Inuyasha estava vendo televisão, embora não se concentrasse no programa transmitido. Seus pensamentos ainda estavam voltados ora para Kagome, ora para o que havia acontecido com Kikyou. Em um certo momento, suas orelhas balançaram suavemente, indicando que alguém se aproximara da porta. Era Miroku. Não demorou para que a porta se abrisse num chute, e a voz do amigo surgisse escandalosa.

- Cara, pode me contar t-u-d-o! – Disse, sorridente, quase saltando em cima do hanyou.

- O que foi, Miroku? – Perguntou, imaginando se ele estava se referindo à Kikyou.

- Eu vi aquelas duas gatinhas saírem daqui! Seu pervertido, nem me chamou pra festa... – Fez um beiço, brincalhão.

- Deixa de brincadeiras, Miroku! – O hanyou jogou uma almofada no rosto do amigo, adquirindo um tom mais sério em seu rosto. – Vou lhe contar tudo que aconteceu.

Calmamente, embora estivesse ansioso, Inuyasha recapitulou tudo para Miroku, desde sua conversa triste com Kikyou, até como encontrou Kagome, no parque. O humano de cabelos castanhos, deixando suas brincadeiras de lado, ouvia tudo atentamente. Uma expressão facial, um tanto chocada, tomou conta de seu rosto quando o hanyou terminou de falar.

- N-Nossa... Inuyasha... – Murmurou.

- Sim? – O hanyou já estava estranhando a expressão surpresa demais do amigo.

- VOCÊ VAI SER VIRGEM PRA SEMPRE, SEU MANÉ! – Miroku deu um tapa nas orelhas de Inuyasha, deixando-o perplexo. Porém, já era de se esperar uma atitude daquelas.

- Eu estou preocupado e você está se importando com a minha virgindade? – Rosnou. Miroku soltou um riso abobalhado, mas encarou o assunto com mais seriedade.

- Sabe, Inuyasha... eu achei que uma daquelas garotas era a Kikyou. – Comentou, lembrando-se da garota com faixas na cabeça.

- É a Kagome. – O hanyou suspirou, aproveitando o embalo da conversa para contar ao amigo sobre seu passado. – Eu nunca te falei sobre isso, mas eu a conheço há muito tempo.

- Como assim? – Miroku não estava mais entendendo. Eles não haviam se encontrado naquela noite por obra do destino ou sorte?

- Quando eu era criança, conheci a Kagome aqui, em Shikon no Tama. Mas ela teve que ir embora rapidamente. Apesar disso, ela deixou uma forte marca em mim. Acho que sempre gostei dela. E hoje, com o reencontro, notei que ela não mudou em nada. – Inuyasha sussurrou – Nem meus sentimentos... – O humano surpreendeu-se um pouco. Era a primeira vez que o hanyou dizia algo semelhante de forma tão verdadeira.

- Bem, agora que você e a Kikyou não estão juntos... – Ele foi cortado pela voz do amigo.

- Mas há um problema! Parece que ela não se lembra de mim. – Confessou, frustrado.

- Hã? Como é? – Miroku coçou a cabeça. A história estava ficando cada vez mais confusa.

- Eu também não sei. Ela agiu como se fosse a primeira vez que havia me visto. Nem me reconheceu como um hanyou, segredo que ela sabia. – Inuyasha virou o rosto, apoiando a nuca no sofá.

- Que estranho. Alguém como você não é fácil de esquecer. Principalmente com essas orelhas. – Brincou, olhando de relance para as orelhas do hanyou, que mexeram-se um pouco com um comentário.

- Acho que vou visitá-la amanhã. – Decidiu.

- Sabe onde ela mora? – O humano riu de leve. Ele realmente estava interessado na tal Kagome.

- Eu sei onde ela estuda. Mas se ela está atualmente na casa onde ela morava no passado, então eu sei onde fica. – Inuyasha lembrou-se que às vezes mudava o seu caminho apenas para passar na porta daquela casa, mesmo sabendo que Kagome não estava mais lá.

Os dois ficaram conversando por mais um tempo. Quando Miroku certificou-se que o amigo estava mais animado em relação à Kagome, e menos melancólico por causa de Kikyou, ele foi para o seu quarto dormir. Sentia raiva da garota que magoou seu amigo, mas era inevitável. Pessoas preconceituosas que não aceitavam youkai’s e hanyou’s existiam em todo lugar.

O hanyou esticou-se no sofá, fitando o ventilador de teto que girava constantemente. Embora na frente de Miroku demonstrasse sinais de melhoras, seus pensamentos ainda se concentravam na briga que teve com Kikyou.

Como ela pôde ter dito todas aquelas palavras para ele? Inuyasha virou-se, incomodado, e ficou de bruços, sentindo uma lágrima escapar de um de seus olhos. Ele e Kikyou estavam juntos há três anos, era óbvio que ele tinha sentimentos por ela. Na mesma posição em que estava, fechou os olhos, adormecendo pouco tempo depois.

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No dia seguinte, durante a tarde, Kagome e Sango saíram sorridentes do colégio, assim como algumas alunas. Estavam felizes por terem se dado bem em uma avaliação geral.

- Sango, nem acredito que tirei nota máxima! – Comemorou a garota de olhos claros. A morena riu, passando um dos braços em torno dos ombros da amiga.

- Minha nerd favorita, depois terá que me ajudar com matemática! – Apertou de leve uma das bochechas de Kagome, que fingiu uma expressão emburrada.

- Acho que a nerd aqui se revoltou e não vai ajudar ninguém. – Brincou, fazendo com que Sango arregalasse os olhos.

- Oh não, Kagome! Eu preciso passar... para o bem da humanidade! – Elas começaram a rir ao mesmo tempo, até que os olhos observadores de Sango captaram algo muito interessante. Melhor dizendo, alguém. – Opa, olha quem está vindo!

Kagome olhou para frente, surpreendendo-se ao notar o rapaz de cabelos prateados da noite anterior vindo em sua direção. Nos lábios claros dele, havia um tímido sorriso, que foi retribuído pela garota.

- Boa tarde! – Ele exclamou, um pouco sem jeito. Tranquilizou-se por constatar que Kagome estava bem e aparentemente feliz. Antes que a amiga pudesse responder, Sango adiantou-se, dando alguns passos para frente.

- Boa tarde, Inuyasha! Eu já estou de saída, depois nós conversamos! Tchau! – Antes de sair rapidamente, porém, ela virou um pouco o rosto e piscou para Kagome, que ficou corada. Sango realmente só pensava o que não devia!

- T-Tchau, Sango! – Acenou Kagome, desajeitada. Em seguida, voltou sua atenção para Inuyasha, percebendo que ele a encarava fixamente. Imaginou se tinha algo no seu rosto, embora acreditasse que Sango a avisaria caso realmente tivesse.

- Bem... – O hanyou lembrou-se do motivo que “supostamente” o levou até Kagome naquela tarde. – Você esqueceu seu lenço. – Entregou o tecido para ela, que demonstrou uma felicidade imensa ao rever o item.

- Ah, obrigada! Bem que eu estava sentindo falta do meu lenço da sorte! – Kagome ficou um pouco envergonhada ao perceber que o rapaz tentava conter uma risada.

- Lenço da sorte? – Perguntou, soltando uma gargalhada. Kagome acabou por rir também, já que era realmente um termo engraçado.

- Sim, já passei cada coisa com esse lencinho que você nem acreditaria!

- Gostaria de ouvir... – Ele comentou. Na verdade, gostaria apenas de ficar o tempo que pudesse ao lado dela.

- Sério? – Ela riu. Inuyasha era tão curioso assim a respeito das pessoas?

- Sim! Quer ir tomar um sorvete comigo? – Eles se encararam. Kagome não viu mal algum em tomar um sorvete com o seu 'herói'. Além do mais, ele havia chamado muito a sua atenção.

- Claro! Vamos lá!

Na sorveteria, rolaram muitas risadas, tanto que às vezes eles precisaram se conter para não chamar a atenção. Kagome contou várias histórias engraçadas que aconteceram com ela, onde envolviam Sango na maior parte do tempo. Sentiu-se à vontade até para contar das aventuras de sua amiga atrás de garotos, o que Inuyasha comparou com a personalidade do seu melhor amigo. Talvez depois ele devesse apresentá-los.

Naquela tarde, o hanyou estava realmente se divertindo. Com Kagome, ele esqueceu absolutamente todos os seus problemas. Pensava apenas em como Kagome não tinha mudado, mesmo que não se lembrasse dele. Ficou satisfeito em saber que ela realmente era gentil com quem se aproximava dela.

- Kagome, estou começando a achar que você e a Sango são loucas! – Ele disse de forma descontraída, ao término de uma história. A garota tomou mais um gole do seu milk-shake antes de rir.

- Obrigada! Obrigada! – Ela levantou a mão direita e acenou, com um ar superioridade.

- Com essa cara, você até parece meu irmão, Sesshoumaru. – Ela levantou uma sobrancelha. Inuyasha ainda não tinha lhe falado sobre sua família.  

- Se me pareço com ele, ele deve ser muito bonito! – Eles recomeçaram a rir com a piada, mas em seus pensamentos, Inuyasha concordou. Não com Sesshoumaru, pois ele era um cão repugnante, mas com Kagome, que era linda, sem dúvidas.

- Hm... Já está ficando tarde. – Ele murmurou, ao olhar para a janela. Queria ficar mais tempo com Kagome, mas talvez fosse melhor levá-la para casa mais cedo.

- Ah, é mesmo. – Ela olhou para o céu, meio perplexa. Não imaginava que tanto tempo já tivesse passado. – Vou ter que ir pra casa, Sango deve estar me esperando. – Ele ofereceu-se para pagar a conta.

- Eu te acompanho então. – Ele ia se levantar, mas Kagome tocou levemente uma de suas mãos, deixando-o sem graça.

- As damas na frente, nobre cavalheiro! – Ela levantou-se, novamente com um falso ar de superioridade. Ele fingiu uma cara de arrependimento.

- Desculpe-me pela minha falta de educação, donzela. – Ambos saíram lado a lado, entre risos. Quando Kagome percebeu, já estava com um braço em torno do braço do rapaz, como se já fossem amigos de longa data. E aquilo estranhamente foi um bom pensamento.

Os dois conversaram bastante o caminho inteiro, até que chegaram à casa de Kagome. Ele confirmou que era a mesma casa de anos atrás. Tudo tão nostálgico. Antes de se despedir, porém, a garota lembrou-se de algo muito importante.

- Inuyasha! – Ela deu uns passos na frente dele, atraindo a atenção. – No próximo sábado, à noite, será o aniversário da Sango. Faremos uma festa e... bem, eu estou te convidando! – Ela sorriu enquanto olhava para o hanyou. Ele corou um pouco.

- S-Sim, claro! – Sorriu. Aquilo era ótimo. Estava realmente se aproximando de Kagome.

- Se quiser, pode trazer alguém com você! Sabe, a Sango está se sentindo meio “sozinha”. – Ele imitou os olhos maliciosos que surgiu no rosto dela. Era óbvio que já tinha o convidado em mente.

- Tenho um amigo perfeito pra ela. – Miroku, o grande solteirão. Ele não se prendia à mulheres, mas Sango não era do tipo que se machucaria por um cara desses, então estava tudo bem.

- Ótimo! – Ela juntou as mãos, imaginando se finalmente sua amiga encontraria o garoto certo. – Ah, mais uma coisa: A festa será à fantasia!

- Fantasia, huh? Tenho certeza que foi sua ideia. – Ela colocou as mãos na cintura.

- E de quem mais seria? – Riu. – Até, Inuyasha!

- Até, Kagome!

Ela andou até a porta, animada com a festa que estava por vir. Antes de entrar, acenou para Inuyasha, que retribuiu o gesto. Ele a observou entrar na casa e depois foi embora, sorrindo. A tarde tinha sido incrível para ambos, e um não abandonou os pensamentos do outro pelo resto do dia.