lindo sorriso para Inuyasha. Ele ficou sem reação. ''Quero ser sua amiga!''?. Como? Ela só podia estar brincando.

– Deixa de bobeira, garota! Não vê? Eu sou um hanyou! UM DEMÔNIO! – Inuyasha largou a mão de Kagome e se afastou dela, sentando-se embaixo de uma árvore. Abraçou os joelhos fortemente e abaixou a cabeça, esperando que, depois da revelação, Kagome fosse embora. Ouviu passos em sua direção e algo tocou o seu ombro. Ele levantou a cabeça e encarou Kagome, que disse com uma voz doce:

– O que isso importa? Eu só quero ser sua amiga!

Inuyasha mexeu as orelhinhas, estava sentindo algo que nunca tinha sentido antes. Amizade? Será? De qualquer jeito, sabia que provavelmente não era verdade, e que seria apunhalado pelas costas depois. Era sempre assim.

– QUE LEGAL! – Kagome pulou em cima de Inuyasha, derrubando-o no chão, e começou a apertar suas orelhinhas, em cima dele. Inuyasha percebeu que os olhos azuis da garota estavam cintilando... e que as suas orelhas estavam queimando.

– Ai...isso machuca, garota! – Inuyasha olhou repreensivo para Kagome.

– Elas...são de verdade? – A garotinha parou de apertá-las e o fitou com um olhar de dúvida.

– Sim... Como disseram... Não passo de uma aberração. – Inuyasha se referia aos garotos de antes, lembrando que o líder havia o chamado de aberração. Ele virou a cabeça para o lado, desviando os olhos de Kagome, não entendendo o porquê da garotinha estar em cima dele. Queria afastá-la, mas ela era tão fofinha... O hanyou não teve coragem de empurrá-la.

– Eu não achei... você é bonito... 'Kawaii'. – Kagome olhou seriamente para ele.

– 'Kawaii'?! – Inuyasha virou a cabeça novamente, a encarando. Ela saía devagar de cima dele e o observava.

– Sim! Como eu faço pra ter orelhinhas assim? – Ela perguntou, inocente.

– Confie em mim, não vai querer ter orelhas assim. – Inuyasha respondeu com a cara emburrada. A garota riu de leve.

– ... ATCHIM! Nya... Está ficando escuro... Você não vai pra casa? – Kagome se levantou.

– Eu... – Inuyasha desviou o olhar. – Me perdi de casa... – O hanyou se levantou, virou de costas para a garota e fitou o céu. As estrelas já estavam cada vez mais brilhantes. Sentiu Kagome segurar sua mão e falar tranquilamente:

– Quer ficar na minha casa, enquanto você não acha a sua?

– Na... sua casa? – Inuyasha a encarou, assustado com o convite inesperado.

– Sim... meus pais trabalham muito, estou sempre sozinha em casa. E eu sou nova nessa cidade, não tenho amigos... Bem, agora tenho você! – Inuyasha sentiu algo quentinho o envolver, Kagome havia o abraçado. A única pessoa que o abraçava daquela forma era a sua falecida mãe. Aquela garota realmente era sua amiga? Em seguida, Kagome se afastou, segurou a mão do hanyou e o puxou. – Não vou deixar você sozinho aqui... Tem muitas pessoas más nas ruas... – Inuyasha deixou-se levar pela garotinha, pensando se aquilo era verdade ou se não passava de um sonho. Voltou a visualizar a cena no parque, naquela tarde. Ao olhar mais atentamente pra Kagome, viu vários machucados e culpou-se por aquilo ter acontecido.

– M-Me desculpe, Kagome... – O hanyou sussurrou.

– Pelo que, Inuyasha? – A garota olhou para ele de canto.

– Você se machucou... por minha causa... – Ele visivelmente envergonhado. Kagome achou graça.

– Ha! Não precisa se preocupar, é pra isso que servem os amigos, um defende o outro. – E piscou para ele, sorrindo. Inuyasha, não contendo o impacto causado pelas palavras da garota, mostrou um pequeno sorriso. Não... aquilo definitivamente não era um sonho.