O ar de lá não estava nada agradável. Logo após a armadilha para a Titã mulher ter falhado, levando muitas vidas inocentes, os soldados foram recolher os corpos agora sem vida por lá. O cheiro era terrível, alguns já tinham moscas a rodear. Em uma árvore, o corpo de Petra Ral estava entortado, sua coluna havia sido quebrada.

Levi se aproximou do corpo da garota, que fitava o céu nublado. Mas, sem seu olhar brilhante e alegre de sempre, estava como uma lâmpada apagada.

–Petra...? – Perguntou ele, sabendo que não haveria uma resposta. O sangue carmesim manchava sua pele pálida, que saía de sua boca e deu seu nariz.

Seus cabelos ruivos balançavam com o vento, e o sangue começara a escorrer em sua roupa. Olhando-a daquela forma, não parecia a mesma pessoa. Lembrou-se de quanto ela o admirava, e de quando dava broncas em Auruo quando tentava imitá-lo , ria de quando mordia a língua. Mas Levi também não podia negar que sentia mesmo uma atração por ela, por sua personalidade afiada e seu jeito alegre de ser. Mas tudo o que restara em sua frente agora, era o corpo sem vida alguma, pensou que nunca mais a veria sorrir como antes.

Ele queria culpar alguém por isso, mas não tinha ninguém fora a titã. Suspirou, tentando parar de encarar o cadáver, mas era quase impossível, pois seria praticamente a última vez que a veria. O pior de tudo, era que ele a vira morrer, ele a vira ser pisoteada pela gigante, mas não teve o que fazer. Não só ela morrendo, como também a de seus outros companheiros. E Eren? Também nada fez. Mas também não podia culpa-lo. Fora tudo culpa daquela conversa ridícula de ‘’Você confia em nós?’’ Se Petra estivesse viva, estaria se culpando pelo que disse. Mas ela não estava, e nem estaria mais. O soldado se ajoelhou na frente dela, tentando olhar em seus olhos por uma última vez.

Não seria a mesma coisa. Era ela quem costumava cozinhar para eles, e era ela quem na maioria das vezes, conseguia fazê-lo sorrir por dentro, e logo se arrependera de nunca ter dito isso á ela, á nunca ter demonstrado nada disso, ou nunca ter dito que a amava. Porque ele não tinha realmente certeza se a amava. E acabara de perceber isso. Estava triste, preocupado. Como as coisas andariam, agora? Se recusaria a comer qualquer coisa que não fora feita pelas mãos da cadáver. E o que diria para a família da falecida? Que , no caso, era apenas seu pai. Como ele reagiria com a notícia?

–Desculpe por não ter chego a tempo. – Falou ele, sem receber resposta.

Não se conformava com o acontecido, sempre fora uma garota forte, e morreu de forma tão simples e dolorida. Mas, por que Levi se importava com a morte dela? Nunca se importava com coisas assim. Ainda não tinha a total certeza do que sentia, e isso o perturbava. Apesar de nunca expressar nada, e sempre estar desinteressado em tudo o que o time falava, se importava com eles. Todos eles. O sol começou a se retirar, trazendo consigo o entardecer, que não era mais tão bonito como antes.

Lembrava-se também de como ela sorria, um sorriso contagiante, mesmo nos momentos mais tensos. Ou pelo jeito maduro e carinhoso que ela tratava a todos, com os olhos brilhantes e grandes, quase sempre demonstrando curiosidade. Olhou mais uma vez para os olhos agora apagados da cadáver, era triste de ver. Era triste de saber o quanto ela gostaria de se casar, e que agora não iria mais. Sempre fora uma boa garota, não seria difícil encontrar alguém. Mas, ela já tinha encontrado a muito tempo, o capitão que ela sempre admirou, mas o mesmo não expressava nada para ela, apesar de gostar um tanto dela. E , agora, seu admirado capitão estava ali, acabado, fitando o corpo sem vida alguma. Talvez ele estivesse esperando ela levantar-se, o que, obviamente, não aconteceria. Não sabia mais o que fazer, estava desolado. Aquilo foi a coisa mais chocante que acontecera com ele, mas não conseguia demonstrar nenhum sentimento, nunca conseguira, não por que ele não queria, e sim porque gostava de ser superior, não conseguia simplesmente brincar com os outros. Talvez a garota já morta conseguiria, amolecer seu coração de pedra, mas agora, o coração estava trancado, talvez para sempre, ninguém pode prever.

Deu um passo á frente, recolhendo o corpo morto, logo o sangue escorreu em sua roupa, o que não era mais importante. ( Se fosse antes, não iria simplesmente deixar sujo) E, mais uma vez, olhou para o rosto vazio dela. Sussurrando:

– Um dia, eu vou estar aí com você.- Suspirou. – Descanse em paz, Petra.

Voltou a andar, levando o corpo junto dos outros.